domingo, 1 de junho de 2025

Kaamos - Deeds and Talks (1977)

 


É pensar em demasia limitado achar que países como Inglaterra, Estados Unidos, Itália e Alemanha, por exemplo, sejam o centro desta música de que tanto amamos e em nenhum outro lugar existir nada que possa ser devidamente valorizado pela sua qualidade sonora.

São tantas bandas esquecidas, raras, com seus álbuns por alguns subjugados pelo simples fato de não se adequarem à importantes mercados consumidores da música ou a “formatos” sonoros “fora de moda”.

“Fora de moda”, descolados do tempo é outro tema difícil dentro do “show business”. Essa eterna questão de o tempo “julgar” a música e de que precisamos nos adequar às novas tendências de música é outra conversa perigosa construída pelo marketing perverso da indústria fonográfica. Por que aquela música que você se identifica não pode estar presente em seus dias?

E a banda de hoje se desloca de um tempo em que o rock progressivo não estava mais em alta, mas, ainda assim, valorizando as suas verdades sonoras, decidiu, a duras penas, seguir e gravar um álbum no fim da década de 1970 na fria Finlândia. Vejam o cenário totalmente adverso: gravar um álbum de prog rock no final dos anos 1970, na Finlândia.

Era o punk em voga, música rápida e simples, de poucos acordes, era a época da disco music, da música das pistas de dança, animadinhas. Não tinha mais espaço para as músicas trabalhadas, conceituais e tudo que o valha. Mas convenhamos, o prog rock sempre foi marginalizado com exceção de alguns figurões que conseguiram se transformar em “bandas de arena” elevando um pouco o nome da cena.

Mas voltando a Finlândia, a banda KAAMOS foi formada em Turku, sudoeste da Finlândia, pelo guitarrista Peter Strelmann e o tecladista e organista Ilkka Poijärvi. O nome “kaamos”, de origem finlandesa, significa “a noite polar quando o sol nunca nasce”, algo extremamente comum naquele país escandinavo.

Os membros originais consistiam na formação de quatro músicos: além do guitarrista Strelmann e o tecladista Poijärvi, trazia Eero Valkonen, na bateria, Eero Muntarkarma no baixo e o vocalista americano Jimmy Lewman. O organista Ilkka Pojärvi logo abandonaria a banda, bem como Lewman que sairia no ano seguinte à formação da banda, em 1974.

Este último foi substituído pelo guitarrista Ilpo Murtojarvi e pelo cantor/baterista Johnny Gustafsson. O verão de 1975 vê a saída de Strelmann, que se juntou ao Exército, e foi substituído pelo tecladista Kyosti Laihi.

O tecladista Kyösti Laihi, que era membro do “Pepe & Paradise” e também da banda Hellmann's Youth Society, quando chegou no Kaamos defendeu ardorosamente que a banda deveria tocar rock progressivo ao estilo Camel, Yes e Genesis, afinal, no início da década de 1970, quando o Kaamos foi formado, era o auge do estilo e também trazia a experiência por ser um músico que havia tocado em várias bandas locais.

Mas a banda sofreu muito com as intensas e constantes mudanças em seu line up, era um entra e sai direto de músicos e isso quase desintegrou o Kaamos, principalmente após a saída de um de seus membros fundadores, o guitarrista Peter Strelmann. Então Laihi, que parece ter assumido o comando da banda, recrutou Ilpo Murtojärvi, que foi guitarrista e compositor por um tempo da banda “Karma”. Pediu a ele que escrevesse uma música para a banda. 

No final eles se estabeleceram em um quarteto, como no início, formado por Kösti Laihi, nos teclados, Ilpo Murtojärvi, na guitarra e Jonny Gustafsson na bateria e vocal e Jakke Leivo, no baixo, ambos ex-integrantes de uma banda de orientação “pop” chamado “The Islanders.Ing”.

Neste momento do Kaamos já não tinha nenhum membro da formação original, o que era um desafio e tanto manter as arestas sonoras da banda, sem uma referência de sua história. Então decidiram cair na estrada para se apresentar, divulgar a sua música.

De Turku, a cidade natal do Kaamos, até a capital, Helsinque, tocaram em clubes, apresentaram suas músicas autorais que adicionavam blues, funk e folk à música clássica, era o prog rock e a sua capacidade de se híbrido, como o rock na sua gênese.

Em 1975 o Kaamos gravou uma fita demo e negociou com várias gravadoras para gravar um álbum oficialmente, mas era meados dos anos 1970, o rock progressivo não estava na crista da onda, afinal o punk e a new wave, entre outras músicas de cunho mais radiofônico e comercial eram as pepitas de ouro da indústria fonográfica, então as portas se fechavam. Mas a luz no fim do túnel se fez e veio da sua terra natal, Turku.

A M&T Productions, gravadora fundada em 1975 pelos irmãos Matti e Teppo Ruohonen, descobriram o Kaamos que era da mesma região. Uniram o útil e o agradável, já que a jovem gravadora estava precisando de novas bandas ao seu cast e o Kaamos estava precisando de gravadora, a banda então assinou contrato em 1976 gravando o seu primeiro e único trabalho, no início de 1977, chamado “Deeds and Talks”.

"Deeds and Talks (1977)

“Deeds and Talks” é um álbum majoritariamente de rock progressivo, com forte viés sinfônico, baseado em várias texturas de teclados e guitarras líricas, solos bem trabalhados de guitarra, até em demasia, o que, pelo menos para este que vos fala, é muito prazeroso, o que o torna um álbum especial, incluindo ainda lindas passagens de sintetizadores de movimentos interessantes, bem agitados, em uma mescla bem interessante entre o progressivo britânico com nuances do típico folk rock escandinavo, outro fator extremamente interessante para mim.

É percebido no debut do Kaamos uma guitarra bluesy, mas suaves, que nos traz à lembrança de bandas como Camel, com melodias enérgicas que me lembra Wigmam tardio, diria. Embora “Deeds and Talks” não seja um álbum inovador, ele merece uma audição pelo fato de entregar exatamente essa miscelânea de vertentes sonoras que construíram o hibridismo progressivo no fim dos anos 1960 e que se constatou em seu apogeu entre 1971 e 1974, mais ou menos.

O álbum é inaugurado com a faixa “Strife” que é centrada em guitarras de blues, com solos diretos, porém bem trabalhados, límpidos e bem executados, com teclados que traz uma textura graciosa e com uma bela performance de flauta. Essa performance meio blues e o vocal do baterista, embora não seja um primor, me fez lembrar os primeiros tempos do Bad Company meio “nórdico”! Loucura, não?

"Strife", live at Wimma, Turku, 2010

“Are You Turning” segue cheia de senso melódico que tece notas de teclados bem nostálgica, algo viajante e contemplativo, diria. A guitarra é potente, enérgica, solar, com solos diretos, mas empolgantes. Os vocais, dessa vez, são bem agradáveis, bem melodiosos, algo típico dos países escandinavos, sabe? Não saberia dizer sob o aspecto técnico e/ou comportamental, mas é algo que me parece óbvio.

"Are You Turning", live at Wimma, Turku, 2010

A próxima faixa, “Delightful” é especial pois tem uma participação efetiva e competente, sob o aspecto instrumental, de todos os músicos, com destaque para uma bateria delicada, bem executada, no auge de sua simplicidade, e teclados contemplativos. Há alguns compassos deliciosamente estranhos e casuais, com elementos evidentes de jazz rock e vocais ao estilo Ian Anderson, do Jethro Tull. Bela música!

"Delightful", live at Helsinki, 2012

“Barocchi” traz também uma faixa instrumental muito bem executada, com uma pegada clássica, com um groove brilhante e bem contagiante, com o pleno uso do Moog. Na segunda metade o solo de guitarra se desenvolve muito bem, em uma versão rock, bem como do órgão.

"Barokki", live at Finland, 2012

“Isabelle Dandelion” é uma balada bem melancólica, dramática, diria soturna, ao som de violão e piano em plena e total sinergia sonora e os vocais pungentes de Gustafson são verdadeiramente emocionantes.

"Isabelle Dandelion", live at Wimma, Turku, 2010

Segue com “Moment (Now)” que imprime uma pegada mais jazz rock com teclados lindos e solares com guitarras mais poderosas, elásticas e até pesadas. As harmonias vocais e, mais uma vez, o todo instrumental são fantásticos. As guitarras se mostram afiadas, os teclados flutuantes, com o fusion protagonizando.

"Moment (Now)", live at Helsinki, 2012

“When Shall We Know” entrega uma atmosfera mais funky, algo dançante, em uma miscelânea com o blues e, claro, o rock progressivo, sendo soberbamente introduzido, sem soar “deslocado”. O piano é tanto quanto enérgico e o conjunto da obra tem um sentido de AOR.

"When Shall We Know", live at Wimma, Turku, 2010

O álbum é excelentemente encerrado com a faixa “Suit-Case” que, como o nome já sugere, trata-se de uma grande e instigante “peça” de rock progressivo que dura mais de oito minutos e tem um lindo e potente arranjo de teclado que me remeteu aos grandes e interessantes momentos do Greenslade, banda a que tenho adoração. Ele se torna, em alguns momentos, experimental, com “quedas” para improvisações, apresentando elementos de complexidade e cheio de emoções.

"Suit-Case", live at Wimma, Turku, 2010

“Deeds and Talks” é assim: um rock progressivo com forte viés sinfônico com um senso de melodia nórdica, tendo como alicerce teclados do rock progressivo britânico e guitarras incandescentes de blues e funk, com viagens jazzísticas. Ou seja, traz a plenitude da versatilidade.

O álbum ganhou alguma notoriedade, algum elogio por parte dos críticos musicais da Finlândia, sendo considerado como o melhor momento do rock progressivo daquele país desde a fundação do Wigwam, inclusive, porém a resposta do mercado foi tímida, morna, provavelmente por ter sido concebido por um selo pequeno e que ainda estava engatinhando, além das novas predileções da indústria fonográfica pelo punk rock e new wave, sendo as vendas decepcionantes.

Mas apesar de todos esses entraves o Kaamos continuou a se apresentar localmente, em sua terra natal, Turku, mas não resistiu a esses reveses e se separou em 1980. Sentiram falta, em decorrência desse cenário totalmente contra, de um público interessado e substancial para assisti-los também nas apresentações.

O tecladista Kyösti Laihi formou o Boulevard com Erki Korhonen. Em 1989 sofreu uma esclerose múltipla, mas que não o impediu de continuar ativo nesta mesma banda até os anos 2000. Como compositor escreveu várias músicas para vários cantores e, em 2002, gravou a música "Eteenpäin" com a Seitzema Seinaflua Bergesta Band.

O baterista e vocalista Johnny Gustafson se juntou a um grupo de dança “Bogart Company”, que se tornou sucesso e a mais tarde se reuniu a banda Bluebird. Depois disso, ele seguiu uma carreira solo, mas morreu em 9 de outubro de 2021.

O baixista Jakke Leivo se tornou um pioneiro no ensino do baixo na Finlândia e desde então tem sido professor titular do instrumento no no Helsinki Conservatory of Pop and Jazz, no Departamento de Educação Musical da Sibelius Academy e no Helsinki University of Applied Sciences Stadia.

O guitarrista Ilpo Murtojärvi formou o grupo new wave Pasi & Mishin no início dos anos 1980, tocando com os renomados guitarristas Anna Hansky, Aneli Thurliston e Joel Harikainen. Mais tarde, ele se tornou músico de estúdio e atuou como professor de guitarra pop e jazz no Conservatório de Turku. Em 2015, ele foi indicado como o melhor artista pela Turku Jazz Association em reconhecimento às suas realizações na composição e ensino de jazz.

Com um movimento de ressurgimento do rock na Finlândia “Deeds And Talks” foi “reavaliado” e entendido como um clássico do rock progressivo obscuro, ganhando uma reedição, limitada em vinil, em janeiro de 2016 pelo selo “Rocket Company”. Mas antes, em 2010, este álbum foi relançado em CD pela mesma gravadora.

“Deeds and Talks”, do Kaamos, apesar do seu infortúnio, se revela grandioso, mesmo não trazendo nenhum elemento de vanguardismo em seu som, mas feito com sinceridade, competência, sem se deixar rotular por uma vertente ou estilo. A prova contundente da qualidade do trabalho foi a carreira dos seus músicos pós Kaamos, extremamente prolífica, bem-sucedida, corroborando a importância deste álbum para a história do rock n’ roll finlandês e quiçá europeu, onde o prog rock reina absoluto.



A banda:

Johnny Gustafsson nos vocais, bateria e percussão

Kyösti Laihi nos teclados, moog e sintetizadores e backing vocals.

Ilpo Murtojärvi na guitarra e backing vocasl

Jakke Leivo no baixo

 

Faixas:

1 - Strife

2 - Are You Turning

3 - Delightful

4 - Barokki

5 - Isabelle Dandelion

6 - Moment (Now)

7 - When Shall We Know

8 - Suit-Case 



"Deeds and Talks" (1977)


Exponent - Upside Down (1974 - 2014)

 

A minha afeição pelo rock n’ roll alemão é mais do que justificada, levando em consideração a “selva” ainda inexplorada que é a cena germânica. Há muito a se desbravar, há muito a se ouvir de bom. São pérolas obscuras, esquecidas e que, de forma abnegada, são revisitadas, trazidas à vida por selos igualmente underground.

Não vou aqui tecer comentários detalhados do motivo pelo qual tais bandas caem no ostracismo ou ainda sequer tem seus materiais lançados de forma oficial, o mais importante é exatamente dar luz ao rock obscuro, trazê-las à vida de novo e reparar, em muitos casos, tais equívocos, sobretudo pela sonoridade complexa e de qualidade da esmagadora maioria das bandas.

E mais uma banda cativou-me, inicialmente pelo fator visual. A capa, de imediato, me chamou a atenção e, por mais que possa ser simples, nada de novo ou avassalador, eu precisava ouvir o conteúdo, após, claro, as minhas investidas em busca de novas “velhas” pérolas obscuras disponíveis pela grande rede.

Quando dei o “play” a magia se fez, a magia sonora eclodiu de forma catártica! Que banda! Que sonoridade! Mas antes de destrinchar faixa a faixa, claro, sem mais delongas, vou apresentar a banda: EXPONENT!

O Exponent foi formado, em 1971, em uma cidade, na Alemanha, chamada Wuppertal, Dusseldorf, mesma região que outra banda seminal e um pouco mais conhecida surgiu, a Hölderlin. Inclusive o Exponent, entre 1971 e 1974, fez uma série de shows em circuitos alemães abrindo para bandas do porte de Novalis e o próprio Hölderlin, entre tantas outras.

E já que mencionamos algumas grandes bandas germânicas o Exponent foi formado a partir do mesmo line up de outra banda, também pouco conhecida, a “Cannabis India” que lançou, em 1973, um álbum chamado “SWF Session”.

Cannabis India - "SWF Session" (1974)

A formação que participou de “SWF Session” e do único trabalho do Exponent, “Upside Down”, de 1974, trazia: Dirk Fleck no baixo e Rüdiger Braune na bateria. Completou ainda a formação do Exponent Frank Martin nos teclados, flauta e vocal e Martin Köhmstedt na guitarra. Esses dois últimos, claro, não tocaram no Cannabis India.

Observa-se nessas movimentações dos músicos que são bandas surgidas sob o aspecto de projetos, dando a entender que não seriam duradouros, principalmente o Cannabis India.

“Upside Down” foi originalmente gravado no “Tonstudio Baue” em 1974, porém nunca foi lançado, caindo no mais puro e genuíno ostracismo por décadas e décadas até ganhar vida em um lançamento do selo underground chamado “Kosukuro Records”, no formato LP, em 2014, quarenta anos depois de sua gravação e, ano seguinte, saindo em CD, pelo valoroso selo alemão "Garden of Delights”.

O fato é que as gravações de “Upside Down” não interessaram a nenhuma gravadora e a banda viria a se separar dois anos depois, em 1976. Mas obstáculos à parte o Exponent entregou neste trabalho harmonias pensadas para levar a melodias dotadas de caráter emocional que fazem desse álbum uma ode ao rock progressivo sinfônico, com pegadas experimentais remetendo ao krautrock em seus primórdios e ousadas passagens de blues e até mesmo algo mais pesado do hard rock.

Instrumentos como o moog e mellotron dão toda a textura para a edificação do som do Exponent, com passagens viajantes de guitarra e uma seção rítmica extremamente competente e orgânica.

Embora a capa, excelente, sugira algo voltado para o heavy metal ou black metal, o som de “Upside Down” é dominado pelo prog rock, sinfônico, jazz e nuances bluseiras com uma textura experimental remetendo o krautrock.

O álbum é inaugurado pela faixa “Duplicate” e o que de imediato ganha destaque é o vocal de Frank Martin que, de forma dramática, mostra o quão sua entonação é límpida e cristalina. Mas logo entra a bateria puxando uma levada mais jazzy e os teclados impondo uma roupagem mais sinfônica. A guitarra, com riffs e solos mais diretos, rasga a atmosfera sombria, trazendo um pouco mais de peso à faixa com uma pegada mais veloz, inclusive. A típica faixa progressiva com viradas rítmicas excelentes.

"Duplicate"

“Last Spring” é introduzida pelo órgão dando-a uma atmosfera soturna, sombria, com lindos e viajantes solos de guitarra, um tanto quanto viajante, contemplativos. O vocal logo entra e envolve, mais ainda, toda a “estrutura sonora” com propostas sombrias. O baixo segue o ritmo pulsante, mas vagaroso. Mas logo irrompe em uma explosão pesada do hard rock com solos de guitarra vibrantes e uma bateria marcada e pesada. E assim “Last Spring” segue, com viradas rítmicas interessantíssimas.

"Last Spring"

Na sequência a faixa “Thoughts” surge com uma viagem psicodélica remetendo aos tempos ácidos de Pink Floyd de Sid Barrett, mas os teclados logo anunciam a veia sinfônico que permeou todo o álbum. O vocal, sempre límpido e cristalino, entonam a sonoridade psych prog da faixa. 

"Thoughts"

E finalmente é finalizado com a faixa mais longa, cerca de vinte minutos, do álbum: “Dream”. E definitivamente se trata de uma verdadeira jam section, uma seção de improvisações que vai do krautrock ao hard rock, passando por passagens psicodélicas e progressivas, com o destaque, nessa construção, para os teclados e riffs de guitarra que sustentam os momentos mais pesados da faixa. E claro que os componentes mais complexos se fazem presentes, mas dominados pela criatividade que só as improvisações são capazes de proporcionar. Excelente música!

“Upside Down”, do Exponent é mais do que adequado para aqueles que querem sair da famigerada “zona de conforto” e ouvir coisas novas, mesmo que sejam antigas. Mais adequado ainda para aqueles que curtem rock progressivo sinfônico, com toneladas de moog e mellotron, mas extremamente integrado a bons e pesados riffs de guitarra, flertando com o hard rock.

Exponent, apesar de sua curta passagem pela cena germânica do rock, deixou um pequeno, mas significativo legado de um belo exemplar de música progressiva sinfônica aliada às improvisações e experimentalismos que pautou o momento áureo do krautrock na transição das décadas de 1960 e 1970. Altamente recomendado!


A banda:

Frank Martin nos teclados, flauta e vocal

Dirk Fleck no baixo

Rüdiger Braune na bateria

Martin Köhmstedt na guitarra

 

Faixas:

1 - Duplicate

2 - Last Spring

3 - Thoughts

4 - Dream 

MUSICA&SOM ☝

Exponent - "Upside Down" (1974)


Il Rovescio Della Medaglia - Io Come Io (1972)

 


Toda banda tem o seu lado “dark side”, tem parte ou toda história relegada, esquecida pelo tempo, jogada ao mais puro e total ostracismo. Muitos podem ser os motivos, talvez não seja tão prudente elenca-los por aqui, mas o fato é que se o blog em que você, caro e estimado leitor, está lendo, enaltece o fracasso, as bandas e seus trabalhos vilipendiados.

E a banda que falaremos aqui tem a sua importância que não é, creio, devidamente creditada, dentro da cena har e prog da Itália com lançamentos verdadeiramente icônicos, podendo citar álbuns do naipe de “La Bibbia”, debut de 1971, e o terceiro trabalho de 1973, “Contaminazione”, que completou este ano de 2023, cinquenta anos de lançamento.

O primeiro é um avassalador hard rock com pitadas progressivas que figura, sem sombra de dúvidas, como um dos pioneiros do estilo na Itália e o segundo álbum mencionado é um excelente álbum de progressivo sinfônico que está nos anais da vertente no “País da Bota”.

A banda é o IL ROVESCIO DELLA MEDAGLIA. Tenho um especial carinho por esta banda, algo emocional mesmo, pois quando me apresentaram o “La Bibbia”, cuja resenha pode ser lida aqui, fui envolto por uma catarse inexplicável e foi graças a ele que a cena rock italiana descortinou-se diante de minhas retinas.

Il Rovescio della Medaglia

E a partir daí passei, de forma compulsiva, a buscar, ler, escrever e ouvir tudo do velho Il Rovescio della Medaglia e a cada nova audição era um estupendo momento de êxtase. Sou fã? Sim! Talvez tudo que eu vir a escrever sobre a banda neste humilde blog, soe como algo questionador, pelo fato de ser um apreciador da banda, mas que nada! A banda definitivamente é fantástica.

E, seguindo nessa discussão, eu vou falar de um álbum que não é tão comentado e que é, por muitos apreciadores do estilo, completamente dispensável e quiçá pelos próprios músicos que foram parte da concepção deste trabalho. Falo do segundo álbum da banda, o “Io Come Io”, de 1972, lançado pelo selo RCA.

Para muitos é um “álbum menor”, que para muitos poderia ser excluído do catálogo da banda, da sua discografia, mas quando o ouvi, pela primeira vez, seguindo aquelas audições quando conheci o RDM, me desafiou, me instigou a entende-lo, a vê-lo de outras formas, que não as convencionais no que tange as percepções da qualidade sonora dos álbuns.

Mas ele é marcante sem sua forma desafiadoramente, digamos, “sem importância”. “Io Come Io” tem trinta minutos apenas de um complexo “garage-prog” extremamente envolvente. Não sei se criaram esse termo “garage-prog”, mas foi o que encontrei para definir, inicialmente, o segundo trabalho do Il Rovescio della Medaglia.

Estamos tão acostumados com o progressivo associado à sofisticação, a músicas complexas, com melodias intricadas, que quando se ouve a produção insipiente de “Io Come Io”, gera a famosa rejeição de imediato.

Não se engane, caro leitor, “Io Come Io” tem, a meu ver, todos os elementos que edificam o prog rock, mas é sujo, é denso, intenso, pesado, beirando, em alguns momentos, algo despretensioso, por isso o percebo como “garage rock”.

Há algo irônico e desapegado neste trabalho do Rovescio. Embora seja modesto, sob o aspecto da produção e tudo o mais, ele se mostrou, a meu ver, inteiramente vanguardista trazendo um viés novo, naquela época, do progressivo, servindo, ouso dizer, como referência para o hard prog e até mesmo o metal progressivo, dado a aspereza e peso de seu som.

“Io Come Io” é um álbum repleto de energia e, por mais que seja sombrio, é solar por esse fator, por ser um trabalho frenético, apesar de apresentar gravações apressadas, o que impactou na produção, mas os músicos são tão grandiosos que, o que se percebe é a destreza dos seus instrumentos.

E falando em músicos a formação do Il Rovescio della Medaglia em “Io Come Io”, foi a mesma que gravou seu antecessor, “La Bibbia” e que permaneceria até o ano de 1973 e que gravaria seu álbum mais conhecido, “Contaminazione”. São eles: Pino Ballarini vocais e flauta, Enzo Vita na guitarra, Stefano Urso no baixo e Gino Campoli na bateria.

Não se sabe ao certo, mas “Io Come Io” é um álbum conceitual e no encarte do LP original são citados alguns versos do filósofo alemão Hegel, que diz:

“Na filosofia, as determinações do conhecimento são consideradas não unilateralmente, apenas como determinações das coisas, mas juntamente com o conhecimento a que se referem...”

Ou seja, a “busca de si mesmo em um mundo cheio de contradições”. “Io Come Io” é composta por quatro partes principais, das quais as partes são divididas em movimentos. É claramente estruturado com sua própria lógica lírica e instrumental, com as partes mais dinâmicas colocadas no início e no final, e as mais “técnicas” concentradas nos grooves. É um som áspero, cinzelado, mas que realça a dinâmica de cada instrumento.

 Antes de dissecar o álbum com as suas músicas, acho extremamente conveniente expor um pouco da história, dos primórdios do Il Rovescio della Medaglia, mesmo que brevemente.

A banda foi formada em Roma no final de 1970 e se chamava “Il Lombrichi”, mudando o nome para “Rovescio Della Medaglia” com a entrada do vocalista Pino Ballarini, o terceiro, na sucessão. A banda foi formada por Enzo Vita, guitarrista, pelo baixista Stefano Urso e pelo baterista Gino Campoli.

O primeiro vocalista foi Gianni Mereu, depois assumiu Sandro Falbo, da banda “Le Rivelazioni e logo depois Pino Ballarini, que se mudou para Roma, vindo da região de Pescara, onde tocou em bandas como “Nassa” e “Poema”. E a chegada de Ballarini trouxe também a sorte, pois imediatamente a banda assinaria contrato com o selo RCA, isso em 1970, para gravar um novo álbum, que viria a ser o grande “La Bibbia”, um ano depois, em 1971.

A faixa de abertura é “Io” começa com um som de gongo, anunciando a bateria e guitarra que criam uma atmosfera densa, soturna e perigosa. A música e a letra evocam visões estranhas, deliciosamente estranhas. Coisas e pessoas, lugares e sentimentos parecem atravessar a névoa do tempo, algumas memórias de experiências passadas, sombras, segredos da vida, o conceito entre velho e novo. O protagonista se vê desafiado pela vida e morte. E a música parece imprimir esse conceito, pois traz peso, complexidade, vivacidade, mas envolto em sombras.

"Você diz que tudo que eu que te disse é verdade / Mas tenho medo quando você diz que não sabe como é bom morrer!"...

"Io"

“Fenomeno é uma longa faixa dividida em duas partes, “Proiezione” e “Rappresentazione”. Começa um padrão dedilhado de violão que são quebrados por riffs pesados e poderosos de guitarra. A música e letra evocam a imagem do protagonista perdido em uma estrada misteriosa, vagando sem a menor ideia tentando, de forma desespera, entender o que é falso e verdadeiro. 

"O mundo em sua volta é vazio, sem vida, de manhã não há sol, a noite não há lua. O protagonista pode ver uma luz e alguém o chama, uma porta se abre para ele." 

E com isso a música acalma, mas de repente o ritmo intensifica, aumenta, vai ficando mais frenético. 

"Fenomeno"

A excelente e catártica “Non Io” começa com um delicado arpejo de violão e notas crescentes de flauta. A atmosfera é pacífica, viajante, contemplativa. A música e a letra retratam a nova consciência do protagonista, que pode ver seus últimos dias se desenrolando atrás dele. Ele passa a odiar as coisas materiais e reflete os verdadeiros da vida. Nus, descalços, os protagonistas querem ir onde o céu termina e o mar começa em busca de ideais que não podem desaparecer com o tempo como a beleza ou a riqueza.

"Ainda quero seguir o meu caminho, onde o céu se junta o mar / Deixando sozinho atrás de mim aquele homem que não tem verdade...".

"Non Io"

A última e derradeira faixa é “Io Come Io” e é dividida em duas partes intituladas “Divenire” e “Logica” e marca a conquista da jornada interior do protagonista, encontrando finalmente a luz, que arde nele como um sol que nunca morrerá. É uma faixa enérgica, solar, que personifica o momento do personagem. Hammond, riffs de guitarra, seção rítmica poderosa, faz dessa faixa algo intenso, sob o aspecto instrumental.

"Io Come Io"

“Io Come Io” teve vários relançamentos, onde a primeira foi em 1994 com 2.000 cópias, outra em 1999, também pela RCA com apenas 500 cópias. Em 2004 foi a vez da BMG, em 2008 pela Sony/BMG e mais tarde, em 2019, pelo selo RCA/Mondadori.

“Io Come Io” definitivamente vem do mesmo galho que “La Bibbia”, porém aumenta o quociente progressivo, mas com uma roupagem um tanto quanto “garage”, algo alternativo, underground, completamente em uma aversão ao mainstream progressivo, se é que é possível dizer isso. Um hard rock psicodélico com aquele drama típico do rock progressivo italiano!


A banda:

Pino Ballarini na voz, flauta

Enzo Vita na guitarra

Stefano Urso nobaixo

Gino Campoli na bateria

 

Faixas

1 - Io

2 - Fenomeno

a) Proiezione

b) Rappresentazione

3 - Non Io

4 - Io come Io

a) Divenire

b) Logica


Il Rovescio della Medaglia - "Io Come Io" (1972)


ROCK ART


 

MARA PEDRO

 


Mara Pedro é a voz suave e inconfundivel no Fado. Com apenas 20 anos, a fadista conta com três álbuns editados, o primeiro com apenas 11 anos. Em Fevereiro 2019 apresenta o seu quarto álbum, demarcando o seu estilo, compondo e escrevendo a maioria dos temas. A sua voz doce, estranhamente madura desde muito cedo, irradia o misticismo de começar a cantar fado com apenas 4 anos de idade. Entre as inúmeras distinções que foi conquistando, destacamos as mais recentes: Prêmio Internacional da Música Portuguesa nos EUA;
Fado Sorrriso conquista o selo Portugal Sou Eu, atribuído pelo Ministério da Economia, sendo reconhecido como produto de grande qualidade vocal e instrumental; Medalha de Mérito Cultural atribuída pela Academia de Artes e Letras de Paranapuan, no Brasil; Grau de honra de Comendadora, atribuído pela Confraria da Cultura Portuguesa; Comenda honorífica, pela prestação de serviços à cultura e à sociedade de língua portuguesa, atribuída pelo Barão de Ayuruca. O seu percurso como fadista conta com ínúmeros espetáculos por vários países: França, Suíça, Espanha, Lituânia, Brasil, Canadá, EUA. Ouvir cantar Mara Pedro é deixar-se embalar pela doçura da sua voz. A menina de Viseu, longe do meio do fado, tem na voz um destino que marca a sua época.

Mr. Toad "Trench Art" (2003)

 

Acontece que uma estrela desconhecida aparece no horizonte, brilha intensamente, perturba a alma e depois desaparece no ar. O trio israelense Sr. pertence a esses objetos misteriosos.  Sapo .
Na verdade, o time era originalmente chamado de Katross . Foi formada em 1998 pelos estudantes de música clássica Maor Arbitman (guitarras, bandolim, baixo, glockenspiel, bateria) e Shimri Mesitsa (piano, vocais). Mais tarde, a flautista Dana Eisen (hoje integrante da banda de etno-rock Darbejin ) juntou-se aos amigos e, aos poucos, o repertório musical do projeto começou a tomar forma. É preciso dizer que os gostos dos presentes eram extremamente distintos. Daí a síntese original entre estilos que o Sr. Toad  conseguiu cativar o público. O único álbum da banda, "Trench Art", é um impressionante entrelaçamento de ideias geradas por pensadores pouco ortodoxos. Contudo, a sua implementação adequada exigiu a intervenção de forças adicionais (nove acompanhantes convidados, na sua maioria “académicos”). O resultado foi extremamente agradável. Vamos tentar esclarecer o conteúdo em detalhes.
A faixa de abertura de 11 minutos "Queen of Hearts" é a mais longa das 8 faixas anunciadas. O prólogo apresenta a técnica banal de afinar uma orquestra de câmara antes de um programa importante. Parece que não há motivo para surpresa. Mas, meus amigos, ainda é o Sr. Sapo . E agora, como se pelo aceno da mão graciosa de um mágico, passagens melancólicas de violoncelo, linhas delicadas de violino, uma guitarra elétrica acompanhada por uma seção rítmica estrondosa, um piano separado e chamadas animadas de trompete são extraídas do cilindro mágico. Tristes floydismos do rock interagem milagrosamente com esboços de câmara salpicados com leves migalhas de vanguarda, o sinfonismo lírico no espírito dos New Trolls é cruzado com folk acústico sincero do estilo da língua inglesa, e um fragmento do popular "Minueto" de Luigi Boccherini (1743-1805) é usado como coda  . Mais por vir. A figura de guitarra neobarroca "Morning Tea" é uma opção ideal para tocar alaúde. A elegia "Love Tale" iguala os direitos da estética de câmara filarmônica com a arte do sonho jazzístico, onde a delicada declamação melódica do vocalista desempenha um papel importante. A fantasia pseudo-renascentista "Four O'Clock Tea" passaria por um autêntico floreio medieval, não fosse a presença de harmônicos de fusão de metais no harmonioso coro de cordas. A aconchegante excursão de jazz e blues "So Much for Secrets", de Shlomo Idov, não sai de forma alguma da paleta orientada ao folclore . No entanto, a verdadeira beleza do Sr. Sapo se revela em obras antigas, rendadas e romantizadas. Desta categoria gostaria de mencionar especialmente a peça "O Gato de Bach". Apesar do título, ele mostra a influência (até mesmo nas microcitações) da obra medieval canônica "Greensleeves". E em termos de atmosfera, a composição como um todo está mais próxima dos experimentos do Gryphon britânico do que das posições do tipo bachiano. A melodia de encerramento "D" é um truque animado com a flauta principal; uma espécie de dança hipotética para frequentadores de tavernas espalhadas pelas extensões da Terra-média.
Resumindo: um ótimo lançamento, altamente recomendado aos fãs de folk barroco progressivo de proporções pan-europeias.   




Sandro Brugnolini "Overground" (1970)

 

Alessandro Brugnolini  (n. 1931) é uma figura icônica da cultura italiana . Clarinetista, saxofonista, compositor, escritor, publicitário, criador de mais de três mil obras em diversas categorias... Em 1954, o jovem e talentoso Sandro tornou-se membro da SIAE (Associação Italiana de Autores e Editores). Naquela época, sua energia irreprimível era suficiente para literalmente tudo: Brugnolini se formou em direito, escreveu música, escreveu ficção, trabalhou como jornalista e crítico e se tornou parte do grupo de representantes da imprensa parlamentar local. Por muito tempo (de 1953 até a década de 1970), Alessandro desfrutou da autoridade de um dos melhores músicos de jazz e recebeu um artigo separado na Enciclopédia Internacional de Jazz. O Junior Dixieland Gang e o Modern Jazz Gang, liderados por ele , são vencedores de vários festivais internacionais especializados. Cinema e televisão também não são esquecidos pelo maestro: Brugnolini tem em seu currículo muitas trilhas sonoras e introduções para telejornais e programas temáticos. Em 1992, ele tentou compor um balé pela primeira vez, e logo a música de Alessandro conquistou teatros e casas de ópera por todo o país... 
E se as camadas acima mencionadas da atividade do Signor Brugnolini foram estudadas na medida adequada, então os experimentos do luminar dos Apeninos no campo do rock progressivo permanecem um "ponto em branco" para a maioria. No entanto, seria errado excluir esse fato da biografia do compositor multitarefa. Alessandro ficou fascinado pelas possibilidades do novo gênero no final dos anos sessenta. E embora seus interesses tenham migrado rapidamente para a vanguarda, nosso herói ainda conseguiu criar algo interessante para a crescente protoarte. Estamos falando do álbum instrumental "Overground". A gravação do álbum levou apenas dois dias. Nos dias 12 e 13 de março de 1970, um quinteto de intérpretes, previamente selecionados pelo próprio autor, reuniu-se nos estúdios Dirmaphon, em Roma. Anunciemos a formação por nome: Giorgio Carnini (órgão, piano), Giovanni Tommaso (baixo, efeitos sonoros), Silvano Chimenti e Angelo Baroncini (guitarras), Enzo Restuzza (bateria). As oito faixas principais (mais dois bônus) incorporadas pelo conjunto são uma ilustração vívida da conversa sobre a penetração de um jazzista ortodoxo em territórios até então desconhecidos. A gama de números apresentados varia de esquetes psicodélicos com predominância de técnicas de rhythm and blues ("Celluin", "Amofen", "Alipid") a excursões líricas melódicas ("Adrie's Dream", "Roxy") e vinhetas de fusão magistrais, temperadas com "cosmismos" ("Cirotil"). Há também o panorama de jogo puramente dos anos 60 "Simanite", com um "Hammond" trêmulo suprimido por tons de guitarra agudos e ofegantes, e até mesmo a fantasia de vanguarda "Brain" - uma espécie de navegação astral voltada para o futuro. As peças adicionais do mestre também são marcadas por um sabor especial: assim, a pequena peça "Cromaton" é um exemplo de jazz espacial comedido e deliciosamente apresentado, enquanto "Cortex" pode ser chamado de "psycho-swing" de um tipo cinematográfico.
Resumindo: um disco sólido, arcaicamente conservador, mas ao mesmo tempo muito vivo e agradável, que recomendo a todos os amantes do proto-progressivo.  




Ballroomquartet "Ballroomquartet" (2009)

 


Depois de empolgar o público com o álbum "Soundmanifest", o quarteto belga saboreou os frutos do sucesso. As críticas elogiosas na imprensa automaticamente aumentaram as apostas para o Ballroomquartet . Os músicos se tornaram convidados bem-vindos na televisão, e documentaristas locais começaram a usá-los como compositores/intérpretes para seus "projetos". As atividades de concertos do grupo também não passaram despercebidas. Turnês pela Holanda e Alemanha alimentaram o interesse de novos públicos. Um dos fãs do quarteto era o cantor, poeta e ator alemão Blixa Bargeld ( Einstürzende Neubauten , Nick Cave & The Bad Seeds ). Este encontro significativo se transformou em uma experiência de colaboração completa para o Ballroomquartet : o visionário Teuton concordou em produzir o terceiro álbum dos belgas. Mas com uma condição: os processos de gravação e mixagem serão realizados em território alemão. Os meninos não se opuseram. Em setembro de 2009, a banda, tendo trocado seu baixista, foi para Berlim, onde nas condições confortáveis ​​do Baustelle Tonstudio começaram a implementar seu próximo programa... 
Desta vez, os cavalheiros artistas não se desviaram da fórmula usual de “instrumentação folk de câmara + efeitos eletrônicos e dispositivo analógico”. Os desenvolvimentos estruturais adquiriram uma harmonia melódica ainda maior. E a intuição criativa do amigo de Bargeld definitivamente beneficiou a equipe. O tom do disco é definido pela introdução reflexiva "Guided by the Stars I". Uma tristeza profunda emana da conversa tranquila entre o piano de David Vertojon , o bandolim de Andry Boon e o acordeão de Rony Depren , continuada pela excursão pianística meditativa "The Journey". O número rítmico "Farewell" muda a ênfase para o som "tradicional". Com um ritmo de dança geral, o motivo central apela a uma tonalidade menor espaçosa (o Maestro Boon usa o violino, sombreado pelas passagens de acordeão de Roni). A assinatura oculta de tristeza também aparece no segmento suculento, ao estilo flamengo, chamado "Fireflies" (aliás, um sucesso reconhecido na coleção musical do Ballroomquartet ). O estudo de câmara "Golfinhos zombadores" é dividido entre a militância de uma marcha e a paixão de um tango; e embora haja algo de Flairck nele , comparações diretas não devem ser feitas: os caminhos estilísticos de ambas as bandas são muito diferentes. O leitmotiv do afresco transpsicodélico "A Tempestade" é o tema "Castelo Velho" de "Quadros de uma Exposição" de Modest Petrovich Mussorgsky , transformado além do reconhecimento . Este é um verdadeiro paraíso para paisagens sintéticas, temperado com autoharpa, theremin e grooves de Hammond. O layout subsequente se parece com isso: "Single Malt Waltz" - um típico esquete rural, imerso em uma solução especulativa de dream-hop transcendental; o comovente "Homesick" é um quadro pastoral no estilo do norueguês  Streif ; "Dream Eating Island" - pós-minimalismo com um final pop-eletrônico; "Destiny" tem uma atmosfera rural revigorante e realista, repleta de visões líricas e românticas; "Cosmic Ballet" - folk hippie intergaláctico de qualidade única; A sequência termina com "Guided by the Stars II" - uma viagem um pouco problemática, mas muito saborosa!
Resumindo: um ato artístico brilhante, caracterizado por uma imaginação invejável, que recomendo sinceramente a um amplo círculo de amantes da música.  




Café Jacques "Round the Back" (1977)

 

No mapa musical retrô do Reino Unido, a Escócia tem uma posição especial. Os nativos desta região são famosos há muito tempo por seu grande interesse pela melodia. De cabeça, consigo pensar em Al Stewart , Beggars Opera , Pilot , String Driven Thing e outros grandes artistas. 1977 adicionou outro nome a esta coorte - Café Jacques . Naquela época, seu álbum "Round the Back" foi reconhecido pela crítica como o melhor álbum de estreia britânico. 
Tudo começou quatro anos antes. Em uma noite de dezembro em Edimburgo, os caminhos de Chris Thompson (guitarra, vocal) e Pete Veatch (teclado, violino) se cruzaram. Durante algum tempo, os rapazes brincaram com música folclórica e participaram de várias convenções de mestres de arte popular. E em 1975, foi tomada a decisão de migrar para uma base profissional. Tendo recrutado o baterista Michael Ogletree e o baixista Gordon Hastie , o Café Jacques começou a ensaiar intensamente. Logo o baixista se separou da banda, mas essa circunstância não afetou o clima geral. Em abril de 1976, os recém-chegados se tornaram clientes da gravadora CBS. E no verão seguinte, o trabalho começou no Trident Studios, em Londres, para criar o primeiro longa-metragem do conjunto.
O disco foi produzido pelo renomado músico Rupert Hine . Por sugestão dele, veneráveis ​​amigos e colegas se juntaram ativamente ao processo: John G. Perry (baixo), Phil Collins  (percussão), Jeff Richardson (alto, flauta). Todos os participantes do evento ficaram satisfeitos com o resultado. O que não é surpreendente, porque para aqueles anos o lançamento parecia realmente relevante. Tendo conseguido se abstrair de seus trabalhos folk anteriores, Thompson and Co. seguiu o caminho da síntese de arte leve e jazz rock com uma comitiva pop neo-romântica. E graças ao talento de arranjo de Hine, o conteúdo ideológico de "Round the Back" brilhou com novas facetas. É claro que é difícil classificar esta criação do Café Jacques como progressiva . No entanto, há aqui um certo "entusiasmo" estético capaz de atrair a atenção de um ouvinte intelectual. Não farei uma análise contextual detalhada do programa, mas simplesmente destacarei os números mais interessantes, do meu ponto de vista. 
1) O single "Meaningless" é produto de uma inteligente aproximação entre pop proto-disco, técnicas de fusão, dramaturgia pop-art e passagens episódicas da categoria de reggae "branco". 2) O complexo panorama "Areias de Cingapura" com sua bizarra refração do tema central do teclado. 3) Soul de fantasia leve e sonhadora "Eberehtel", cintilando com tons quentes de sintetizador. 4) O padrão rítmico do jazz "None of Your Business", efetivamente complementado pela parte de cordas de Richardson. 5) O monólogo elegíaco "Crime Passionelle", cativante pela naturalidade da entonação do vocalista. 6) O afresco do jogo "Lifeline", estruturalmente reminiscente de obras individuais da coleção Dutch Kayak . Contudo, as outras peças também carregam a originalidade do pensamento autoral dos integrantes do Café Jacques .
Resumindo: uma fusão pop agradável e despretensiosa com um toque artístico. Uma boa opção para quem quer relaxar um pouco depois da correria do dia a dia.




Bootcut "De Fluff" (2006)

 

Primeiro, eles mediram a força de resistência do órgão e dos instrumentos de percussão. Sem muita esperança de sucesso; mas o experimento foi bem-sucedido. Alguns anos depois, Rikard Sjöblum e Petter Diamant  iniciaram uma nova onda de experimentação sob o nome Bootcut . O idealizador do evento adicionou um Clavia Nord Electro 2 (um emulador digital de instrumentos eletromecânicos de teclado "vintage") ao Hammond que seus pais lhe deram de presente, assim como o cultuado sintetizador monofônico ARP Pro-Soloist. Petter, ao contrário do amigo, não tentou ser inteligente. Bateria, percussão + apito "artístico" - esse é todo o seu arsenal. Quanto à fórmula do jogo, a dupla inicialmente planejou seguir um caminho um pouco diferente. Apresentações regulares no palco do clube de jazz em sua cidade natal, Govle, na companhia de outros músicos, bem como as ambições crescentes do líder, que simultaneamente girava o volante do projeto Beardfish , também tiveram efeito . Resumindo, eu queria fazer tudo de uma maneira "adulta". Com gaitas de fole, violão e outros "aparelhos de cavalheiros". A ideia foi aprovada pelo produtor William Blackmon . E em maio de 2004, as portas do Overlook Studio local deixaram entrar o experiente folião Bootcut ...
Das doze faixas, sete são lançadas em formato tandem. Os demais são decorados com a presença dos convidados. Na peça de abertura, "Fresh Free Fruit", há dois deles: o trombonista Peter Fredriksson e o saxofonista Kristoffer Liljedahl . O início é baseado em uma técnica testada e comprovada: uma poderosa mistura de órgão elétrico e bateria. Talvez apenas com as passagens "nasais" dos tocadores de metais. "Funck the Living Dead" faz jus ao título propositalmente escrito incorretamente. É funk mesmo, mas é notavelmente zombeteiro, cheio de síncopes e compassos estranhos. O esboço retrô "Quintus Quest" mistura em partes iguais o tema testado e comprovado de "lounge de coquetéis" com entonações de desenho animado e aventureiro. Os principais fios condutores da composição aqui levam a Sjöblum, enquanto Diamant é obrigado a fazer apenas uma coisa: manter um ritmo estável, e Petter lida com a tarefa da maneira mais adequada possível. A estrutura frívola de "Aerobreaking" está seguramente escondida sob uma camada de dourado nostálgico. Em essência, é uma repetição de algo que já foi feito, mas, ainda assim, soa charmoso, imprudente, extremamente “saboroso”, com um toque verbal hooligan no final. Para o disco-funk "Soul PD", Rickard convidou o guitarrista Per Nilsson,  da banda de death metal Scar Symmetry , para o estúdio . Ele foi acompanhado pelo vocalista Christer Jöderlund , cujos recitativos vocálicos e lamentações apaixonadas se estendiam habilmente sobre o panorama envolvente. Igualmente boa é a tradicional valsa jazz escandinava com um toque folk ("Istället för att Jag kom Until Skogen kom Skogen Until Mig"), após a qual os camaradas se lançam numa dança louca de adrenalina ("Hang em' High"). "Hot Chocolate", com a parte de flauta de Rasmus Diamant, parece um aquecimento para as futuras conquistas de Beardfish , mas o esquete picante "Mystic Dildo", servido como sobremesa, literalmente transborda néctar humorístico não verbal. A balada de jazz "Immortal Session" (no contrabaixo - Rasmus, irmão de Petter) serve como um momento de relaxamento, após o qual Bootcut faz uma pequena peculiaridade na forma da "esquizofrenia de Hammond" "Crazy Cookie". "De Fluff" termina com as batalhas virtuais de "karatê" da obra "MUTTA" com a participação do DJ D-Cuts e do monstro da guitarra Fredrik Andersson da Hybrid Freak Division .
Para resumir: um ótimo disco. Embora não seja tão completo quanto o primogênito, ainda é digno de um B+. Prazer em conhecê-los, senhores amantes da música.    




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