Com importante percurso na poesia, sobretudo a partir dos anos 30, Edmundo de Bettencourt (1889-1973) deixou na história da música gravada em disco uma série de lançamentos que marcaram a canção de Coimbra, num percurso de horizontes abertos a outras formas, de expressões da música tradicional ao fado canção. Nascido no Funchal, iniciou o percurso académico (na área do direito) em Lisboa, continuando depois os estudos em Coimbra, onde a música começou então a ocupar parte significativa do seu caminho. Conheceu Artur Paredes e outros contemporâneos, registando uma série de discos pelos quais fixou interpretações de canções como “Saudades de Coimbra”, “Senhora do Almortão” (num arranjo de Artur Paredes), “Crucificado”, “Balada do Encantamento”, “Menina e Moça” ou, entre outros mais, a “Samaritana”.
Canção que alude a um episódio bíblico, “Samaritana”, com letra e música de Álvaro Cabral, é um exemplo do modo como Edmundo Bettencourt encarava a música, vincando personalidade como intérprete. A gravação ocorreu em Lisboa em fevereiro de 1928 contando com acompanhamento de Artur Paredes (guitarra portuguesa), Albano de Noronha (guitarra portuguesa) e Mário da Fonseca (viola). O disco juntava na outra face uma versão de um tema popular, a “Canção do Alentejo”. A gravação da “Samaritana” arrebatou um episódio de sucesso para Edmundo Bettencourt, gerando uma das gravações de referência desta canção que entretanto surgiu em diversas outras discografias.
“Samaritana” é episódio marcante num repertório que então demarcou Edmundo de Bettencourt como importante inovador no espaço da canção de Coimbra, sendo esta apenas parte da sua contribuição para a história cultural da cidade já que esteve também ligado a um movimento literário que ali eclodiu por esta altura. A sua obra em disco foi gravada entre 1928 e 1929, gerando oito singles de 78 rpm. O percurso profissional de Edmundo Bettencourt desenhou-se entretanto na função pública, da qual foi afastado depois do seu nome surgir em listas do oposicionista MUD. O seu caminho fez-se depois na propaganda médica.
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