Ao terceiro disco a solo, Teresa Salgueiro afirma-se uma artista de corpo inteiro, tendo em O Horizonte uma obra maior e incontornável na música portuguesa.

A terna voz dos Madredeus nunca nos abandonou realmente. Basta ouvi-la, na rádio, por uma janela entreaberta, e sabemos imediatamente quem estamos a escutar. Aquele timbre, aquela frescura, aquele sentimento, aquele fado desfadado na voz.

O Horizonte, lançado no final de 2016, é já a terceira investida a solo da cantora e compositora. Depois de O Mistério e da curiosa aventura que foi La Golondrina y El Horizonte – canções mexicanas e latino-americanas com edição exclusiva no México mas disponível em streaming – chegou a vez do novo disco.

E que disco! Teresa volta a assumir a responsabilidade de todas as letras e a direcção musical, contando com um quarteto de músicos de grande qualidade à sua volta.

E o que temos neste Horizonte? Temos, numa palavra, Portugal. Temos as serras, os campos, as aldeias, sim. Mas também a solidão das cidades, o mar, o cheiro da nossa terra. Este é um disco que soa profundamente português sem ser, de todo, provinciano. Está ali entre o popular e o erudito, entre o intrinsecamente local e o cosmopolita, num equilíbrio delicioso mas difícil de conseguir.

Temos temas lentos, serenos, mas temos também entusiasmo, como o vento, frieza, como a chuva, calor, como a boa lareira da aldeia.

Como diz a letra de “Horizonte”, que abre o disco:

“Ali se eleva o meu canto
É às distâncias que grito
Este delírio, este espanto
Que em tantos dias eu sinto

Pertenço aos montes longínquos
É dali que eu quero ser
Se não for por amar tanto
De que me serve viver?

Aqui me entrego
Entre a Terra e o Céu
Cumpro cantando
Um destino que é meu”.

O Horizonte é um disco que nos emociona e nos arrepia, profundamente enraizado na natureza mas completamente humano ao mesmo tempo.

Não o deixem escapar, seria um enorme pecado.