quinta-feira, 2 de março de 2023

Resenha Pale Communion Álbum de Opeth 2014

 

Resenha

Pale Communion

Álbum de Opeth

2014

CD/LP

Dentro da nova abordagem que a banda decidiu seguir a partir de Heritage, sem dúvida alguma, é onde eles mostraram seu maior potencial

Dentro da nova proposta musical do Opeth, Pale Communion certamente foi um longo passo adiante. Se alguma coisa mudou desde 2011, é que o Opeth se tornou confiante o suficiente neste novo estilo para finalmente abrir suas asas e escrever composições encorpadas sobre as ideias individualmente atraentes que pontilhavam Heritage. O que isso quer dizer? Que a banda estava soando com uma melhor capacidade para agradar aqueles que se desapontaram com a música entregue em seu disco anterior. De certa forma, Pale Communion mostra que a antipatia por Heritage tinha menos a ver com o estilo em si e mais com uma espécie de falta de coerência e convicção em relação ao que a banda estava fazendo. Obviamente, falo isso em caráter pessoal e baseado em muitos comentários de quem não gostou de Heritage – o que não foi o meu caso.  

Se tem algo que eu considero uma das maiores virtudes de Heritage, é o seu senso no geral de surpresa e estranheza, sendo que a banda conseguiu consolidar isso em Pale Communion, enrijecendo-a com as virtudes e formas sólidas com que as composições são entregues. É possível perceber uma grande quantidade de atmosferas de rock progressivo clássico que vão desde o King Crimson, passando pelo Jethro Tull ainda que em menor escala e chegam até o rock progressivo italiano, porém, dentro de uma energia única que por vezes acaba superando o que podemos associar com a cena progressiva retrógada.  

Produzido por MIkael e mixado por Steven Wilson, acaba não sendo nada surpreendente que o disco entregue uma sonoridade fina, detalhada e visceral que combina perfeitamente com a música abordada pela banda. A classe da musicalidade é excelente e as performances instrumentais são orgânicas e compactas, enquanto o vocal de Mikael são distintos e entregues com convicção. Um outro ótimo recurso encontrado na música de Pale Communion são os vocais de apoio e as suas harmonias.  

“Eternal Rains Will Come” começa o disco por meio de uma sonoridade bastante complexa executada em uma excelente união entre teclado, bateria e guitarra. Então que a peça se acalma por alguns instantes antes de regressar ao ritmo mais intrincado. Os vocais são ótimos, sendo bastante cativantes e bem-organizados. Em sua melodia principal, também há um uso massivo de mellotron - algo que é muito bom. Na sua parte final a banda entrega uma instrumental bastante intensa. “Cusp Of Eternity” foi o single do álbum, então temos aqui uma música fácil de digerir. Possui um ritmo constante e inquieto, soando como um heavy metal mais clássico e direto, apesar, por exemplo, da influência fusion da guitarra em alguns pontos – solo principalmente. A seção rítmica é brilhante e novamente o uso de mellotron soa esplendoroso.  

“Moon Above, Sun Below”, com quase 11 minutos é a faixa mais longa e diversa do disco – incluindo os vocais de Mikael que soam bem diversificado durante toda a peça. Logo nos seus primeiros segundos é possível perceber um grande aceno ao som do Riverside. É cheia de voltas e reviravoltas silenciosas como é de se esperar de uma peça desse tamanho. O solo de guitarra por volta de 4:20 mostra o quanto Fredrik Akesson é um músico excelente e que apesar de ser considerado um guitarrista de metal, possui uma grande influência no jazz fusion, como, por exemplo, em Allan Holdsworth. Seção rítmica sólida, guitarras muito bem desenvolvidas e até alguns ataques mais densos de um teclado sinfônico, tudo sempre muito bem equilibrado e coeso. Belíssima peça.  

“Elysian Woes”, logo no começo é possível perceber uma vibe bastante forte da música encontrada em Damnation. A riqueza dos violões é de uma elegância tão grande que é possível lembrar do Genesis – tanto com Phillips quanto com Hackett. A seção rítmica é melodiosa e o uso de mellotron é muito refinado. Os vocais de Mikael transmitem melancolia e dor, completando a construção de uma música de beleza ímpar. “Goblin” não possui esse nome por acaso, pois é uma homenagem a banda italiana de rock progressivo. Inclusive, nem parece ser uma peça do Opeth, soando muito mais como uma banda de jazz fusion dos anos 70. Uma jam instrumental que ressalta os talentos musicais de todos da banda, mas eu destaco principalmente o trabalho das teclas, como o piano elétrico e órgão. Sem dúvida a música de maior essência progressiva do disco.  

“River”, lembro quando ouvi essa música pela primeira vez, ela me fez associar algo que jamais imaginaria, a The Allman Brothers Band em uma peça do Opeth, mas sim, a sua veia country faz com que a banda dos irmãos Allman venha em mente. Porém, também lembra algo que o Steven Wilson criaria. Positiva e otimista, soa muito diferente do que esperamos de uma música do Opeth. Excelentes órgãos e mellotron, belos licks de guitarra, linhas sólidas de baixo e uma bateria que embora não brilhe, entrega exatamente o que a música pede. Em determinado momento, a música entrega uma atmosfera mais obscura, talvez unicamente para não esquecermos que estamos diante de uma peça do Opeth.  

“Voice Of Treason” possui uma agressividade já conhecida da banda, porém, sem o uso dos vocais de death metal – o que acaba não soando muito bem. Mas mesmo assim, ainda há bons atrativos, como, por exemplo, uma seção rítmica que é bastante dinâmica, principalmente a bateria que consegue soar simples mesmo dentro de uma sonoridade complexa. Os vocais por vezes dolorosos de Mikael, também merecem elogios. Mas no geral, se for pra escolher a peça menos interessante do disco, fico com essa. “Faith In Others” é a última peça do disco e que o finaliza de maneira grandiosa. Mellotron espacial, vocais dolorosamente lindos e uma batida quase fúnebre, esses são apenas alguns dos ingredientes que fazem com que “Epitaph” do King Crimson – pra mim, uma das músicas mais belas existentes - venha em mente. Muito emocional, soa bastante diferente do que podemos esperar de uma composição do Opeth. O arranjo sinfônico que permeia basicamente toda a música e tocado pelo convidado Dave Stewart é simplesmente brilhante e sinistro em certos pontos. O disco não poderia chegar ao fim de maneira melhor.  

Tudo bem que Pale Communion jamais alcançará a aclamação de discos como Blackwater Park ou Still Life, mas dentro da nova abordagem que a banda decidiu seguir a partir de Heritage, sem dúvida algum é onde eles mostraram seu maior potencial. Enquanto Pale Communion certamente se aprofunda na cena do rock progressivo, hard rock e até no jazz fusion dos anos 70 em busca de inspiração e apresenta um som retrô, eles fazem isso de uma forma mais natural e bem-acabada do que em seu antecessor.  

Review: Cactus – Tightrope (2021)

 


Apesar de ser uma das pioneiras do hard rock, com álbuns fundamentais no currículo como a dobradinha Cactus (1970) e One Way ... or Another (1971) – para se ter ideia do impacto da banda, a Rolling Stone definiu os caras como “o Led Zeppelin norte-americano” -, o Cactus construiu uma carreira bissexta, com pouco álbuns lançados em mais de cinquenta anos na estrada. Muito disso se deve a Carmine Appice, baterista do grupo e um dos mais lendários nomes do instrumento, que fez parte de diversas formações lendárias como Beck Bogert & Appice, Blue Murder e dezenas de bandas, além de tocar com Rod Stewart por vários anos. O Cactus ficou sempre em segundo plano.

Desde meados da década de 2000, no entanto, Carmine retomou o grupo e desde então lançou três novos discos – Cactus V (2006), Black Dawn (2016) e Tightrope (2021). O mais recente trabalho do grupo foi lançado no Brasil em uma versão digipack, incluindo um pôster, pela Hellion Records.

Ao lado de Carmine Appice estão Jimmy Kunes (vocal, ex-Savoy Brown), Paul Warren (guitarra e piano, fez parte das bandas de Rod Stewart e Richard Marx e músico de estúdio da gravadora Motown por um longo período), Randy Pratt (harmônica) e Jimmy Caputo (baixo). Um time experiente, e que demonstra isso em Tightrope.

Produzido pela dupla Warren e Appice, o álbum surpreende pela alta qualidade apresentada. Suas dozes faixas são ótimas e trilham o caminho do classic rock e do blues rock, sempre com a bateria de Carmine e a voz de Kunes em destaque (aliás, que vocalista incrível!). A abertura com a ótima música que batiza o disco, a sensacional versão para a clássica “Papa Was a Rolling Stone” (primeira gravação de Warren como session man da Motown, na banda de apoio dos Temptations), o blues “Poison in Paradise”, “Shake That Thing” e outras grandes composições montam um tracklist pra lá de agradável e que faz de Tightrope um CD pra lá de recomendável.

Se você gosta de rock, tá aí um álbum que ficará muito bem na sua coleção.


“BLUES, BALLADS AND BEATS” MARCA O REGRESSO DE DUDA SPÍNOLA


 Duda Spínola é um cantor e guitarrista, com influências de blues e rock, e em carreira solo desde o ano de 2012. Os seus últimos lançamentos, em torno dos quais a sua carreira tem gravitado, foram o álbum “One Last Spark of Light” (2020), o EP “Event Horizon” (2022) e o novo álbum “Blues, Ballads and Beats” (2023), que acaba de ser lançado e está disponível em todas as plataformas de streaming.

Trata-se do trabalho mais experimental, no qual o artista mistura as suas já consolidadas influências de blues rock com beats eletrónicos e synths. O álbum tem 7 temas, um inédito intitulado “There it comes” que abre este novo trabalho, e outras releituras de temas já lançados anteriormente, mas que agora ganham nova sonoridade.

Este trabalho já conta também com um novo clipe, da canção “There It Comes”, disponível no YouTube…

quarta-feira, 1 de março de 2023

Ruben Claro

 

Entrevista

Ruben Claro

Um jovem grupo com influências de grunge/stoner, além de raízes no rock clássico dos anos 70 e da safra 90, esse é o BAD BONE BEAST. 

O grupo vem chamando a atenção da cena europeia com seu som cheio de energia e frescor. “Extravaganza” (2021), debut do trio, foi uma grande estreia de uma promissora banda.



Entre o EP "Water Into Wine" (2019) e o debut “Extravaganza” (2021) vocês conseguiram chamar a atenção da mídia, houve a saída do batera Felix Krüppel e pouco depois veio a pandemia. Como foi para vocês vivenciar esse curto, mas intenso, período? Boas Mário, sim, foi um período intenso com a saída do Felix. Mudanças destas nunca são fáceis, ainda por cima porque encontrar um baterista demorou muito. Felizmente foi uma separação que correu amigavelmente. Tivemos sorte porque o Klaas (novo baterista) estava à procura de um novo desafio. Algumas músicas já estavam 99% finalizadas e até já tínhamos tido oportunidade de as tocar ao vivo. Mas a maior parte do “Extravaganza” (2021) foi escrito em conjunto com o baterista novo. Em 2019 fomos tocar aos Países Baixos e na Franca com a atual formação e com bastante êxito. A partir daí, entramos em estúdio e gravámos o álbum no nosso estúdio/sala de ensaio. A pandemia obrigou tudo a parar: casas de shows fechadas, bandas em casa, lançamentos suspensos, mas parece que vocês fizeram um bom uso desse tempo ocioso. O disco foi todo composto durante essa pausa forçada? O disco foi escrito já durante a produção do “Water Into Wine” (2019). Precisávamos de mais músicas para tocar concertos de mais duração e assim as músicas que mais tarde apareceram no álbum, já foram escritas em 2019. A entrada do Klaas ofereceu-nos novas perspectivas e deu-nos novas forças. O Klaas é um baterista com excelentes dotes de composição. Mas claro, músico que não toca ao vivo tem que encontrar outra ocupação e no nosso caso foi escrever e gravar o (resto do) álbum. Falando em composição, como é o processo de vocês? Sendo um trio, preferem ir construindo as músicas juntos ou cada um vai pensando em algo e depois juntam tudo? A maior parte das vezes o nosso guitarrista Alex leva uma ideia gravada no seu celular e a gente trabalho nisso em conjunto. Também há vezes que as ideias já estão mais avançadas e outras em que eu tenho uma ideia no baixo ou até na guitarra. Acho mais fácil quando chego a sala de ensaios com a ideia já mais avançada, dependente da música a composição a três pode ser uma mais valia. No caso da (faixa) “Truth Or Dare”, foi a ideia do riff que eu tive a fazer teste de som nos ensaios e a música foi escrita quase toda num espaço de tempo de uma hora. Isso são momentos raros em que há uma certa magia que não se consegue explicar e que tudo encaixa bem e todos se entendem sem olhar um para o outro. Prefiro esses momentos. Quais foram as maiores diferenças entre gravar um EP e um disco cheio? A gravação de “Extravaganza” (2021) ficou muito boa, li no encarte que vocês praticamente assumiram a gravação e produção do disco. No nosso caso, o EP foi composto por músicas que o Alex e eu já tínhamos a vários tempos para lançar. Os main riffs (riffs principais) já existiam e o groove. Eu até já tinha textos quase completos e temas de letras que passavam bem com as músicas. Assim só tivemos de ensaiar com o baterista e entrar para o estúdio. O álbum já foi bem diferente. 70% foram escritas depois de lançar o EP (“Truth Or Dare”, “Me, U And I”, “Fade” já existiam) e gravamos na nossa sala de ensaio. A decisão foi fácil porque devido a ausência de concertos não tínhamos dinheiro para arrendar nem estúdio, nem técnicos. Como mudámos a pouco tempo para aquela sala de ensaio (antes era a sala do Klaas) e sentíamos uma atmosfera de inspiração, decidimos gravar lá. Serviu de refúgio e de laboratório. O Alex tem excelentes dotes de técnico de som e foi ele quem fez o pre-mix das gravações antes de serem finalizadas (main mix/mastering) pelo Chris Mock, técnico de som de vários grupos de nome. Para o próximo álbum, gostava de arrendar um estúdio e trabalhar com um produtor externo que possa trazer novas ideias.
Vocês escolheram uma data pouco comum para lançar um disco, bem na virada do ano - no caso, 31 de dezembro de 2021. Algum motivo especial nela? Queria ver o mundo completo celebrar a existência desse álbum ano após ano. E o lançamento do disco no Brasil, como tem sido a receptividade? Ele chegou a ser lançado em outros países da América Latina? Vi que houve boa receptividade na Europa. Parece-me que o Brasil até agora não esteve preparado para um grupo de rock vindo da Alemanha. Mas as respostas que chegaram até cá foram de muito entusiasmo. A família dos BAD BONE BEAST está a crescer cada vez mais e a alastrar-se pela Europa. A França já está intifada e partes da Alemanha também. Agora vamos procurando outros caminhos para levar a nossa música pela Europa fora. Foram lançados três vídeos para divulgar o disco. Vocês preferem se envolver diretamente na produção deles ou nessa parte preferem deixar com os diretores mesmo? Nestes três vídeos nós tivemos as ideias iniciais. Os diretores de vídeo gostam que a banda dê a primeira ideia e daí os diretores vão desenhando o resto da imagem. Um ponto que logo me cativou foram os vocais: marcantes, mas ainda assim com uma certa delicadeza, me lembrou em algumas passagens Chris Cornell (SOUNDGARDEN). Já houve algum tipo de comparação nesse sentido? Sim, a comparação ao Chris Cornell já foi feita algumas vezes e sempre me alegre. Mesmo assim, devido ao fantástico cantor que ele era, eu não gosto que me ponham ao mesmo nível dele. Ele é meu ídolo e estará sempre acima de mim. Na resenha que fiz do disco, senti que além da pegada forte de rock/hard rock, traços de grunge/stoner e de gente como BLACK CROWES, LYNYRD SKYNYRD, GRAND FUNK RAILROAD, ZZ TOP, e afins. O que vocês sempre estão ouvindo e o que podem indicar para nós? Nós partilhamos o mesmo gosto em música. Grunge/blues-rock/metal… Gosto de meter um CD dos ALICE IN CHAINS ou dos BLACK SABBATH ou até dos STONE TEMPLE PILOTS. Qual música eu quero ouvir depende da hora do dia, de como me sinto ou como me quero sentir. A música tem essa energia que depois passa para todos nós. Na época do natal, acordava e ouvia logo músicas de natal. Os clássicos. E muito Jazz. Para mim, o jazz faz parte do natal. Esses estilos de música e essa caraterística de aceitar música pela energia que ela traz ouve-se tudo também na nossa música. O que fazemos é o espelho daquilo que ouvimos. E a escolha em regravar "Old Man", música do NEIL YOUNG de 1972, como surgiu? Achei que ficou excelente a versão. Muito obrigado. Sim, eu também acho que a nossa versão ficou bem e que demos um tom mais moderno à versão original. A ideia de meter um cover foi do Alex. Eu até nem fui grande fã da ideia, mas, um dia, quando estava em casa do Alex, peguei na guitarra acústica dele e comecei a tocar o “Old Man”. Era uma das primeiras músicas que aprendi na guitarra, já que não toco á muito tempo. Ele estava noutro quarto e ouviu-me tocar. Veio logo a correr a perguntar o que estava a tocar e desde desse momento a questão de meter um cover no álbum estava resolvido. Em meados de 2021, entrevistei o Marcel 'Celli' Mönning, do grupo de rock/metal CROSSPLANE, e ele me disse que a cena alemã está bem variada e aberta ao rock e metal nas suas muitas vertentes. E ao estilo de som seus, como tem sido a aceitação? Temos tido experiências bastante positivas. Melhor do que pensávamos, já que o nosso estilo de rock tem lados virados um pouco para o soul, para o blues e para o grunge. Eu também não sou cantor típico do rock alemão, já que tenho sido inspirado muito mais pelo estilo americano e por estilos á parte do rock como o soul, o bossa nova, o R’n’B ou o grunge. Ok Ruben, muito obrigado por atender ao 80 Minutos, deixe uma mensagem para os nossos leitores e, quem sabe, um dia não veremos vocês por aqui no Brasil. Obrigado pelo vosso apoio. Ouçam o nosso novo disco e se tiverem perguntas entrem em contato conosco através do nosso site badbonebeast.com. Um grande abraço aos seguidores do 80 Minutos e da Whiplash. "Extravaganza" (2021) foi lançado no Brasil via Shinigami Records em parceria com Valhall Music/Drakkar Entertainment. Confira o vídeo para “Me, U And I”:

55 anos de “Axis: Bold as Love”: Mais uma obra de arte da The Jimi Hendrix Experience

Revolucionando a guitarra como um todo e a postura de um guitarrista num palco para sempre. Jimi Hendrix foi especialista no que se propôs a fazer e em pouquíssimos anos, deixou discos que são usados como referências até hoje no Rock N’ Roll. Hoje meu disco favorito dele, está completando 55 anos, o maravilhoso e psicodélico “Axis: Bold As Love”!

Jimi havia lançado apenas um disco de estúdio até então, o monumental ”Are You Experience” de 1967, o disco que mudou os rumos do Rock para sempre, já falamos bastante dele por aqui e tudo o que o cerca! E ainda em 1967 mais pro final do ano, mais precisamente há 55 anos anos atrás, a banda lança mais um disco, só que ainda mais alinhado com a sonoridade vigente na época, o “Axis: Bold As Love”, que vamos homenagear aqui hoje!

É correto falar que o disco anterior é mais voltado para o Blues Rock clássico dos anos 60, e já neste homenageado de hoje, Jimi, Noel e Mitch alianhar um pouco mais a sonoridade da banda com aquele Rock Psicodélico que estava muito em alta em 1967, também seria um disco menor e mais fechado, com faixas interligadas e um som um pouco mais ousado. A capa também é digna de nota, extremamente psicodélica e colorida, vale o destaque!

Sobre as músicas, eu gostaria de destacar algumas, como “Spanish Castle Magic”, com um riff de guitarra que tem a cara do Jimi, muito incônico e grandioso, gosto bastante da produção também. “Wait Until Tomorrow” conta com um grande trabalho de bateria de Mitch Mitchell e como um todo é uma grande composição. Agora preciso falar sobre “Little Wing”, uma composição que é quase perfeita, só não é pelo fato de ser extremamente curta, mas de restante, conta com um dos melhores solos de guitarra de todos os tempos, maravilhosa, grandiosa e linda, obra de arte. “If 6 Was 9”, uma pedrada sem precedentes, sem mais! Mais para o lado B, “Castles Made of Sand”, uma balada muito melódica que eu acredito ter influenciado muita banda posteriormente.

De considerações finais, “Axis: Bold as Love” é um disco que infelizmente eu sinto que é o menos badalado da carreira de Jimi Hendrix, e acredito que a galera poderia dar uma atenção maior para ele, que é um verdadeiro clássico, fantástico do início ao fim e possue composições únicas! Merece demais essa homenagem e recomendação nos 55 anos do seu lançamento!

 


25 anos de “Sobrevivendo no Inferno”: A obra prima dos Racionais MC’s.

 O maior grupo de Rap do Brasil, Racionais MC’s é um patrimônio nacional e tem como líder Mano Brown que é extremamente respeitável como músico e pensador, dignamente! Eles possuem uma discografia perfeita e agora comemoramos os 25 do disco que para mim é o melhor, o “Sobrevivendo no Inferno! Vamos trocar uma ideia sobre ele!


A importância dos Racionais para o rap brasileiro é imensurável! Eles atingiram o nível internacional de composição logo em seus primeiros trabalhos! Fundado em 1988, o grupo lançou poucos, porém perfeitos trabalhos! Até então em 1996, eles haviam registrado apenas 1 disco de de estúdio, o Raio X Brasil de 1993. E em 1997, mais precisamente há 25 anos, o grupo lançou o trabalho que provavelmente é o mais aclamado de sua discografia, o “Sobrevivendo no Inferno”!

Neste disco, temos um grupo desfrutando de um auge criativo e construindo um disco conceitual, onde ele aborda temas que remetem ao título, a dificuldade de ser negro e morar numa periferia no Brasil, desigualdade social e também abordam questionamentos e reflexões sobre a vida do crime. A religião e fé são pano de frente no disco, como podemos ver nas músicas e na icônica capa do disco que apresenta uma cruz e o versículo de Salmos 23:3!

Falando um pouco sobre os destaques do disco, eu gosto muito da abertura “Jorge da Capadócia”, grande cover de Jorge Ben Jor que chama muito atenção logo na abertura. “Capítulo 4, Versículo 3”, que é a prova como rap pode ser radiofônico, com uma letra forte e de respeito. Minha favorita do disco, sem dúvida é “To Ouvindo Alguém Me Chamar”, composição de mais de 11 minutos, uma música verdadeiramente GENIAL de Mano Brown, ela te hipnotiza facilmente e te faz experienciar um filme! O maior destaque do disco vai para “Diário de um detento” que muito provavelmente é o maior sucesso do disco! Que obra!

De considerações finais, “Sobrevivendo no Inferno”, foi uma enorme ponte para colocar o rap brasileiro na vitrine da indústria nacional e ainda voltou os olhos do mundo para causas sociais importantes. Além de ser uma verdadeira obra prima por si só, com músicas geniais, feitas com muita alma e qualidade! Com certeza é um privilégio poder recomendar e curtir este clássico nos 25 anos de seu lançamento!




Resenha Electric Cafe Álbum de Kraftwerk 1986

 

Resenha

Electric Cafe

Álbum de Kraftwerk

1986

CD/LP

Eu conheço este álbum do quarteto de Düsseldorf desde seu lançamento e sempre gostei dele, mas comparado com as obras posteriores, ele me traz uma inquietação compartilhada por muitos ouvintes da banda. Tecnicamente é estupendo: em sua produção foi usada a tecnologia mais avançada disponível, os temas das canções são interessantes, e a arte da capa e o videoclipe em CGI são icônicos. Então, por que muitos, incluindo os próprios criadores, sentem que algo deu errado?

Eu tinha minhas próprias teorias sobre o assunto; a confirmação definitiva veio na autobiografia de Karl Bartos, "The Sound of the Machine", lançada em julho de 2022. Karl foi para o Kraftwerk um equivalente de George Harrison para os Beatles: um gênio musical que durante anos fora mantido injustamente em segundo plano pelos dois membros fundadores, Ralf Hütter e Florian Schneider. Karl saiu porque a produção da banda havia estagnado e, na opinião dele, isso ocorreu por eles terem perdido sua coesão de propósito artístico. O álbum "Techno Pop / Electric Café" é o documento audível dessa crise.

Tudo começou no final de 1981, quando o Kraftwerk era uma das bandas mais consagradas do planeta após o lançamento de sua indisputada obra-prima "Computer World". A atmosfera no Estúdio Kling Klang era propícia para eles soltarem mais um álbum campeão. Entretanto, as mudanças drásticas que aconteciam então na tecnologia musical - samplers, sintetizadores digitais e a coordenação dos instrumentos via MIDI - significavam que eles teriam que se superar para seguirem sendo reconhecidos como inovadores frente a uma multidão de outros artistas munidos com as mesmas tecnologias. Isso gerou uma distração terrível para a banda, porque causou uma sucessão infinita de reformas no instrumental e sessões de remixes intermináveis. A composição de novas canções ficou para escanteio. 

Em vez de tocar material novo ao vivo e sentir no palco a sua aceitação ou não pelos ouvintes, o grupo passou a mandar mixtapes para a pista de dança. Isso gerou um contexto competitivo que não ajudava em nada na moral dos músicos. Eles acabaram dominados pelo terror de ficarem obsoletos musicalmente. O principal membro, Hütter, recorreu a longuíssimos passeios de bicicleta como forma de escapismo. O segundo mais importante, Schneider, mergulhou numa pesquisa científica de vozes sintetizadas e largou todo o resto. O quarto membro, Wolfgang Flür, passou seus últimos anos na banda montando consoles e outros móveis para o estúdio em vez de tocar qualquer instrumento.

Inicialmente, tudo parecia bem: o single "Tour de France", que seria o precursor do LP, era inovador com seus samples e timbres orquestrais, e também foi um sucesso nas pistas. A ideia original era estender o tema do ciclismo à capa do álbum. Mas as outras composições não se relacionavam com esse tema. Duas delas, "The Telephone Call" e "Sex Object", traziam grande contribuição de Bartos, o número três do grupo. A suíte "Boing Boom Tschak - Techno Pop - Musique Non Stop" era também uma obra autônoma. Efetivamente, o álbum começara a ser produzido com o nome de "Techno Pop" - restaurado em anos recentes - e foi renomeado para "Electric Café" em referência a uma música descartável que foi incluída na última hora. E, pecado dos pecados, não incluiu "Tour de France".

O álbum acabou sendo inteiramente regravado pelo menos duas vezes e remixado incessantemente de 1983 a 1986. Três anos e uma fortuna foram gastos mexendo e remexendo num núcleo de apenas quatro músicas, sem os criadores jamais ficarem satisfeitos ou seguros com o resultado. Para Karl, aquele novo som era muito ligado ao seu próprio momento, diferentemente de algumas composições anteriores do Kraftwerk, como "The Man-Machine" e "Computer World", que nunca envelheceram porque transcenderam suas épocas - e é essa a qualidade que define uma verdadeira obra de arte.

O álbum acabou sendo lançado por pura força do cansaço. A arte digital de Rebecca Allen, que era a crista da onda da vanguarda em 1983, já parecia datada quando finalmente veio a público em 1986. Os arranjos fortemente percussivos são impactantes e nítidos, de uma maneira nunca ouvida antes com o Kraftwerk, mas aquele calor das melodias simpáticas em teclados analógicos tinha dado espaço a uma sisuda orquestra digitalizada que destoava da brincadeira alegre que o grupo fazia sempre com os timbres na fase analógica. 

Em resumo, de tanto medo que teve o Kraftwerk de se tornar apenas mais uma banda pop eletrônica no meio de tantas outras na década de 1980, foi exatamente isso o que aconteceu. O disco seguinte, "The Mix", serviu como uma manifestação de conformismo do grupo com seu novo status, mais comercial e menos ambicioso. E, para o bem e para o mal, foi um sucesso de vendas. O grupo desacelerou totalmente dali em diante, ocupando-se muito mais de manter o seu acervo em dia do que em criar novidades, mas Flür e Bartos reencontraram suas personalidades musicais em carreiras solo e seguiram produzindo. Mas aí já é história para outras resenhas.

Destaque

Frank Zappa - 1988 "You Can't Do That On Stage Anymore Vol. 1"

  You Can't Do That on Stage Anymore, Vol. 1 é um álbum duplo ao vivo de Frank Zappa. Foi lançado em 1988 (veja 1988 na música) sob o se...