sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel & Casino (2018)

 

À primeira audição, o sexto álbum de Arctic Monkeys tem muito pouco dos miúdos de Sheffield. Mas os miúdos cresceram e trazem-nos um disco adulto, denso e seguro.

Primeiro estranha-se. O sexto disco de Arctic Monkeys, Tranquility Base Hotel & Casino, parece não ter nada do rasgo indie rock que tornou os miúdos de Sheffield famosos e dos principais nomes da nova onda do rock de 2000.

A mudança era esperada. O disco anterior, AM, mostrava já músicos mais ponderados, a querer fazer coisas diferentes embora mantendo uma fortíssima ligação ao rock e aos riffs poderosos que os caracterizavam até então.

Cinco anos de longa espera depois, a confirmação: os novos Arctic Monkeys chegaram, mais melódicos, mais adultos, a experimentar novas sonoridades e sem medo de arriscar, conduzindo-nos ao longo das 11 faixas com segurança.

E se este novo trabalho pode deixar defraudados os fãs mais hardcore da banda, que sonhavam novamente com um disco rock (adolescente e em bruto), ao final de algumas audições o álbum fica verdadeiramente entranhado.

Os fãs iniciais de Arctic Monkeys (como esta que vos escreve) também cresceram, também já não têm os 23 anos que tinham em 2006, quando foi editado Whatever People Say I Am, That’s What I Am Not, em que só o rock fazia sentido, um concerto era para ser passado aos pulos do início ao fim e a intensidade de um disco se media pela qualidade das suas guitarras.

Tal como a banda, cujo look parece tirado de um filme, personificada em Alex Turner, queremos sentar-nos numa boa poltrona de auscultadores excelentes nos ouvidos, com um whisky velho ou um gin que não dá ressaca, a fumar cigarros e a encher os ouvidos de sonoridades densas, bem produzidas.

Encontramos aqui parecenças com Serge Gainsbourg e até com Beach Boys, há percussões suaves, sintetizadores ligeiros, produção cuidada. A abrir, “Star Treatment” tem tudo isto e abre logo o jogo: este não é um disco rock, é um disco que promete abrir um mundo inteiro de novos sons.

A soar aos antigos Arctic Monkeys está a facilmente reconhecível voz de Alex Turner (embora já sem as expressões de Sheffield), que parece ainda mais apurada nos ligeiros falsetes com que vai pontuando a faixa. Como se dissesse a quem o ouve: estamos apresentados. É isto. Estão prontos? Então vamos lá.

Claro que há sinais dos antigos adolescentes. “Golden Trunks” é uma quase-homenagem aos riffs de AM e conseguimos lembrar-nos de Humbug em algumas canções. “Tranquility Base Hotel & Casino”, que dá nome ao disco, “American Sports” e “Four out of Five” são faixas frescas e provocadoras, que podem eventualmente provocar alguns estragos num concerto. Em “American Sports”, aliás, Alex Turner mostra um pouco da irreverência que parecia ter substituído por cinismo resignado: surpreende-se, revolta-se, pede o seu dinheiro de volta. Mas sempre com a tranquilidade de quem sabe o peso e a medida de cada coisa.

“One Point Perspective” soa mais a Last Shadow Puppets ou a Alex Turner na banda sonora do filme Submarine (2010).“She Looks Like Fun” recupera a guitarra e, a fechar, “The Ultracheese” é quase como uma despedida e doce confissão: conseguimos imaginar Turner sozinho, a meia luz, agarrado a um microfone antigo, envolto em fumo, num bar com ar de fim de noite, a despedir-se de nós. “I still got pictures of friends on the wall, I might look as if I’m deep in thought”, canta, como se o saudosismo fizesse parte dele, para depois nos revelar a verdade: “But the truth is I’m probably not if I ever was”.

De todos os trabalhos de estúdio dos Arctic Monkeys este é dos que soa menos à banda e mais a Alex Turner: o disco foi inicialmente trabalhado por Turner ao piano e nota-se o seu cunho em cada canção, quase como se o disco fosse um one man show. A languidez, a tranquilidade, um ligeiro cansaço. Procuramos inconscientemente, em cada faixa, com saudosismo, os sons dos nossos 20 anos. Sentimos falta da energia, das guitarras poderosas, dos hinos de concerto, de abanar o corpo com convicção e fechar os olhos a cada gesto instintivo de air guitar. Mas, a cada audição, este disco vai ganhando densidade, vai ganhando dimensão, vamos começando a gostar cada vez mais dele, aprendendo as suas nuances, ganhando empatia com a sua estranheza.



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