domingo, 1 de janeiro de 2023

Retrospectiva 2022: Os 10 mais, menções honrosas e decepções de um ano extremamente produtivo

 

Retrospectiva 2022: Os 10 mais, menções honrosas e decepções de um ano extremamente produtivo

2022 foi um ano espetacular para os saudosistas, tanto que nesse top 10 entraram pouquíssimas bandas desconhecidas do grande público, o que prova que em matéria de rock n' roll os novinhos ainda precisam comer muito arroz com feijão se quiserem superar os dinossauros do estilo. Mas chega de papo e vamos embarcar nessa viagem musical.

10 - Katharsis - Praying Manthis Talvez esse disco seja uma das poucas surpresas nessa lista, já que é uma banda de popularidade zero no Brasil (Deus abençoe a internet por nos dar a chance de ouvir essas coisas). O fato é que com esse time o Praying Manthis, oriundo do Reino Unido, obteve algo inédito até então: a estabilidade em sua formação. Só isso já os coloca em uma posição de destaque, e a qualidade do trabalho mostra que essa constância trouxe maturidade às composições. Tudo bem que não chega a ser inovador, mas músicas como Cry for the Nations e Closer to Heaven, estão enrtre as melhores coisas já feita pelos caras. O progressivo com pitadas de Aor sempre deu um ar mais cult aos caras, o que não significa que suas músicas sejam simplórias. Masquerade é a prova, complexa e lembrando os melhores momentos progressivos da banda. Esse décimo lugar está de bom tamanho para uma banda que preferiu navegar por terras tranquilas em vez de encarar o mar da instabilidade, lançando um disco correto e honesto, ainda que sem muita originalidade.
9 - The Monster Roars - Magnum Também misturando com propriedade Aor e Progressivo, o Magnum fica com o nono lugar num disco bem bacana, com destaque para a bela voz de Bob Catley, que se mantém como um dos maiores nomes do estilo, e olha que o cara tem 74 anos. Aqui não tem contenção na voz, se precisar subir ele manda bem, seu grave é um dos mais bonitos do aor/melodic rock. Competência de sobra, resultando num disco magistralmente interpretado com destaque para as guitarras de Tony Clarkin, o principal compositor do grupo, criando climas e texturas que vão do denso (All I Believe In) a complexidade rítmica de That Freedom Word, sendo essa a melhor do disco. Um disco inspirado que os firma como um dos melhores grupos do estilo.
8 - Diamond Star Halos - Def Leppard Já vai tempo que o Def Leppard não entrega um disco tão bom. Após seu auto intitulado mediano disco de 2015 (que lhes rendeu uma turnê bem legal que inclusive aportou no Rock In Rio em 2017), os leopardos surdos soltaram esse álbum com uma volta aos anos 80 que chega a ser arrebatadora para os saudosistas. a sensação de "já ouvi isso antes", é recorrente em todo o disco, porém isso está longe de ser uma crítica. músicas cheias de refrões ganchudos e chicletes, timbres de guitarra matadores e baixo gorduroso e preciso. A bateria é o único ponto baixo do disco, soando artificial e sem emoção em canções que pediam mais punch oitentista na veia. Não vou citar destaques individuais, pois essa obra funciona por completo, e se você não se irritar com a bateria pasteurizada ao extremo, você vai entender porque esse disco ficou em oitavo lugar.
7 - Carpediem - Saxon Aqui se separam os homens dos meninos. Não há uma alma viva que duvide da capacidade do Saxon de entregar bons discos, mesmo nas fases mais "pop". Esse álbum não poderia ser lançado com outro título, pois o que se ouve aqui é uma oportunidade que os caras nos dão de sair da realidade, pegar uma estrada, por o som do carro pra rolar no último volume e de fato, aproveitar o dia. disco pesado, melódico, denso e feliz ao mesmo tempo, apresenta uma saraivada de riffs espetaculares, mostrando porque o Saxon é um dos maiores nomes do estilo, quase uma unanimidade no meio "roqueiro". Destaque para Age of Steam, All For One, Supernova e a espetacular faixa título. Ouçam sem moderação.
6 - Patient Number 9 - Ozzy Osbourne Ah que bom que existe o Ozzy no mundo. A oportunidade de ouvir esse cara se cercar de bons músicos e entregar verdadeiras pérolas, onde desfila com maestria pelas suas melancolias , reflexões e desilusões é algo que deve ser celebrado, pois se há algo que Ozzy tem é experiência, tanto de vida quanto musical. Se fosse curte aquele papo com seus avós numa tarde de sábado, regado a muito rock n' roll, você precisa escutar esse álbum. O que mais chama atenção em Ozzy na atualidade é a sua capacidade de transmitir verdade através de sua música, capacidade essa hoje em dia muito mais evidente, notando-se que não há a necessidade de agradar a ninguém a não ser a si próprio e a seu público. Ozzy pode não ter lançado o disco mais espetacular de sua carreira, mas a cada ano mantém sua dignidade intacta. Não vou citar destaques pois não seria justo com uma obra desse quilate emocional, portanto, escute tudo.
5 - Thirteen - FM Ter um disco genuinamente Aor nessa lista é algo que me traz uma satisfação pessoal extrema. Ao ouvir o disco do FM, o décimo terceiro de sua carreira, os caras entregam o esperado sem deixar de nos surpreender. Desde a capa até as composições, o que se ouve aqui é uma aula de inspiração musical, bom gosto, melodias cativantes e timbres apaixonantes. Se você curte um som mais radiofônico, coloque esse álbum sem medo, pois esses caras sabem muito bem transformar nossas emoções em som. Parece inacreditável que esse som tenha saído pela Frontiers, já que a gravadora, apesar de promover bastante o estilo, tem histórico de interferir nas gravações, especialmente através do nefasto produtor/tecladista/rei da cocada preta Alessandro Del Vecchio. O destaque fica por conta de Turn This Car Around, com um refrão tipicamente sessão da tarde, Talk Is Cheap, com uma levada deliciosa e ritmo cativante. O disco todo é bem coeso e acima da média, o que lhe rendeu o quinto lugar nesse top 10.
4 - Digital Noise Alliance - Queensrÿche Se você perguntar a alguém o maior nome do metal progressivo, muito provavelmente citarão o Dream Theater, ou o Symphony X como maior expoente. Porém, esse engodo vendido pela mídia há mais ou menos 20 anos não se sustenta quando o Queensrÿche resolve lançar algo novo em sua discografia. Acontece que após alguns discos sem muito brilho, os caras ressurgem com Todd LaTorre cantando com personalidade e explorando todo seu potencial em temas progressivos, com pitadas de metal como de praxe e até um flerte com o metal melódico, tudo com muiuto peso e uma produção impecável. Lost In Sorrow é a canção perfeita para você que acha o Symphony X espetacular, com muito mais sensibilidade, diga-se. Beind The Walls tem timbres afiados, cortesia do maravilhoso trabalho de Michael Wilton nas guitarras. Realms e Hold On está entre as melhores canções já compostas pelos caras. Para provar que os caras tem a mente aberta, um cover surpreendente de Rebel yell, do Supla americano, o não menos espetacular Billy Idol. Um disco que não é tão surpreendente, pois a banda sempre lançõu bons discos quando resolveu focar apenas na música. E caso você ame Dream Theater e metal progressivo, saiba que nem o estilo que você ama existiria sem a genialidade do Queensrÿche.
3 - Freedom - Journey Com certeza o disco do ano na seara do Aor. Não poderia ser diferente, já que eles são os maiores do estilo, os mestres supremos. Apesar da abertura meio brochante a la Jonas Brothers com covid de Together We Run, o disco começa de fato com Don't Give Up On Us, que lembra instantaneamente um dos maiores clássicos do grupo, Separate Ways (World's Appart). Refrão marcante como tem que ser para nos lembrar que os caras são os maiores não é a toa. You Got The Best Of Me lembra um outro clássico da banda, Anyway You Want It, colocando o clima lá em cima mais uma vez. Live To Love Again não faria feio numa coletânea do Chicago, nos brindando com aquelas baladas lindas que tanto nos acostumamos a ouvir num disco do Journey. Para os saudosistas, fiquem ligados no single The Way That Used To Be, que mais parece uma canção saída diretamente da trilha sonora de filmes como Falcão ou Stallone Cobra. O ponto baixo fica para a produção terrivelmente amadora que acaba soterrando excelentes canções. No geral, é um disco bastante gostoso de ouvir e que rendeu ao Journey o terceiro lugar na lista.
2 - Rock Believer - Scorpions Eis aqui um disco sem defeito, pois cá entre nós, em se tratando de "veneno" ninguém melhor que os escorpiões alemães. Com esse Rock Believer, o Scorpions mostrou que tá bem longe de se aposentar apesar da avançada idade dos integrantes. Ok, a voz de Klaus Meine está cansada e com menos brilho e potência, o que é compreensível aos 74 anos ( nem todo mundo é Bob Catley né), porém isso é compensado com inspiração, peso, e principalmente amor ao que se faz. É impossível não se sentir renovado ao ouvir canções como Gas In The Tank, Roots In My Boots, entre outras. E se você é do tipo que curte aquelas baladinhas deles, vá direto em When You Know (Where You Come From). A versão deluxe ainda conta com uma versão acústica dessa canção, e se você não gosta das baladas deles e tem ranço de coisas como Still Loving You e Wind Of Change provavelmente irá continuar odiando. O fato é que esse disco foi realmente uma das melhores obras musicais já lançadas por eles e só você escutando para tirar as suas conclusões. Acontece que os alemães ainda mandam muito bem, e os fãs provavelmente estão ansiosos para ouvir as pérolas desse disco no próximo Monsters Of Rock.
1 - The Gang's All Here - Skid Row O Skid Row, após capengar durante anos com vocalistas bons mas sem um pingo de carisma, exorcizou de vez o fantasma de Sebastian Bach ao lançar um disco espetacularmente surpreendente. Ao anunciar Erik Grönwall (ex H.E.A.T) como vocalista, o grupo provocou orgasmos nos amentes de hard rock e aor e criou toda uma aura positiva em torno de futuros trabalhos. A banda não decepcionou ao lançar esse disco inspiradíssimo, pesado, feito para amantes dos anos 80 e 90. O timbre vocal de Eric lembra o próprio Sebastian em alguns momentos, com a diferença de que o mesmo segura a onda ao vivo também, coisa que o antigo vocalista nem sempre fazia. Como uma fênix bêbada e insana, o Skid Row renasceu com um disco que se fosse nos anos 80 seria um clássico indiscutível, daqueles que você tem orgulho de dizer que tem. Um disco para fazer você ter orgulho de usar as camisetas da banda que soa como uma resposta àqueles que achavam não existir Skid Row sem Sebastian. Esse primeiro lugar não poderia ser de outra banda após esse lançamento. Que disco maravilhoso, abocanhando o primeiro lugar merecidamente.

Lefty – Andrómeda (2021)


 

Quatro pessoas com passados entre o hip hop e a música tradicional juntaram-se para fazer um disco de rock’n’roll puro, sem manhas e com óptimas canções.

Ao primeiro verso da primeira canção do disco, podemos pensar que isto parece Clã, mas essa impressão dissipa-se logo depois. Se bem que quando se pensa em rock português cantado no feminino os Clã são, obviamente, a grande referência institucional.

Mas logo a meio dessa, “Quarto 25“, já não pensamos nisso, pensamos sim que isto soa muito bem. Uma guitarra meio misteriosa que nos vai cozendo em lume brando, quando parece que está para rebentar em espalhafato rock, não rebenta, mantém a música numa tensão permanente à beira da saciedade mas sem concretizar, enquanto uma voz nos sussurra ao ouvido.

Assim, com apenas uma música, está declarado o tom do álbum: o seu quê de perigo, outro tanto de sedução («Uma faca no pescoço, a tua mão nas minhas costas»), sempre com energia rock e aura de mistério, a acompanhar uma narrativa de fragilidades, amores tóxicos, desilusões, claustrofobias, local errado à hora errada.

A energia, é certo, atravessa todas as canções de Andrómeda, mas o disco é um jogo de forças entre um rock visceral a todo o vapor e um rock de ambiente tenso e nevoeirento. Um avança e recua, ora explode ora refreia, quando não nos encosta às cordas atira-nos ao tapete.

Paranóia“, “Elevador” e “Camel“, lânguidas, densas e tensas, são pólvora que vai entrando no barril para rebentar com estrondo em canções como “Cais“, “Sede” e “Chave”, autênticas rajadas. Óptimas melodias, gravadas com toda a vitalidade do rock de garagem, com uma produção sóbria sem artimanhas, e cantadas com formosura e segurança.

E não deixa de ser curioso que nenhum dos seus membros venha originalmente desse campo. O guitarrista, Pablo Banazol, tem carreira a solo nos terrenos de cantautor folk; o baterista Daniel Meliço vem dos Bicho do Mato, que misturam pop com música tradicional; Leonor Andrade, vocalista e letrista, nas suas passeatas pop já andou por programas de talentos na tv, foi à Eurovisão e lançou um disco a solo. Talvez mais surpreendente é o cabecilha. João Nobre, que muitos conhecerão como Jay Jay, baixista e fundador dos Da Weasel, é o timoneiro que aqui se assume como compositor de todas as canções (bom, na verdade, não é assim tão inédito vê-lo agora a fazer rock, ouça-se o que fez nos primeiros trabalhos dos Da Weasel ou até a banda anterior a isso, Braindead).

É talvez por esta confluência que isto soa tão bem. Não chegam cá pelo caminho mais óbvio mas com este álbum, os Lefty inscrevem-se com firmeza no panorama rock’n’roll português. Ainda há alguns pecados pop (uns trinados ocasionais, uns esganiçados no fim das frases) que poderão ser limados, mas dificilmente os Lefty se vão desviar do trilho que os vai levar ao topo.


O Virtuosismo Lírico de Noname em “Room 25”

 Nos últimos anos, o Hip Hop vem apresentando um fenômeno interessantíssimo. As mulheres estão chegando com tudo, despejando rimas provocadoras num lugar de fala um tanto incomum para um estilo que foi, por tanto tempo, predominantemente masculino. Inspirado nessa necessária revolução, a protagonista de nosso “Na Primeira Prateleira” é a espetacular Noname e seu disco que é um dos melhores que ouvi nos últimos tempos, “Room 25” (2018).

A rapper de Chicago vem fazendo barulho na cena desde sua Mixtape “Telefone” (2016), e em seu primeiro disco, ela já entrega uma obra espetacular. Com um som Jazz-Rap extremamente sofisticado e orgânico, que pega muito do Neo-Soul de Erykah Badu, ela entrega com uma maestria técnica impressionante seus versos que retratam a vida de uma mulher negra nos EUA, de forma absurdamente ácida e bem-humorada.

A surra verbal empoderada em cima dos ritmos sincopados de “Self”, a negação dos estereótipos negros de “Blaxploitation”, ou os paralelos entre o sexo e a atual situação política Americana em “Prayer Song”, praticamente um dueto entre voz e bateria, mostram uma MC confiante, solta, e com um domínio da palavra que poucos sequer sonham em atingir.

As colaborações também caem como uma luva. A voz angelical de Ravyn Lenae aparece na espécie de bossa nova contemporânea de “Montego Bae”, enquanto os MCs Smino e Saba entregam versos pegajosos em “Ace”. Ao final, temos o momento mais emocionante do disco, em “no name”, com os vocais de Adam Ness colorindo os belíssimos arranjos de cordas. Num estalo, o disco, em seus 34 minutos, já acabou, deixando um gosto agridoce.

Já foi anunciado, para esse ano, o próximo álbum de Noname, chamado “Factory Baby”. Mas, enquanto ele ainda não está na praça, nada melhor do que ouvir uma das grandes obras do Hip Hop contemporâneo!



Joey Bada$$ Luta Pelo Futuro de Seu Povo em “ALL-AMERIKKKAN BADA$$”

Nesses tempos em que, já diria Mano Brown, “a fúria negra ressuscita outra vez”, nada mais apropriado do que falar sobre o Hip Hop, que há tempos assumiu o posto da música jovem e de protesto. Da nova leva de MC’s, um dos que mais me chamou a atenção nos últimos anos foi Joey Bada$$. O Nova-Iorquino vem dropando Mixtapes desde o início da última década, mas seu segundo disco “ALL-AMERIKKKAN BADA$$” (2017) atinge a maturidade absoluta, com uma visão mordaz da sociedade americana que o colocou na linha de frente da luta de seu povo, com a agressividade e urgência necessária nesses tempos.

A produção, capitaneada por DJ Khalil, traz com maestria um misto entre as paisagens sonoras Jazz-Rap e a agressividade de um Hip Hop agressivo, moderno. Assim, o tom completamente politizado do álbum não soa como uma pregação sobre um fundo insosso, com a mensagem ganhando ainda mais força com a sonoridade.

Liricamente, Joey não poupa versos, e nem alvos. Dos estereótipos negros, encarceramento em massa, brutalidade policial, racismo institucional, tudo o que o povo de pele preta é obrigado a enfrentar diariamente na impiedosa “AmeriKKKa”. Essa força da mensagem soa mais impactante do que nunca em porradas como “LAND OF THE FREE” (com uma vibe um tanto Biggie Smalls), o lamento avassalador de “Y U DON’T LOVE ME? (MISS AMERIKKKA)” ou no groove insano à la Wu-Tang de “ROCKABYE BABY” (com ScHoolboy Q), que entrega um memorável e sonoro “FUCK DONALD TRUMP!”

Mas, apesar de toda a amargura, que corre em nossa veia de forma hereditária há milhares de anos, o álbum ainda deixa um toque otimista. Seja no refrão de pura união em “FOR MY PEOPLE”, “TEMPTATION” ou o sopro final de “AMERIKKAN IDOL”, encerrando essa obra que, 3 anos depois, ainda é a trilha-sonora de nossos tempos. Mais do que nunca, “ALL-AMERIKKKAN BADA$$” me acende a chama da luta pela justiça, e por nosso povo!


 

NO BAIRRO DO VINNIL

 Jorge Pina e Gervásio Pina

Existe actualmente um agrupamento musical denominado “Pina Trio”, composto por três músicos experientes e com créditos já firmados na música portuguesa, do qual fazem parte os irmãos Gervásio e Jorge Pina e ainda Abílio Marques, os quais tocam essencialmente em bares, cafés-teatro e pequenas salas de espectáculo, com um reportório composto, sobretudo, por versões de temas pop rock. Partilham todos de uma mesma paixão: o rock & roll e suas derivações. Não admira, portanto, que Jorge Pina e Gervásio Pina, tenham sido também levados pela torrente do boom do rock português e, consequentemente se tenham aventurado pelos seus meandros. Estávamos de facto, em 1979, meses antes de “Ar de rock” de Rui Veloso e já os irmãos Pina tinham larga experiência no meio musical, pertencendo ao grupo “Vector”. Mais tarde, uma nova formação sob a égide de Gervásio Pina foi formada, denominada Malaposta, inserida no corrente de rock dos anos 80, cuja vida discográfica foi efémera, uma vez que se quedaram apenas pelo lançamento de um single, antes da falência da editora que os apoiara de início.
É o próprio testemunho de um dos elementos da formação da banda que nos relata essa efémera experiência “Os Malaposta surgiram na altura do chamado boom do rock Português, mas não num contexto de aproveitamento da onda do momento... Com efeito, já trabalhávamos juntos há alguns anos, procurando encaixar temas originais ente os covers que tínhamos que tocar nas festas de finalistas por todo o Norte do país.O boom serviu apenas para que um grupo de província pudesse mostar aquilo que fazia... Eram outros tempos, em que Lamego e Lisboa estavam separados por mais de 5 horas distribuídas por 400 longos kms de estradas perigosas e cheias de tráfego, em que não havia net, nem computadores, nem telemóveis, e em que a interioridade era uma triste realidade...E foi essa interioridade que, aliada à falência da editora que nos apoiou de início, acabou por definir precocemente o fim de uma banda que tinha algum talento e originalidade.” (Testemunho de Gervásio Pina, retirado do blogue “rockemportugal.blogspot.com”)


Facto menos conhecido, porém, foi que, paralelamente ao projecto Vector, os irmãos Pina, concorreram ao 1.º Festival da Canção de Lamego com duas canções, “Canção de Estrilhar” e Invasão”, classificando-se, respectivamente, em 2.º e 4.º lugar. Tais canções deram origem a um interessante single, que recuperamos hoje da obscuridade. Recorrendo a um soft rock de escárnio e de maldizer Gervásio Pina com “Canção de Estrilhar” transporta o ouvinte ao imaginário bem real do mundo das aparências, das senhoras bem vestidas e do “corte e costura” dos encontros sociais, enquanto que o lado B do single já Jorge Pina canta a preocupação deste duo pela realidade da cidade e a destruição da humanidade pelos tempos modernos.
Grande parte da informação recolhida sobre esta formação foi retirado do site oficial do Pina Trio (pinatrio.douronet.com) sendo da nossa parte totalmente desconhecido quais os outros elementos que participaram na gravação destes dois temas, cujos excertos partilhamos hoje com os nossos leitores.

Clique no Play para ouvir um excerto do disco

Lado A -Canção de Estrilhar (Gervásio A. Pina)
Lado B -Invasão (João Simões)
Percatex SIN -08
Ano: 1979

Spark: Sudha Ketherpal transforma música em energia elétrica

Spark: Sudha Ketherpal transforma música em energia elétrica

Voltando atrás no tempo, perguntamos-lhe: lembra-se dos Faithless? Na década de 90, a banda destacou-se pelas atuações ao vivo, merecendo largos elogios pelas performances e arrecadando uma base de fãs enorme em todo o mundo.

A boa notícia é que o grupo regressa, em 2015, para celebrar o seu 20.º aniversário. Mas não é da reunião que vamos falar neste post. Em vez disso, decidimos escrever sobre o Spark, um projeto da autoria da percussionista da banda, que acredita no poder da música como instrumento para iluminar lugares onde a energia ainda não chega, em países como o Quénia.

Depois de vários anos de performances ao lado de nomes como as Spice GirlsKylie MinogueDido ou Ian Brown (dos Stones Roses), Sudha Ketherpal achou que precisava de fazer mais do que tocar para espalhar aquilo que considerava ser a essência da música. Por “essência da música” entenda-se a capacidade de ligar pessoas e aproximá-las, e não a parte técnica da coisa.

Foi desta necessidade que surgiu a “faísca” necessária para criar um novo projeto. A inspiração usada remontava a um episódio caricato que experienciou na altura em que tocava com os Faithless. Durante um concerto nos finais dos anos 90, a quantidade de fãs a saltar e a dançar ao mesmo tempo foi de tal forma grande que causou um pequeno terramoto quantificável na escala de Richter. Por outras palavras, podemos dizer que o poder da música literalmente abanou o planeta.

Mas, e se pegássemos na quantidade de energia usada para causar o terramoto e a convertêssemos em eletricidade? Foi precisamente esta a ideia de Sudha Ketherpal. E assim nasceu o Spark: um pequeno instrumento de percussão que cabe na palma da mão e que utiliza o movimento para produzir a quantidade de energia necessária para carregar um telemóvel ou acender uma lâmpada.

O projeto ainda está em desenvolvimento: por enquanto, bastam 11 minutos para que o Spark consiga carregar 1 hora de bateria de um telemóvel. O projeto tem sido financiado através de plataformas de crowdfunding, como o Kickstarter: o objetivo inicial de £50,000 já foi atingindo, mas é possível continuar ajudar. Para isso basta clicar aqui.

Shake Your Power” (que em português seria qualquer coisa como “abana a tua energia”) é o slogan do projeto, cujo objetivo principal é contribuir para a redução da pobreza ao apostar no desenvolvimento das áreas rurais dos países em desenvolvimento.

O segredo para o sucesso está na forma fácil e divertida com que qualquer um pode usar o Spark: pais e filhos podem simplesmente divertir-se a tocar um instrumento e, ao fazê-lo, estarão a criar energia para usar mais tarde.

A energia produzida é 100% não poluente e, mais importante do que isso, criada a partir de momentos felizes. Além de dar luz às áreas rurais, o Spark contribui para a construção do sentido de comunidade, cativando as crianças para a música e permitindo que estas se divirtam.

O impacto do Spark nas áreas rurais do Quénia

Apesar de esta poder parecer uma conclusão lógica, a verdade é que Sudha Ketherpal não sabia exatamente qual seriam as reações ao Spark junto dos que vivem nas zonas rurais. Foi por isso que resolveu testar. Juntamente com uma pequena equipa, viajou para a zona oeste do Quénia para distribuir o Spark.

Embora continue a ser um país pobre, o Quénia tem evoluído bastante graças ao desenvolvimento das telecomunicações e à introdução dos telemóveis – agora usados para aceder a serviços que até então não estavam disponíveis.

Apesar dos muitos utilizadores deste tipo de aparelhos, cerca de 72% da população queniana ainda não tem acesso à rede elétrica. Os restantes 28%, que teoricamente conseguiram usar facilmente a energia, queixam-se de que a rede não funciona como devia.

   

Para quem não sabe, a zona oeste do Quénia é muito chuvosa, por isso é comum que por volta das 16 horas já seja noite. A ausência de luz faz com que o horário escolar seja afetado: tarefas simples como fazer o trabalho de casa ou estudar podem ser verdadeiramente difíceis. Posto isto, se considerarmos a educação como um dos pilares da economia, é fácil perceber a dimensão deste problema.

Aprender a trabalhar com o Spark

Os Educational Assembly Kits servem para cumprir o objetivo educacional do Spark. A ideia é que estes kits sejam distribuídos pelas escolas e cabe ao professor ensinar as crianças como montar o seu próprio instrumento de precursão.

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Por outras palavras, não basta entregar o objeto em mãos, é preciso cultivar a curiosidade: o Spark pode mesmo ser introduzido nas aulas de música, passar para as aulas de ciências quando falamos do ambiente e ser montado numa aula de engenharia ou trabalhos manuais.

Mas como será que este curioso objeto funciona? De forma simples, o shaker de precursão possui é composto por um íman e uma bateria recarregável.

Quando abanamos, o íman passa por uma espécie de bobina de cobre. O movimento é depois convertido em eletricidade que será armazenada no interior da bateria.

De 2015 a 2018, os Educational Assembly Kits vão ser testados nas escolas do Reino Unido. Posteriormente, mediante os resultados obtidos, serão melhorados e enviados para outros países.

Qual é o próximo passo para o Spark?

Depois do sucesso alcançado no Quénia, o objetivo é que a iniciativa “Shake Your Power” seja levada para outros países, principalmente do continente africano. Países como a Índia, de onde Sudha Ketherpal é natural, também fazem parte dos planos do projeto.

Segundo a percussionista, distribuir os Sparks é só uma parte do seu trabalho. A outra é cativar a atenção das pessoas para questões que dizem respeito ao meio ambiente. Nesta difícil tarefa, a música desempenha um papel fundamental. Porquê? Porque não estamos a falar de gráficos nem da instalação de um painel solar. Em vez disso, falamos de música, algo de que toda a gente gosta.

O projeto Shake Your Power deve o seu sucesso também à atenção mediática. Entre os artistas que apoiaram publicamente o projeto encontram-se Melanie C das Spice GirlsMaxi Jazz dos Faithless, e Maya Jane Coles.

 

Bandas Raras de um só Disco

 

Coldwater Army - Peace (1971)


Banda rara e não se encontra muitas informações sobre a mesma.

O som da banda é uma mistura de blues, country, soul, funk e rock psicodélico, acompanhado um ótimo instrumental. 

Nas músicas é possível ouvir passagens que fazem associar o grupo a Point Blank, Birtha, Vanilla Fudge, Crow, Bloodrock, Lynnyrd Skynnyrd e Billy Preston. 

Vocais rasgados, guitarra bem distorcida, baixo com graves ressaltados e teclados cobrindo o lance todo, além de pequenas intervenções de naipes de metais e saxofone.

01. Just Can't See You Anymore
02. Away
03. Dreams
04. To Pamela
05. Hey, People
06. Today, Tomorrow, Yesterday
07. Smiling Faces
08. By Your Side
09. Time Is Lost
10. In Thought
11. Get It Together
12. Time For Reason


Destaque

Burt Bacharach & Elvis Costello - "Painted From Memory" (1998)

  “Burt é um gênio. Ele é um compositor de verdade, no sentido tradicional da palavra; em sua música você pode ouvir a linguagem musical, a ...