Na companhia dos Mild High Club, os King Gizzard lançam um dos discos mais ecléticos e surpreendentes da sua carreira.

Em 2016 os australianos King Gizzard & the Lizard Wizard anunciaram o seu plano hercúleo de lançar cinco discos em 2017. Depois das experimentações microtonais de Flying Microtonal Banana e do spoken-word metálico de Murder of the Universe surgiu, sem aviso prévio, Sketches of Brunswick East. Saído em agosto, o disco é uma colaboração com Mild High Club, projeto indie rock do americano Alexander Brettin. O resultado é um disco mais atmosférico, jazzístico e, acima de tudo, subtil vindo de uma banda reconhecida pela sua extravagância musical.

As origens da colaboração são tão casuais como o lançamento do álbum. Stu McKenzie e Alex Brettin, líderes das suas respetivas bandas, encontraram-se depois do segundo ter tocado no Gizzfest de 2016, trocando ideias que eventualmente se transformaram nestes Sketches. É de salientar que este é provavelmente o trabalho mais variado da carreira de ambas as bandas. Discos anteriores eram alicerçados por conceitos que, embora interessantes, não permitiam grande variedade musical. A falta de um tema coerente permite-lhes esticar as suas asas e fazer algo que seria impossível se este se tratasse de um projeto individual de cada banda.

Depois da primeira de três faixas-título, começa “Countdown” uma canção ligeira e relaxada que prova que os King Gizzard não sabem apenas tocar música pesada (como, aliás, o subvalorizado Paper Mâché Dream Balloon de 2015 nos havia já demonstrado). A seguir, “D-Day” é um instrumental microtonal de atmosfera circense que contém alguns elementos de música oriental. A influência de Mild High Club nota-se na dorminhoca “Tezeta” que funde influências do doo-wop dos anos 50 com o jazz de fusão dos 70. O rock psicadélico faz-se sentir em “The Book” com os seus riffs microtonais e vocais cavernosos, recebendo a distinção de ser o momento mais pesado do álbum. “A Journey to (S)Hell” que lhe sucede, é um freak-out espacial que deixaria Syd Barrett orgulhoso. “Rolling Stoned” reencaminha-nos para paisagens mais relaxadas e sua transcendência oriental torna-a num dos momentos mais altos desta colaboração.

É interessante notar que aquele que é, discutivelmente, um dos projetos menos ambiciosos dos King Gizzard (especialmente quando comparado ao seu irmão mais velho Murder of the Universe), acaba por se tornar num dos seus melhores álbuns. Com dois discos no horizonte, talvez este venha a ser apenas o terceiro melhor disco que a locomotiva australiana lança este ano.