domingo, 30 de abril de 2023

Resenha Con Todo El Mundo Álbum de Khruangbin 2018



Resenha

Con Todo El Mundo

Álbum de Khruangbin

2018

CD/LP

Surgida em 2009 na cidade de Houston, Dallas (EUA), a banda Khruangbin não demorou muito a chamar a atenção dos descolados com seu estilo musical cool, que combina elementos de surf music, rock psicodélico, funk, soul, jazz, dub e breakbeat. Surgiram em cena com um som predominantemente instrumental, com ênfase em grooves contagiantes e melodias hipnóticas, por meio dos quais o grupo cria uma atmosfera sonora relaxante e, ao mesmo tempo, introspectiva. Os membros da banda também são conhecidos tanto por seu visual incomum - perucas, saltos plataforma, além de poncho e chapeu de cowboy - quanto por suas habilidades em improvisação que, ao vivo, proporcionam à audiência uma sensação de espontaneidade e liberdade. Seu som tem sido frequentemente descrito como "world music", embora, na prática, seja difícil enquadrá-lo em um único gênero. 

Laura Lee (baixo), Mark Speer (guitarra) e Donald Johnson (bateria) escolheram o exótico nome “Khruangbin”, que em tailandês quer dizer “máquina voadora” ou “avião”, por causa de sua paixão por uma forma de funk típica da chamada “terra dos sorrisos” (a Tailândia) conhecida como “thai funk". Os membros da banda se conheceram enquanto tocavam em uma igreja, lugar onde, aliás, começaram a desenvolver seu estilo musical eclético. Desde então, Lee-Speer-Johnson lançaram quatro álbuns de estúdio bastante elogiados pela crítica, além de se tornar conhecida por sua abordagem inovadora da música instrumental - e, também, por suas vibrantes apresentações ao vivo (como, por exemplo, a da edição de 2019 do festival Popload, em São Paulo).

Con Todo El Mundo, segundo (e melhor até agora) álbum de estúdio do Khruangbin, comemora cinco ciclos ao redor do sol este ano. Há motivos de sobra para celebrar. Na época em que foi lançado, no não tão distante assim ano de 2018, o disco recebeu elogios de várias publicações musicais importantes. A revista Rolling Stone o incluiu em sua lista de "50 Melhores Álbuns de 2018", enquanto que a Pitchfork deu ao LP uma pontuação de 8,2 em uma resenha positiva. Con Todo El Mundo também foi indicado para o prêmio “Melhor Álbum de Música Alternativa" no Grammy Awards de 2019 (infelizmente não ganhou) e foi reconhecido como "Álbum do Ano" na edição de 2018 do Dazed 100 Awards. Além disso, teve uma bela recepção por parte do público e ajudou a solidificar a posição do Khruangbin como um dos mais promissores nomes da música instrumental contemporânea. Ah, e ainda foi um sucesso comercial. O título do álbum em espanhol significa “com todo o mundo" e é uma referência à mistura cultural que influencia a música do trio. O disco foi gravado no estúdio de Laura Lee no Texas e adicionou ao mix de estilos musicais habituais do grupo uma forte influência sonora do Oriente Médio, além de algumas pitadas de música latina. A sonoridade de Con Todo El Mundo é descrita como atmosférica e hipnotizante, e que envolve o ouvinte em uma "trip" musical. De imediato, você é fisgado pela guitarra de Mark Speer, um aplicado discípulo de Hank Marvin, Dick Dale e Nokie Eduards e que soa como se tivesse encharcado as cordas de sua Fender Stratocaster com dietilamida do ácido lisérgico. Speer é um artífice quando se trata de usar efeitos como reverb e delay, para desespero dos shredders e seus fãs. Ele é um melodista nato e um criador de climas, um mestre na rara arte entre os virtuoses do instrumento de não jogar nota fora. E esse talento percorre todo o disco, do primeiro ao último acorde. Mas a cozinha do Khruangbin também é merecedora de aplausos e aqui em Con Todo El Mundo ela exibe o seu melhor, com estilo e sensualidade. Sim, os grooves do Khruangbin são sexy. Isso é algo que se nota de cara logo na faixa de abertura, “Como Me Quieres”, e, também, na subsequente, com seu sugestivo nome “Lady and Man”. Ou então tente experimentar "temperar" sua noite em companhia ouvindo “August 10” com um drink nas mãos e à meia luz… Aliás, uma das coisas mais bacanudas nesse disco é que ao mesmo tempo em que ele é psicodélico e viajandão - ou seja, funciona como um estímulo cerebral - ele também apela para o corpo, seja convidando-o a relaxar, como em “Cómo Te Quiero” ou “Friday Morning”, seja incitando-o ao movimento e à dança, com a mais-que-obrigatória “Maria También” (um dos singles do álbum) e “Evan Finds the Third Room”. E mesmo sendo o disco de rock instrumental, ele flerta com o pop em alguns momentos. Ou seja, há algo para todos os gostos em Con Todo El Mundo. Tanto isso é verdade que, em 2019, a banda resolveu remixar o disco inteiro no estilo dub justamente para alcançar audiências ainda maiores. Essa segunda versão do álbum foi rebatizada de Hasta El Cielo (“até o céu” em português) e é tão recomendável quanto o LP original. A versão em vinil de Hasta El Cielo: Con Todo El Mundo in Dub (esse é o seu título completo) inclui ainda um compacto com versões dub de “Rules" e “Cómo Te Quiero” assinadas por ninguem menos que Hopeton Overton Brown, mais conhecido como Scientist. Depois de Con Todo El Mundo, o Khruangbin repetiu a dose com o álbum seguinte, Mordechai (2020), que também foi remixado na íntegra. Mas antes de saborear as reconstruções (e aqui muita gente terá uma bela oportunidade de perder o preconceito com remixes), vá direto aos originais… a começar pelo álbum aniversariante!


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