Continua a haver vida musical em Alcobaça. Em 2018, os Plastic People fazem-nos lembrar os Echo & the Bunnymen, os Suede, os The Horrors, tanta coisa boa. O que ainda falta em identidade própria é compensado nas certeiras influências, num belíssimo punhado de canções e numa estética muito sedutora.

O conceito de concursos de bandas remonta-nos mais à década de 1990 do que ao tempo presente, mas a verdade é que no caso dos Plastic People, foi a edição de 2017 do EDP Live Bands, ganho pela banda de Alcobaça, que nos trouxe até Visions. Vários concertos depois do concurso chega o disco de estreia do grupo que, apesar de novo, não anda nisto da música há pouco tempo – o teclista João Tiago, por exemplo, foi elemento dos Loto, que até Peter Hook (New Order) tiveram como convidado num álbum.

Assumindo-se como uma banda que “oscila entre o amor e o ódio, entre a luz e a escuridão, entre a luxúria e a decadência”, os Plastic People são honestos ao ponto de admitirem viver “num mundo habitado por bandas como The Velvet Underground, Joy Division, The Jesus & Mary Chain, Suicide, David Bowie ou Iggy Pop”. Arriscamos juntar nomes mais recentes, como Suede, The Horrors ou Stone Roses, e algures no meio deste caldeirão pop/rock está a identidade dos Plastic People.

Não é fácil para qualquer banda estabelecer a sua identidade logo ao primeiro tomo. Os Plastic People não inventaram a roda, nem aparentam pretender igualar tal façanha, por isso nada de particularmente inventivo há em Visions. Nada de grave – despachada esta nota, vamos às coisas boas. “Running” é lenta, melancólica, densa, e sucede a “Riding High on Acid”, primeiro single, voz a lembrar Brett Anderson, Echo & The Bunnymen a pairar no ar, tudo certo.

“Seven Weeks” e “Ghost”, um par de temas depois, foram provavelmente a melhor sequência do disco: a eletrónica ganha fulgor na segunda metade de cada uma das faixas  e o punk-pop entrelaça-se à séria com new-wave.

O caminho faz-se caminhando, e Alcobaça já mostrou ser local de gente melómana e de bom gosto. Os Plastic People seguem no lado certo da fronteira e têm um ótimo disco para mostrar como cartão de visita. Têm, naturalmente, um percurso para trilhar, mas os méritos são já mais que suficientes para os termos debaixo de olho.