Canções pop a roçar a perfeição. A melancolia e o torpor de sempre.
Teen Dream não tira nenhum coelho da cartola, o langor dream pop permanece. Os teclados de feira da ladra, a guitarra triste e ensonada, a bateria do toys’r’us, tudo nos entorpece como uma nuvem de ópio. A voz de Victoria lembra-nos Marianne Faithful, terra e éter ao mesmo tempo (terra porque grave e áspera, éter porque misteriosa e sonhadora).
E, no entanto, tudo mudou. A produção é mais rigorosa, sem o desmazelo lo-fi dos dois primeiros discos. As melodias já não estão soterradas numa névoa de efeitos, havendo uma primazia da canção sobre a textura (o reverb ainda existe mas mais comedido). É pop e erudito ao mesmo tempo, tipo Kate Bush mas encharcada em drunfos. Victoria faz brincadeiras engraçadas com a voz, ora ondulando como as ondas do mar, ora repetindo vogais à Philip Glass, a fala dos anjos. O leque de emoções é agora mais vasto. A doce melancolia é o travo dominante, resignada, sem ponta de inquietação. Quando uma alegria natalícia desponta, não se deixem enganar: também ela é triste porque nostálgica, uma saudade turva de uma felicidade que passou.
Os brutos dormirão de tédio e incompreensão. Os estetas dormirão também, mas por razões mais elevadas, enlevados na sua lânguida beleza. Anjos virão de qualquer maneira, disfarçados de mistérios e de sonhos. Tentarão colar o que não pode ser colado. Como um coração que se parte quando cai ao chão. Ou Teen Dream rodando no gira-discos…
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