
Mas como o que importa é o passado e não o futuro, o que vale é o que os fãs querem e não as possíveis pretensões artísticas dos músicos, lá veio a mudança: mandaram o ótimo Dukes embora e chamaram de volta o intempestivo e encrenqueiro Steve Zetro Souza, fora da banda desde 2004, após participar do petardo Tempo of the Damned. Algo semelhante, para termos de comparação, ao que o Anthrax fez ao dispensar John Bush e chamar de volta Joey Belladonna.
Com tudo isso explicado, vamos aos fatos: o novo disco do Exodus, Blood in Blood Out, explica com perfeição o que é uma parcela do metal e do mercado fonográfico atual. Ele é voltado para fãs saudosistas, para pessoas que tiveram a banda como parte importante de suas vidas e buscam resgatar este sentimento. Nada contra, mas fica claro que a banda, com esse movimento, trabalha buscando apenas o contentamento desses fãs, não fazendo o mínimo esforço para cativar novos ouvintes. E dá-lhe fórmulas feitas: “blood" pra lá, “blood” pra cá (o culto a Bonded by Blood parece que forçou o Exodus a colocar a palavra em praticamente todos os seus discos …), participações especiais (o ex-Kirk Hammett, que deixou a banda em 1983 pra fazer história e fortuna, e Chuck Billy, vocal do Testament) e regravação de um "clássico" obscuro do metal oitentista (no caso, “Angel of Death”, do Angel Witch).
As canções vão na mesma pegada, seguem o mesmo posicionamento. São faixas que não são ruins, mas que também não dizem muito aos ouvidos da maioria. Thrash com pegada clássica, deixando totalmente de lado as doses certeiras de groove que haviam turbinado a música do Exodus nos últimos anos, deixando-a muito mais agressiva e pesada. Soma-se isso ao fato de Zetro Souza fazer parte daquela parcela de fãs de Pato Donald que cantam em bandas de metal (e que, particularmente, não me agradam), e temos um resultado final apenas mediano. Fiquei imaginando, enquanto o play rolava, em como o timbre de Dukes casaria muito melhor com as composições, mas essa não foi a escolha de Holt e companhia.
Entre as onze faixas, alguns destaques óbvios: a música título, “Collateral Damage” (a melhor, com coros no refrão que resgatam as influências punk e hardcore da música do Exodus), “Salt the Wound”, com Kirk e Gary desafiando-se nas seis cordas, e “Food for the Worms". “BTK”, canção que conta com a participação de Chuck Billy, acaba decepcionando pelo pouco uso do cantor do Testament, que fica restrito ao refrão.
Olha, tem gente que vai adorar Blood In Blood Out e afirmar aos quatro ventos que trata-se de um dos melhores álbuns do Exodus. Não é o meu caso. Achei o disco apenas mediano, com um foco demais no passado e com o objetivo claro e evidente de agradar apenas os fãs mais saudosistas. No final das contas, não dá para criticar duramente a banda por seguir este caminho, afinal, no mercado atual, pouquíssimos ouvintes ainda gastam seu dinheiro em LPs e CDs, e a grande maioria deste povo é formado por bangers das antigas e que ainda não foram seduzidos por outras formas de consumir música, como o streaming, por exemplo. Assim, o Exodus reenquadra a sua carreira e foca exclusivamente em um público, deixando de lado todo o restante. Uma estratégia discutível e até certo ponto suicida, mas que terá seus defensores, principalmente aqui no Brasil, onde o mercado gira sempre ao redor dos mesmos nomes.
Ouça, mas não espere nada de outro mundo.
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