quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Os melhores discos nacionais de 2024

 

2024 foi um ano de muita e boa música portuguesa. Talvez por isso, a redação Altamont tenha votado em 73 discos nacionais, para chegarmos aos 20 mais votados. Tivemos o regresso de velhos favoritos nossos, como Benjamim, Samuel Úria ou Capitão Fausto, tivemos edições de nomes consagrados como Lena D’Água ou Vitorino e a afirmação de apostas do Altamont, como os Yakuza ou os Cassete Pirata.

Mas o destaque vai para algumas novas vozes femininas, com uma delas a chegar mesmo ao lugar cimeiro das nossas escolhas.

A música nacional está bem e recomenda-se. Siga caminho para conhecer os discos portugueses que mais nos apaixonaram neste ano de 2024.

20. Lena D’Água
Tropical Glaciar

Cinco anos depois do surpreendente regresso que foi Desalmadamente, Lena d’Água traz um novo disco que, como se diz no futebol, prova que em equipa que ganha não se mexe. Tropical Glaciar não amplia o estatuto mas é mais um belo conjunto de músicas aparentemente simples mas recheadas de curvas e contracurvas de elegância.


19. Rafael Toral
Spectral Evolution

Spectral Evolution é o culminar da carreira de Toral, um disco que resultou de mais de trinta anos de pesquisa incansável e que encerra em si quase todos os caminhos que o músico percorreu até agora. Se isto é a semente que originará a fase seguinte da sua carreira, não sabemos ainda. De qualquer modo, os nossos ouvidos estão colados ao espaço, ao céu e à terra.


18. Mazgani
Cidade de Cinema

Um tom místico e de mistério perpassa todo o novo álbum de Shahryar Mazgani, intitulado Cidade de Cinema, e agora na íntegra em português, enquanto nos anteriores as canções bluesy chegavam no idioma inglês. Neste caso, a sonoridade não deixa também de remeter para Oriente e para a música tradicional de Portugal.


17. Tomé Silva
Quando Voltar ao Chão

Do coração para o quarto e do quarto para o mundo, o novo disco de Tomé Silva é uma ode ao simples ato de criar. Quando Voltar ao Chão é uma experiência de justaposição, uma maneira de tentar criar coesão na junção de fragmentos e esboços. Ao pegar em projetos orfãos e dar-lhes a dignidade de um projeto acabado, Tomé Silva demonstra o amor que existe no processo de criar, mesmo nas coisas que acabam por não resultar em nada.


16. bbb Hairdryer
A Single Mother / A Single Woman / An Only Child

A Single Mother / A Single Woman / An Only Child é um álbum que vai direto aos sentidos. Elisabete Guerra e os seus companheiros Francisco Couto, chica e Chinaskee, conduzem-nos por essas vielas do fascínio, plenos de liberdade, crueza e intensidade, despidos de tretas e pretensões.


15. HUMANA TARANJA
EUDAEMONIA

Eudaemonia, o terceiro álbum dos HUMANA TARANJA, chegou e conquistou, com a sua combinação de elementos de experimentalismo, poesia e reflexões existenciais. Lançado num momento em que o mundo ansia por significado, o disco propõe-se à pesada tarefa de questionar o significado de palavrões como felicidade, autoconhecimento, bem-estar e mesmo da mortalidade.


14. Cara de Espelho
Cara de Espelho

A cantiga ainda é uma arma e os Cara de Espelho miram e fazem tiro certeiro nos assuntos relevantes da sociedade portuguesa e não só. Por isso, as canções dos Cara de Espelho são mais que um exercício artístico e assumem-se como exibições para reflexão.


13. Samuel Úria
2000 A.D.

Em 2000 A.D., temos Samuel Úria no seu melhor, com um álbum que o situa entre os mais importantes compositores portugueses atuais. Este álbum consegue tocar todos os pontos e – chamemos-lhe idiossincracias – das composições de Úria, e é por isso que é tão bom.


12. Ana Lua Caiano
Vou Ficar Neste Quadrado

Apesar do nome do novo disco de Ana Lua Caiano, Vou Ficar Neste Quadrado, podemos afirmar com convicção que não é uma característica da jovem artista. Ana Lua entra e sai de vários quadrados com leveza, mas afirmando-se em todos eles: o quadrado da música electrónica, o da música tradicional portuguesa, o das letras incisivas, e o da criatividade.


11. Nancy Vieira
Gente

Gente é um trabalho absolutamente moderno mas absolutamente intemporal. Tudo o que ouvimos é fluido, faz sentido, casa bem, com a intuição que só os grandes músicos têm e que os outros só podem invejar e desfrutar. Tudo servido por músicos de excelência e arranjos aparentemente simples mas extremamente ricos e bem feitos.


10. Yakuza
2

2 é um ótimo disco de jazz urbano, parecendo próximo dos sons do nu jazz londrino dos anos 90, embora aqui se apresente mais viajante, ainda mais capaz de construir imagens por onde a música os vai levando, pequenos instantes fotográficos (mas em movimento), instantes de inegável beleza artística.


9. Vitorino
Não Sei do que é que se Trata, mas Não Concordo

Sendo o disco novo, este Vitorino é o mesmo de sempre. E ainda bem: porque isso é garantia de qualidade, coerência e de uma encantadora geografia emocional traduzida na forma como canta, temperada a preceito com sabores musicais do Alentejo da origem e da família (tios e quatro irmãos) com quem partilha o dom, mas também do muito mundo que tem percorrido.


8. Cassete Pirata
A Família

Com o lançamento de A Família, o quarto álbum do grupo formado em 2016, em Lisboa, os Cassete Pirata souberam construir um disco baseado nas fortalezas e sucessos anteriores, o que os cimenta como uma das bandas mais interessantes de um som alternativo levado ao colo por guitarras.


7. Tape Junk + Pedro Branco
Bolero

Bolero é ainda uma obra que celebra o melhor do indie/folk produzido em Portugal. Um convite à exploração das profundezas das emoções humanas, com a música como guia. O reflexo de uma amizade que talvez tenha surgido entre o trago amargo do segundo whiskey e uma parceria musical que estava mesmo à espera de acontecer.


6. Afonso Cabral
Demorar

Foi preciso esperarmos 6 anos até ao lançamento de Demorar, mas Afonso Cabral fez com que valesse a pena. Durante quase 40 minutos e nove canções, sentem-se por todo o lado as boas influências musicais, com óbvia referência a Bruno Pernadas e You Can’t Win Charlie Brown. Ainda assim, o – chamemos-lhe truque – deste disco é que Afonso Cabral, a solo, consegue ser musicalmente distinto de todos os projetos em que participa.


5. Maria Reis
Suspiro…

Nos últimos anos a música de guitarras é liderada por mulheres e Maria Reis é das melhores a fazê-lo. E suspiramos de prazer por cada vez que a ouvimos. Este não é um disco carregado de raiva punk, tristeza indie ou alegria pop (e será que as canções pop alguma vez foram felizes?). É um disco em que todas as emoções foram atiradas para dentro de uma centrifugadora e servidas de um jorro.


4. Capital da Bulgária
contei e deixei que tu me julgasses

Para bom entendedor de geografia, meia palavra basta – assim terá surgido o nome artístico de Sofia Reis, cantora, compositora e produtora. Neste disco de estreia, temos vários fragmentos das suas vivências, dos seus dilemas, das inquietudes que lhe vão na alma. A acrescentar a isto, uma sonoridade bem trabalhada, minimalista a espaços, mais expansiva noutros e sem muitos artifícios.


Capitão Fausto - Subida Inifinita

3. Capitão Fausto
Subida Infinita

Composto por dez faixas, Subida Infinita é, simultaneamente, um regresso a casa e uma busca por novos itinerários. A mudança, o crescimento e o passado que nos permite chegar ao futuro são os temas centrais do disco, no qual Francisco Ferreira faz a sua última participação, pelo que este álbum tem, além de tudo, um gosto a despedida de algo maior.


2. Benjamim
As Berlengas

As Berlengas é um saboroso osso duro de roer. Não é fast food auditivo, não faz favores a ninguém, dificilmente imaginamos seja quem for a cantarolá-lo do início ao fim. Desde logo pelos seus ingredientes não serem os mais comuns num disco de um artista cantautor pop-indie-rock: não é um disco de canções, embora também as tenha. Abençoada viagem esta, por mares nunca de antes navegados, ao comando do skipper Benjamim!


1. Bia Maria
Qualquer Um Pode Cantar

Neste disco, ouvimos o que é ser mulher, o que é ser precária neste país, na arte, na música, a falta de descanso, a cabeça sempre no próximo sítio, ouvimos o que é desamor, mais profundamente do que antes. Cantar é viver e qualquer um pode e deve cantar. Bia tem uma vida, dores, alegrias, vontades e reivindicações. Estão aqui todas elas, como ela as vê, como ela as sente e como só ela as poderia cantar.

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