Está aberta a competição aos melhores discos do ano e o dreampop dos Lower Dens é candidato, cinco anos depois de Escape From Evil, desta vez de braço dado com sintetizadores dançáveis.
Agora em versão duo, depois de perder metade dos elementos, The Competition é bem capaz de ser o álbum mais fácil deste grupo de Baltimore. O som é mais electrónico e mais despido do que o de uma banda, naturalmente, mas ganha em clareza e vontade de dar ao pé. Qualquer destas onze canções pode tocar na abertura da noite de um bar de bom gosto, o que afasta desta vez as anteriores comparações de Lower Dens com os Beach House, banda curiosamente da mesma cidade. Continua a ter semelhanças com outros dreampop e indies electrónicos como Wild Beasts e Future Islands (também de Baltimore), só para dar uma baliza aos que não estão familiarizados com o trabalho de Jana Hunter e Nate Nelson.
Na verdade The Competition prega-nos uma partida logo ao início, com a incrível “Galapagos”, que nos agarra instantaneamente ao primeiro verso. Hunter assegura-nos “You belong here”. E vamos ficando ao sabor da batida suave electrónica – “We want you here” prossegue. No meio da música aparece aqui a mais diferente bridge de todo o álbum, com sintetizadores agudos e repetições vocais inquietantes.
“Hand of God” traz memórias de Planningtorock, embora mais embalado e atmosférico. De seguida temos “Two Faced Love”, em crescendo até à próxima canção. Por todo o disco passamos a ter letras mais explícitas e com sentidos mais óbvios à primeira escuta em relação aos discos anteriores, como por exemplo o primeiro single, “Young Republicans”, com “We lift our heads, we lift our heads / At last, the world is burning”.
Com apenas 15 minutos de disco passados, embalados pela voz de Hunter, chegamos à conclusão que além da crítica social e sintetizadores este é, sem ponta de ironia ou de displicência, o mais comercial de todos os trabalhos dos Lower Dens até ao momento. “Real Thing”, que foi revelada como single em 2016, é a mais parecida com as músicas dos álbuns anteriores da banda, que regressa ao dreampop e abre caminho a “Buster Keaton”, uma excelente, e como todas as de The Competition, directa letra sobre vulnerabilidade, que dá mais importância à mensagem e métrica que à rima, algo que vemos transcorrer neste trabalho.
“I Drive” regressa em força à pista de dança, onde, durante a bridge, duas vozes sobrepostas são a parte mais pop comercial de todo o disco, antes de arrancar para o refrão “Why can’t we be with the ones we were made to love?”. Este é o mais recente single de The Competition mas “Simple Life” também poderia ocupar esse lugar. Até ao final o disco mantém o alto nível, sempre sem músicas que soem a enchimento, o que faz com que se consiga ouvir o álbum de ponta a ponta sem cansar. Resta ainda “Empire Sundown”, seguida de “Lucky People” e a terminar com “In Your House”, num tom mais calmo e despido de electrónica, com piano, bateria e saxofone, a puxar para o imaginário mais contemplativo dos anteriores álbuns da banda.
Neste trabalho, os Lower Dens conseguiram converter o seu dreampop inicial em uma mistura saudável de indie rock e synthpop, de crítica social e de ansiedade. Um disco de uma banda reinventada para ouvir sem ironias.
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