sábado, 1 de abril de 2023

Disco imortal: Iron Maiden – Piece of Mind (1983)

 

Álbum imortal: Iron Maiden – Piece of Mind (1983)

Registros da EMI, 1983

Na época em que o Iron Maiden gravou  Piece of Mind,   eles já haviam se tornado uma pequena multinacional com peças muito bem oleadas, a saber: gravadora EMI, empresário Rod Smallwood, Harris acostumado a fazer turnês, ensaiar, gravar e promover, Clive Burr que não conseguia resistiu ao ataque, mas o incrível Nico McBrain resistiu, que veio com todo o ímpeto do mundo para conquistar seu lugar. Dickinson já está em situação de adoração pelos fãs e absoluta aceitação pela crítica. A máquina do Maiden funcionou maravilhosamente bem, mas você tinha que ouvir esse disco lançado em maio de 1983.

E é preciso dizer que este álbum é um presente ao nível da produção (talvez o melhor de Martin Birch para os britânicos). O resultado é um som grandioso, daqueles que se consegue depois de muitas sessões de estúdio, com uma capa de luxo que permanece até hoje imortalizada em milhões de camisetas ao redor do mundo e entre pessoas de todas as idades. Porque Piece of Mind é um daqueles discos que envelhece com o seu fã, tendo um sabor melhor a cada ano.

O que a música diz? O álbum abre com a forte e complexa “Where Eagles Dare”; riff staccato, desde a primeira batida da baqueta percebe-se que Nicko McBrain é tão forte quanto Clive Burr e, talvez, mais enérgico como baterista, pois o som que consegue é de outra galáxia. Um excelente tema, com uma percussão muito difícil e muito técnica. Parece incrível que esse cara jogue nessa velocidade. Magistral em todo o seu desenvolvimento e fundamental na discografia da banda. O protagonismo das guitarras fica evidente em “Revelations”, que mostra de forma épica belos momentos líricos através de alguns memoráveis ​​riffs de metal, passando intensamente da calmaria à tempestade.

A sua estrutura desenvolve-se e cresce até mostrar os melhores elementos da banda; O baixo de Harris soa como ferro, indestrutível, enquanto as guitarras de Murray e Smith transportam você para um imaginário que combina perfeitamente com as letras de Dickinson; Destaco mais uma vez o trabalho de Harris. Uma joia que você gosta cada vez mais a cada vez que a ouve. "Flight of Icarus" atinge o status de clássico graças a um refrão glorioso. O tema foi composto por Bruce Dickinson e Adrian Smith e eles devem ser recompensados ​​como um time, pois retrataram muito bem o mito grego de Ícaro e suas asas de cera derretidas pelo sol. Um ótimo riff e boas guitarras de Smith e Murray dando sustentação e estrutura. «Die With Your Boots On» tem um desenvolvimento elaborado, muito elegante, dando um ar fresco à estrutura do álbum. É o elemento rocker menos complexo, mas muito bom; soberbo Harris e seu baixo, que diferença faz um bom baixista! Mude completamente a “cor” de um álbum.

E chegamos ao momento icônico deste disco colossal. E sim, posso ficar desequilibrado quando me pedem para falar de "The Trooper", porque há canções que entram no coração e se transformam em melodias capazes de te tirar da letargia, fechar os olhos e te transportar para um lugar que é só seu e até te tiram de um momento ruim. É o riff? A voz intensa de Bruce? A batalha que é contada? Talvez, só sei que depois de ouvi-la centenas de vezes, acho que é o clímax do álbum. Uma das melhores canções da história do metal, reconhecida por seu riff de metralhadora e sua cavalgada de baixo que simula o galope de guerreiros. Obra-prima cortesia de Steve Harris, assumindo um dos melhores solos já criados, experimente fechando os olhos.

Depois de sair da aventura, “Still Life” entra em desvantagem e acho que é uma peça desvalorizada; contém uma introdução misteriosa que inicia um tema bastante cativante. "Quest for Fire" é uma fiel demonstração da fabulosa extensão vocal de Bruce Dickinson, enquanto "Sun and Steel", uma joia do rock melódico, injustamente considerada filler, é uma música bem composta, correta, com um ritmo galopante, muito no estilo de "The Trooper", mas sem seu gênio. O final épico vem com "To Tame a Land", que mostra a direção que a banda tomaria em álbuns futuros; começa com muito cuidado até atingir sua monumental harmonia de violão, um dos pontos altos da genialidade composicional. É um toque final, uma boa música com um toque oriental que a torna um duce diferente, com passagens complexas muito interessantes.

Embora «The Trooper», «Sun and Steel» ou «Still Life» pudessem ter sido perfeitamente tirados de «The Number of the Beast», em «Fight of Icarus», «Revelations» ou «To Tame a Land» aprecia-se claramente um redirecionamento de seu metal clássico, uma evolução que se tornaria mais evidente a cada álbum subsequente. Mas Piece of Mind é um tijolo de ouro dentro dessa grande pirâmide que é o Iron Maiden e nenhum metaleiro que se preze pode ignorar seu virtuosismo. Na Inglaterra, o álbum alcançou o número 3 e disco de platina, enquanto nos Estados Unidos alcançou o número 14 na Billboard, alcançando disco de platina e ouro.

Piece of Mind  colocou o Iron Maiden nos altares do rock dos anos 80 e abriu seu caminho sólido para se tornar uma das bandas mais aclamadas da história. Não é por acaso, é absolutamente merecido. Ouvir  Piece of Mind  trinta anos depois é a prova cabal de um estilo que não envelhece, ainda que os seus guerreiros o façam e vivam atualmente com o marketing e o dinheiro que tanto se falou em discos como este. Este exemplar de coleccionador é riquíssimo a nível técnico e compositivo, obra fundamental na sua década e de grande importância para todas as bandas que viriam a seguir e, para o sempre presente fã, prova de que o metal continua vivo neste álbum em muito puro.

Disco Imortal: Rage Against the Machine – Evil Empire (1996)


Disco Imortal: Rage Against the Machine – Evil Empire (1996)

Registros épicos, 1996

O discurso político sempre foi uma faca de dois gumes para muitos artistas, mas para alguns é apenas um mero oportunismo para aumentar suas vendas e popularidade. Por outro lado, para a RATM significou sua essência, sua medula e burro de carga para expor uma narrativa afiada em um mundo que passava por transformações no nível governamental e conflitos naquela década. Em nossa região – estamos falando da América Latina – havia uma tensão avassaladora com a guerra no Alto Cenepa entre Peru e Equador, e na Europa os últimos acontecimentos das guerras iugoslavas na Bósnia e Herzegovina estavam sendo brandidos.

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Tudo isso, e destacando os movimentos guerrilheiros no México que buscavam uma democracia participativa e anticapitalista, foram a dinamite que explodiu este disco que foi lançado em 16 de abril de 1996 e que teve a própria banda como produtora. O prenúncio deste álbum era incerto, mas suas letras estavam aptas a chamar a atenção para os diferentes atores no poder. Este disco tinha como nome uma frase de Ronald Reagan contra a URSS: "Evil Empire". Um título direto e aberto, mas que contém uma declaração de guerra contra a elite política norte-americana, pois para os mesmos membros do grupo o verdadeiro “império do mal” é o seu país.

A música que abre o fogo de artifício é "Povo do Sol", dedicada ao movimento zapatista mexicano e na qual o vocalista se baseou após uma visita que fez ao estado de Chiapas. Outros especialistas apontam que esta versão contém declarações sobre os distúrbios ocorridos na Segunda Guerra Mundial entre jovens americanos-mexicanos e soldados que estavam estacionados na cidade de Los Angeles.

"Bulls on Parade" é uma daquelas canções explosivas tidas como um hino de luta, mas que, ao mesmo tempo, te faz reconsiderar o percebido status quo . A faixa foi o sexto single dos americanos e faz referência à indústria bélica. Frases como “armas não são comida” são uma alegoria para sua história, que teve uma estreia bastante polêmica no Saturday Night Live em 1996, quando os artistas penduraram bandeiras americanas de cabeça para baixo e foram expulsos do local, onde planejavam tocar algumas músicas mais músicas

Rage Against the Machine - Bulls on Parade (SNL 1996)

De la Rocha sempre foi um daqueles vocalistas que são radicais em suas crenças e denotam a intransigência que deve ser demonstrada perante os poderes constituídos, pois, para ele, são a única razão, junto com a educação, a arma para construir uma sociedade onde as políticas das elites desaparecem e a equidade econômica se torna uma realidade. A influência que este álbum contém é variada no que diz respeito ao seu som, já que Led Zeppelin, Fugazi ou Cypress Hill foram, juntamente com o funk, a descrição da sua ressonância e isso é exemplificado em todas as suas canções através dos riffs de Tom. Morello.

Vietnã

"Vietnow" está no comando através de uma exposição detalhada do que são as estações de rádio de direita nos Estados Unidos e referências ao cristianismo através de frases tão provocativas como "todo o mundo é cadeias   e igrejas?" (São todas as prisões e igrejas do mundo?), "listas de anjos maus" ou "despidos e abençoados pelo senhor" (despidos e abençoados pelo Senhor) . A capa do single é a fotografia de uma mulher carregando um rádio no Deserto de Sonora que se divide entre Califórnia, Arizona e o estado de Sonora. A obra intitulada “mulher anjo” é da artista mexicana e vencedora do prêmio Hasselblad, Graciela Iturbide, reconhecida mundialmente por seu trabalho documental com indígenas.

Fotografia original de Graciela Iturbide intitulada “Mulher Anjo”.

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“Down Rodeo” é um nome paródico para o exclusivo bairro Rodeo Drive em Beverly Hills e é conhecido por ostentar entre suas lojas as mais caras do mundo. A música comenta em várias passagens as desigualdades econômicas existentes na América e endossa o direito à autogestão das comunidades. “Year of tha Boomerang” fecha esta peça de 1996 que, através de um rap metal muito bem elaborado, se torna mestre de um final que significou aparecer na trilha sonora do filme Higher Learning do diretor e produtor John Singleton, onde as diferenças entre as classes sociais e os problemas forjados pela discriminação racial são o pão de cada dia em um campus universitário.

O álbum é uma estratégia de facilidade, reação e ímpeto em um mundo em convulsão, onde foi erroneamente classificado por certos setores conservadores como uma séria ameaça ao governo da época. No entanto, para muitos era uma mera desculpa porque não tinham a capacidade de encontrar na obra de Rage Against the Machine uma amostra do que a sociedade americana, mexicana e latino-americana exigia de uma classe política cega. Evil Empire significou um golpe certeiro para quem detém o poder, mas também foi um distintivo que teve a força e o descontentamento dos rejeitados contra a máquina.

Resenha 21 Álbum de Johannes Schmoelling 2023

 

Resenha

21

Álbum de Johannes Schmoelling

2023

CD/LP

Este álbum é a sequência de "VP 20", EP que Schmoelling produziu chamando outros músicos para ajudar, mas sem sair do seu estilo pessoal. Agora são nove faixas, nas quais novamente o autor prova que ele é de verdade "o" Tangerine Dream da primeira metade dos anos 1980. Junto com o EP anterior "VP 20" e o mais recente álbum "Iter Meum", "21" um disco em que ele demonstra sua enorme e definitiva influência na estética da ex-banda, recobrando um pouco do crédito que tinha ido para o fundador Edgar Froese. É uma declaração artística pungente, porque Johannes já passou dos 70 anos de idade, Edgar morreu em 2016 e a banda atual é formada por outras pessoas que ele pessoalmente não aprova.

Posto isso, é um LP mais fraco e leve que o EP que o precedeu, e sem as elevadas pretensões de "Iter Meum". Os colaboradores incluem os mesmos do EP e, mais uma vez, há um monte de citações do TD, como se fossem “easter eggs” para o ouvinte.

"Philosophical Robots" (faixa solo) começa "pinkfloydiano", com uma introdução meio gratuita que lembra demais o início de "Shine On You Crazy Diamond". A composição de verdade começa aos 2:30 minutos e nos leva instantaneamente aos anos 1980, com a mesma instrumentação e ornamentos da época, tudo feito em instrumentos autênticos! É uma boa faixa, mas em se tratando de Schmoelling solo, podemos esperar algo mais - e esse algo mais é sugerido na forma de uma breve "coda", tão vibrante que merecia ser uma faixa à parte.

"Against the Courtiers" (com Kurt Ader) é uma peça parada e quase ambient, que lembra trechos de trilhas sonoras feitas pelo TD com Johannes na equipe. Não me diz muita coisa.

"House of Mirrors" (com Jonas Behrens) foge um pouco do caráter do disco. Com uma levada pop contemporânea, que não deixa de lembrar criações de Jerome Froese, ela parece pedir por vocais. Lá pela metade, musa para algo vagamente similar à parte final de "Logos", retornando depois ao tema inicial.

"Outer Limit" (com Lambert Ringlage) é a melhor coisa do LP. Deve ser uma homenagem a Edgar Froese, pois contém todas as assinaturas sonoras do falecido amigo: um baixo no sequenciador em escala fixa com efeitos de ritmo em delay e solos sucessivos de guitarra e teclado, com direito a uma citação de um trecho atmosférico de "Poland" no final. O colaborador Lambert Ringlage também co-assina a bela faixa de encerramento de "VP 20", chamada "Ancient Ride". Lindo resultado! O álbum inteiro poderia ser desse jeito.

Mas não. Em "Spun Sugar" (com Jerome Froese), o artista convidado quebra o clima iniciando e terminando a faixa de um jeito açucarado que é completamente diferente da participação de Johannes no miolo, sem muito desenvolvimento. O rebelde filho de Edgar faz isso costumeiramente em suas composições. Aqui, o truque não funciona tão bem. Como já vimos em "Beginn", colaboração recente de Jerome com Claudia Brücken, tudo em que ele toca soa como ele mesmo e mais ninguém, para o bem ou para o mal.

"Escape Plan" (com Kurt Ader) é um tema soturno que parece música incidental para um filme. O arranjo esparso com um piano e um ritmo abafado é interessante, mas a ideia não vai para lugar nenhum após o obrigatório solo de teclado.

"Swordplay" (com Robert Waters) é a faixa mais rápida, uma mutação inesperada de "Stratosfear" que se move na direção de um techno moderno na segunda parte. O parceiro aqui, Robert Waters, fez parte da banda Loom com Schmoelling e Jerome Froese. Há sons bastante criativos e um final melódico interessante que merecia ser estendido.

"Reflections" (com Andreas Merz) parece uma paródia de música de videogame de 8 bits, uma brincadeira dispensável, até chegar à metade de sua duração, quando Johannes se leva mais a sério e a coisa melhora consideravelmente, mas sem perder um certo ar de "cumprindo a tabela". Esta faixa soa como a menos acabada de todas.

"Old Days" (com Jonas Behrens) tem uma bela melodia que nos transporta aos tempos de "Logos", sem tentar soar demasiadamente "vintage". Ainda assim, parece faltar-lhe impacto, como se os autores não acreditassem suficientemente em seu potencial para tornar-se um clássico do repertório.

Resenha VP 20 Álbum de Johannes Schmoelling 2023

 

Resenha

VP 20

Álbum de Johannes Schmoelling

2023

EP/Single

Para alguém que nunca escutou nada de Johannes Schmoelling ou mesmo do Tangerine Dream, mas tem curiosidade sobre esses pioneiros do som eletrônico, taí: este EP proporciona uma introdução bastante completa ao que esses músicos gostam mais de fazer, com ideias musicais saborosas e uma certa nostalgia que nunca soa falsa nem forçada.

Ele é considerado, junto com Chris Franke, o ex-membro mais importante do grupo eletrônico alemão Tangerine Dream, no qual participou de 1979 a 1985. Esses dois artistas determinaram a direção sonora final da banda que, sob a batuta do fundador e lider Edgar Froese, tendia a produzir um som mais progressivo, minimalista, erudito e "difícil". Com Schmoelling o TD aprendeu a ser lírico sem ser cafona e aprendeu a criar músicas estruturadas de maneira mais convencional. 
Quando deixou o TD, porém, parece que ele estava tão cansado de trabalhar no grupo que distanciou-se do seu som característico em seus álbuns solo dos anos 80 e 90, geralmente considerados geniais por quem conhece o músico. Mesmo amplamente reconhecido pelos fãs de eletrônica, ele não saiu de baixo da enorme sombra da prolífica ex-banda. Chegou mesmo a gravar um LP com covers do TD, ironicamente intitulado "Recycle or Die". Somente em anos recentes ele assumiu e resgatou seu legado artístico na forma de novas músicas que apresentam continuidade direta com o que ele fazia antigamente no TD, usando até os instrumentos originais da época.
Assim, em 2020, ele gravou quatro faixas em "estilo TD" com a colaboração de alguns amigos e lançou este EP para festejar o vigésimo aniversário de seu selo independente Viktoriapark (encerrado no começo de 2023). No ano seguinte ele lançou "21", que é a continuação deste projeto.

"Mountain Blue" (com Jonas Behrens) é uma suíte em duas partes que começa com os típicos arpejos do TD em uma alegre escala pentatônica, sugerindo um nascer do sol feliz, até ofuscante, no pico de uma montanha nevada - ou pelo menos assim se apresenta aos meus ouvidos. Tal clima de satisfação e conforto é pouco usual na moderna música eletrônica, mas também se encontra no LP "Iter Meum". Aos 3:40 minutos, de forma totalmente inesperada, a música repete frases musicais do trecho final de "Logos Red Part", uma das músicas mais icônicas do Tangerine Dream. Não chega a ser uma cover porque a progressão harmônica é diferente, mas que parece, ô se parece... Ao encerrar a peça, a primeira melodia "luminosa" é retomada, com ornamentos sonoros inspirados em "Logos".

"Kaleidoscope" (com Kurt Ader) também reúne duas músicas em uma só. Começa como uma releitura bastante reconhecível de um trecho da clássica "Tangram Set 1", que o TD também produziu isoladamente com o nome de "Chimes and Chains". A semelhança superficial é pouca, mas os acordes são os mesmos. Aos 4:10 há um interlúdio que começa similar às partes mais calmas de "Poland" e emenda com estranhos samples vocais ao estilo dos que ouvimos em "Mojave Plan". Então, aos 5:25, os sequenciadores pegam embalo e começa uma nova parte com animada percussão, item raro em composições do autor. O trecho final é uma espécie de irmão perdido da primeira parte de "Mojave Plan", com um crescendo quase idêntico. Excelente!

"The Stumble" (com Jonas Behrens) é uma canção pop instrumental que não diz muito bem a que veio. Ao contrário das outras três, ela não faz referências claras ao passado do autor. O terço final é legal, mas a música inteira é "amarrada", parecendo uma anomalia neste EP tão cheio de ideias peculiares.

"Ancient Ride" (com Lambert Ringlage) revela-se como outra pequena obra-prima no repertório de Johannes, e mais uma vez é dividida em duas partes contrastantes. A introdução, de tom melancólico e resignado, usa um timbre digital que o TD só adotou depois da saída dele da banda, dando-lhe um aspecto anacrônico. As coisas ficam interessantes a partir dos 1:45, com uma sequência de notas em crescendo. Aos 4:30 há um interlúdio que cita uma das transições de "Tangram Set 2", e então entra a melodia final, aos 5:10. E, amigos, que melodia! Composta dentro do cânone harmônico do Tangerine Dream e com um estilo bem parecido ao de Chris Franke, um pouco tambem como a trilha sonora de "Legend", é um tema cheio de sentimento e de uma beleza surpreendente e profunda. Acompanhado do tique-taque de um relógio, comunica intensa nostalgia, mas sem melodrama. Talvez seja uma peça original dos anos 1980 que o Tangerine Dream não teve chance de usar numa trilha sonora, quem sabe. Esse tema nostálgico acaba rapidamente, após um choroso solo de teclado, e os últimos sons são evocativos de "The Zoo of Tranquility", o segundo álbum solo de Schmoelling. Esse final deixa um gosto de quero mais, que pode ser aplacado pela continuação do projeto, o álbum "21", também resenhado aqui.

“Selvagem?” (EMI-Odeon, 1986), Os Paralamas do Sucesso

 


O ano era 1985, e os Paralamas do Sucesso gozavam de alto prestígio. A apresentação do trio brasiliense na primeira edição do Rock in Rio, em janeiro daquele ano, foi apoteótica. O segundo álbum da banda, O Passo do Lui, lançado em 1984, era um sucesso comercial inquestionável, havia vendido mais de 200 mil cópias e quase todas as faixas do disco viraram hits.

Contudo, apesar de todo o sucesso, os Paralamas no fundo se mostravam inquietos, um tanto quanto incomodados. Percebiam que toda a estética new wave que predominava no cenário roqueiro nacional naquele momento, e no qual também estavam inseridos, estaria se esgotando. Ao invés do som “palatável” da new wave dos dois primeiros álbuns, o grupo buscava apostar em algo diferente para o próximo trabalho. O vocalista e guitarrista Herbert Vianna sentia um profundo vazio criativo para compor, queria ir além dos temas pessoais e adolescentes. Mas a agenda interminável de shows não permitia que os Paralamas pudessem ter um tempo adequado para compor material para o próximo disco do jeito que pretendiam.

Porém, em outubro de 1985, um fato acabou dando o tempo que os Paralamas precisavam para pensar o próximo disco, mas não bem da maneira que queriam. O baterista João Barone sofre um acidente de carro em Porto Alegre e fratura a perna esquerda. A banda acabou tendo que suspender as apresentações e cancelar compromissos por alguns meses. Enquanto Barone se recuperava, Bi Ribeiro e Herbert Vianna ensaiavam na casa da vovó Ondina (avó de Bi), onde ensaiavam bases rítmicas e grooves, sem se preocuparem com letras. Naquele momento, estavam pesquisando novas sonoridades e ouvindo bastante reggae como os discos de Yellowman e Dr. Alimantado.

Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna: apresentação antológica dos Paralamas
na primeira edição do Rock in Rio, em 1985.
Desses ensaios instrumentais, um dos primeiros frutos foi a música “Alagados” que nasceu de um riff de guitarra. A letra de “Alagados”, Herbert havia feito depois de ter criado a base instrumental, e segundo ele, parecia letra de samba. Barone havia ouvido a música e teve a mesma impressão e achou que cairia bem inserir tamborins. Herbert havia enviado uma fita demo com uma base instrumental para Gilberto Gil colocar. Poucas horas depois, Gil telefona para Herbert e dita pelo telefone os versos da letra que acabara de escrever: era a canção “A Novidade”. E assim, aos poucos, as ideias foram fluindo, Herbert tendo novas ideias para compor e o repertório do novo disco foi ganhando forma. Entre fevereiro e março de 1986, os Paralamas entraram no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, para gravar o novo álbum sob a produção de Liminha.

Em abril de 1986, Selvagem? chegou às lojas. A primeira música de trabalho foi “Alagados”, que pegou o público e a crítica de surpresa. A música fugia dos padrões vigentes do rock nacional da época. Falando das mazelas das favelas brasileiras, “Alagados” trazia na sua sonoridade uma alta carga de brasilidade, com referências do carimbó e das guitarradas do Pará, e os tamborins do samba carioca. A música chocou o público roqueiro, mas agradou o público das camadas mais populares. Não foi à toa que no primeiro dia de execução, “Alagados” teve 57 execuções no Rio de Janeiro e 67 na Bahia.

A capa de Selvagem?  confirmava que os Paralamas pretendiam romper com a estética anglo-americana reinante nos discos do rock brasileiro da época. Na capa, um garoto magrelo de cabelos escovados pra frente, um sorriso idiota no rosto com uma camiseta cobrindo a cintura e o púbis, segura um arco e flecha. Ao fundo, uma barraca de acampamento.  O tal garoto era Pedro Ribeiro, irmão de Bi, e a foto foi tirada quando ele era adolescente, no final dos anos 1970.

Paralamas na sessão de fotos para o álbum Selvagem?.
“Alagados” é quem abre o álbum e é seguida por “Teerã”, que fala da agonia das crianças vitimadas pela guerra que castigava a capital iraniana; eram os tempos da guerra Irã e Iraque que já durava mais de seis anos. Com letra de Gilberto Gil, “A Novidade” destaca a fome e a folia convivendo juntas numa mesma sociedade (“Ó mundo tão desigual / De um lado este carnaval / Do outro a fome total). Após três faixas sobre temas tão duros, um pouco de humor pra aliviar ouvinte com “Melô do Marinheiro”, seguido de uma faixa “irmã”, “Marinheiro Dub”, uma versão instrumental de “Melô do Marinheiro”, com guitarras “praieiras”, ecos e efeitos de voz. E o tom crítico volta à carga com “Selvagem” num reggae costurado pelas guitarras distorcidas de rock. 

“A Dama E o Vagabundo” discorre sobre a vida cotidiana conjugal, enquanto que o ska rock “There’s A Party” é a única faixa em inglês do disco e também a única que remete à new wave dos dois primeiros álbuns dos Paralamas. “O Homem” aborda a contradição humana, e “Você”, uma regravação de um sucesso de Tim Maia, ganha uma versão reggae com os Paralamas e fecha o álbum. Isso no LP, pois a versão cassete de Selvagem? veio com uma faixa a mais,“Teerã Dub”, versão instrumental de “Teerã”, cheia de efeitos e ecos, e é quem fecha o álbum em versão cassete. Mais tarde, a versão CD também incluiu “Teerã Dub”.


Os Paralamas e o produtor Liminha (o segundo da direita para esquerda) recebendo disco de ouro
pelas vendas de Selvagem?
Selvagem? foi um trabalho ousado dos Paralamas. Promoveu a ruptura da banda com o padrão new wave que os próprios Paralamas ajudaram a propagar no rock brasileiro. Ao invés de sentar sobre os louros da fama conquistados com os dois primeiros discos calcados nos dogmas do punk e new wave, preferiram remar contra a corrente, optando por uma estética mais terceiro-mundista. Apesar de Selvagem? ser na prática um disco essencialmente de reggae, foi a partir dele que os Paralamas se distanciaram das referência inglesas e americanas de rock, e passaram a navegar em outros mares musicais nos álbuns posteriores, se aproximando dos ritmos caribenhos, afro-brasileiros e africanos, tendo o reggae como um fio condutor para todas essas conexões rítmicas. O álbum revela um Herbert Vianna mais maduro e mais contestador como compositor, ao escrever letras mais engajadas, mais politizadas.

Com Selvagem?, os Paralamas encontraram a maturidade, se consagraram como artistas e calaram as más línguas que afirmavam que o trio não passava de uma mera cópia do The Police.  A partir de Selvagem? os Paralamas antecipam a retomada do processo de fusões rítmicas no rock nacional interrompido pela geração dos anos 1980, mas que viria com toda força nos anos 1990 com Skank, Chico Science & Nação Zumbi, O Rappa entre outros.

Faixas:
  1. "Alagados"(Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)
  2. "Teerã" (Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)
  3. "A Novidade" (Gilberto Gil - Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)
  4. "Melô Do Marinheiro" (João Barone – Bi Ribeiro)
  5. "Marujo Dub" (João Barone – Bi Ribeiro)
  6. "Selvagem" (Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)
  7. "A Dama E O Vagabundo" (Herbert Vianna – Bi Ribeiro)
  8. "There’s A Party" (Herbert Vianna)
  9. "O Homem" (Herbert Vianna – Bi Ribeiro)
  10. "Você" (Tim Maia)
  11. "Teerã Dub" (Herbert Vianna – Bi Ribeiro – João Barone)



10 discos essenciais: new wave brasileira

 


A new wave era uma espécie de versão mais “palatável” e “domesticada” do punk rock. Punk e new wave tinham em comum a simplicidade, a prática de músicas curtas e urgentes. Porém, a new wave se permitia flertar com outras vertentes musicais como a disco music, reggae, soul, música eletrônica, dando a ela uma vocação pop, comercial e festiva, diferente da sisudez e do radicalismo do punk. 

O termo "new wave foi criado pelos executivos de gravadoras nos anos 1970 para poder enquadrar aqueles artistas e bandas oriundos da cena punk, mas que faziam uma linha menos “selvagem”. E foi aí que bandas e artistas ingleses e americanos, outrora alternativos como Blondie, Cars, B-52’s, Elvis Costello, The Police entre outros, conquistaram o gosto do grande público e começaram a empilhar discos de ouro e platina, caindo assim nas graças do mainstream. 

No Brasil, a new wave aportou no começo dos anos 1980, e ao lado do punk rock, foi responsável por revigorar e impulsionar o rock brasileiro, revelando novas bandas e abrindo um mercado para o rock e profissionalizando a indústria do show business no Brasil. Assim como no exterior, as gravadoras enxergaram a new wave como um filão mercadológico pop a ser explorado, alguns até vendo nela uma “nova Jovem Guarda”. E de uma certa forma, era uma versão anos 1980 da Jovem Guarda, só que com mais malícia.

Abaixo, seguem dez álbuns que se tornaram clássicos do rock brasileiro e dão uma boa mostra do que era a new wave brasileira.


As Aventuras Da Blitz (EMI, 1982), Blitz

Com uma proposta estético-musical inspirada nos quadrinhos, cinema, teatro e humor non-sense, a Blitz foi a grande sensação na música brasileira em 1982 com o hit “Você Não Soube Me Amar”, cujo single foi o passaporte para a banda carioca lançar o seu primeiro álbum, As Aventuras Da Blitz. Nem a ação tosca da Censura que fez as cópias do disco saírem arranhadas de fábrica nas faixas "Cruel Cruel Esquizofrenético Blues" e "Ela Quer Morar Comigo Na Lua" impediu que o sucesso do álbum acendesse o estopim e fazer explodir o rock brasileiro dos anos 1980. Além de “Você Não Soube Me Amar”, o álbum inclui outros hits como “Mais Uma de Amor(Geme, Geme)” e "O Beijo da Mulher Aranha".


O Ritmo Do Momento (WEA, 1983), Lulu Santos
Apesar da carreira iniciada nos anos 1970, Lulu Santos deslanchou nos anos 1980 com o novo cenário do rock brasileiro. Revelou-se não só um músico talentoso como também um hitmaker de mão cheia. Seu segundo álbum, O Ritmo Do Momento traz sucessos memoráveis como "Um Certo Alguém", "Como Uma Onda (Zen-Surfismo)" e "Adivinha o Quê" com os quais Lulu comprovava já naquela época que é possível ter apelo popular e em alto nível.





Voo De Coração (CBS, 1983), Ritchie
O ano de 1983 viu despontar no cenário pop brasileiro um sujeito com sotaque inglês cantando em português sobre uma tal “Menina Veneno”. Era Ritchie, ex-parceiro de Lulu Santos e Lobão dos tempos da banda Vímana, nos anos 1970. Seu primeiro álbum, Voo De Coração, traz uma linguagem baseada em sintetizadores, muito inspirada no synthpop britânico, remetendo ao futurismo de Gary Numan. O pop sofisticado do álbum alcançou uma imensa popularidade chegando a quase 800 mil cópias graças a hits como a própria “Menina Veneno”, "A Vida Tem Dessas Coisas", “Casanova”, “Pelo Telefone” e a faixa-título que traz os solos de guitarra de Steve Hackett, ex-Genesis.


Essa Tal De Gang 90 & As Absurdettes (RCA, 1983), Gang 90 & Absurdettes. Precursora da new wave no Brasil, a Gang 90 & Absurdettes apareceu para a grande mídia em 1981, quando participou do Festival MPB-Shell, onde defendeu a música “Perdidos na Selva”. Não ganhou o festival, mas estourou no rádio através do compacto “Perdidos na Selva”, e deu o sinal do que estava por vir no cenário do rock brasileiro a partir de 1982 com a Blitz. Em 1983, a Gang 90 lançou o primeiro álbum, Essa Tal De Gang 90 & As Absurdettes, que trouxe hits como “Nosso Louco Amor” (tema da novela “Louco Amor”, da Globo), “Telefone” e “Noite e Dia”(regravada mais tarde por Lobão). A banda tinha tudo para alçar voos mais altos, não fosse a morte de seu mentor, o guitarrista e vocalista Júlio Barroso, que morreu tragicamente aos 30 anos, após cair da janela do prédio onde morava, em São Paulo. 


O Passo Do Lui (EMI, 1984), Os Paralamas do Sucesso
Em O Passo Do Lui, seu segundo álbum, os Paralamas mantiveram a receita musical aplicada no primeiro álbum regada a rock, punk, reggae e ska, tudo inspirado em bandas inglesas como The Beat, Specials, e principalmente, The Police. A diferença é que em O Passo Do Lui a banda teve mais autonomia para o que gravar e como gravar. O álbum foi um tremendo sucesso em vendas e quase todas as faixas viraram hits. "Óculos", "Meu Erro", "Ska", "Assaltaram A Gramática", "Fui Eu" e "Romance Ideal” tocaram bastante no rádio. O sucesso de O Passo Do Lui garantiu os Paralamas na primeira edição do Rock in Rio, em 1985.


Seu Espião (WEA, 1984), Kid Abelha
O clima adolescente e romântico de Seu Espião, álbum de estreia do Kid Abelha, resgata a ingenuidade da Jovem Guarda adaptada para a realidade dos anos 1980. A crítica não levou a sério o álbum, mas o público foi seduzido pela voz doce de Paula Toller e pelo sax onipresente de George Israel. Seu Espião é praticamente uma coletânea de hits: "Pintura Íntima", "Fixação", "Por Que Não Eu?", "Como Eu Quero" e "Alice (Não Me Escreva Aquela Carta De Amor)" viraram sucessos radiofônicos.




Ronaldo Foi Pra Guerra (RCA, 1984), Lobão E Os Ronaldos
Após passar pela Blitz e ter lançado o seu primeiro álbum solo, Lobão voltou a integrar em 1983 uma banda de rock, desta vez a Lobão E Os Ronaldos, quinteto carioca que contava com outro ex-Blitz, Guto Barros (guitarra e vocais) e uma ex-Gang 90, a holandesa Alice Pink Punk (teclados e vocais). O primeiro e único álbum do grupo, Ronaldo Foi Pra Guerra, traz dois megahits que estão entre os maiores da carreira de Lobão e se tornaram clássicos do rock brasileiro, “Corações Psicodélicos” e “Me Chama”. Há faixas em que os vocais principais são de Guto Barros, como “Não Tô Entendendo”, e de Alice Pink Punk”,  como “Bambina” e “Inteligenzia”, essas duas últimas remetendo respectivamente a B-52’s e Siouxsie & The Banshees. Em 1985, em pleno auge de sucesso do álbum e pré-produção do segundo, Lobão foi expulso da banda por causa da vida desregrada. Alice por sua vez, voltou para terra natal. A banda acabou implodindo.


Revoluções Por Minuto(CBS, 1985), RPM
O RPM era uma grande sensação na cena alternativa do rock paulistano em 1984. Não foi à toa que quando a banda assinou contrato com a gravadora CBS (hoje Sony Music), seu álbum de estreia foi cercado de tanta expectativa. Revoluções Por Minuto traz a banda em dois momentos. No lado A, uma banda com um som mais acessível e dançante, no lado B, o RPM numa sonoridade mais densa, com um pé no rock progressivo. Baseado na trinca new wave, synthpop e rock progressivo, Revoluções Por Minuto ficou marcado pelas camadas de sintetizadores de Luiz Schiavon. “Rádio Pirata”, “Olhar 43”, "A Cruz E A Espada", "Louras Geladas" e a faixa-título puxaram as vendas do álbum e levaram o RPM do undeground para o estrelato.



Olhar (CBS, 1985), Metrô
O quinteto paulista formado por quatro marmanjos e uma garota, a doce Virginie Adele, começou a carreira como uma banda de rock progressivo no final dos anos 1970 sob o singelo nome A Gota Suspensa. Mas com o despertar da nova cena roqueira no Brasil, em 1984 mudou o nome para Metrô, e de estilo, trocando o progressivo por um som calcado na new wave e no synthpop. Após o sucesso do single “Beat Acelerado”, ainda em 1984, o Metrô lançou no ano seguinte Olhar que emplacou quase todas as faixas. "Cenas Obscenas", “Tudo Pode Mudar”, "Sândalo de Dândi" e “Ti Ti Ti” ganharam as rádios de todo o país. De quebra, o álbum trouxe uma versão bossa-nova de “Beat Acelerado”.´


Sessão Da Tarde (CBS, 1985), Léo Jaime.
Bem mais coeso do que o seu álbum de estreia, o Phodas C (1984), Sessão Da Tarde, segundo álbum da carreira solo de Léo Jaime, foi responsável por transformar o goiano num astro do rock brasileiro de primeira grandeza. Nele, a new wave e a Jovem Guarda se encontram, muito por conta da influência de Erasmo Carlos, um dos ídolos de Léo Jaime. O álbum carrega o espírito adolescente e festivo em faixas como "A Fórmula do Amor" (dueto com Kid Abelha) e as "As Sete Vampiras", dor de cotovelo em "Só" e "A Vida Não Presta", alfineta veladamente a “recém-finada” Ditadura Militar em "Abaixo A Depressão" e reserva espaço até para uma versão em português de "So Lonely", do Police, que virou "Solange", onde Léo conta com o apoio dos Paralamas do Sucesso na base instrumental.

Destaque

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