Três músicos, três sensibilidades, três sintetizadores. O disco do ano chegou em Fevereiro.

Montanhas Azuis são três fulanos a brincar com sintetizadores, uma espécie de Au Revoir Simone mas sem a parte das miúdas giras. Não são, porém, três sujeitos quaisquer mas sim Marco Franco, Norberto Lobo e Bruno Pernadas: três dos músicos mais inventivos da sua geração. Achamos mal. Ninguém pensa nos direitos dos artistas apenas medianamente bons, claramente prejudicados por estas concentrações abusivas de talento.

O nome, porventura, menos conhecido é o de Marco Franco. Com medo de chamar as atenções, Marco andou durante anos disfarçado de (exímio) baterista, e só em 2017 sai do armário com um bonito disco ao piano (Mudra). Agora, ninguém o agarra, sendo ele o compositor de quase todos os temas de Ilha de Plástico.

As músicas são todas instrumentais, apesar de Norberto Lobo fazer um pouco de batota com um Vocoder quando apanha os seus companheiros distraídos. São também breves e concisas, dizendo muito com poucas notas, como mandam as regras da boa educação.

As teclas dominam mas estando ali dois grandes guitarristas seria um pouco parvoíce se não sacassem de vez em quando do seu instrumento (no pun intended). Na peugada da internacionalização, Pernadas usa um fascinante pedal que põe a sua guitarra a falar em japonês.

As músicas não são difíceis, mas também não são fáceis, depende um bocado de quem as ouvir. Para os intelectuais do Maria Matos – que usam óculos redondos mesmo que vejam bem, e que escrevem má poesia em cadernos moleskine -, Ilha de Plástico é obscenamente acessível. Para as pessoas normais, os acordes são tramados, e só depois da quarta audição é que finalmente as conseguimos assobiar no chuveiro.

A música é tão aquática que eu juro por Deus que uma vez até escorreu água, estragando os meus headphones da sennheiser. As canções são exóticas e tropicais, como se tivéssemos ido de férias à Polinésia, menos a maçada das indígenas bonitas com doenças venéreas. E o langor dream pop, pegajoso e melancólico, é de tal ordem que no final do disco parece que engolimos dois frascos de drunfos.

Leonard Cohen cantou um dia: “for the ones like us / who are oppressed by the figures of beauty”. Só com a beleza pura deste disco finalmente percebemos as suas palavras. O mestre Cohen é assim: mesmo quando não o sabe, sabe sempre o que diz.