segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Crítica ao disco de Violent Attitude If Noticed - 'Ourselves and Otherwise' (2017)

Violent Attitude If Noticed - 'Ourselves and Otherwise' (2017)

1º de agosto de 2017
Progressive Gears Records

Violent Attitude If Noticed (de agora em diante VAI N) é uma banda brasileira que canta em inglês, nascida em 2008, hoje formada por Alessandro Queler (sintetizador e piano), Guilherme Saba (baixo, sintetizador de baixo e segundo vocalista) e Will Geraldo (vocalista, guitarra, piano e programador).

'Nós mesmos e Caso contrário' foi gravado entre março de 2016 e janeiro de 2017. Will Geraldo fez a masterização e mixagem, e também foi responsável pela gravação de grande parte do álbum, exceto a bateria, que foi feita por Tercio Jr., exceto a músicas: "Redemption" e "Ground Zero", onde foi utilizada uma bateria virtual. A produção também ficou a cargo de Geraldo, a fotografia ficou por conta de Juliana Bueno e a arte do álbum ficou por conta de Fernando Melo.

Antes dessa review eu não conhecia a banda, aliás, o álbum deles chegou até mim por acaso. No entanto, foi uma surpresa saber que o VAI N tem três álbuns anteriores em seu currículo. Além disso, as críticas a este último trabalho vieram da França e da Alemanha, com julgamentos díspares. O trio sul-americano declara em seu site que é hora de deixar de lado a indiferença diante dos fatos que afetam o nosso mundo, como o racismo e a intolerância, e começar a agir. Sob essa premissa, a banda compõe suas músicas.

Agora vamos nos concentrar no disco. Abre com “Time Waster”, uma música poderosa onde os sons de sintetizadores e teclados, além da voz de Will Geraldo, protagonizam diversas passagens. O violão do vocalista da banda brasileira também tem espaço para se mostrar, mas não chega nem remotamente ao lugar dos sons e efeitos programados, que se amalgamam e se transformam em diferentes trechos dessa melodia. Por outro lado, a bateria também reivindica seu espaço e se mostra com vigor, buscando destaque. Nesta primeira composição há uma amostra do que encontraremos em “Ourselves and Other”: sintetizadores e muitos efeitos. Sem dúvida um dos destaques do álbum.

A segunda música é “Useless”, um cover do Depeche Mode da música de seu nono álbum “ULTRA” de 1997. Nesta composição a banda brasileira apresenta uma nova versão, mais pesada e agressiva, onde novamente o uso de pianos e sintetizadores , mas o baixo e a guitarra ganham mais destaque, numa música que parece própria da banda, transformando-a de forma satisfatória. Além disso, através desta melodia são reafirmadas as influências do VAIN, que vão do New Wave ao Rock Progressivo.

Depois de “Useless” vem “Redemption”, onde voltam a destacar a utilização de sons eletrónicos, que, juntamente com a bateria virtual, baixo e voz, apresentam uma melodia pouco atrativa e desinteressante, que não apresenta nada de novo ou ousado.

Chegamos à quarta música que é “White. Amarelo. Red” que dura 10 minutos e 33 segundos e começa com a voz cativante de Cléo, que lembra muito “O Grande Gig no Céu”. Com uma abertura intensa, VAIN nos apresenta uma música onde todos os instrumentos criam uma composição cheia de cores, tons e níveis que sobe, desce, entra e sai. A música parece maleável e se move por diferentes camadas e ritmos. O melhor do álbum. Da mesma forma, aqueles sintetizadores que antes beiravam a saturação e a saciedade agora parecem dar maior solidez à trama sonora criada nesta música, o que é outro dos pontos positivos.

Em “The Tower” as influências pós-punk e new wave continuam na ordem do dia. Estamos diante de uma música onde guitarra, bateria e baixo fazem uma fusão de sucesso. Pode se tornar tedioso e monótono em um ponto, mas recupera força nos dois solos de guitarra e na seção instrumental para fechar corretamente.

Um ponto baixo até o momento é a voz de Will Geraldo, que aparece plana, monocromática sem capacidade de atingir momentos bombásticos, o que não permite que as composições da banda alcancem maiores níveis de emoção em determinados trechos do álbum. É na parte final de “A Torre”, onde isso fica mais evidente, mas há outras passagens em que essa deficiência é percebida.

A bateria e os sons programados de Tercio Jr. abrem Ever-Ticking Clock, que dá lugar a uma guitarra bem metal e rock, numa composição em que as seis cordas, o bumbo e os pratos, o baixo e onde atua a voz de Will Geraldo melhor e é mais adequado para um som agressivo do que suave e melancólico. A música é dividida em duas por uma seção onde os teclados e sintetizadores funcionam como ponte entre as partes agressivas e pesadas, tornando-se um “vale” ou uma “planície” dentro dessas “montanhas”. É assim que terminamos a penúltima melodia como começamos. As guitarras adquirem um certo som que lembra Dark Wave ou Gothic Rock, lembrando em certos momentos o Depeche Mode.

No final de “Ourselves and Other” há “Ground Zero”, que começa com sons e teclados muito próximos do Rock Industrial que evoca de imediato o Nine Inch Nails e continua assim numa aposta decidida e ousada, onde nos deparamos com uma composição instrumental em que parecia que os integrantes se entregaram onde experimentaram e soltaram sua criatividade dando um fechamento marcante.

VAIN é uma banda que, embora se declare Progressiva, em seu último álbum optou mais pela veia New Wave, Pós-Punk e Industrial. Prova disso é o uso, quase beirando o tédio, de teclados, sons eletrônicos e melodias de computador. Porém, embora pareça que a aposta pode ser chata ou cansativa, “Ourselves and Other” é um álbum com uma proposta interessante mas que deverá melhorar num trabalho futuro. A voz de Will Geraldo é outro ponto a ser aperfeiçoado assim como o uso excessivo de sintetizadores e afins. Além disso, é uma obra que abre bem com “Time Waster” e fecha da mesma forma com “Ground Zero”. Agradecemos que ainda existam bandas que sabem escolher corretamente a ordem das músicas de seus álbuns.

Este álbum é recomendado, mas se você procura rock progressivo “puro” ou “clássico”, este álbum não é apropriado. Se, por outro lado, você está descobrindo ideias diferentes e aberto à experimentação, este trabalho é altamente recomendado pela sua originalidade e ousadia.

- Amostras do álbum 'Ourselves and Other':

Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Kate Bush - Hounds of Love (1985)

Hounds of Love   (1985) Kate Bush Kate Bush  com o sobrenatural sempre foi um tema marcante em sua ilustre discografia, mas em nenhuma outra...