domingo, 2 de outubro de 2022

BIOGRAFIA DE Martinho da Vila

 

Martinho da Vila

Martinho José Ferreira OMC, mais conhecido por Martinho da Vila, (Duas Barras12 de fevereiro de 1938[1]) é um cantorcompositor e escritor brasileiro.

História

Homenageado no Carnaval do Rio de Janeiro.
Martinho durante o desfile de Vila Isabel em 2018

Filho de lavradores da Fazenda do Cedro Grande, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos. Quando se tornou conhecido, voltou a Duas Barras para ser homenageado pela prefeitura em uma festa, e descobriu que a fazenda onde havia nascido estava à venda. Não hesitou em comprá-la e hoje é o lugar que chama de "meu off-Rio". Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos-Forros, a primeira profissão foi como auxiliar de químico industrial, função aprendida no curso intensivo do SENAI. Mais tarde, serviu o Exército Brasileiro como sargento burocrata. Nesta instituição ele começou na Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente e contador, profissões que abandonou em 1970, quando deu baixa para se tornar músico profissional.[2]

Martinho da Vila, 1973. Arquivo Nacional.

A carreira artística surgiu para o grande público no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com a música "Menina Moça". O sucesso veio no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançando a canção "Casa de Bamba", um dos clássicos de Martinho. O primeiro álbum, lançado em 1969, intitulado Martinho da Vila, já demonstrava a extensão de seu talento como compositor e músico, incluindo, além de "Casa de Bamba", obras-primas como "O Pequeno Burguês", "Quem é Do Mar Não Enjoa" e "Prá Que Dinheiro" entre outras menos populares como "Brasil Mulato", "Amor Pra que Nasceu" e "Tom Maior". Logo tornou-se um dos mais respeitados artistas brasileiros além de um dos maiores vendedores de disco no Brasil, sendo o segundo sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias com o CD Tá Delícia, Tá Gostoso lançado em 1995 (o primeiro foi Agepê, que em 1984 vendeu um milhão e meio de cópias com seu disco Mistura Brasileira). Destacam-se Zeca PagodinhoSimone (CD Café com leite, um tributo a Martinho da Vila, 1996) e Alcione como os maiores intérpretes.

A celebração do 75º aniversário do cantor, bem como 45 anos de carreira, levou Martinho a receber o segundo volume da série Sambabook em 2013, depois de João Nogueira receber o original no ano anterior.[3]

Prêmios e condecorações

Entre os títulos recebidos por Martinho da Vila, estão os de Cidadão CariocaCidadão Benemérito do Estado do Rio de JaneiroComendador da República, em grau de oficial e a Ordem do Mérito Cultural, por seu trabalho em prol da cultura brasileira. Foi condecorado com a Medalha Tiradentes e a Medalha Pedro Ernesto.[4] Ganhou o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira em 1991. Em 1993, recebeu cinco Prêmios Sharp na categoria samba e o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira.[5] Em 2014 foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode, pelo álbum Enredo.[4][6] O álbum De Bem com a Vida, lançado em 2016, ganhou o Grammy Latino no mesmo ano, na categoria Melhor Disco de Samba. No ano seguinte Martinho recebeu da Universidade Federal do Rio de Janeiro o título de Doutor Honoris Causa. Recebeu também o título honorário de Embaixador Cultural de Angola e Embaixador da Boa Vontade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), por divulgar a lusofonia e incentivar as relações linguísticas da língua portuguesa. Martinho é também membro da Divine Académie Françoise des Arts, Letres e Culture, tendo sido condecorado com a medalha de honra daquela academia.[7] Em 2019, Martinho foi agraciado com o Prémio Lusofonia, na categoria música, em Portugal, pelo trabalho constante e de qualidade superior ao nível da composição, música e performance de palco, reconhecido como um dos mais notáveis embaixadores da música brasileira e de toda a lusofonia.[8]

Escola de samba

Martinho, presidente de honra da Vila Isabel durante o carnaval de 2019.

A dedicação à escola de samba do coração, Unidos de Vila Isabel, iniciou em 1965. Antes, participava da extinta Aprendizes da Boca do Mato. A história da Unidos de Vila Isabel se confunde com a de Martinho. Desde essa época, assina vários sambas-enredo da escola. Também envolvido nos enredos da escola, criou o samba Kizomba: A Festa da Raça, e garantiu para a GRES Unidos de Vila Isabel o título do Grupo Especial do ano de 1988. Após uma ausência de 17 anos, desde a composição "Gbala" em 1993, em 2010, Martinho ganhou o concurso de sambas-enredo mais uma vez, cedendo à escola um enredo sobre Noel Rosa, outro compositor de Vila Isabel que celebraria seu centenário naquele ano. Martinho declarou que seria seu último samba-enredo.[9] Em 2013, quando Martinho completou 75 anos, seu filho Tunico da Vila levou Vila Isabel ao título com o enredo "A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo. Água no Feijão, que Chegou Mais Um".[10]

Martinho já foi homenageado pelo então bloco carnavalesco, hoje escola de samba GRES Mocidade Independente de Inhaúma no ano de 1983 com o enredo Da Boca do Mato a Vila Isabel, que levantou o público da avenida. O desfile contou com a participação de Élcio PV, da Beija Flor.

Martinho foi anunciado como enredo da Unidos de Vila Isabel para o carnaval de 2021. O artista é presidente de honra da agremiação.[11] O carnaval de 2021 foi cancelado pelo governo do Rio de Janeiro devido às restrições sanitárias impostas pela pandemia de COVID-19. O evento, mantendo o enredo "Canta, Canta, Minha Gente! A Vila é de Martinho!" no desfile da Unidos de Vila Isabel, foi previsto para acontecer em 2022.[12]

Estilo

Embora internacionalmente conhecido como sambista, com várias composições gravadas no exterior, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB e compositor eclético, tendo trabalhado com aspectos da cultura brasileira e criado músicas dos mais variados ritmos brasileiros, tais como cirandafrevosamba de rodacapoeirabossa novacalangosamba-enredo, toada e sambas africanos. O espírito de pesquisador incansável, viaja desde o disco O Canto das Lavadeiras, baseado na cultura brasileira, lançado em 1989, até o mais recente trabalho Lusofonia, lançado no início de 2000, reunindo canções de todos os países de língua portuguesa. Em setembro de 2000 concretizou, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos projetos mais cultuados: a apresentação do Concerto Negro. Idealizado por Martinho e pelo maestro Leonardo Bruno, o espetáculo enfoca a participação da cultura negra na música erudita. Para cuidar das diversas atividades, criou o Grupo Empresarial ZFM abrindo as portas para sambistas com um selo musical e inaugurando sua própria editora, com o primeiro romance Joana e Joanes.

Vida pessoal

Martinho tem oito filhos incluindo Mart'nália, Tunico da Vila, Maíra Freitas e dez netos, mas só se casou pela primeira vez em 1993.[13][14] Sua esposa é Clediomar Corrêa Liscano, 33 anos mais jovem, e mãe de seus dois filhos mais novos, a quem Martinho conheceu na gravação de um videoclipe.[15]

Com a porta-bandeira Rita Freitas teve uma filha, a também cantora Maíra Freitas. No início dos anos 90, casou-se com Clediomar Corrêa Liscano Ferreira, a Cléo, com quem tem dois filhos (Preto e Alegria). [16]

Martinho da Vila torce para o Vasco da Gama, e compôs duas músicas em homenagem ao clube do coração.[17] É, desde 2005, filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB).[18] Em 2009, foi lançado o documentário "O Pequeno Burguês - Filosofia de Vida", que conta um pouco da vida artística e particular do artista. No fim de 2012 fez participação na série de TV "Meu Anjo", produzida pela produtora Telemilênio, como ele mesmo. A trama vai ao ar todos os domingos, às 19h, na CineBrasilTV.

Em 2017, aos 79 anos, Martinho ingressou na faculdade de Relações Internacionais da Universidade Estácio de Sá, na cidade do Rio de Janeiro, segundo ele, para "entender um pouco mais das relações internacionais em termos históricos, na teoria", já atuando havia algum tempo nessa área, como Embaixador Cultural de Angola e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.[19] Frequentou as aulas regularmente e de forma presencial, cumprindo todas as exigências do curso, mas não o concluiu. Cursou até o terceiro ano, pois o último ano seria para preparar o aluno para o mercado de trabalho, o que não era seu interesse.[20]

Homenagens

No Carnaval de São Paulo em 2018, Martinho foi tema da Escola de Samba Unidos do Peruche, com o enredo Peruche celebra Martinho: 80 anos do Dikamba da Vila.[21]

Discografia

  • 1969 - Martinho da Vila - (RCA Victor)
  • 1970 - Meu Laiá-raiá - (RCA Victor)
  • 1971 - Memórias de um Sargento de Milícias - (RCA Victor)
  • 1972 - Batuque na Cozinha - (RCA Victor)
  • 1973 - Origens (Pelo telefone) - (RCA Victor)
  • 1974 - Canta Canta, Minha Gente - (RCA Victor)
  • 1975 - Maravilha de Cenário - (RCA Victor)
  • 1976 - Rosa do Povo - (RCA Victor)
  • 1976 - La Voglia La Pazzia/L' Incoxienza/L' Allegria - (RCA Victor)
  • 1977 - Presente - (RCA Victor)
  • 1978 - Tendinha - (RCA Victor)
  • 1979 - Terreiro, Sala e Salão - (RCA Victor)
  • 1980 - Portuñol Latinoamericano - (RCA Victor)
  • 1980 - Samba Enredo - (RCA Victor)
  • 1981 - Sentimentos - (RCA Victor)
  • 1982 - Verso e Reverso - (RCA Victor)
  • 1983 - Novas Palavras - (RCA Victor)
  • 1984 - Martinho da Vila Isabel - (RCA Victor)
  • 1984 - Partido Alto Nota 10 - (CID)
  • 1985 - Criações e Recriações - (RCA Victor)
  • 1986 - Batuqueiro - (RCA Victor)
  • 1987 - Coração Malandro - (RCA Victor/Ariola)
  • 1988 - Festa da Raça - (CBS)
  • 1989 - O Canto das Lavadeiras - (CBS)
  • 1990 - Martinho da Vida - (CBS)
  • 1991 - Vai Meu Samba, Vai - (Columbia/Sony Music)
  • 1992 - No Templo da Criação - (Columbia/Sony Music)
  • 1992 - Martinho da Vila - (Columbia/Sony Music)
  • 1993 - Escola de Samba Enredo Vila Isabel - (Columbia/Sony Music)
  • 1994 - Ao Rio de Janeiro (Columbia/Sony Music)
  • 1995 - Tá Delícia, tá Gostoso - (Sony Music)
  • 1997 - Coisas de Deus - (Sony Music)
  • 1997 - Butiquim do Martinho - (Sony Music) 758.325/2-479455
  • 1999 - 3.0 Turbinado ao Vivo - (Sony Music)
  • 1999 - O Pai da Alegria - (Sony Music)
  • 2000 - Lusofonia - (Sony Music)
  • 2001 - Martinho da Vila, da Roça e da Cidade - (Sony Music)
  • 2002 - Martinho Definitivo - (Sony Music)
  • 2002 - Voz e Coração - (Sony Music)
  • 2003 - Martinho da Vila - Conexões - (MZA/Sony Music)
  • 2004 - Conexões Ao Vivo - (MZA/Universal Music Group)
  • 2005 - Brasilatinidade - (MZA/EMI)
  • 2006 - Brasilatinidade Ao Vivo - (MZA/EMI)
  • 2006 - Martinho José Ferreira - Ao Vivo na Suíça - (MZA/Universal Music) (registro de shows do cantor no Montreux Jazz Festival, na Suíça, nas edições de 19882000 e 2006)
  • 2007 - Martinho da Vila do Brasil e do Mundo (MZA / Universal Music)
  • 2008 - O Pequeno Burguês - ao vivo (MZA Music)
  • 2010 - Poeta Da Cidade - Canta Noel - (Biscoito Fino)
  • 2011 - Lambendo a cria - (MZA Music)
  • 2011 - 4.5 Atual - (Sony Music)
  • 2013 - Samba Book - Martinho da Vila (Musickeria/Som Livre - show com versões por outros artistas, disponível em CD, DVD, e Blu-Ray, acompanhado de biografia e um fichário com 60 partituras)[3]
  • 2014 - Enredo (Biscoito Fino)
  • 2016 - De Bem com a Vida - (Sony Music)
  • 2018 - Alô Vila Isabeeeel!!! (Sony Music)
  • 2018 - Bandeira da fé (Sony Music)
  • 2020 - Rio: Só vendo a vista (Sony Music)




Caramelows revela primeira parte do álbum “ViraLata”


 O caldeirão sonoro dos Caramelows está de volta, anunciando o lançamento de seu primeiro álbum, “Viralata”. O disco sucederá os EPs do grupo e marcará a estreia solo do grupo, cuja discografia ao lado da cantora Liniker já inclui dois álbuns. Um álbum com seis faixas antecede esse novo repertório, já disponível para streaming.


Fruto da estrada, esse filho mambembe foi gestado parte nos palcos pelo mundo, com uma parte sendo realizada virtualmente no momento em que os músicos estavam isolados. Mas “Viralata” ganhou corpo após a reabertura do mundo analógico, quando as conexões com os vários parceiros que compõem esse disco passaram a integrar a obra. André AbujamraDeep LeaksEstela PaixãoJota PêJoyce AlaneLUIZGA e Renata Éssis são alguns dos nomes que integram o álbum.

Um dos destaques é a inédita “Concha”, parceria com a pernambucana Joyce Alane, música que inicia em um groove soul bem lento, com uma melodia que lembra as raízes da cantora e se desenvolve em um rock classudo. O primeiro single, “Fuja, Melow!”, eles co-produziram com Deep Leaks; e, em “20 Centavos”, com  Dré Guines. Completam o álbum as faixas “Criatura”, a já citada “Concha”, “Pindorama” e “Vita D” – esta última, com a participação de André Abujamra. 

Neste novo formato, a banda de world music do interior de São Paulo mistura música instrumental, assim como outra faceta recheada de canções, algumas mais soul, outras experimentais. O álbum é dividido em duas partes, tendo como grande fio condutor as conexões periféricas, no sentido de colocar mais um tijolo nessa grande espiral histórica antropofágica que constitui a cultura latinoamericana. A segunda parte, completando esse ciclo, será lançada em novembro. O símbolo dessa busca é o vira-lata caramelo, que faz parte da rotina brasileira como um símbolo ao mesmo tempo do marginal e do carismático.

Os Caramelows têm em sua discografia o EP “Cru” (2015) e os discos “Remonta” (2016) e “Goela Abaixo” (2019) como Liniker e os Caramelows – este último, indicado ao Grammy Latino – além dos singles “Siente El Calor”, com a espanhola Indee“Pote de Cores”, com a moçambicana Selma Uamusse“Sozinho”, com o baiano Edoux;  e 2 EPs como Caramelows.

O grupo conta com Péricles Zuanon (bateria), Eder Araújo (sax e flauta), Marja Lenski (percussão), Fernando “TRZ” Falcoski (teclas), Rafael Barone (baixo) e Wiliam Zaharanszki (guitarra). A produção musical é do próprio Rafael Barone, com todos os demais Caramelows assinando como co-produtores.

A primeira parte de “Viralata” já está disponível para streaming via Dorsal Musik.

Faixas:

Fuja, Melow! part. Deep Leaks

Criatura

Concha part. Joyce Alane

Pindorama part. LUIZGA e Estela Paixão

20 Centavos

Vita D part. André Abujamra

Ficha técnica

Caramelows são:

Éder Araújo: sax e flauta

Fernando TRZ: teclados

Marja Lenski: percussão

Péricles Zuanon: bateria

Rafael Barone: baixo

William Zaharanszki: guitarra

Produção musical: Rafael Barone 

Produção musical compartilhada: Fuja, Melow! (Deep Leaks), 20 Centavos (Dré Guines)

Co Produção musical: Éder Araújo, Fernando TRZ, Marja Lenski, Pericles Zuanon, William Zaharanszki 

Arranjos de sopro: Eder Araujo

Mixagem: Rafaela Prestes

Masterização: Fernando Sanches / El Rocha

Douglas Antunes – trombone

Rinaldo Santos – trompete e flugel

Danilo Moura – percussões em Criatura e Pindorama

Estela Paixão – vocais em 20 centavos

Gravadas na Casa do Seo Peri em Araraquara/SP com engenharia de Dre Guines | GOMAinc.

Sopros gravados no Estúdio C4 em São Paulo/SP com engenharia de Luis Lopes

Transit in the Ryes lança EP “After the Sun Collides”


 A banda gaúcha Transit in the Ryes transforma uma experiência de luto e perdas em seis canções no seu novo EP, “After the Sun Collides”. O grupo explora um conjunto de influências que atravessam décadas e gêneros, em um caldeirão musical guiado pelo rock. Psicodelia, alternativo, indie e folk surgem em canções que dialogam com dramas modernos de uma geração em busca de um lugar no mundo. O EP já está disponível para streaming.


Entre o moderno e o retrô, surge a sonoridade de Transit in the Ryes, quarteto porto-alegrense que inicia uma nova fase com este EP, onde o atual e o nostálgico se fundem para dar vazão a composições sobre questões humanas. 

A abertura “Aftershock” e “What Do I Do Now?” se apoiam em baladas típicas dos anos 70, com camadas orquestrais que aparecem também em faixas como o single mais recente, “The World’s Not Talking”, e na dramática “The Fall (Symphony of an Overdue Epiphany)” – a mais experimental do EP, que serve como continuação à letra de “Aftershock”. O primeiro single, “Take Your Time”, e “Change” exploram o lado mais perto do coração da estética da banda, na junção do new wave com o indie rock moderno.


Transit in the Ryes já reflete um amadurecimento estético para um projeto recente, iniciado em 2018 a partir do desejo comum de gravar as próprias canções. Desde então, o grupo passou por várias reformulações que fizeram parte do processo de seu estabelecimento artístico. Mais recentemente, marcando essa nova fase, em 2021 foram lançados dois singles: “Bored Out Of My Mind” faz uma reflexão sobre os tempos pandêmicos e “2017” um mergulho nostálgico na adolescência, remetendo às épocas mais simples do período escolar. Agora, “After the Sun Collides” é a primeira parte de um ciclo que será contado em três atos, na forma de dois EPs e um álbum. 

“Nessa primeira etapa, não se trata de uma narrativa na forma de um álbum conceitual estritamente dito, mas de uma temática em comum que explora o impacto imediato de uma perda significativa. Sentir qualquer coisa depois de um choque como o falecimento de alguém próximo parece impossível, seja isso um sentimento positivo como uma nova paixão ou em contrapartida, um amor em ruínas. Contudo, nós voltamos a sentir, e talvez estranhamente, é mais aliviante ainda saber que isso inclui a experiência de novas dores. O EP não pretende necessariamente contar uma história de superação de um grande luto, tão quanto documentar e encontrar o conforto na volta das pequenas dores e anseios do dia a dia. After the Sun Collides é dedicado ao nosso melhor amigo, Dudu”, entrega Henrik Karlholm (vocal, guitarra, sintetizadores, mixagem, masterização). Além dele, Transit in the Ryes conta com André Silveira (baixo), Santi Madeira (guitarra, piano, vocais) e Thomas Gomes (bateria e percussão).

A banda desponta no cenário do indie rock nacional com uma combinação de nostalgia e forte personalidade, da sonoridade às letras confessionais. Entre a familiaridade e a perspectiva única na abordagem dos temas e gêneros musicais, Transit in the Ryes se firma como uma potência do novo rock gaúcho e nacional.

Ficha técnica

Arte da capa por Isadora Klein

Mixagem e masterização por Henrik Karlholm

André Silveira: Baixo

Henrik Karlholm: Guitarra, sintetizadores, vocal principal (todas as músicas)

Santi Madeira: Guitarra, piano, vocal secundário, vocal principal (6)

Thomas Gomes: Bateria e percussão

Sociedade da Grã-Ordem Kavernista – Sessão das 10 (1971)


 

Em 1971, um quarteto de músicos, praticamente desconhecidos, gravou uma pérola, recheada de humor e criatividade. Sessão das 10, lançado no meio da ditadura brasileira, é um retrato desses tempos, com ironia suficiente para fugir à censura.

A ideia de “A Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das dez” foi de Raul Seixas, à época produtor da editora CBS, tendo convidado dois seus conhecidos da Bahia, Edy Star e Sérgio Sampaio. O elemento escolhido para finalizar este quarteto foi Miriam Batucada, que era a mais conhecida dos quatro pelas suas participações em programas televisivos através das suas habilidades de batucar com as mãos.

Mesmo com várias letras censuradas, o disco saiu e foi distribuído para as rádios e jornais, mas depois de 15 dias acabou cancelado e mandado devolver pela editora CBS sem mais explicações. Havia o mito de que o disco tinha sido cancelado porque ter sido, alegadamente, gravado de forma clandestina e sem conhecimento da editora. No entanto, esse mito já foi desmentido por Edy Star, único kavernista ainda sobrevivente.

Sessão das 10 é, basicamente, o segundo trabalho de Raul Seixas, depois de uma primeira tentativa de vingar no mundo da música com Raulzito e os panteras, em 1968. Raul Seixas, amante do rock n’ roll americano mas também da tradição brasileira do baião, sendo Luiz Gonzaga um dos seus heróis, a par de Elvis Presley, atravessava uma fase de ostracismo e compunha canções para outros artistas, como para a cantora Diana e Jerry Adriani, devido ao fracasso do seu primeiro projecto.

Após a frustração do falhanço e tendo de abandonar o Rio de Janeiro de volta à sua cidade natal, Salvador, Raul Seixas acabaria por ser convidado para ser produtor na CBS. Durante alguns anos seria essa a sua função no mundo da música. No entanto, o amigo Sérgio Sampaio incentivava Raul a retomar a sua carreira de cantor e compositor. Desta pressão acabaria por surgir Sessão das 10, trabalho inspirado em discos como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, e Freak out! (1966), da banda The Mothers of Invention, liderada por Frank Zappa. Ao invés do psicadelismo ou experimentalismo, o grupo brasileiro misturaria no seu som, samba, baião, música brega e jovem guarda.

No disco, os dois baianos, um descendente de índio capixaba e uma paulista ironizam o nascente showbiz brasileiro no seu principal centro, o Rio de Janeiro. “Eta Vida” é precedida por motivos sonoros circenses e alegres, onde é anunciado que a Sociedade da Grã Ordem Kavernista vai apresentar “o maior espetáculo da Terra”. A partir daqui começa a sátira deste belo disco, com estrofes a louvar as maravilhas da cidade maravilhosa, entre o futebol no maracanã aos domingos e o pagamento a prestações (que ainda hoje é uma necessidade), passando pelo sol e mar em Ipanema. No entanto, apesar de todas estas “virtudes” enaltecidas na canção, Raul Seixas apenas quer largar tudo e ir para a sua cidade natal, mesmo que a vida no Rio seja genial, com cultura e carnaval na televisão à noite, com “garota propaganda” e o seu bikini.

A crítica social à classe média e à sua sociedade de consumo continua no início “Sessão das 10”, com o seguinte verso: “eu comprei uma televisão /a prestação, a prestação / eu comprei uma televisão / que distração, que distração!”, logo passando para a voz de Edy Star emulando os trovadores com uma serasta sarcástica.

Todas as faixas do disco têm uma espécie de introdução, não tendo absolutamente nada a ver com o resto da música, o que lhe conferia um ar mais avant-garde, do qual Raul Seixas sempre foi fiel. A terceira faixa (“Eu Vou Botar Pra Ferver”) é uma espécie de homenagem ao movimento Jovem Guarda, transitando para um baião com toques de samba.

Em “Quero ir”, os músicos estão preparados para abandonar o Rio após o “fracasso”: “eu vou pra Bahia ou volto pra Cachoeiro de Itapemirim”, ou seja, Edy Star e Raulzito voltariam ao seu estado natal e o capixaba Sérgio Sampaio para Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal de Sérgio e do rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos.

Já perto do final do álbum, Raul Seixas volta para nos dar a melhor canção do disco, e uma das melhores composições da sua carreira. O samba “Aos Trancos e Barrancos” traz uma variação das ideias apresentadas anteriormente durante o disco. Se antes a ideia era a de não pertença e desejo de ir embora, aqui temos despreocupação, apresentando a ideia do malandro que se deu bem. “Sou o cara que subiu na vida, morava no morro e agora moro no Leblon”. Nesta canção, a cidade do Rio de Janeiro surge encantadora e cheia de oportunidades, e tudo parece estar bem: “Rio de Janeiro, Você não me dá tempo de pensar com tantas cores. Sob este sol, Pra quê pensar, se eu tenho o que quero? Tenho a nega, o meu bolero, A TV e o futebol.”

Sessão das 10 não é apenas o “disco perdido de Raul Seixas”. Vai além da faceta mítica de ter sido um disco gravado ilegalmente, segundo muitos ainda pensam. É um disco gravado por quatro personalidades diferentes, mas em que o resultado final é maior do que a soma dos seus executantes. Por debaixo de uma suposta simplicidade, há uma grande complexidade de temas que são mais profundos do que numa primeira audição se encontra. É uma crónica da sociedade da época, bem representada, embora mascarada pela anarquia e excentricidade das composições. Parecendo não querer dizer nada, Raul, Sérgio, Edy e Miriam disseram muita coisa. E esse é o seu grande legado.

Toni Tornado – “BR-3” (1971)


Apesar do nome de super herói, Tony Tornado poderá ser um dos brasileiros mais interessantes de sempre que, entre uma miríade de coisas, foi o autor de um belíssimo disco chamado “BR-3”.

Quem diria que um rapaz negro nascido numa aldeia perdida no interior de São Paulo, em 1930, viria a ser amigo de Stokely Carmichael, histórico líder do movimento Black Panther nos EUA, ou exilado político na Coreia do Norte. Desde pequeno que sabia que estava destinado a voos maiores, mas isso não lhe chegaria se não saísse de Mirante do Paranapanema, a localidade onde nasceu. Foi por isso que se mandou para o Rio de Janeiro com apenas 17 anos, metrópole onde se entreteve a engraxar sapatos e a vender amendoins até ter-se alistado no Exército Brasileiro. Nesta altura, já gastava o pouco dinheiro que tinha em discos de Chubby Checker ou Little Richard, seus grandes ídolos.

Toda a imagética e cultura afro-americana do funk, rock e blues foram construíndo-o enquanto artista de palco. Fugindo à norma (aborrecida?) de que a música brasileira de qualidade só se divide entre Bossa Nova e MPB, Tornado foi trilhando caminho ao cantar, em boates e botecos, versões de funk norte-americano, de tal forma que cedo ganhou comparações a James Brown – e bem que ele fazia por elas. Até finalmente “rebentar” aos olhos do grande público, lutou no conflito armado de 56 no Canal do Suez, mudou-se para Harlem, em Nova Iorque, ficou amigo de Tim Maia e acabou por ser deportado de volta ao Brasil por se envolver em tráfico de droga. 

Quem o visse pela primeira vez no ginásio do Maracanãzinho em 1970, a cantar em palco com os Trio Ternura, não imaginaria as curvas e contracurvas que o tinham levado até ali. Enorme, com uma frondosa afro, de camisa aberta e um sol colorido desenhado no peito, Tony cantou “BR-3” à frente de todo o Brasil (tratava-se da 5ª edição do Festival Internacional da Canção) e, quiçá, do mundo. A sua ginga e voz poderosa tomaram o público de assalto e Tornado seria mesmo nomeado vencedor dessa competição, onde também disputavam o primeiro lugar nomes como Elis Regina e Vinícius de Moraes. 

“BR-3”, o disco, saiu um ano depois disto, ainda na senda do sucesso que foi cultivando desde o festival, e é uma alegre e pujante compilação de canções de amor e libertação. Uma combinação explosiva do salero latino com a sensualidade do funk vindo dos EUA, que muito ganha com a poesia bonita tão típica da música feita no Brasil (“Há um foguete/ Rasgando o céu, cruzando o espaço/ E um Jesus Cristo feito em aço/ Crucificado outra vez”, in BR-3). Ele entra de mansinho com “Juízo Final”( viva as canções com sopros!) e “Não Lhe Quero Mais”, até dar o salto com “Dei a Partida”, canção que podia ser o próprio Brown a cantar, caso dominasse o português. Uma das várias que ele podia ter cantado, na verdade: veja-se a gingona “Me Libertei” ou a “Jornaleiro”, que até daqueles guinchos ‘jamesbrownianos’ tem. 

Além do relevante papel de Tornado na afirmação dos direitos dos negros no Brasil e da sua posição enquanto feroz opositor da Ditadura Militar – em 71, por exemplo, invadiu um concerto de Elis Regina, que cantava “Black Is Beautiful” (dos irmão Valle), com o punho fechado no ar, o símbolo “Black Power” -, Tony é a prova viva de que há mais no Brasil para lá dos tocadores de violão com coração partido. Que há outras coisas além da batucada e da cuíca, do samba e da MPB. Tornado, como Gerson King Combo, são uma boa amostra de como o funk feito no Brasil (que não tem nada a ver com o lixo que hoje se ouve em todo o lado) é algo de especial, merecedor de atenção – um pouco como o movimento disco, que também tem manifestações muito interessantes do lado de lá do Atlântico. 

Infelizmente, a carreira musical de Tony Tornado apenas rendeu mais um disco, “Tony Tornado” (72) – que é igualmente excelente (oiçam a “Pode Crer, Amizade”, pelo menos) -, muito por culpa da sua intervenção social. A dada altura foi aconselhado a exilar-se, por ter a vida em risco, e isso levou a fazer um périplo por todos os países alinhados com a URSS: do Uruguai à Coreia do Norte, passando por Cuba e mesmo a cidade de Moscovo. Quando regressou ao Brasil, reza a lenda, beijou o chão. O seu futuro passaria pela representação, tornando-se ator em inúmeras produções da Globo (Roque Santeiro incluído). Perdeu-se um músico de fibra, ganhou-se um canastrão. A vida nem sempre é justa. Que o diga a carreira musical de Tony. 

Ah, e já agora: BR-3 é o nome de uma das mais icónicas auto-estradas do Brasil, que junta Brasília ao Rio de Janeiro.     


Disco Imortal: Los Jaivas – Canción del sur (1977)

 Disco Imortal: Los Jaivas – Canção do Sul (1977)

EMI Odeon, 1977

Viagens, passeios e peregrinações por diferentes partes da América Latina, uma vida completamente nômade. Parte disso fez parte do álbum “Canción del sur”, auge da vida profissional de Los Jaivas na Argentina. Durante sua permanência naquele país, ao cruzarem a serra em 1973, formaram laços que iniciaram parte de sua história e do álbum e este álbum é justamente um de seus trabalhos que expõe a passagem por diversos lugares da América Latina, gestando entre seus movimentos e turnês do ano de 1977. Naquela época, eles estavam prestes a partir para novos territórios que influenciaram seu trabalho musical.

Quando Eduardo Parra foi libertado da prisão, Los Jaivas decidiu deixar o continente, já que estava nas chamas da insurgência e dos golpes militares. Consideraram que estavam em perigo e que não tinham a tranquilidade de viajar pela América Latina, como era seu grande sonho naquela época. Por conta disso, Alberto Ledo, integrante que havia aderido há algum tempo, comentou sobre a ideia de viajar para a Europa, já que lá eles tinham a possibilidade de ter contato direto com o IME, além da facilidade de deslocamento para vizinhos países.

A princípio a decisão não foi aceita, já que a EMI pediu que tivessem o álbum pronto, mas não foi possível. Por isso, Los Jaivas propôs terminá-lo e dominá-lo na Europa. Eles estavam contra o tempo, não havia mais nada a fazer. Apesar da ideia, a empresa continuou insistindo, pois o contrato estava prestes a expirar. Com toda a pressão para trás e faltando menos de um mês para a viagem, eles começaram a montar o álbum. Começaram resgatando canções como “En la Cumbre de un Cerro”, música que ficou de fora de El Indio (1975), “Canción del Sur”, música criada por Gato, e “Dum Dum Tambora”, contribuição feito por Pájaro Canzani nas linhas do baixo, juntamente com a criação de arranjos e a impressão do timbre de sua voz. Com essas músicas montam uma coletânea que conta as experiências vividas na capital gaúcha.

Los Jaivas começou a mergulhar em um som de selva inspirado na música costeira e nas paisagens tropicais do rio Paraná. Além disso, misturavam as diferentes culturas e reflexões que iam conhecendo em suas viagens, usavam instrumentos da tradição brasileira e fluminense (berimbau, afoxé, caxixí), além de letras ligadas a paisagens como “No cume de uma colina”. Vários desses temas instrumentais homenageiam culturas pré-colombianas e coloniais. Por outro lado, começaram a dar espaço à “modernidade” na tecnologia da música com o uso de um sintetizador Mini-Moog e um piano elétrico Fender Rhodes, estes deram à banda um upgrade, que inclusive foi utilizado para os álbuns seguintes.

As outras canções, mais curtas, mostram como os músicos exploraram diferentes estilos, como em "La vidamágica, ¡Ay si!", a aproximação ao Chile com uma cueca ou "Canción para los Pájaros", que representa a Amazônia. E o lado relacionado e de inspiração americana, "Old Fresh". “Canção do Sul”, como foi dito e explicado pelos diferentes Jaivas, é a mistura da história que passou por períodos complicados pela ditadura e pela política da época. Apesar dos obstáculos, para Los Jaivas foi uma porta que abriu oportunidades em diferentes cidades, culturas e paisagens que formaram um álbum que perdura ao longo dos anos.

Elton John – The Lockdown Sessions (2022)

 

Sessões de bloqueioEm março de 2020, Elton John foi forçado a pausar sua turnê Farewell Yellow Brick Road, que quebrou o recorde, devido à pandemia de COVID. À medida que o mundo começou a se fechar, diferentes projetos se apresentaram com artistas que Elton gostava de conhecer através de seu programa da Apple Music, Rocket Hour. Este foi o início de um dos discos mais ousados ​​e interessantes de Elton até hoje, que ele faturou 'The Lockdown Sessions'. Este álbum viu Elton fechar o círculo e retornar às suas raízes como músico de estúdio. Embora não tenha sido uma tarefa fácil gravar durante uma pandemia, uma maneira completamente nova de trabalhar para Elton, ele se inclinou para o desafio com alguns resultados magníficos.
'The Lockdown Sessions' é uma coleção de 16 músicas, todas colaborações de Elton John, com…

MUSICA&SOM

…alguns dos maiores e mais empolgantes artistas do mundo de hoje

1. Elton John & Britney Spears – Hold Me Closer [03:22]
2. Elton John & Dua Lipa – Cold Heart (PNAU Remix) [03:22]
3. Elton John, Young Thug & Nicki Minaj – Always Love You [04:17]
4. Surfaces feat. Elton John – Learn To Fly [03:31]
5. Elton John & Charlie Puth – After All [03:28]
6. Rina Sawayama & Elton John – Chosen Family [04:40]
7. Gorillaz feat. Elton John & 6LACK – The Pink Phantom [04:13]
8. Elton John & Years & Years – It’s a sin (global reach mix) [04:44]
9. Miley Cyrus feat. WATT, Elton John, Yo-Yo Ma, Robert Trujillo & Chad Smith – Nothing Else Matters [06:35]
10. Elton John & SG Lewis – Orbit [03:28]
11. Elton John & Brandi Carlile – Simple Things [04:11]
12. Jimmie Allen & Elton John – Beauty In The Bones [03:50]
13. Lil Nas X feat. Elton John – One Of Me [02:41]
14. Elton John & Eddie Vedder – E-Ticket [03:18]
15. Elton John & Stevie Wonder – Finish Line [04:24]
16. Elton John & Stevie Nicks – Stolen Car [05:37]
17. Glen Campbell & Elton John – I’m Not Gonna Miss You [02:56]
18. Elton John & Ed Sheeran – Merry Christmas [03:28]


Destaque

ROCK AOR - ABBY JAYE - Demo

  Abby Jaye, além de linda, manda muito bem no vocal, mostrando também uma performance incrível na guitarra. Para fãs de Lita Ford, Laos e W...