Ao terceiro disco, os Pavement partiram a louça toda. Os que pensavam que Wowee Zowee seria o disco que levaria a banda ao estrelato indie, tiveram de contentar-se com uma improvável obra-prima de experimentalismo q.b. Ainda bem que assim aconteceu.

Já muita coisa se disse e escreveu sobre Wowee Zowee, esse ovni que surge como terceiro álbum da discografia dos Pavement. O que se esperava, na altura, era que a banda de Malkmus e companhia desse um passo rumo a qualquer coisa que se aproximasse do mainstream, sobretudo depois de terem lançado Crooked Rain, Crooked Rain, disco mais amigo dos ouvidos menos preparados para a diferença. No entanto, assim não foi, pelo que este terceiro longa-duração deixou grandes interrogações e perplexidades em boa parte dos admiradores do grupo, embora outros tenham ficado agradados com o que nele ouviram, daí resultando ainda mais admiração e orgulho pela banda norte americana. Uma coisa é certo, Wowee Zowee não é um disco para todos (mas haverá algum disco dos Pavement que o seja, verdadeiramente?), mas mais de duas décadas depois de ter sido feito, todos lhe poderemos reconhecer virtudes e características ímpares, o que faz dele um marco da carreira da banda. Para aqueles que não confirmarem o que aqui se diz, o conselho é que peguem no disco e o voltem a tocar. Wowee Zowee é um clássico waiting to happen. Basta dar-lhe (mais) uma oportunidade.

Não deixa de ser curioso que algum tempo depois, quando instado a falar sobre Wowee Zowee, Malkmus referiu-se a ele como um produto que resultou de demasiado consumo de marijuana. Algum experimentalismo, assim como os diferentes elementos musicais e rítmicos bastante divergentes uns dos outros que fazem parte do álbum, conferem-lhe uma aura invulgar, fazendo-nos pensar que o que sobre ele disse Malkmus poderá fazer sentido, mas também poderemos entender Wowee Zowee como um momento de indefinição quanto ao caminho a seguir no futuro, um disco de fronteira, uma súmula de dúvidas artísticas e interrogações estéticas. Wowee Zowee poderá ser tudo isso, mas também é, seguramente, uma obra-prima.

O disco abre com uma fantástica e inspiradíssima balada. “We Dance” não é propriamente um hit, mas poderia muito bem ser, uma vez que nos parâmetros em que os Pavement poderão ser avaliados no que a hits diz respeito, “We Dance” cabe neles sem quaisquer problemas. Sem pretendermos avaliar o álbum canção por canção (são dezoito ao todo, é bom não esquecer), temos de registar que mais quatro ou cinco se destacam de forma clara. A segunda a entrar em campo é uma delas. Chama-se “Rattled By The Rush” e não há fã da banda que não a conheça. A sujidade que acompanha a melodia é tipicamente Pavement. O mesmo acontece com “Black Out” e com ela, podemos dizê-lo sem qualquer margem de erro, Wowee Zowee completa um início fabuloso. Outro clássico é “Grounded”. Aqueles primeiros instantes de guitarra levam qualquer um ao paraíso. Curiosamente, “Grounded” era um tema que já vinha do conjunto de canções que foram feitas e pensadas para o anterior Crooked Rain, Crooked Rain. No entanto, por qualquer razão omissa ao nosso conhecimento, acabou por não entrar no alinhamento do disco de 1994. Outra canção vencedora é “Motion Suggests”, e o mesmo poderemos dizer de “Father To a Sister of Thought”. Bom material não falta, como se vê, e ainda se poderá ter em boa conta as ótimas “AT & T” e “Pueblo”, por exemplo. Também é verdade que por entre as quase duas dezenas de temas, alguns poderão exigir ouvidos mais alternativos, mas é de um álbum dos Pavement que se trata, por isso está quase tudo dito.

Já passaram vinte e três anos desde a data de lançamento de Wowee Zowee. Está crescido e cheio de vigor. Isto é o mínimo que dele poderemos pensar. No entanto, talvez agora se possa entender melhor o álbum. Basta ouvi-lo com a atenção que merece. E, já agora, enquanto o coloca a tocar, perca algum tempo a apreciar a capa e talvez consiga encontrar justificação para a interrogação do balão de fala que menciona o nome da banda. Os Pavement nunca nos facilitaram a vida, pois não?  Se alguma vez o tivessem feito, era certo que não gostaríamos tanto deles. Verdade?