Dois mil e vinte marca a entrada de uma segunda década na carreira da banda de New Jersey, e nada como um novo álbum para celebrar esse feito. Para uma banda que segue firme no seu espectro de indie rock ameno é mesmo um feito, e este quinto álbum encaixa como uma luva na sua bela discografia.
Os Real Estate conseguem sempre lançar discos saborosos. Não criam grandes expectactivas, não desiludem, não se atiram para fora de pé, e conseguem acima de tudo manter a sua personalidade sonora. Inovando sim, experimentando sim, adaptando sim, mas personalidade intacta, e isto tem um valor incalculável nos dias que correm.
Para a elaboração deste The Main Thing houve inovação na inclusão de músicas de outros elementos da banda para além de Martin Courtney, houve experimentação na abertura à participação de terceiros em músicas do álbum (Sylvie Esso em “Paper Cup”). Houve também novas fontes de inspiração, sendo que a mais citada por Courtney foi o bonito Avalon, dos Roxy Music. Ao longo de 13 músicas e 50 minutos os Real Estate mostram-se senhores do seu domínio, com uma maturidade transcendente e arranjos muito bem conseguidos.
A parentalidade é uma das linhas essenciais do álbum. Para Courtney, pai de três, a sua profissão teve de ser questionada dada as dificuldades naturais de gerir uma família e uma carreira de músico mal pago. Esta necessidade de equilíbrio é tema recorrente nas canções do álbum com o habitual registo melancólico a ser o utilizado para carpir as suas dores de olhar para o espelho e passar a ver um adulto à sua frente.
“Also a But” é a música que mais destaco, pela riqueza de momentos dentro de si, pelas deambulações a que os membros da banda se permite, quase que em registo jam session a deixarem-se levar. “The Main Thing” é Real Estate vintage, caberia em qualquer dos álbuns anteriores da banda. “Gone” é a mais introspectiva e calmia, praia na qual a banda sempre se banhou e bem.
The Main Thing não figurará nos álbuns do ano, porque a sua luz não é de efeito duradouro e falta uma ou duas canções maiores que a vida para os Real Estate terem um álbum histórico. Mas conseguirem cinco seguidos que são um 8 em 10 é também um feito que merece o seu destaque.
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