O cinema sonoro chegou a Portugal em 1930. O evento deu-se no cinema Royal, no início de abril, numa sessão que apresentou um episódio da série “Metro Movietone Review”, que captava momentos de espetáculos de teatro musical, e no qual se escutaram vozes como as de George Dewey Washington ou Odette Myrtle… A música marcava assim a chegada do som ao cinema com olhares sobre o teatro. Não foi de estranhar que, apesar das divisões de opinião perante a chegada de uma novidade, o teatro acabasse a referir sobre o cinema que agora deixava de ser mudo. E, no mesmo ano em que surge nas salas um primeiro filme sonoro realizado em Portugal (“A Severa”, de Leitão de Barros), uma peça de teatro de revista gera um dos maiores sucessos do seu tempo numa canção que traduz precisamente estes sinais do tempo. Com letra de Alexandre Salvador e música de Fernando Carriedo, “Teodoro Não Vás Ao Sonoro” chegou a disco pela voz de Corina Freire dando-lhe, em 1931, aquele que seria o seu maior êxito.
Figura multifacetada com origem algarvia, Corina Freire (1897-1986) deixou uma obra não apenas na música como soprano e compositora (de marchas populares), mas também como professora de canto e empresária teatral. A música, que era para si um sonho de juventude, foi interrompida pelo curto casamento findo o qual rumou a Lisboa onde começou por cantar e tocar piano na casa Valentim de Carvalho antes de rumar a uma carreira nos palcos (no teatro de revista) e, depois, os discos.
Com a chegada do cinema sonoro a Portugal surgiu o hábito de adaptar filmes americanos, recriando-os com elencos nacionais. E Corina Freire foi então convidada para ser protagonista em “A Canção do Berço”, versão em português do contemporâneo “Sarah and Son”, de Dorothy Arzner, filmada nos estúdios da Societé de Films Historiques em Joinville-le-Pont (França) sob o comando do realizador brasileiro Alberto Cavalcanti. Não foi episódio único, já que a atriz e cantora participou pouco depois em “A Mulher Que Ri” (1931), de Jorge Infante. É neste quadro de colaborações com o cinema que, também em 1931, Corina Freire estreia “Teodoro Não Vás Ao Sonoro”, canção com vitaminas bem humoradas que integrava a revista “O Mexilhão”, onde a canção é apresentada em dueto com Beatriz Costa. Este espetáculo marcou a estreia de Corina como empresária teatral, numa parceria com António Macedo. E, já agora, vale a pena lembrar que “sonoro” era o nome pelo qual então era popularmente designado o cinema… com som.

A canção ficou fixada num disco de 78 rotações lançado nesse mesmo ano pela His Master’s Voice. A gravação teve lugar no Teatro Nacional de São Luiz, em Lisboa, e contou com a presença da Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida por Frederico de Freitas.
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