The Wall, décimo primeiro álbum de estúdio do Pink Floyd, é um dos mais importantes álbuns da história do rock em todo os tempos. Fruto da mente criativa e inquieta do baixista Roger Waters, The Wall é um álbum duplo e conceitual que conta através das suas 26 faixas, a história conturbada de um astro do rock, um personagem fictício inspirado no próprio Waters, e também em Syd Barret, ex-Pink Floyd e primeiro líder da banda. O álbum fez um enorme sucesso no final dos anos 1970, vendeu milhões de cópias, emplacou o single “Another Brick In The Wall - Part 2” nas paradas de sucesso pelo mundo, gerou uma muito bem elaborada e caríssima turnê (que chegou a dar prejuízo à banda), e ainda virou filme.
Mas para entender como nasceu o conceito que deu origem a The Wall, é preciso voltar no tempo, para o ano de 1977, quando o Pink Floyd estava em plena turnê de um outro importante álbum da sua discografia, Animals. O sucesso estrondoso do álbum Dark Side Of The Moon (1973) elevou o Pink Floyd de banda “cult” a um gigante do rock mundial, vendendo milhões de cópias a cada álbum que lançava, e lotando arenas e estádios nos seus concertos. Durante a turnê de Animals, intitulada In The Flesh, era perceptível que o quarteto inglês havia alcançado uma popularidade de megaestrelas do rock, e que por incrível que pareça, estava incomodando os membros do Pink Floyd, principalmente a Roger Waters.
A turnê de Animals foi a primeira em que o Pink Floyd se apresentou em estádios, e foi justamente neles que Waters percebeu o nível de popularidade que a banda havia chegado, e ele não gostou nada do que viu. O ápice da sua insatisfação foi o show do Pink Floyd no Estádio Olímpico de Montreal, no Canadá. Naquela ocasião, o comportamento histérico dos fãs nas primeiras cadeiras deixou Waters tão irritado, a tal ponto do baixista cuspir no rosto de um deles. Após o ato, Waters abandonou o palco, seguido do guitarrista David Gilmour. O comportamento daqueles fãs deixou Waters horrorizado. Num encontro de Waters com o produtor Bob Ezrin, e um amigo deste, um médico psiquiatra, o baixista relatou aos dois as suas impressões sobre o ocorrido no show e a vontade que sentiu em construir um muro entre ele e aquele público para isolar-se.
Pink Floyd durante a turnê do álbum Animals, em 1977. |
Após o fim da turnê de Animals, em meados de 1977, a banda entrou em um período de recesso, e cada membro dedicou-se a projetos particulares. David Gilmour e Richard Wright, foram para a França gravar seus respectivos álbuns solos. Nick Mason foi produzir o álbum Green, do guitarrista inglês Steve Hillage. Já Roger Waters, começou a compor novas canções para o Pink Floyd: motivado pelo que ocorreu na turnê de Animals, Waters começa a elaborar o conceito para o próximo álbum da banda.
Por volta de julho de 1978, durante a reunião dos membros do Pink Floyd, Roger Waters apresenta duas fitas demos trazendo propostas de conceito para o próximo álbum da banda. A primeira proposta, intitulada Bricks In The Wall, tratava sobre ausência paterna e o autoritarismo nas escolas britânicas, e a segunda, The Pros And Cons Of Hitch-Hiking, era sobre adultério e promiscuidade. Os integrantes optaram pela primeira proposta. A segunda proposta acabou sendo aproveitada por Roger Waters para o seu primeiro álbum solo, sob o mesmo título e lançado em 1984.
Se do ponto de vista artístico, as coisas estavam bem adiantadas, as finanças da banda iam de mal a pior. Os membros do grupo descobriram que os investimentos que a Norton Warburg Group (NWG), empresa que cuidava das finanças do Pink Floyd, fracassaram e puseram a banda à beira da falência. O Pink Floyd logo encerrou judicialmente a sua relação com a tal empresa, e percebeu que para sair daquela situação de falência era preciso fazer dinheiro, e para isso, gravar um novo álbum era mais do que necessário. O quarteto percebeu também que o conceito de Bricks In The Wall funcionaria melhor num álbum duplo do que num álbum simples. O fato do projeto do novo álbum prever 26 faixas, e trazer um conceito instigante e desafiador, levou Roger Waters buscar um produtor para auxiliá-los naquela nova empreitada, algo até então inédito já que a própria banda era quem produzia os seus álbuns. Seguindo a sugestão de sua namorada, Carolyne Christie, Waters convocou Bob Ezrin, produtor que já havia trabalhado com Alice Cooper, Kiss e Lou Reed. Christie havia trabalhado como secretária de Ezrin. Além de contribuir na produção do novo álbum, Ezrin serviria como uma espécie de mediador nos conflitos entre Roger Waters e David Gilmour.
Bob Ezrin em 2917: produtor do álbum The Wall. |
Foi Bob Ezrin quem ajudou a formatar melhor o conceito elaborado por Waters para Bricks In The Wall. Após uma audição da fita demo na casa de campo de Waters e reuniões com os membros da banda, Bob Ezrin enxergou naquele projeto um roteiro de um filme imaginário, e sugeriu algumas modificações. Se a princípio, o conceito se mostrava muito baseado na vida de Waters, praticamente biográfico, Ezrin sugeriu uma história focada na vida de um personagem fictício, um astro do rock, que por um lado se basearia na vida de Waters (perda do pai na Segunda Guerra Mundial, superproteção materna), mas também na vida de uma outra figura também ligada ao Pink Floyd, Syd Barret, que neste caso, retrataria o abuso no uso de drogas e a vida desregrada de algumas estrelas do rock. E por mais uma sugestão de Bob Ezrin, o título do novo álbum, ao invés de Bricks In The Wall, foi reduzido apenas para The Wall.
O período de gravação de The Wall se estendeu ao longo do ano de 1979, do mês de janeiro a setembro daquele ano. A banda gravou em vários estúdios: Super Bear Studios e Studio Miraval, ambos em Correns, na França; CBS Studios, em Nova York, Estados Unidos; e os estúdios Cherokee , Producers Workshop e The Village Recorder, em Los Angeles, Estados Unidos.
As gravações de The Wall não foram tão tranquilas. Um conflito entre Roger Waters e Richard Wright acabou culminando na demissão de Wright. Waters acusava Wright de estar pouco empenhado nas gravações do novo álbum. Richard Wright por sua vez, mostrava-se insatisfeito com a presença de Bob Ezrin na produção. Além disso, o tecladista estaria passando por problemas particulares como crise no seu casamento e sintomas de depressão. A situação ficou tão insustentável, que Waters ameaçou cancelar o lançamento de The Wall. Nesse embate, Wright acabou deixando a banda, porém, por incrível que pareça, participou da turnê de The Wall como músico contratado.
Richard Wright: de membro fixo a músico contratado no Pink Floyd. |
Um outro conflito que se estabeleceu foi entre Roger Waters e David Gilmour. A razão do conflito foi a gravação da faixa “Comfortably Numb”, composta pelos dois. Enquanto Gilmour queria uma sonoridade mais “suja” nos versos, mais simples, enquanto que Waters, um arranjo mais elaborado, uma preferência que também era a de Bob Ezrin. O resultado final é que ficou um misto das duas ideias, com a sonoridade mais elaborada e limpa como queria Waters, e o som mais cru da preferência de Gilmour ao final, com um solo de guitarra fantástico executado por ele.
A concepção da capa de The Wall ficou a cargo do cartunista inglês Gerald Scarfe, quebrando uma sequência de nove álbuns de estúdio com capas elaboradas pelo estúdio Hipgnosis, do designer Storm Thorgerson. Roger Waters rompeu com aquele estúdio após descobrir que Thorgerson havia lançado um livro onde incluiu a capa de Animals sem sua permissão. A capa de The Wall, uma das mais simples da discografia do Pink Floyd, mostra uma parede de tijolos brancos e sem texto. Algumas edições posteriores trouxeram o nome da banda e o título do álbum escritos na capa. Scarfe já havia trabalhado antes com o Pink Floyd, quando fez animações para a turnê In The Flesh, em 1977.
A capa e as ilustrações internas foram criadas pelo cartunista inglês Gerald Scarfe. |
Para ajudar a promover o álbum que estava prestes a sair e apostando no potencial comercial da faixa, Bob Ezrin convenceu o Pink Floyd a lançar a faixa “Another Brick In The Wall – Part 2” em formato single. A banda não lançava um single desde de 1968. O single de “Another Brick In The Wall – Part 2” foi lançado em 16 de novembro de 1979, acompanhado de um videoclipe promocional feito às pressas. A sugestão de Ezrin não foi em vão: três semanas depois de seu lançamento, o single de “Another Brick In The Wall – Part 2” chegou ao 1º lugar na Inglaterra, derrubando do posto de liderança o single de “Walking On The Moon”, do The Police, uma das principais bandas da nova geração do rock inglês da época. O feito do single do Pink Floyd na Inglaterra foi repetido nos Estados Unidos, Noruega, Portugal, Israel, e na então Alemanha Ocidental. Na África do Sul, o sucesso do single teve outro impacto: serviu de estímulo para que crianças negras protestassem contra o regime apartheid, fazendo com que o governo racista sul-africano banisse a canção do Pink Floyd das rádios daquele país.
Finalmente, no dia 30 de novembro de 1979, o álbum duplo The Wall chegava às lojas britânicas. Nos Estados Unidos, só chegaria em 8 de dezembro. Os executivos da Columbia, selo que responsável pela distribuição dos álbuns do Pink Floyd nos Estados Unidos, tiveram uma reação um tanto quanto “morna” quando fizeram a primeira audição do álbum. Esperavam algo como um novo Dark Side Of The Moon. Reação “morna” também teve a imprensa musical. A revista New Musical Express viu The Wall como um “monumento ao pessimismo autocentrado”. Já a Melody Maker achou o álbum totalmente convincente. Nos Estados Unidos a revista Rolling Stone foi cautelosa nos elogios e afirmou que a visão de mundo de Roger Waters era “tão incessantemente triste e acidulada que ela faz gente desagradável contemporânea como Randy Newman ou, digamos, Nico, parecer Peter Pan e Sininho”.
The Wall é um álbum que trata sobre abandono, insegurança e isolamento pessoal. Através das suas 26 faixas, o álbum duplo conta a história de Pink, um astro do rock que perdeu o seu pai na infância durante a Segunda Guerra Mundial. E por causa disso, sofreu a superproteção implacável da mãe. Frequentou uma escola de ensino extremamente rígido, onde os professores eram autoritários e violentos. Na vida adulta, apesar do sucesso na música, os traumas da infância transformaram Pink num adulto inseguro, quando vivencia novos dramas como o fracasso no casamento e o vício em drogas. Numa tentativa de se proteger desses dramas, Pink acredita que a única saída é construir um “muro psicológico” para isolar-se do mundo. Cada drama, cada trauma, cada frustração vivenciada por Pink, é um tijolo que ele põe nesse muro. Ficam evidentes que os dramas de Pink são inspirados na vida de Roger Waters e na de Syd Barret.
Das 26 faixas, 24 foram compostas apenas por Roger Waters. As outras foram compostas por Waters em parceria. O lado 1 do disco 1 do álbum duplo The Wall começa de forma apoteótica com o som lento e pesado do hard rock “In The Flesh?”, canção que leva o mesmo título da turnê do álbum Animals, sendo que aqui, ela apareça como uma indagação. Em “In The Flesh?”, na voz do baixista Roger Waters, o astro do rock fictício Pink se apresenta num tom irônico, e faz um convite ao público (e ao ouvinte do álbum) a mergulhar na sua história para saber como ele chegou até ali, e como diz um dos versos da canção: “Encontrar o que está por trás destes olhos frios”.
Roger Waters e David Gilmour dividem os vocais em “The Thin Ice”, faixa que começa com um choro de criança, dando a entender que se trata do nascimento de Pink. A canção compara viver a vida com patinar num gelo fino (“the thin ice”) que poderá rachar a qualquer momento, dependendo do peso dos traumas que se carrega.
Roger Waters num show do Pink Floyd: horror da idolatria dos fãs o inspirou da criação do conceito de The Wall. |
“Another Brick The Wall – Part 1” possui a mesma linha melódica da versão parte 2, porém num ritmo mais lento. Esta primeira versão, com vocal principal de Roger Waters, trata sobre a morte do pai de Pink na Segunda Guerra Mundial, quando o futuro astro do rock ainda era criança e que mudaria completamente a sua vida. A partir daí, Pink começa a construir o seu “muro imaginário”.
“The Happiest Days Of Our Lives” possui um título irônico (“Os Dias Mais Felizes Das Nossas Vidas) diante do conteúdo dos seus versos. Nela, Waters canta sobre a infância de Pink numa escola de regime repressor, onde os professores são autoritários e violentos.
Emendada com “The Happiest Days Of Our Lives”, começa a faixa seguinte, “Another Brick The Wall – Part 2”, com vocais de Waters e Gilmour, e que prossegue com a crítica ao sistema escolar rígido e autoritário. “Another Brick The Wall – Part 2” traz a participação de um coral de crianças da Islington Green School, de Londres. O produtor Bob Ezrin foi o autor da ideia da participação dessas crianças que chegou a comover Roger Waters quando este ouviu a gravação finalizada. Nesta faixa, surpreende uma sutil levada em ritmo disco music empregada pelo Pink Floyd, e que foi uma outra sugestão dada pelo produtor Bob Ezrin.
Fechando o lado 1 do disco 1, a balada “Mother”, na qual Waters e Gilmour cantam sobre a superproteção da mãe de Pink após a morte do pai dele. Essa superproteção se revelará nociva na vida adulta de Pink, que o tornará um homem inseguro, e é mais um tijolo a contribuir na elevação do muro.
O lado 2 do disco 1 da versão LP do álbum duplo, começa com o canto de cotovias de “Goodbye Blue Sky” que abre a canção. Logo em seguida ao canto das cotovias, uma voz de uma criança (provavelmente uma referência ao Pink criança) diz: “Veja, mamãe, tem um avião no céu”. A letra descreve de maneira sutil, o temor das bombas despejadas pelos aviões sobre Londres durante a Segunda Guerra Mundial e a busca por um abrigo para se proteger. A canção delicada traz David Gilmour cantando e tocando seu vilão, acompanhado por sintetizadores ao fundo, criando um clima de tensão à música.
Com vocal de Waters, “Empty Spaces” apresenta o muro imaginário de Pink ainda incompleto, e o astro do rock se pergunta como e com que preencher os espaços vazios que ainda há nele. Assim que termina, “Empty Spaces” é emendada por “Young Lust”, um misto de hard rock com uma leve levada funk, cuja letra descreve Pink em turnê, e que para aliviar as tensões dos shows e viagens, aproveita os prazeres do sexo com groupies. Porém, Pink faz uma descoberta que se revelou um duro golpe: ao telefonar para a casa, descobre que sua esposa está o traindo com outro homem.
“One Of My Turns” começa lenta, com voz de uma mulher e um som de TV, seguido depois pelo canto de Waters. Subitamente, o ritmo lento e calmo cede lugar para um som mais agitado e rápido. Com vocal principal de Waters, “One Of My Turns” retrata Pink e uma groupie num quarto de hotel. Enquanto ela se deslumbra com o ambiente, o astro do rock se mostra alheio, com a mente distante pensando apenas no fracasso do seu casamento. De repente, Pink tem um acesso de fúria e destrói todo o quarto do hotel em que está hospedado.
Em “Don’t Leave Me Now”, Waters canta de maneira desesperada, parecendo encarnar o próprio Pink. A letra traz um Pink clamando à esposa para não deixá-lo. É o fim por completo do casamento do astro, e mais um tijolo posto no muro que só cresce.
Pink rebela-se em “Another Brick The Wall – Part 3”, ao afirmar que não precisa mais de braços ao seu redor e nem de drogas para acalmá-lo, e completa: “All in all it was all just bricks in the wall / All in all you were all just bricks in the wall” (“No final, tudo era apenas tijolos no muro / No final, vocês eram apenas tijolos no muro”).
“Goodbye Cruel World” encerra o lado 2 do disco 1, apenas com a voz e o baixo de Roger Waters, e um sintetizador de Richard Wright. Canção curta e triste, na qual Pink se despede do mundo e se isola no muro.
Capa dupla interna de The Wall com a arte de Gerald Scarfe. |
O disco 2 começa a faixa “Hey You” abrindo o lado 3, e traz David Gilmour e Roger Waters nos vocais principais. Isolado pelo seu muro psicológico, Pink tenta fazer contato com quem está do outro lado do muro. Mas logo ouve que o muro é muito alto e praticamente intransponível.
Pink prossegue tentando contato com o mundo do outro lado em “Is There Anybody Out There?”. A primeira metade da música é tensa. Riffs de guitarra produzem ruídos que lembram sons de sirenes, e ao mesmo tempo remetem aos efeitos sonoros que se ouve em “Echoes”, clássico do Pink Floyd presente no álbum Middle (1971). Os dedilhados de violão espantam o estado de tensão, e criam um clima de calmaria no final da canção.
Em “Nobody Home”, Pink está confinado num quarto de hotel e isolado pelo seu muro psicológico. Lá dentro, ele tenta falar por telefone com as pessoas que conhece, mas não encontra ninguém. A canção parece fazer uma alusão a Syd Barret.
O título da canção seguinte, “Vera”, faz referência à Vera Lynn, uma cantora britânica muito famosa nos anos 1940 durante a Segunda Guerra Mundial. Provavelmente teria sido uma cantora da qual o pai de Pink era fã. Uma banda marcial e um coral dão início a “Bring The Boys Back Home”, que começa emendada com o final de “Vera”, faixa anterior. Roger Waters canta de maneira estridente versos curtos que são um apelo pela volta dos soldados da guerra.
“Comfortably Numb”, uma das mais destacadas canções de The Wall, fecha o lado 3 do disco 2. Com Gilmour e Waters se revezando nos vocais, a canção foi composta pelos dois, e trata sobre um médico que tenta medicar Pink para que ele saia do isolamento psíquico e volte aos palcos. Em “Comfortably Numb”, Gilmour faz um dos mais belos solos de guitarra da sua carreira.
“The Show Must Go On” abre o lado 4 no disco 2, com David Gilmour no vocal principal, e é acompanhado por vocais de apoio bem ao estilo dos Beach Boys. É a única faixa do álbum que Roger Waters não canta e nem toca qualquer instrumento. A canção apresenta um Pink buscando retornar à sua carreira de astro do rock e livrar-se da superproteção materna.
Bob Geldorf no papel de Pink, na versão cinematográfica de The Wall, dirigida por Alan Parker. |
Roger Waters canta em “In The Flesh”, que começa como um hard rock lento e pesado que depois ganha ares de música gospel, e mais adiante, retorna ao som pesado inicial. O título da faixa é o mesmo que deu nome à turnê do álbum Animals, em 1977. Em “In The Flesh”, Pink retorna aos palcos, mas desta vez de maneira estranha e polêmica: assumindo uma postura de líder nazista, homofóbico e racista.
Na faixa “Run Like Hell”, Waters e Gilmour dividem os vocais e cantam sobre Pink que assume uma persona fascista ao fazer um discurso repressivo tal qual um ditador, e incentiva seus seguidores a perseguirem os seus opositores. A música é um misto de rock e uma levada disco music.
“Waiting For The Worms” traz Waters e Gilmour mais uma vez se revezando nos vocais. Marca a espera de Pink atrás do muro aguardando a chegada dos vermes. Ao longo do caminho, os vermes perseguem negros, judeus e homossexuais pelas ruas de Londres.
A curta “Stop” mais parece uma vinheta, e trata do verdadeiro Pink, aprisionado no subconsciente pelo próprio Pink, grita desesperado que quer parar tudo, retomar a sua vida e desistir de toda aquela vida absurda.
Em “The Trial”, Pink é julgado num tribunal por demonstrar “sentimentos de uma natureza quase humana”. Sua mãe, esposa e professor dão depoimentos. A condenação, decretada pelo juiz, é a derrubada do muro. Ouve-se uma grande explosão.
“Outside The Wall” é a canção que encerra o álbum, trazendo em seus versos uma mensagem que afirma que quem somos realmente de verdade, está do outro lado do muro. A letra da canção dá a entender que Pink conseguiu liberta-se do muro psicológico que o aprisionava.
Se a recepção a The Wall por parte da imprensa musical foi inicialmente “morna”, o público recebeu muito bem o álbum duplo de estúdio do Pink Floyd. The Wall assumiu o topo da parada da Billboard, nos Estados Unidos, e por lá ficou por cerca de 15 semanas. Foi o álbum mais vendido nos Estados Unidos em 1980. No Reino Unido ficou em 3º lugar das paradas de álbuns. Entre 1979 e 1990, The Wall vendeu mais de 19 milhões de cópias mundialmente, e em 1999, chegou à marca de 23 milhões de cópias vendidas no mercado norte-americano. The Wall tornou-se o segundo álbum mais vendido do Pink Floyd, atrás apenas de Dark Side Of The Moon.
Para divulgar o álbum, o Pink Floyd iniciou em 7 de fevereiro de 1980, a The Wall Tour, talvez a mais ambiciosa turnê da história da banda britânica. Todo o conceito da turnê se baseou no próprio conceito do álbum: nos concertos, um muro de doze metros feito de tijolos cenográficos era construído gradualmente entre a banda e o público no decorrer da apresentação. Personagens na história de Pink apareciam no palco em formatos infláveis gigantescos. No final do concerto, o muro era derrubado.
Devido a todo o aparato cenográfico dos shows, além dos equipamentos de som, e ao custo da logística que o perfil dessa turnê requeria, a The Wall Tour passou por poucas cidades pelo mundo, e consequentemente, o número de shows foi pequeno. A turnê passou por Los Angeles/EUA (sete shows), Union Dale/EUA (cinco shows), Dortmund/Alemanha (oito shows) e Londres (onze shows), totalizando 31 apresentações. O mais irônico é que enquanto o Pink Floyd amargou um enorme prejuízo, o único que saiu lucrando com a turnê foi Richard Wright, justamente o integrante expulso da banda. Como atuou como músico contratado e não mais fazia parte da banda, Wright não sentiu o peso do prejuízo, ao contrário de David Gilmour, Roger Waters e Nick Mason.
Pink Floyd num show da turnê The Wall. |
Em 1982, estreou nos cinemas o filme The Wall, do diretor Alan Parker, tendo o cantor Bob Geldorf no papel de Pink. Roger Waters escreveu o roteiro, e o cartunista Gerald Scarfe foi responsável pelas animações presentes no filme. Ao longo do tempo, The Wall, o filme, se tornou um “filme cult”.
Na edição do Grammy Awards de 1980, o engenheiro de som James Guthrie foi contemplado com um prêmio na categoria “Melhor Gravação (não clássica)” pelo seu trabalho no álbum The Wall.
Já com um ex-Pink Floyd, Roger Waters montou em 1990, montou em parceria com o produtor Tony Hollingsworth, a The Wall Live in Berlin, na cidade Berlin, na Alemanha, um grande concerto musical que era uma clara alusão à queda do Muro de Berlin, e que teve um caráter beneficente. O concerto contou com a participação de ilustres convidados como Scorpions, Cyndi Lauper, Sinead O’Connor e Bryan Adams, para um público de cerca de 350 mil pessoas.
Anos depois, em 2010, Waters promoveu a turnê mundial The Wall Live, que se estendeu até 2013, e contou com o que havia de mais avançado em tecnologia de som e em projeção de imagens em alta resolução. Foram mais de 219 shows e a arrecadação total foi de 458,6 milhões de libras.
Em 2003, a revista Rolling Stone colocou The Wall no 87º lugar na sua lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos.
Faixas
Todas as canções escritas por Roger Waters, exceto quando indicado.
Disco 1
Lado 1
- “The Flesh?”
- “The Thin Ice”
- “Another Brick In The Wall - Part 1”
- “The Happiest Days Of Our Lives”
- “Another Brick In The Wall - Part 2”
- “Mother”
Lado 2
- “Goodbye Blue Sky”
- “Empty Spaces”
- “Young Lust” (Gilmour – Waters)
- “One Of My Turns”
- “Don't Leave Me Now”
- “Another Brick In The Wall - Part 3”
- “Goodbye Cruel World”
Disco 2
Lado 3
- “Hey You”
- “Is There Anybody Out There?”
- “Nobody Home”
- “Vera”
- “Bring The Boys Back Home”
- “Comfortably Numb” (Gilmour – Waters)
Lado 4
- “The Show Must Go On”
- “In The Flesh”
- “Run Like Hell” (Gilmour – Waters)
- “Waiting For The Worms”
- “Stop”
- “The Trial” (Bob Ezrin - Waters)
- “Outside The Wall”
Pink Floyd: Roger Waters (vocal, baixo, guitarra rítmica, sintetizadores e efeitos sonoros), David Gilmour (guitarra solo, guitarra rítmica, vocal, baixo e sintetizadores), Nick Mason (bateria e percussão) e Richard Wright (piano, órgão Hammond, piano elétrico, sintetizadores e pedais).
“The Flesh?”
“The Thin Ice”
“Another Brick In The Wall - Part 1”
“The Happiest Days Of Our Lives”
“Another Brick In The Wall - Part 2”
(videoclipe original)
“Mother”
“Goodbye Blue Sky”
“Empty Spaces”
“Young Lust”
“One Of My Turns”
“Don't Leave Me Now”
“Another Brick In The Wall - Part 3”
“Goodbye Cruel World”
“Hey You”
“Is There Anybody Out There?”
“Nobody Home”
“Vera”
“Bring The Boys Back Home”
“Comfortably Numb”
“The Show Must Go On”
“In The Flesh”
“Run Like Hell”
“Waiting For The Worms”
“Stop”
“The Trial” (Bob Ezrin - Waters)
“Outside The Wall”
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