De três passam a quarto. CSNY, um dos supergrupos mais voláteis da história do rock, assinam a sua obra-prima logo à primeira tentativa.

O final da década de 60 foi pródigo na génese de supergrupos. Um dos que apareceu com mais convicção nasceu da união de David Crosby (ex-Byrds) com Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-Hollies). Um trio que sabia extrair (melhor do que ninguém) os ensinamentos da folk de Dylan cruzando as harmonias vocais dos Beach Boys.

Em 1969 gravavam o seu disco de estreia, meses depois davam o seu segundo concerto para quase meio milhão de pessoas no festival Woodstock. A ascensão meteórica do grupo confirmava-os como super estrelas de um novo rock “made in USA” alimentado de canções acústicas em pleno convívio com o psicadelismo hippie da época. No entanto, se o grupo não se sentia satisfeito com o excesso de egos, eis que Stills convida o seu antigo companheiro dos Buffalo Springfield, Neil Young, para dar um ar ainda mais pomposo e rock à coisa (dois guitarras-solo é sempre melhor que um).

Músico versátil e já com dois discos a solo no bolso, Young era a força que o trio inicial precisava para manter “as pernas a andar”. Multi-instrumentista, armado de guitarras elétricas e órgãos meio jazzy, meio psicadélicos, Neil Young veio dar inevitavelmente um empurrão para que Déjà Vu fosse considerado uma obra-prima do rock.

A sua influência em canções como “Helpless” ou a suite “Country Girl” (um medley de três canções contidas numa só) decididamente deram aos CSN&Y um novo som que contemplava ao mesmo tempo várias direcções como a country, o rock ou a folk. Estavam aqui as futuras pistas do soft-rock californiano que anos mais tarde foram exploradas a fundo por grupos como os Eagles, os America ou Flying Burrito Brothers.

Esta influência positiva do seu mais recente membro, inspirou os outros a construírem canções que ainda hoje permanecem como uma das melhores do seu longo catálogo (quer em grupo, quer a solo). Nash trouxe a sua influência british pop ao de cima para misturá-la com alguns requintes country com os hits “Teach Your Children” e “Our House”. Crosby, sempre perseguido pelos seus fantasmas da droga assina aqui um grande tema rock com “Almost Cut My Hair” e Stills faz de “Carry On” uma das melhores canções para se ouvir em plena auto-estrada.

Mas não se pense que esta é uma obra para dar ênfase apenas a talentos individuais. A faixa “Woodstock” (uma versão de Joni Mitchell) é um desses raros momentos porque a palavra super-grupo não devia ser um termo sujo na indústria pop. E honras também para o melhor tema roqueiro do disco – “Everybody I l Love You” – com os seus duelos de guitarra entre Young e Stills.

Déjà Vu acaba por ser assim dos discos mais equilibrados da história do rock. Não só porque dá espaço a toda a gente de tocar como tem um conjunto de canções muito fortes e que ainda resistem passados quase 50 anos. Pena é que este colectivo nunca tenha gravado mais nada com esta magnitude e inspiração. Egos a mais ditaram aquilo que poderia ser uma brilhante carreira em comum. No entanto há sempre este “Déjà Vu” para voltar a recordar a magia de um grupo inato de talentos.