segunda-feira, 11 de novembro de 2024

“Like A Virgin” (Sire Records/Warner, 1984), Madonna

 

 

Quem achou que Madonna seria um sucesso passageiro quando estourou nas paradas em 1983 com seu primeiro álbum homônimo estava redondamente enganado. Aquela jovem cantora, que ficara mundialmente conhecida com os hits “Holiday”, “Everybody” e “Borderline”, não era um sucesso “descartável” como alguns imaginavam. Muito pelo contrário, ela estava chegando para conquistar seu espaço e se tornaria a mais bem-sucedida cantora pop de todos os tempos. 

Após o sucesso do álbum de estreia, Madonna queria se estabelecer de forma ainda mais sólida na indústria musical. Para isso, decidiu que ela mesma produziria seu segundo álbum de estúdio. Contudo, a ideia foi vetada pela gravadora Warner, que a considerou inexperiente para produzir um disco. A companhia sugeriu que Madonna escolhesse um produtor de sua preferência. 

Em uma carta para Seymour Stein, chefe da Sire Records (subsidiária da Warner), Madonna manifestou sua insatisfação por não poder produzir seu segundo álbum e ser obrigada a escolher um homem para essa função. Na carta, ela apresentou uma lista com nomes de possíveis produtores: Trevor Horn, Jellybean, Laurie Latham, Narada Michael Walden e Nile Rodgers. 

Apesar da lista, Madonna já tinha Nile Rodgers como sua preferência. Ela o considerava um “gênio” devido ao seu trabalho com Diana Ross, Sister Sledge e David Bowie, além de seus próprios discos do Chic, banda da qual Rodgers era guitarrista e que ela adorava. A banda foi um dos ícones da disco music nos anos 1970, com sucessos como “Everybody Dance”, “Le Freak” e “Good Times”.

Madonna em sessão de fotos dos seu álbum
de estreia, em 1983.

Madonna encontrou-se com Nile Rodgers e tocou para ele as fitas demo com as canções que havia composto com seu parceiro e ex-namorado Stephen Bray. Fechado o acordo, Nile Rodgers foi escolhido para produzir o novo álbum de Madonna. 

As gravações ocorreram no Power Station Studio, em Nova York. Rodgers trouxe antigos membros do Chic, como o baixista Bernard Edwards (1952-1996) e o baterista Tony Thompson (1954-2003). Rodgers também contribuiu como guitarrista e foi convencido pelo engenheiro de áudio Jason Corsaro a usar técnicas de gravação digital, uma inovação na época. Todo o processo de gravação do segundo álbum de Madonna ocorreu entre abril e setembro de 1984. 

A capa e as imagens do encarte do álbum Like a Virgin foram fotografadas por Steven Meisel. Madonna queria que o título e a capa do álbum fizessem uma conexão provocante entre seu nome e a representação da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, em pinturas e esculturas. 

Lançado em 12 de novembro de 1984, Like A Virgin mostra uma evolução musical de Madonna em relação ao seu disco de estreia. Madonna, o primeiro álbum da cantora, tem uma produção crua e minimalista, com baterias eletrônicas básicas e sintetizadores. A instrumentação é simples, focando em refrãos cativantes e ritmos repetitivos, com vocais enérgicos e jovens. 

Já Like A Virgin possui uma produção mais polida e refinada, graças à influência de Nile Rodgers, que trouxe arranjos sofisticados e mixagem limpa. Este álbum incorpora mais instrumentos ao vivo, como guitarras e bateria real, além de sintetizadores, misturando elementos de funk e rock, especialmente new wave. Madonna demonstra maior controle e maturidade vocal, adaptando-se a diferentes estilos.

Nile Rodgers, guitarrista do Chic e produtor do álbum Like A Virgin.


Enquanto o álbum Madonna é focado exclusivamente no dance-pop, Like A Virgin oferece paisagens sonoras mais diversas e uma produção em camadas, criando um som mais completo e dinâmico, refletindo o crescimento artístico de Madonna. 

A faixa de abertura do álbum, "Material Girl", foi composta por Peter Brown e Robert Rans e enviada pela dupla à Warner para que alguma artista do cast daquela companhia a gravasse. A letra trata de uma garota que valoriza bens materiais e dinheiro mais do que afeto e amor. Ela despreza os rapazes que não podem proporcionar luxos, destacando a importância do dinheiro em um mundo materialista. A canção reflete uma visão crítica e irônica sobre a superficialidade e os valores materiais. 

"Angel" é uma canção pop leve, com uma melodia agradável, na qual Madonna canta sobre a sensação de felicidade e encantamento que a presença de uma pessoa especial traz, comparando essa pessoa a um anjo disfarçado. A letra expressa como esse "anjo" transforma tristeza em alegria e faz a vida parecer mágica. 

"Like A Virgin", faixa que dá nome ao álbum, traz uma Madonna mais próxima da new wave. A linha de baixo desta faixa, executada por Bernard Edwards, do Chic, é profundamente inspirada em "Billie Jean", de Michael Jackson (1958-2009). Outro membro do Chic, Tony Thompson, que ganhou fama como baterista no auge da disco music, mostra toda a sua impecável performance como baterista de pop rock. Os versos tratam de uma garota que se sente renovada e revitalizada emocionalmente em um novo relacionamento, comparando essa sensação à pureza e emoção de uma primeira vez. 

A influência new wave prossegue na faixa seguinte, "Over And Over", uma música que celebra a persistência e determinação, refletindo a carreira da artista. A letra incentiva a não desistir diante de obstáculos ou críticas: “Você tenta criticar meu jeito / Se eu perco, eu não me sinto paralisada / Não é o jogo, é como se joga / E se eu cair, eu me levantarei novamente”.

Madonna em sessão de fotos do álbum Like A Virgin.

Em meio a um repertório com predomínio de canções dançantes e aceleradas, o chefe do departamento de A&R da Warner, Michael Ostin, percebeu que era necessário incluir uma balada para criar uma espécie de descanso rítmico. Ele sugeriu que Madonna gravasse "Love Don't Live Here Anymore", uma canção que fez muito sucesso com o grupo vocal de R&B Rose Royce, em 1978. Foi um desafio para Madonna, pois a versão original exigia uma carga dramática vocal significativa. Embora não seja uma cantora com grande potencial vocal, Madonna se saiu muito bem na sua versão da canção, surpreendendo aqueles que a consideravam uma mera cantora pop "descartável". 

"Dress You Up" quase não faria parte de "Like a Virgin". Quando as compositoras Andrea LaRusso e Peggy Stanziale enviaram a música para Madonna, as gravações do álbum já estavam praticamente encerradas. Depois que a gravadora decidiu adiar o lançamento de "Like a Virgin", Madonna aproveitou a ocasião, gravou a música e a incluiu no novo álbum. Nesse pop dançante e acelerado, o eu lírico trata de envolver alguém em amor e carinho, comparando essa dedicação ao ato de vestir essa pessoa com roupas finas. A letra usa metáforas de moda para expressar intimidade e cuidado. 

Composta apenas por Madonna, "Shoo-Bee-Doo" é uma canção açucarada inspirada no som da Motown dos anos 1960 e nos conjuntos vocais femininos daquela época, dos quais a cantora era uma profunda admiradora. Nos versos, Madonna fala sobre ajudar alguém a superar a dor do passado e confiar no amor novamente. A canção encoraja a abrir o coração e aceitar um novo relacionamento, oferecendo amor e apoio para curar feridas emocionais. 

A bateria programada e os sintetizadores conduzem a base instrumental de "Pretender", uma canção pop dançante, simples e despretensiosa, que trata de uma garota que se apaixonou por um rapaz mentiroso e desonesto. 

O álbum chega ao fim com "Stay", música composta por Madonna e Stephen Bray em 1981, a partir da junção de duas outras músicas antigas que eles escreveram. "Stay" possui um interlúdio falado de forma sensual por Madonna, um recurso que ela utilizou em "Physical Attraction", no primeiro álbum, e que exploraria em canções de álbuns posteriores como "Justify My Love", "Rescue Me" e "Erotica". Na letra de "Stay", a garota apaixonada pede à pessoa que ela ama que permaneça ao seu lado, destacando a importância e a raridade do amor verdadeiro, ainda que a relação entre os dois pareça estar abalada. A letra expressa o desejo de superar os problemas e deixar o passado para trás para manter a relação.

Madonna em filmagem do videoclipe de "Like A Virgin", dirigido por
Mary Lambert, 
em Veneza, Itália, em 1984.

Antes do lançamento do álbum, Madonna fez uma aparição na primeira edição do MTV Video Music Awards, em 14 de setembro de 1984. Na ocasião, a cantora fez uma performance ousada de “Like A Virgin”, vestida de noiva e usando um cinto com a inscrição “boy toy” em cima de um bolo de casamento gigante. Durante a apresentação, Madonna rolou pelo chão e fez movimentos eróticos, chocando o público. 

Like A Virgin recebeu críticas geralmente positivas da mídia especializada, em boa parte devido à qualidade da produção. No entanto, houve duras críticas às letras das canções por seus temas provocativos e à personalidade ousada de Madonna. O crítico J. Randy Taraborrelli destacou a versatilidade artística de Madonna e a qualidade de seus vocais. Debby Miller, da Rolling Stone, preferiu o álbum de estreia da artista. Robert Christgau, do The Village Voice, teve uma recepção morna em relação ao projeto.

 O desempenho comercial do álbum Like A Virgin foi extraordinário, alcançando o topo das paradas em diversos países, incluindo Alemanha, Espanha, Nova Zelândia e Reino Unido. Nos Estados Unidos, Like A Virgin foi o primeiro álbum de Madonna a atingir o número 1 na Billboard 200 e foi certificado como diamante pela RIAA, com vendas de mais de dez milhões de cópias no país. Mundialmente, Like A Virgin vendeu cerca de 21 milhões de cópias, tornando-se um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. 

Enquanto Like A Virgin fazia sua fantástica escalada comercial, em abril de 1985, Madonna deu início à turnê promocional do álbum, intitulada The Virgin Tour, que ocorreu até junho do mesmo ano, passando por cidades americanas e por Toronto, no Canadá. Havia planos de incluir Inglaterra e Japão na turnê, mas isso não aconteceu. 

Like A Virgin gerou quatro singles: “Like A Virgin”, “Material Girl”, “Angel” e “Dress You Up”, além do single “Into The Groove”, presente na trilha sonora do filme Desperately Seeking Susan (Procura-se Susan Desesperadamente). A canção homônima foi o primeiro sucesso de Madonna a liderar a parada da Billboard Hot 100, liderando também as paradas na Austrália e no Canadá, e alcançando o top cinco na Alemanha e no Reino Unido. Vendeu um milhão de cópias nos EUA e conquistou disco de platina. O videoclipe de “Like A Virgin” mostra Madonna navegando por Veneza em uma gôndola e andando por um palácio vestida de noiva.

 

Madonna em apresentação ao vivo durante a The Virgin Tour, em 1985.

O segundo single do álbum foi “Material Girl”, que alcançou o terceiro lugar no Reino Unido e ficou entre os dez primeiros na Austrália, Canadá e Espanha. Nos Estados Unidos, chegou ao segundo lugar na Billboard Hot 100. O videoclipe de “Material Girl” foi inspirado numa cena de Marilyn Monroe no filme Gentlemen Prefer Blondes (Os Homens Preferem as Loiras, no Brasil). 

"Angel" foi o terceiro single de Like A Virgin, recebendo avaliações mistas dos jornalistas. Foi o quinto single de Madonna a entrar no top cinco da Billboard Hot 100. "Dress You Up" foi o sexto single de Madonna a atingir o top cinco na Billboard Hot 100. Também figurou nas cinco primeiras posições na Austrália e no Reino Unido. 

Ainda em 1985, em 13 de julho, Madonna se apresentou no festival Live Aid, no JFK Stadium, Filadélfia, nos Estados Unidos, festival organizado por Bob Geldof e Midge Ure para arrecadar fundos a fim de combater a fome na Etiópia. 

O ano de 1985 marcou também a estreia de Madonna na carreira cinematográfica. Ela fez uma participação breve no filme Vision Quest, onde aparece cantando "Crazy For You", a qual faz parte da trilha sonora do filme e conseguiu atingir a liderança da Billboard Hot 100. Mas seu primeiro grande papel de destaque foi em Desperately Seeking Susan (Procura-se Susan Desesperadamente, no Brasil), filme que apresentou a música "Into The Groove", que estourou nas paradas de vários países, principalmente no Reino Unido, onde o álbum Like A Virgin foi relançado naquele ano com a inclusão de “Into The Groove”. 

O sucesso do álbum, marcado por singles no topo das paradas como "Like a Virgin" e "Material Girl", mostrou a habilidade de Madonna de misturar temas provocativos com melodias cativantes, ultrapassando os limites da música pop e sua representação visual. Suas escolhas de moda ousadas e performances controversas estabeleceram novos padrões para videoclipes e shows ao vivo, enfatizando a importância da arte visual na música. O álbum também abriu caminho para artistas femininas explorarem temas de sexualidade e independência, deixando um impacto duradouro na indústria e inspirando futuras gerações de artistas.

 

Faixas

Lado 1

1."Material Girl" (Peter Brown - Robert Rans)

2."Angel" (Madonna - Stephen Bray)             

3."Like a Virgin" (Thomas Kelly - William Steinberg)

4."Over and Over" (Madonna - Stephen Bray)          

5."Love Don't Live Here Anymore" (Miles Gregory)

Lado 2

6."Dress You Up" (Andrea LaRusso - Peggy Stanziale)

7."Shoo-Bee-Doo" (Madonna)

8."Pretender" (Madonna - Stephen Bray)

9."Stay" (Madonna - Stephen Bray) 


"Material Girl" (videoclipe oficial)

"Angel"

"Like a Virgin" (videoclipe oficial)

"Over and Over"

"Love Don't Live Here Anymore"

"Dress You Up"

"Shoo-Bee-Doo"

"Pretender"

"Stay"

Extra: "Into The Groove" 
(videoclipe oficial) 


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