Os Pink Floyd dão de encontro com a 7ª Arte. Uma relação com altos e baixos mas que fez deles um grupo à parte dos seus pares na descoberta da originalidade.
Talvez por serem vistos como uma banda experimental que gostasse de fazer um som planante, ao longo dos anos a sétima arte piscou o olho ao quarteto britânico, com resultados variáveis. Por exemplo, em 1976 falava-se que o grupo iria ser o escolhido para compor a banda sonora do filme “Dune”. No entanto, tal projeto nunca chegou a arrancar da fase negocial.
Tirando o filme de Alan Parker, “The Wall” (1982), o essencial da “Filmografia” dos Floyd foca-se sobretudo entre os anos de 1969 a 1972, em alguns casamentos mais ou menos bem-sucedidos com os produtores e realizadores. Antonioni, autor de “Zabrieskie Point” foi um pesadelo evitável pelo qual tiveram de enfrentar umas penosas sessões em Roma, no Verão de 69. Já com o suíço Barbet Schroeder, autor de “More”, a junção entre a imagem e som foi muito mais agradável (facto que os faria repetir a experiência em 1972 com “Obscured by Clouds”.
Em finais de 1968, já sem Syd Barrett, os Pink Floyd atravessavam uma mini-fase de “deserto criativo”, sem saber que rumo escolher depois da saída do homem que literalmente era o dono de quase todas as composições originais do grupo.
Trabalhar numa banda-sonora oferecia um estímulo impossível de recusar. Ou como disse o baixista Roger Waters: “o Barbet não queria uma banda-sonora convencional. Ele queria, por exemplo, que o som que brotava das colunas do carro dos protagonistas fosse a música do filme. Ou alguém ligava a TV e a música estava lá. A música fazia parte integrante do filme e não apenas um mero acompanhamento das imagens”.
Infelizmente, o filme, que retrata a perdição de um jovem alemão pelas drogas num idílico Verão em Ibiza, não acolheu tanto a opinião do público. Ao invés os Floyd tiveram mais sorte e More foi um enorme êxito comercial na Europa continental, sobretudo em França.
O disco de 45 minutos, pode-se dividir essencialmente em dois: entre canções mais convencionais de uma banda rock e os sons mais experimentais dignos de uma banda sonora. No lado das canções, de destacar a emergência de Waters como fonte principal de fornecimento de material novo. Do espacial “Cirrus Minor” passando pelos pastorais “Green is The Colour” e “Cymbaline”. O som pelo qual o grupo iria ganhar legiões de fãs nos anos vindouros estava a começar aqui a dar os seus primeiros passos. E curiosamente há aqui um lado heavy da banda que não sobressaiu em mais nenhum disco. “The Nile Song” e “Ibiza Bar” são faixas onde David Gilmour tem toda a liberdade para soltar o seu lado mais roqueiro.
O resto são uma coleção de instrumentais que faziam mais sentido há 50 anos do que agora e que só podem ser entendidos no devido contexto. Ainda assim, “Up the Khyber”, composto por Nick Mason e Richard Wright é uma mera continuação da parte free jazz de A Saurceful of Secrets. “More Blues” é um blues sombrio e “Quicksilver” é simplesmente uma coleção de experiências sonoras que dura uns penosos 7 minutos. “Main Theme” e “Dramatic Theme” servem apenas para encher: “ambient music of 1969”!
Feitas as contas, as canções rock sobreviveram melhor com a passagem do tempo. No entanto, devido ao sucesso estelar que o conjunto teve depois de 1973, este disco acabou por cair um pouco no esquecimento, quer do público, quer até dos próprios Pink Floyd que desde 1971 nunca mais tocaram nenhuma das suas faixas ao vivo. Ainda assim há aqui qualquer coisa aromaticamente diferente ao qual o disco inevitavelmente remete. Hum…sim, sim cheira aqui: a substâncias que alteram a perceção da mente sobre a realidade.
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