Berço dos Beatles, Liverpool tinha respirado uma nova temporada de agitação em finais dos anos 70, em plena ressaca do punk. Com o Eric’s como epicentro, entraram então em cena nomes como os Teardrop Explodes, Echo & The Bunnymen, Wah, Dead or Alive, Big In Japan, OMD… Contudo, a banda da cidade de que mais se falaria na década de 80 só entraria em cena um pouco mais adiante e, no início, não era então mais que uma discreta aventura local e encontrava nome num texto sobre Frank Sinatra numa edição da “New Yorker”, onde se lia “Frankie Goes To Hollywood”…
Ninguém deu por eles nos primeiros tempos em que por ali tocavam como um simples grupo local. E vários foram até os “nãos” que ouviram de algumas editoras… Até que, em finais de 1982, o DJ da BBC John Peel convidou-os para uma sessão, na qual registaram, entre outras, canções como “Two Tribes” e “Relax”. Em inícios de 1983 fariam ali uma segunda sessão, na qual estrearam uma nova canção: “The Power of Love”. Ainda sem um acordo com qualquer editora foram por esses dias chamados a tocar na televisão, no programa “The Tube”. E o ex-Buggles Trevor Horn, que acabara de fundar uma editora, desafiou-os a assinar pela nova ZTT Records. E tudo ganhou fôlego…
Paul Morley, jornalista musical e outro dos fundadores da ZTT, desenhou, entretanto, uma estratégia de comunicação para o lançamento para o grupo através de anúncios de imprensa com frases bombásticas. também Morley quem criou o slogan “Frankie Say… Relax”, que acabaria por ser transportado para uma linha de merchandising. Editado em single em 1983 “Relax” assinalou o episódio de estreia em disco, juntando uma dinâmica hi-nrg a uma moldura pop grandiosa (gerando ao mesmo tempo um “caso” mediático de comichão puritana que virou o feitiço contra o feiticeiro, chamando ainda mais atenções para a canção). Seguiu-se “Two Tribes”, uma sinfonia pop em tempo de terror nuclear (com um teledisco mostrando os líderes norte-americano e soviético de então em cenas de luta numa arena). Ambos os singles conquistaram atenções e alcançaram o número um no Reino Unido, abrindo evidentes expectativas para a chegada do álbum de estreia, ao qual chamaram “Welcome To The Pleasuredome”.
Era entretanto chegada a altura de escolher um terceiro single. E, depois de abordado o sexo em “Relax” e a guerra em “Two Tribes”, finalizaram a sua trilogia clássica cantando o amor. E rumaram à canção estreada em 1983 numa sessão gravada para a BBC. Demasiado lenta no original, a canção começou a ganhar forma com ânimo mais evidente, juntando a cenografia um arranjo de cordas por Anne Dudley (dos Art of Noise). Foi ela mesmo quem dirigiu a orquestra em estúdio na mesma sessão na qual surgiram elementos para “Two Tribes” ou “Do You Know The Way To San Jose”. De resto, a sua presença resulta numa espécie de devolução à casa da partida da ideia original para “The Power Of Love”, já que Holly Johnson começara a compor este tema sob inspiração direta de “Moments In Love” dos Art of Noise.
Contudo, o elemento que acabaria por marcar a história pública de “The Power of Love”, hoje tantas vezes recordada em tempo de Natal, não se deve nem à criação da canção nem a sua gravação, mas sim ao teledisco. Realizado pela dupla Godley & Creme, que tinha já tinha trabalhado com os Frankie Goes To Hollywood, o teledisco para “The Power Of Love” foi criado sem qualquer intervenção do grupo que, de resto, por aqueles dias, estava em digressão nos EUA para onde, de resto, foi então enviada uma cassete com o pequeno filme que entretanto fora rodado e montado pelos dois realizadores, inspirados pelo retábulo de Ticiano que iria ser usado na capa do single. Sem a presença dos músicos, juntando uma série de atores (na verdade foram quase meros figurantes), o teledisco recriava imagens do nascimento de Jesus. E, editado a semanas do Natal, a comunicação visual acabou por marcar a chegada da canção à rádio como uma proposta para a quadra que se aproximava, facto que era sublinhado pela mensagem que os elementos do grupo gravaram para o respetivo lado B… Editado a 14 de novembro de 1984, o single chegou a alcançar o número um no Reino Unido (levando a banda a igualar um antigo recorde dos conterrâneos Gerry & The Pacemakers), sendo contudo destronado uma semana depois por “Do They Know It’s Christmas” do coletivo Band Aid. Mas a ligação natalícia, criada pelas imagens, marcou desde então o single. E essa ligação, 40 anos depois, parece manter-se inabalável. Basta escutar a rádio quando o Natal se aproxima…
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