O virar da década estava a aproximar-se a olhos vistos e os GNR, que andaram sempre um passo à frente dos tempos, não souberam bem como lidar com essa mudança.
Mil novecentos e oitenta e nove – no Japão morre o imperador Hirohito, o muro tem os seus últimos dias, em Tiananmen, um homenzinho com sacos de plástico enfrenta todo o Partido Comunista e os seus tanques e acontece a vitória de Portugal no Mundial de sub-20, na Arábia Saudita.
Na música, Jorge Palma edita O Bairro do Amor (bairro que ainda hoje frequentamos a cada oportunidade) e os De La Soul estreiam-se com 3 Feet High and Rising. Os GNR? Editam o seu disco mais fraco da década de 80: Valsa dos Detectives.
Em 1986 os GNR haviam editado Psicopátria, até então o álbum mais tripeiro da banda que redesenhou o som do Norte (e de Portugal). O disco tinha uma visão mais imposta por Toli César Machado, o que não agradava sobejamente a Alexandre Soares que, em Março de 1987 se fartou. “Saí. O grupo não precisa de mim”, disse então em declarações ao Jornal de Notícias. Afinal, aquele caminho pop não era a via a que Soares se queria associar. Falhou o momento de consagração que tanto merecia com a banda (o primeiro Coliseu), mas a sua marca manter-se-ia com o Três Tristes Tigres. Mas isso é outra história.
Voltando a Valsa dos Detectives, com produção do francês Remy Walter (que trabalhou com Bob Marley e Peter Tosh), os GNR deixaram de arriscar tanto e fizeram um disco mais previsível. Não quer dizer que seja um mau disco, apenas não é capaz de se digladiar com o antecessor (Psicopátria) ou sucessor (Rock in Rio Douro), até porque é um disco com uma identidade nortenha mais apagada, as canções soam mais ligadas a pistas de discoteca do que aos barcos rabelos.
Há algum arrojo – “Jardim D’Ala” é reggae e “1991” minimalista, música do mundo e despida -, mas também previsibilidade em igual quantidade (“Impressões Digitais” e “(Um Chamado) Desejo Eléctrico” são canções fáceis).
De ressalvar no disco temos coisas como o motivo noir que atravessa alguns temas. Reininho explicou que o álbum devia ser visto como um policial que começa com um homicídio – com “Morte ao Sol” -, a apresentação do detective – “Valsa dos Detectives” -, a recolha de provas – “Impressão Digital” – e a femme fatale – “Dama ou Tigre”.
Depois há ainda as boas canções que ficaram ao longo dos anos (quase a fazer 30), quer seja a versão portuguesa de La Valse a Mille Temps ( “Valsa dos Detectives”) ou a dançável “Dama ou Tigre”. Mas o grande contributo deste disco foi o fim do “amadorismo” na produção dos GNR, o que funcionou para que a banda pudesse editar Rock in Rio Douro, com uma produção limpa e arrojada.
No geral, é Valsa dos Detectives um disco mau? Não. Simplesmente é o menos bom dos cinco que a banda editou na década de 1980. E isso não é dizer (mesmo!) nada pouco.
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