segunda-feira, 31 de março de 2025

Tonic - This way 1980 (Germany, Symphonic Prog)

 



TONIC é uma dessas bandas com nenhuma ou pelo menos pouca informação sobre a era das trevas (início dos anos 80), na verdade descobrimos a banda por sugestão de uma das poucas pessoas que ainda tem seu único lançamento chamado "This Way" (1980).

Impressionado com seu som sinfônico imaculado e toques de jazz rock, comecei a procurar em todas as páginas em alemão e consegui o álbum, que não fornecia muitas informações, exceto sobre sua formação:

- Michael Draskowitsch (saxofones, clarinete)
- Michael Hocker (bateria)
- Uwe Murschel (teclados, trompete, vocais)
- Andreas Taßlack (vocais, baixo, metalofone, guitarra)
- Roland Schmid (guitarra, baixo)
- Andreas Stelzer (teclados, vocais)
- Johannes Wenzerrit (guitarra, baixo)

E o fato de que seu único álbum foi lançado em 1980,

- Michael Draskowitsch / Saxofones, clarinete
- Michael Hocker / Bateria
- Uwe Murschel / Teclados, trompete, vocais
- Andreas Taßlack / Vocais, baixo, metalofone, guitarra
- Roland Schmid / Guitarra, baixo
- Andreas Stelzer / Teclados, vocais
- Johannes Wenzerrit / Guitarra, baixo
Convidado:
Manfred Rösch / Flauta em "Sometimes"

1. Once I Had A Dream (8:22)
2. Ask Me No More (13:28)
3. Black Boy (5:45)....1:35
4. Sometimes (4:14)
5. This Way (4:19)
6. Against The Fear Of Death (5:52)








Review: Hagbard - Rise of the Sea King (2013) e Vortex to an Iron Age (2016)

 



Ninguém conhece tudo, não é mesmo? Eu, por exemplo, nunca tinha escutado o Hagbard, apesar de já ter ouvido muito gente falar bem da banda. Até que recebi do selo Heavy Metal Rock os dois discos do grupo. Vamos a eles então.

O Hagbard foi formado em Juiz de Fora em 2010 e faz um folk/viking metal. Após duas demos, lançou em 2013 o seu primeiro disco - Rise of the Sea King -, enquanto que o segundo e mais recente trabalho, Vortex to an Iron Age, saiu no segundo semestre de 2016.

A banda é formada por Igor Rhein (vocal), Gabriel Soares (teclado, flauta e vocal), Danilo “Marreta" Souza (guitarra), Rômulo “Sancho" Piovezana (baixo) e Everton Moreira (bateria). Musicalmente, o quinteto apresenta influência de nomes como Blind Guardian, Turisas, Amon Amarth e segue a sonoridade habitual do estilo, intercalando riffs pesados, melodia onipresente e a inserção de instrumentos atípicos ao heavy metal, como flauta, violino e outros. O predomínio do vocal gutural contrasta de maneira agradável com o instrumental que traz elementos de power metal, montando um quebra-cabeça interessante.



Pessoalmente, achei o disco de 2013 muito mais consistente do que o segundo álbum do grupo. Em Rise of the Sea King há uma agressividade e uma violência inerentes, fazendo com que a pegada do Hagbard aproxime-se das áreas mais extremas da música pesada, o que soa como uma espécie de yin-yang constante. Já no segundo disco há uma suavizada geral nesse aspecto, com o lado agressivo ficando em segundo plano enquanto temos a acentuação de uma sonoridade que tenta ser mais elaborada e intrincada, mas que, infelizmente, acaba não encontrando um equilíbrio e perde a personalidade que havia mostrado na estreia. Isso não quer dizer que Vortex to an Iron Age seja um disco ruim, longe disso, mas ao ouvir os dois CDs em sequência sem nunca ter escutado a banda, fiquei esperando um trabalho muito mas forte depois da ótima impressão causada por Rise of the Sea King.

Inegavelmente, o Hagbard possui talento e capacidade para crescer e se tornar uma referência não apenas no Brasil, mas é preciso definir melhor o caminho que a banda pretende seguir em seus próximos passos. Se eu puder dar uma dica, aí vai ela: retomem a agressividade e a violência sonora da estreia, inserindo melodias e aspectos folclóricos a partir dela, nunca deixando de lado isso. Acredito que é por aí que o grupo pode crescer e se desenvolver cada vez mais.






Review: Yannick - Também Conhecido Como Afro Samurai (2016)

 




De cara, o que chama a atenção neste EP de estreia do rapper Yannick Hara é a temática das letras. Elas são inspiradas no mangá Afro Samurai, de Takashi Okazaki, publicado entre setembro de 1999 e maio de 2000. No Japão a história saiu em um único volume, enquanto no restante do mundo foi dividido em dois. O enredo conta a história de um samurai negro e é fortemente influenciado pela blaxploitation, movimento do cinema norte-americano do início da década de 1970 focado na valorização da cultura negra. O mangá foi adaptado para o anime, que estreou em janeiro de 2007 e teve cinco episódios. No Brasil, o título foi publicado no final de 2009 pela Panini Mangás, enquanto o anime passou na MTV.

Desde o início, a obra de Okasaki teve forte ligação com a música, com a trilha-sonora do anime sendo composta por RZA, integrante do combo Wu-Tang Clan. Essa associação segue com o trabalho de Yannick.


São apenas oito faixas em 28 minutos, que traduzem a trama para as canções de Yannick. Musicalmente, temos um hip-hop com batidas fortes e melodias que remetem à cultura japonesa, tudo feito de maneira orgânica e pulsante e com direito a participações de nomes com associação direta com o rock como Dieguito Reis do Vivendo do Ócio, Paula Malvar do Vó Tereza e do rap como Pedro Camargo da Ol Darth Bastard. 

O timbre de voz de Yannick lembra, ainda que sutilmente, a de Thayde, o que traz boas recordações que ficam ainda mais acentuadas pelo sotaque paulista. Mas, como já dito, Yannick ganha atenção pela originalidade de sua abordagem, trilhando pelo caminho do mangá-rap com autoridade e firmeza.

Entre as faixas, destaque para “Jinno" e a ótima música que dá nome ao EP, que vem em duas versões, incluindo um delicioso remix.

Também Conhecido Como Afro Samurai é uma bela estreia de um cara que chega atraindo a atenção, com um trabalho bem feito e que tem tudo para render belos frutos nos próximos anos. Ouça!






Review: Trem Fantasma - Lapso (2016)

 




Por vários momentos, o rock mundial alcançou status de arte. Daria pra citar dezenas de bons exemplos, mas esse não é o caso. Não que a estreia fonográfica do grupo em questão esteja isenta de caráter artístico, pelo contrário. O mote apenas é reavivado para ilustrar as linhas iniciais daquilo que percebo do CD de estreia da banda paranaense Trem Fantasma. 

Pra início de conversa, uma boa arte de um álbum sempre faz a diferença, e Lapso, que foi lançado em 2016 (mas só conheço agora) tem a assinatura do artista Pietro Domiciano, com ilustrações interessantíssimas ao estilo do que o poeta francês Jean Cocteau se utilizou em Ópio, livro lançado aqui no país nos anos 1980 pela Brasiliense. O cuidado e a coerência estética das artes do CD já nos instigam a começar a audição com o encarte na mão, isso segundos depois de rasgar o celofane que envolve o produto. Foi  que fiz. 


E essa correlação com outros gêneros artísticos segue, já que em duas músicas o grupo pinça poemas do escritor curitibano Paulo Leminski para compor "O Silêncio e o Estrondo" e "Lua Alta". Num país onde letras de canções são tão maltratadas (falando principalmente daquilo que se ouve nas FMs pelo público médio), o sumo poético é também uma das virtudes do quarteto composto por Marcos Dank (guitarra, violão e voz), Leonardo Montenegro (violão, guitarra, piano, órgão, synth e vocais de apoio), Rayman Juk (baixo, piano, órgão, synth e voz) e Yuri Vasselai (bateria, percussão e voz). 


Lançado pelo Selo 180 Fonográfico, o disco é produzido a quatro mãos por Sanjai Cardoso e Beto Bruno (Cachorro Grande), com arremate final a cargo da masterização de Rob Grant, na Austrália, mesmo nome que já assinou álbuns de nomes importantes do rock atual como Tame Impala. 


Em pouco mais de 30 minutos, Lapso é um álbum que bate na pinha do ouvinte acostumado (e carente) por boas bandas/artistas ligados ao rock progressivo cantado em português. E a opção em tingir o vocal principal de um reverber onipresente, não apenas carimba o disco com ares saudosos dos anos 1970 como ainda nos conecta a diversas lembranças do gênero. Além das já citadas faixas rebuscadas com esboços poéticos de Paulo Leminski, ouça com atenção temas como "Tua Nuvem", "Sem Rumo", "Antimatéria" e  "Pesadelo", essa última composta em parceria com Pedro Pelotas (Cachorro Grande), que também toca piano na faixa.  


Ouça na íntegra.






Review: Lord Blasphemate - Lucifer Prometheus (2017)

 




Na estrada desde 1992, o Lord Blasphemate lançou em maio o seu quarto disco, Lucifer Prometheus. O trabalho saiu pelo selo Heavy Metal Rock e é o sucessor de The Sun That Never Dies … (1997), A Restless Shelter Under the Remote Star (2006), Ophisophia (2013) e do EP Opus Gnosticum Satannae (2014).

Um dos pontos principais do Lord Blasphemate é a temática lírica, que explora elementos de filosofia thelêmica e do luciferianismo. O Thelema, palavra grega que significa “verdade”, é uma filosofia religiosa desenvolvida no início do século XX pelo cultuado escritor e mago inglês Aleister Crowley e reconhecida como uma religião no Reino Unido em 2009. Um dos preceitos mais conhecidos é a Lei Thelêmica, popularizada no Brasil por Raul Seixas na canção “Sociedade Alternativa” ao cantar a plenos pulmões o ensinamento de Crowley: “faça o que tu queres pois é tudo da lei”. 

Já o luciferianismo é um conjunto de crenças centrado na figura de Lúcifer, o anjo caído. Suas origens estão nas práticas pagãs da Grécia antiga, que enxergam Lúcifer como o Portador da Luz e a personificação do esclarecimento. A principal filosofia do luciferianismo é a busca da divindade dentro de cada um de nós como elemento essencial para o caminho da verdade, encontrando assim a consciência, o conhecimento e o livre arbítrio.

Lucifer Prometheus traz oito faixas, sendo que duas ultrapassam os dez minutos de duração e uma supera os quinze. Musicalmente, temos um black metal voltada para a escola norueguesa do início dos anos 1990, construído pela tríade guitarra-baixo-bateria e sem a presença de teclados. Ou seja, e apenas para efeito de localização do leitor: soa muito mais como Mayhem e Burzum e não tem nada a ver com Dimmu Borgir e similares. Essa escolha, aliada à alternância de movimentos rítmicos, conduz o ouvinte por estados de consciência alternativos e sempre crescentes, como que retirando-o do seu cotidiano e inserindo-o, aos poucos, em um universo regido pela filosofia do grupo.

Muito mais do que apenas um disco, Lucifer Prometheus funciona como uma obra artística muito mais profunda, como ferramenta de expressão e propagação de um modo de vida. A busca pelo auto-conhecimento pregada tanto por Crowley quanto pelo luciferianismo é explorada de maneira criativa pelo grupo, e este aspecto é embalado em canções fortes, criativas e que mostram a capacidade da banda em conseguir traduzir para a linguagem musical aquilo em que acredita. A ótima produção só deixar a mensagem ainda mais forte.

No final, a experiência de ouvir Lucifer Prometheus se revela muito mais completa do que a de apenas escutar um disco. O que o trabalho proporciona é a quebra de paradigmas milenares de uma sociedade construída sobre uma estrututa religiosa responsável pela morte de milhões de pessoas (sim, estou falando do cristianismo) ao mesmo tempo em que apresenta uma visão alternativa aos dogmas espirituais tão necessários ao ser humano. Ou seja, tudo que um bom e competente disco de black metal deveria fazer.







Review: Vento Motivo - Sol Entre Nuvens (2016)

 




O Vento Motivo vem de São Paulo e está na estrada há mais de quinze anos. O trio é formado por Fernando Ceah (vocal e guitarra), Ivan Isoldi (baixo) e Binho (bateria) e lançou no final de 2016 o seu quinto disco, o EP Sol Entre Nuvens. São apenas cinco faixas, incluindo uma versão para "Um Dia, Um Adeus", de Guilherme Arantes.

Tudo soa bem encaixado no trabalho do Vento Motivo, com soluções bem resolvidas e arranjos simples, mas sempre eficientes. Musicalmente, o que temos é um pop rock competente e bastante maduro, e que traz bastante influência de Engenheiros do Hawaii. Isso se percebe tanto na parte musical quanto na maneira como as letras são construídas, com a presença pontual de frases de efeito e de duplo sentido, e culmina com a semelhança entre a voz de Fernando Ceah e Humberto Gessinger. 


Em relação ao cover de Guilherme Arantes, temos uma releitura consistente, que inicia como reggae e evoluiu para um gostoso pop rock que renova a criação do compositor carioca, um dos principais hitmakers do Brasil.

Ao final do EP, a sensação é de termos ouvido uma versão paulista do Engenheiros do Hawaii, que navega na mesma seara musical dos gaúchos mas possui outras referências líricas para contar suas histórias. O trabalho do Vento Motivo é inegavelmene bom e a similaridade com uma das bandas mais amadas nos quatro cantos do país pode abrir portas, porém um toque um pouquinho mais original faria bem ao trio.






Mary Butterworth - Same

 




Incrível que algumas dessas músicas tenham sido regravadas no filme "Lost iTranslation", pelo grupo Sausalito. Alguém fez sua pesquisa! 

Mary Butterworth: A banda que nasceu e morreu no culto

Há álbuns que nascem sob os holofotes e outros que parecem emergir dos cantos mais sombrios do tempo, envoltos em um halo de mistério e segredo. Mary Butterworth é um desses segredos bem guardados, um álbum que viu a luz do dia discretamente em 1969, mas que ao longo dos anos se tornou um tesouro cult entre os buscadores de raridades psicodélicas. Com sua fusão de acid rock, jazz e uma sensação de improvisação quase esotérica, essa banda californiana deixou apenas um rastro na história, mas seu único álbum é um portal para uma dimensão onde Hammonds uivam, guitarras flutuam e ritmos parecem guiar um ritual sonoro esquecido. Como essa joia ficou presa na sombra? Quem foram os arquitetos desse feitiço musical? BEM-VINDO a esta nova cápsula sonora.

Há álbuns que parecem esculpidos no mármore do tempo, clássicos imóveis, indiscutíveis, que sempre estiveram ali. E então há aqueles outros, os fantasmas, os sussurros nas sombras da coleção, as joias cult que apenas alguns sortudos tiveram o privilégio de possuir em sua forma original. Mary Butterworth , lançado em 1969, é um desses casos. Sua própria existência parece um mito. Dizem que apenas algumas cópias foram impressas, que nunca chegou às lojas e que foi pré-vendido para amigos e conhecidos da banda. Encontrar uma edição original hoje é como caçar um unicórnio no século XXI. Mas além da raridade do objeto físico, há a música. E é aqui que a verdadeira história começa:

Descobrir Mary Butterworth é como entrar em uma sala desconhecida e encontrar uma coleção de pinturas fascinantes em cada canto. O grupo, uma banda underground de meados dos anos 60, não alcançou a transcendência que sua qualidade merecia, mas deixou um trabalho que exala espontaneidade e performance marcante. Não é um álbum que explode em clímax estrondosos ou abraça a psicodelia mais extrema, mas parece um elo na evolução do som. Há jazz, há rock, há blues flutuando na mistura, com uma tendência progressiva marcante que antecipou o que viria nos anos seguintes. 

À medida que as músicas avançam, é possível perceber aquelas mudanças inesperadas de ritmo, aqueles toques lisérgicos que, embora fugazes, dão ao álbum um ar de experimentação controlada. Não é acid rock em sua forma mais pura, mas sim proto-progressivo com um toque de jazz. Às vezes, seu som evoca ecos de Spirit, After All ou Free, embora sem realmente se assemelhar a nenhuma dessas bandas. Em vez disso, eles compartilham um espírito exploratório comum, aquele desejo de quebrar estruturas sem cair no caos total. Ouvi-la hoje, com a distância do tempo e sabendo de tudo o que viria depois, é apreciar uma obra que tinha tudo para ser grande, mas que, por caprichos do destino, ficou presa em seu próprio limbo. Talvez seja essa a sua magia, a sua mística. Porque, embora Mary Butterworth não tenha alcançado o pedestal dos gigantes, sua única gravação continua brilhando como um diamante bruto na história oculta do rock. E se você é fã de jazz fusion em seus estágios iniciais, aqui está muito material estimulante para sua próxima sessão.

01. Phaze II
02. Optional Blues
03. It's a hard road
04. Make you want me
05. Feeling I get
06. Week in 8 day

CODIGO: V-22

MUSICA&SOM





Pete Brown & His Battered Ornaments - A Meal You Can Shake Hands With In The Dark

 




Este primeiro álbum deles é uma mistura verdadeiramente diversa de estilos diferentes, que vão da psicodelia ao rock experimental e do blues ao jazz. Você pode esperar que esse tipo de álbum seja uma totalidade inconsistente, mas não é o caso aqui. Essas oito faixas são todas mais ou menos ótimas. A Meal You Can Shake Hands With in the Dark é um álbum bem longo, mas não vai te entediar por causa da diversidade do material mencionada anteriormente. Posso recomendar este LP para qualquer pessoa interessada em rock underground do final dos anos 1960.

Álbum irritantemente inconsistente no qual Brown oscila entre a genialidade e a idiotice. Por um lado, você tem clássicos como "Station Song" e boa parte do lado B, mas, por outro, ele preenche mais de doze minutos com a às vezes inaudível "The Politician". No geral, há mais coisas para aproveitar do que para irritar, mas o nível que ele atinge significa que é frustrante que esses padrões caiam tão drasticamente de vez em quando. Suponho que Brown estava fazendo experiências e isso pode ser perdoado, mas isso poderia ter sido um clássico. Uma pena mesmo.

O Declínio Psicodélico e a Transição do Rock Britânico (1969)

O ano de 1969 marcou uma virada na música britânica. A explosão psicodélica que havia definido grande parte do som da segunda metade da década de 1960 estava começando a sofrer mutações, dando lugar a formas mais sofisticadas de experimentação sonora. O rock progressivo estava surgindo com força, o jazz-rock estava se expandindo como uma nova avenida de exploração, e figuras da contracultura de Londres estavam divididas entre a euforia criativa e o desencanto de uma utopia decadente.

Nesse panorama, Pete Brown era uma figura singular. Poeta, letrista e colaborador fundamental do Cream, Brown foi responsável por capturar a essência de hinos como Sunshine of Your Love e White Room. No entanto, depois que o Cream se separou em 1968, sua busca musical o levou a um território mais próprio: um híbrido de jazz, blues, poesia beat e uma excentricidade britânica difícil de classificar. Assim nasceu Pete Brown & His Battered Ornaments , uma banda com um som que desafiava rótulos, fundindo poesia falada com bases instrumentais complexas e uma atmosfera de boate de vanguarda. Mas o caminho não seria fácil: o próprio Brown seria expulso da banda pouco antes da estreia dos Rolling Stones no Hyde Park, episódio que selaria o destino do projeto. A Meal You Can Shake Hands With in the Dark é o único álbum que capturou a visão original de Brown como vocalista do Battered Ornaments . Uma obra que reflete tanto a transição do rock britânico quanto a natureza inclassificável de seu criador. Um álbum que desafia a lógica convencional, envolvendo o ouvinte em uma viagem surreal onde poesia e música são uma e a mesma coisa.

Banquete Lisérgico de Pete Brown: Um Banquete de Sons e Palavras

Londres, 1969 – Numa época em que a psicodelia estava no auge e a contracultura buscava novas formas de expressão, Pete Brown, o poeta e letrista por trás das palavras de Cream, decidiu entrar no mundo da música com um álbum que desafiava qualquer classificação tradicional. A Meal You Can Shake Hands With in the Dark não é um disco comum. É uma jornada, uma experiência, um grupo de sons onde jazz, blues e rock se abraçam em uma dança inebriante, enquanto a voz e a performance teatral de Brown elevam o todo a uma dimensão quase surreal. Desde os primeiros acordes, o álbum avisa que não será uma caminhada convencional. Em vez disso, é uma cerimônia delirante onde cada instrumento parece jogar seu próprio jogo, mas dentro de um caos perfeitamente calculado. Trombetas, saxofones e teclados se entrelaçam em um frenesi que, longe de ser aleatório, é imbuído de um senso de direção e energia que só poderia emergir da mente de alguém profundamente conectado à poesia e à improvisação. Brown não apenas canta: ele recita, atua, ri e brinca com as palavras como se estivesse diante de um público invisível que responde a cada piscadela sarcástica.

Neste banquete sonoro, as fusões são o prato principal. Jazz e blues servem de base, mas o que realmente define o álbum é sua capacidade de distorcer cada gênero em uma fusão extravagante e sem barreiras. Em algumas peças, a atmosfera evoca os bares enfumaçados onde os músicos se entregavam à catarse do free jazz; Em outros, o som desliza para um rock de metais inebriante e impetuoso, adornado com instrumentação que parece sair do controle a qualquer momento, mas sempre aterrissa elegantemente em seu próprio caos. O maior apelo de A Meal You Can Shake Hands With in the Dark é seu espírito libertino e sua absoluta ausência de pretensões comerciais. Pete Brown não busca agradar; busca experimentar, surpreender e, acima de tudo, mergulhar o ouvinte em um universo onde a música é ao mesmo tempo um veículo e um estado de espírito. É um álbum que deve ser saboreado com os sentidos aguçados, uma obra movida pela ironia, sátira e uma energia sem limites que encapsula perfeitamente o espírito do final dos anos 1960.

Não é um álbum fácil, nem pretende ser. É um malabarismo entre extravagância e genialidade, uma jornada psicodélica onde a única regra é se deixar levar. E nessa jornada, Pete Brown estende a mão para nos levar a um banquete musical onde a sanidade é opcional e a imaginação não tem limites. Até mais.


01. Dark Lady
02. The Old Man
03. Station Song
04. The Politican
05. Rainy Taxi Girl
06. Morning Call
07. Sandcastle
08. Travelling Blues or The New Used Jew's Dues Blues

CODIGO: I-11

MUSICA&SOM





Vivo, Crudo y Salvaje:Cosmic Travelers - Live! At The Spring Crater Celebration Diamond Head, Oahu, Hawaii

 




Ao vivo! No The Spring Crater Celebration em Diamond Head, Oahu, Havaí, acontece um fantástico festival de jam com guitarras wah/wah fuzz e acid rock da costa oeste, com Drake Levin. Os vocais são muito emocionantes e isso contribui para a vibração geral. Este é o único lançamento deste grupo (eu acho) e isso é uma pena. Aparentemente eles eram artistas de estúdio. Um extra de 0,5 por ser um disco "ao vivo". Que legal é isso? Mais um ótimo "feito uma vez e pronto" de muito tempo atrás.

Este é um álbum incrivelmente bom... gostaria que esses caras tivessem ficado por aqui por uma década e gravado mais algumas dessas músicas.

Sem roteiro, sem ensaio, sem misericórdia: Cosmic Travelers Live

No início da década de 1970, a cena do rock ao vivo estava a todo vapor. Concertos de massa, festivais ao ar livre e apresentações improvisadas eram a ordem do dia. Nessa atmosfera de selvageria e liberdade musical, nasceu uma das gravações ao vivo mais cruas e eletrizantes da época: Live! No The Spring Crater Celebration, o único registro de áudio de uma banda que mal existia, mas deixou uma marca indelével no culto do rock underground.

A história deste álbum remonta a 1º de abril de 1972, na ilha de Oahu, Havaí, durante o Spring Crater Celebration, um festival realizado na cratera do extinto vulcão Diamond Head. Este evento pouco documentado, mas lendário, reuniu uma multidão de espíritos livres, surfistas, hippies e fãs de música em busca de uma experiência mística sob o sol do Pacífico. Em meio a esse clima, um grupo de músicos de estúdio, até então desconhecidos e sem carreira conjunta, subiu ao palco sem ensaio prévio e desencadeou uma tempestade sonora.

Esses músicos formaram o que viria a ser conhecido como Cosmic Travelers , uma banda de curta duração composta por verdadeiros pesos pesados:

O que era para ser uma simples jam session se transformou em um set incendiário, onde a química entre os músicos se manifestou de forma quase telepática. A banda se movia com uma facilidade impressionante, criando passagens instrumentais que flutuavam entre o blues pesado, o funk elétrico e a energia do hard rock. A gravação do show foi feita sem truques de estúdio ou retoques de pós-produção, capturando a essência pura do momento: um som direto, abrasivo e intransigente. Com produção mínima, o álbum reflete a crueza da performance, onde cada batida de bateria e riff de guitarra parecem prestes a sair do controle, mas nunca perdem o fio da meada. O resultado foi um álbum ao vivo explosivo e vibrante, com uma sonoridade que lembra Grand Funk Railroad, Mountain e Sly & The Family Stone, mas com uma identidade única, fruto de total improvisação. A partir de hoje, ao vivo! At The Spring Crater Celebration continua sendo um álbum raro e pouco conhecido, mas para aqueles que o conheceram, ele representa um dos melhores exemplos da energia sem limites que uma banda sem outro plano além de seguir o fluxo do momento pode gerar.

Impressões Pessoais: O Ritual Único dos Viajantes Cósmicos

Depois de muito tempo, finalmente tive o luxo de retornar a um álbum que eu queria muito. Fazia tanto tempo que não ouvia essa música que, quando apertei o play, foi como encontrar um velho amigo que nunca perdeu a chama. E cara, ele ainda tem isso. Não me lembrava de quão dinâmica era essa gravação ou de quão altas eram as guitarras. A banda soa como uma explosão ao vivo, uma mistura incendiária de Grand Funk Railroad, Mountain e Sly & The Family Stone. Louco.

A energia que ele emite é eletricidade pura. Assim que as cordas são dedilhadas, você sente um choque, como se alguém o tivesse conectado diretamente a um amplificador no máximo. É um som cru e vibrante, daqueles que fazem você franzir a testa e concordar involuntariamente. Se eu tivesse que descrevê-lo em poucas palavras, diria que é um show ao vivo sangrento: um concerto onde a paixão transborda, onde os músicos dão tudo de si, e o que resta é pura magia. E o mais impressionante é que o Cosmic Travelers era uma banda "improvisada". Eles não tinham nenhuma história juntos, não houve ensaios anteriores, nada. Eles se juntaram da noite para o dia e gravaram este álbum sem nenhuma rede de segurança. E que maneira de fazer isso! Não há nenhum registro deles além deste álbum, o que o torna ainda mais especial, como um lampejo fugaz que foi capturado na história do rock.

Ouvir esse álbum é como entrar em uma vibração enorme. Você aperta "PLAY" e em segundos você é pego naquele turbilhão de sons. Os músicos são feras, cada um completamente dedicado, cada nota tocada com a intensidade de alguém que sabe que não há uma segunda chance. Músicas como "Look At You Look At Me" e "Soul" carregam aquela carga emocional e poder bruto que só podem emergir de uma gravação ao vivo, sem retoques, sem segundas tomadas. E um fato extra que completa a epopeia: o baterista, Dale Loyola, é peruano. Vou deixar isso aqui! Se este não é um álbum cult, então não sei o que é. Até mais.

01. Farther On Up The Road
02. Move Your Hands
03. Jungle Juice
04. Look At You Look At Me
05. Soul
06. Soul Reprise

CODIGO: A-23

MUSICA&SOM



The Web - Theraphosa Blondi

 



Zappa com o elemento lounge removido dos holofotes irônicos e autoconscientes e absorvido pela própria essência da música. O serviço de confirmação de que "Sunshine of Your Love" não se transforma em uma boa música quando você adiciona vibrações. Mas os primeiros dezessete segundos do álbum são realmente bons - poderiam ser a música tema de um desenho animado sobre uma tartaruga que, você sabe, faz coisas. Eu não sou um escritor de desenhos animados, talvez ela use um chapéu.

Um estilo prog/psych antigo muito bem tocado e arranjado, no que ficou conhecido como o estilo "UK brass-rock", semelhante a bandas como Air Force, de Ginger Baker. Tanto este álbum quanto o primeiro, "Fully Interlocking", são bem diferentes do terceiro álbum que os definiu, "I Spider". Esses álbuns não são tão sombrios e apresentam um cantor que canta com um tremelo extremo que o faz soar como um péssimo cantor de lounge, na minha humilde opinião. Ainda assim, se você curte brass-rock tradicional, vale a pena conferir esses álbuns (só não espere outro "I Spider" ou "Samurai").

Sob a Sombra da Tarântula: O Enigma de Theraphosa Blondi

As teias de aranha não apenas capturam presas, mas também capturam sons, ecos e murmúrios de outra época. Em Theraphosa Blondi (1970), The Web tece uma tapeçaria sonora onde jazz-rock, progressivo antigo e psicodelia se entrelaçam como fios invisíveis em um emaranhado hipnótico. Não é um álbum que se revela imediatamente; Assim como a tarântula gigante que lhe dá nome, ela se move furtivamente, esperando o momento certo para liberar seu veneno musical.

Entre brisas de vento ácido e explosões de ventos jazzísticos, este trabalho marca uma virada para a banda britânica: a saída de John L. Watson e a chegada de Dave Lawson (futuro Greenslade) transformam a identidade do The Web , levando-os a um som mais elaborado, sofisticado e enigmático. Desde os primeiros compassos, Theraphosa Blondi não soa como um simples experimento de fusão, mas sim como um ritual, uma invocação de atmosferas perturbadoras e passagens instrumentais que desafiam a lógica do rock tradicional. Vamos mergulhar na seda pegajosa deste álbum, onde o jazz se entrelaça com sombras progressivas e cada acorde ressoa como o eco de um antigo mistério. Pronto para entrar na teia da aranha? ...Aqui estão minhas impressões:


01. Like the Man Said
02. Sunshine of Your Love
03. 'Til I Come Home Again Once More
04. Bewala
05. One Thousand Miles Away
06. Blues for Two T's
07. Kilimanjaro
08. Tobacco Road / America
Bonus
09. Afrodisiac
10.Newspecs

CODIGO: F-48

MUSICA&SOM





Destaque

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