quinta-feira, 29 de junho de 2023

10 discos essenciais: álbuns duplos

 


O álbum duplo surge pouco depois da criação do LP. Enquanto o LP aparece em 1948 através da gravadora Columbia Records, nos Estados Unidos, o álbum duplo, trazendo dois LP’s, surge em 1950, tendo como primeiro lançamento nesse formato The Famous 1938 Carnegie Hall Jazz Concert, de Benny Goodman, também pela Columbia, álbum duplo com gravação ao vivo de uma apresentação do jazzista e sua orquestra no Carnegie Hall, em Nova York, em 1938. Mas o primeiro álbum duplo gravado em estúdio só veio em 1964, com Verlaine et Rimbaud, de Léo Ferré trazendo 24 faixas a partir de poemas musicados dos poetas Paul Verlaine e Arthur Rimbaud.

Porém, o formato álbum duplo só veio ganhar uma viabilidade comercial na música popular através do rock nos anos 1960. Blonde On Blonde, de Bob Dylan, lançado em maio de 1966, foi o primeiro álbum duplo da história do rock, e no mês seguinte, Freak Out!, dos Mothers of Invention, o segundo do álbum duplo do gênero. A partir da segunda metade dos anos 1960, o experimentalismo no rock passou a se valer dos avanços da tecnologia de gravações de discos e a exigir mais espaço nos discos, o que acabou fazendo o formato álbum duplo ser bastante explorado, tanto do ponto de vista musical quanto visual, já que o álbum duplo exigia capa dupla, geralmente com uma arte gráfica bem mais caprichada.

O auge dos álbuns duplos foi a década de 1970, tendo o rock progressivo como o gênero que mais explorou esse formato, chegando até a lançar álbuns triplos. Porém, não era um formato exclusivo do rock progressivo, havendo lançamentos nesse formato em outros gêneros musicais que tiveram ótimos resultados comerciais apesar de serem mais caros do que um álbum simples. Com o advento do CD a partir dos anos 1980, os álbuns duplos foram perdendo espaço, já que o tempo de um álbum duplo em vinil cabia perfeitamente num CD. No entanto, alguns títulos lançados originalmente como álbum duplo em vinil, se mantiveram como álbum duplo em CD, provavelmente para manter a tradição do formato duplo original.  


Blonde On Blonde (Columbia, 1966), Bob Dylan. Considerado o primeiro álbum duplo da história do rock, Blonde On Blonde consolida o processo de eletrificação da música de Bob Dylan, iniciada com o álbum Bringing It All Back Home (1964), causando a ira dos fãs mais radicais, mas conquistando novos públicos que passaram a apreciar o trabalho do cantor. Dylan vivia um dos períodos mais criativos e férteis da sua carreira, o que só comprova o fato de ter produzido um álbum duplo como Blonde On Blonde, gravado em Nashville e acompanhado do The Hawks, banda que depois seria rebatizada com o nome de The Band. Tido como denso e melancólico, mesclando folk rock, blues e country music, Blonde On Blonde começa com a faixa “Rainy Day Women #12 & 35”, que foi banida das rádios na época por trazer o verso “Todo mundo deve ficar chapado”. “Just Like A Woman”, “Visions Of Johanna” e “I Want You” (regravada em português pelo Skank nos anos 1990) são alguns dos destaques do álbum.  


Electric Ladyland (Track, 1968), The Jimi Hendrix Experience. Após dois excelentes álbuns, o power trio Jimi Hendrix Experience lança o que é considerado o seu melhor álbum, Electric Ladyland. Este álbum duplo foi produzido pelo próprio Hendrix e nele o guitarrista pode dar vazão à sua explosão criativa e fazendo uso de toda a tecnologia de gravação disponível na época. O resultado foi um álbum eclético que vai do soul psicodélico ("Have You Ever Been (To Electric Ladyland)" ao blues lisérgico e viajante ("Voodoo Chile") passando pelo experimentalismo e efeitos sonoros ("…And The Gods Made Love" e "Moon, Turn The Tides… Gently Away"). Destaques para "Crosstown Traffic", "Voodoo Child (Slight Return)" e "All Along The Watchtower", esta última de Bob Dylan à qual Hendrix deu uma nova e definitiva interpretação.


The Beatles (Apple Records, 1968), The Beatles. Mais conhecido como The White Album ("álbum branco"), é o primeiro e único álbum duplo de inéditas dos Beatles, e o primeiro lançamento do selo Apple Records. Foi gravado após o retiro espiritual dos Beatles na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi. As sessões de gravação do álbum foram marcadas por muita tensão, egos inflados e desentendimentos, iniciando o começo do fim da banda. The Beatles, o álbum, mostra a banda redirecionando a sua música, deixando para trás os excessos e as “gorduras” dos três álbuns anteriores, dando adeus à psicodelia e indo em direção a um tipo de música mais enxuta e menos rebuscada. Apesar de todo o caos da produção, o resultado final foi positivo, trazendo faixas memoráveis como “"Back In The U.S.S.R.”, “While My Guitar Gently Weeps”, “Helter Skelter”, “Dear Prudence”, "Blackbird” dentre outras.  


Exile On Main St. (Rolling Stones Records, 1972), The Rolling Stones. Fugindo das cobranças de impostos na Inglaterra, os Rolling Stones se refugiaram num vilarejo próximo a Nice, sul da França, onde alugaram uma mansão, e num porão, improvisaram um estúdio. O local com estrutura precária para gravação, somado às farras regadas a muita bebida e drogas, dava a entender que dali não sairia nada. Porém, não só saiu alguma coisa, como saiu em fartura: um material que rendeu um álbum duplo, Exile on Main St. O álbum mostra os Stones inspirados no velho blues (“Sweet Black Angel”, “Shake Your Hips” e “Sweet Virginia”), na country music (“Torn And Frayed”), no gospel (“Tumbling Dice”) e mostrando as garras em rocks afiados ( “Rocks Off” e “Happy”).


Clube da Esquina (EMI-Odeon, 1972), Milton Nascimento. Milton Nascimento já era um artista famoso quando convidou o jovem Lô Borges, então com cerca de 19 anos de idade,  para dividir com ele o álbum duplo Clube da Esquina. Milton já havia gravado anteriormente canções de Lô, como “Para Lennon e McCartney”, “Alunar” e “Clube da Esquina” (esta última, uma parceria de Milton, Lô e Márcio Borges), as três do álbum Milton (1970). Para a gravação do álbum duplo, Milton e Lô cercaram-se de companheiros da cena musical de Minas Gerais como Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta entre outros. Com uma musicalidade que mescla referências de Beatles (safra 1969), folk rock, rock progressivo com a música do interior de Minas Gerais, tudo emoldurando uma riqueza poética nas letras, Clube da Esquina foi muito além de apenas um álbum duplo brilhante, batizou com seu nome um movimento musical que se tornou um dos mais importantes da música popular brasileira. Dentre as suas 21 faixas, algumas se tornaram clássicos da música brasileira como “O Trem Azul”, “Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo”, “Paisagem Da Janela” e “Nada Será Como Antes”.


Goodbye Yellow Brick Road (DJM, 1973), Elton John.  Após uma sequência de excelentes álbuns como Madman Across The Water (1971), Honky Château (1972) e Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player (1973), Elton John chega à consagração com o álbum duplo Goodbye Yellow Brick Road, em 1973. O álbum ratifica o alto nível da parceria Elton John-Bernie Taupin como hitmakersjá mostrado nos álbuns anteriores. Dentre as faixas de Goodbye Yellow Brick Road, algumas se tornaram clássicos da carreira de Elton John como “Candle In The Wind”, “Bennie And The Jets”, “Saturday Night's Alright For Fighting”, a quilométrica “Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding” e a faixa-título. Goodbye Yellow Brick Road vendeu mais de sete milhões de cópias e fez de Elton John um astro de primeira grandeza do rock, lotando estádios e arenas, vestindo figurinos extravagantes e usando óculos dos mais esquisitos.


Physical Grafitti (Swang Song, 1975), Led Zeppelin. Physical Grafitti é o ápice criativo do Led Zeppelin que vinha numa ótima sequência de álbuns desde o primeiro, Led Zeppelin, de 1969. Já a partir do quarto álbum, Houses Of The Holy (1973), o quarteto inglês demonstrava interesse de ir além da fórmula hard rock/blues/folk music que o consagrou nos primeiro três discos. Physical Grafitti seria na prática, uma evolução do álbum anterior. Neste álbum duplo, o Led Zeppelin amplia o seu leque musical abrangendo o rock progressivo, pop, música indiana e funk , mostrando-se uma banda mais eclética do que por exemplo, o Deep Purple e o Black Sabbath, que juntas com o Led compõem na minha opinião, a “santíssima trindade do rock pesado”. “Kashmir”, “Trampled Under Foot”, “Houses Of The Holy”, “Bron-Yr-Aur” e “In My Time Of Dying” são alguns dos melhores momentos deste álbum duplo magnífico.


Songs In The Key Of Life (Motown, 1976), Stevie Wonder. A Motown havia apostado uma grana alta na renovação de contrato com Stevie Wonder, após uma sequência de álbuns muito bem avaliados pela crítica e com ótimos desempenhos comerciais. No entanto, a demora na produção do ambicioso Songs In The Key Of Life preocupou a Motown. Porém, a espera do lançamento do valeu à pena. Além de ser álbum duplo, Songs In The Key Of Life trazia de brinde uma EP com mais 4 faixas, um deleite total para os fãs. Abordando temas como amor, racismo, política, fé e conflitos sociais, Songs In The Key Of Life emplacou hits memoráveis como “Isn't She Lovely” e “Sir Duke”, conquistou quatro prêmios Grammy, e tornou-se um dos mais importantes álbuns da história da soul music e do R&B.


London Calling (Columbia, 1979), The Clash. O Clash surpreendeu em todos os aspectos quando lançou, no final de 1979, London Calling, seu terceiro álbum. Para começar, lançando um álbum duplo, mas vendido ao preço de um álbum simples, a pedido do Clash. Em segundo, a banda mostra-se musicalmente bem diversificada, experimentando com reggae e ska (algo que na verdade já assinalava desde o primeiro álbum), e também com jazz, funk e pop. No entanto, o discurso politizado e engajado continua afiado. Temas como violência, consumismo, racismo, drogas, desemprego e política estão presentes em London Calling. O álbum deu projeção ao Clash no mercado norte-americano e foi 9º lugar no Reino Unido. London Calling é presença garantida nas listas de melhores álbuns de rock de todos os tempos.  Destaques para as faixas “London Calling”, “Spanish Bombs”, “Lost In The Supermarket” e “The Guns Of Brixton”.


The Wall (Harvest, 1979), Pink Floyd. A turnê do álbum Animals (1977), deixou o baixista Roger Waters horrorizado com a idolatria desenfreada dos fãs do Pink Floyd, com os shows e as estruturas gigantescas em estádios lotados e com o estrelato a que a banda havia chegado. Tal situação de pavor inspirou Waters a criar o conceito do próximo álbum do Pink Floyd, The Wall, contando a história de Pink, um rock star que rebela-se contra o seu próprio público fanático e com a vida de astro do rock, culpando a superproteção da mãe, a ausência do pai (morto numa guerra) e as drogas pelas suas frustrações; isola-se de tudo e de todos atrás de um muro imaginário, daí o título do álbum. Para desenvolver a história do personagem fictício nas canções do álbum, Waters inspirou-se na sua própria vida ( seu pai morreu na 2ª Guerra Mundial, deixando a esposa grávida dele ) e um pouco na de Syd Barret (onde entra aí a vida conflituosa de Pink como astro do rock). O álbum inspirou o filme Pink Floyd – The Wall, de Alan Parker, lançado em 1982. “Another Brick In The Wall, Part 2”, “Comfortably Numb”, “Run Like Hell” e “Hey You” foram os hits deste álbum duplo. 


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