Um dos clássicos do indie rock da década é revisitado e recebe uma nova roupagem mas perde alguma coisa pelo caminho.
Desde 2015 que o nome de Will Toledo não é estranho a quem anda atento à cena indie nos Estados Unidos. Teens of Style, lançado nesse mesmo ano, funcionou como um cartão de visita ao mundo, apresentado as músicas mais antigas dos Car Seat Headrest em novas versões, livres dos constrangimentos de um quarto e orçamento reduzido. No entanto, existia no alinhamento uma notável excepção: Twin Fantasy. Esta nova versão, apelidada de Face to Face não é tanto um remake como uma atualização do original, integrando elementos que, por um motivo ou por outro, não puderam ser incluídos na primeira versão, de agora em diante apelidada Mirror to Mirror.
Escrito no rescaldo de uma separação amorosa, este disco é um retrato visceral desse período, exemplificado pela canção de abertura “My Boy (Twin Fantasy)”: “My boy, we don’t see each other much”. Este disco, aliás, contém algumas das letras mais cruas alguma vez escritas por Toledo como “I am almost completely soulless/I am incapable of being human” em “Beach Life-in-Death” o primeiro épico dos Car Seat Headrest e um dos melhores. Os seus 13 minutos e 4 acordes revelam o turbilhão emocional causado pela rejeição, exemplificado pelo refrão “The ocean washed open your grave/The ocean washed over your grave”.
Canções que antigamente poderiam passar despercebidas têm agora as suas subtilezas colocadas em evidência. A acidez no refrão de “Nervous Young Inhumans” não pertence apenas à letra agora que sintetizadores cortantes substituem as guitarras ligeiras de Mirror to Mirror. “Bodys” finalmente assume as suas origens na dance music e “Cute Thing” passa a incluir uma referência, talvez anacronista, a Frank Ocean. Estas transformações nem sempre resultam como no caso de “Sober to Death”. A guitarra lo-fi distorcida que acompanhava esta canção tornou-se polida e reverberante, roubando à canção a sua intimidade.
“Famous Prophets” anuncia o clímax do disco à medida que a fúria e frustração se misturam com aceitação: “These teenage hands will never touch yours again […] This is the rest of your life”. É, no entanto, esta música que põe em evidência o maior defeito deste disco. O Will Toledo de 2018 não parece tão genuíno nem consegue descrever as crises do Will Toledo de 2011 com a mesma urgência que o Will Toledo de 2011 e a sua voz parece revelar algum desinteresse e até cinismo ao encarnar as personagens que povoam este disco. Os gritos de angústia em Mirror to Mirror são catárticos e viscerais, os de Face to Face, são tecnicamente perfeitos e controlados. Outro dos problemas é a sua duração de 16 minutos, em comparação com os 10 da versão original. Um dos maiores problemas na discografia dos Car Seat Headrest é uma edição pouco cuidada do material. Até a coesão de Teens of Denial podia ter beneficiado de alguns cortes naquele que era, na altura, o segundo disco mais longo da banda (superado apenas pelo colosso Nervous Young Man de 2013). Face to Face tem mais 11 minutos que Mirror to Mirror e quase nenhum deles se justifica.
Esta atualização de Twin Fantasy dá mais polimento técnico ao original mas perde algo pelo meio. É, de certa forma, o remake que ninguém pediu (principalmente para os fãs que aguardam ansiosamente por Wave Goodbye to the Jets, o sucessor de Teens of Denial) mas as canções falam mais alto e, feitas as contas, dificilmente não se verá em Face to Face vestígios da pérola em bruto que tanto cativou os fãs em 2011.
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