quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Little Richard – Here’s Little Richard… (1957)

 

O álbum de rock’n’roll dos fifties mais consistente e electrizante. Punk antes do punk. Glam antes do glam.

A loucura do rock’n’roll varreu a América em meados dos anos 50, e ainda hoje a pop se expande com o impulso deste big-bang inicial. Mais do que uma nova estética (um blues frenético e dançável, com tempero country opcional), o rock’n’roll é uma nova realidade social: a primeira vez em que os adolescentes têm uma música só sua (que os pais não gostam, nem compreendem); a primeira vez em que música oriunda de franjas marginalizadas (negros, latinos, brancos pobres do sul) extravasa os seus pequenos nichos e toma de assalto o mainstream; e a primeira vez em que brancos e negros dançam juntos ao som da mesma música sensual (a tragédia! o horror!).

Esta revolução na cultura e nos costumes gerou um enorme escândalo na sociedade conservadora de então, receosa da sua carga sexual e da mistura racial que ela poderia trazer. Se essa sexualidade estava implícita no piano gingão de Fats Domino, nos movimentos de ancas de Elvis ou na guitarra extravasante de Chuck Berry, em Little Richard não há subentendidos, o sexo está escancarado: nas letras, na voz de fogo, nos gritos animais. A cereja em cima do bolo é a sua imagem camp e andrógina, glam rock antes do tempo, tornando a sua sexualidade ainda mais transgressiva. Os ambíguos Bowie, Bolan e Prince seriam alguns dos seus distintos herdeiros.

Bill Haley foi um dos pais do rock’n’roll mas a sua versão do rhythm and blues era ainda muito contida e inofensiva. Elvis é um caso diferente: quando em ’54 “That’s all right, mamma” passa na rádio, ninguém em Memphis sabia se aquela voz cheia de swag era de um branco ou de um negro. Mas faltava ainda algo realmente perigoso, uma pedrada no charco, uma revolução em dois minutos. Apareceria em Outubro de’ 55, com o single “Tutti Frutti” de Little Richard, gravado na efervescente Nova Orleães. Elvis pode ser um dos intérpretes mais brilhantes do século XX, ninguém o questiona, mas quando nos seus dois primeiros discos revisita temas de Little Richard não consegue igualar a temperatura escaldante dos originais.

Seguem-se outros singles, cada vez mais frenéticos, de “Long Tall Sally” a “Rip It Up”, um festim de ritmo e rebeldia. Em 1957 sai o seu primeiro LP, Here’s Little Richard, uma colecção de singles e lados B, como era apanágio na época. Temos muito carinho pelos primeiros discos de Elvis, Chuck Berry ou Buddy Holly, mas nenhum álbum de rock’n’roll dos anos 50 é tão consistente e electrizante como o primeiro de Little Richard.

A velocidade é estonteante e o groove tremendo, as sementes do funk do futuro. O sobe e desce do baixo (boogie-woogie!) põe até a malta dos cuidados intensivos a dançar. A bateria faz “ch-ch-ch-ch-ch-ch-ch-ch”, como o comboio de infância que estremecia a sua casa, e que agora estremece os alicerces da velha sociedade. O saxofone sola, vibrante, com a mania que é uma guitarra eléctrica; e a mão direita de Little Richard batuca com fúria nas teclas do piano, com a mania que este é uma bateria. Porém, a sua voz cheia de grão e fagulha domina sobre tudo o resto, a mais negra das vozes negras, onde Otis Redding e James Brown foram buscar tudo.

No mesmo ano, no auge da fama, Little Richard abandonaria os palcos profanos para ingressar na Igreja, o primeiro dos pais fundadores a sair de cena. A sua rebeldia, porém, é eterna porque ela é o próprio espírito do rock’n’roll. No glam, no punk, no metal, no rock que ainda está por vir, a transgressão nasce sempre do mesmo grito primal: a-wop-bop-a-loo-bop-a-wop-bam-boom!



Asimov and the Hidden Circus – Flowers (2020)

 


Ao quarto disco, os portugueses Asimov fazem o seu melhor trabalho: selvagem, psicadélico e tribal. Para aplacar os maus espíritos do tempo, pendurando cabeças humanas em paus.

Entre o psicadelismo do summer of love e o heavy metal do final dos anos 70, houve um elo perdido, o chamado heavy psych, onde bandas como os Sabbath e os Hawkwind usavam riffs pesados e arrastados como novo dispositivo de transe e alucinação (mais bad trips do que peace and love, mais preto e branco do que technicolour). O género nunca se extinguiu inteiramente, pois a cada década houve sempre novos flower punks que expressaram o seu repúdio contra a modernidade refugiando-se neste mítico passado. Nos anos 90, houve mesmo uma movida revivalista com nome próprio, o stoner rock, que no fundo mais não era do que uma releitura do heavy psych original.

Ora os portugueses Asimov são ilustres herdeiros desta tradição “setenteira”. Começaram como um duo à White Stripes: Carlos Ferreira na guitarra e voz, João Arsénio na bateria. Hoje são um power trio, com o baixo de Rodrigo Vaz a encorpar a secção rítmica. Mas para o seu quarto disco, o bonito Flowers, enriqueceram ainda mais a sua paleta de texturas, convidando Joana Guerra para o violoncelo e Peter Wood para a segunda guitarra (o tal Hidden Circus desenhado a pó de giz). O contraste entre o fuzz sujo e granulado das guitarras e o límpido violoncelo é um dos segredos deste disco, a mais densa escuridão alumiada por bonitos fios de esperança.

Se um certo exotismo tribal sempre esteve implícito nos Asimov, agora essa transe xamã está no cerne da sua estética. Ouvem-se percussões chamando as almas dos mortos, e mesmo a bateria soa a batuque pagão e ancestral. Escalas pentatónicas confirmam este travo étnico, talvez um reflexo de uma Lisboa cada vez mais cosmopolita, onde a cada esquina se ouve música vinda dos lugares mais longínquos. Não se subestime também os efeitos de uma dieta rigorosa à base dos mais excêntricos vinis, onde o psicadelismo sueco e o rock da Zâmbia serão, porventura, as referências menos obscuras. É a própria banda que nos confessa: se há uma droga a guiar o seu processo criativo, ela é a própria música.

A electricidade é dominante em Flowers, a teia de postes e cabos eléctricos riscando a cidade de betão. Mas mesmo nos subúrbios mais cinzentos, há sempre um pássaro a chilrear numa nesga de verde, o suficiente para algumas guitarras acústicas à Led Zeppelin III assomarem no disco.

Os riffs continuam no centro de tudo, prepotentes como um primeiro-ministro absolutista. A melodia da voz é um elemento acessório, totalmente esmagado pela imponência dos riffs. A sua repetição arrastada entorpece-nos o corpo e turva-nos o espírito. É então que as almas penadas nos visitam, clamando pelos mais terríveis sacrifícios.

O vanguardismo de Flowers advém do seu brutal primitivismo. O desdém pelo formato-canção, o ódio ao refrão, a rudeza lo-fi da distorção, a simplicidade radical dos seus riffs, a transe pela repetição, tudo evoca um passado selvagem onde a razão ainda não chegou. Ao abrirmos os telejornais, uma pergunta se impõe: estaremos assim tão longe dele?



CRONICA - EMERSON, LAKE AND PALMER | Trilogy (1972)

Tendo se tornado o líder do movimento do Rock Progressivo com três álbuns memoráveis, Emerson, Lake e Palmer sabem que não têm interesse em descansar sobre os louros. É que empurra severamente ao lado de Yes, Pink Floyd e Jethro Tull para fazê-los cair do primeiro lugar do pódio. No entanto, para seu terceiro álbum de estúdio, nosso trio fará o caminho oposto aos seus dois lançamentos anteriores. Longe do rolo compressor Tarkus ou da ambiciosa adaptação rock de vanguarda de Pictures At An Exhibition , Trilogy oferecerá peças bastante curtas (em formato progressivo, é claro) e às vezes até mais acessíveis do que o normal.

Com sua introdução claramente inspirada na trilha sonora de Planet Of The Apesde Jerry Goldsmith, “The Endless Enigma (Part 1)” começa de uma forma tribal antes de Emerson deixar seu piano para trazer seu rugido órgão. Algumas cavalgadas adiante, o canto de Lake acalma o jogo para trazer-lhe uma pureza religiosa, não hesitando em correr para alguns vôos líricos. A curta instrumental "Fugue" quase poderia servir como um segundo movimento. É um quase solo de piano de Emerson (ainda assim apoiado pelo baixo acrobático de Lake) em estilo clássico contemporâneo. Todo o trio fecha com “The Endless Enigma (Part 2)” este terceiro movimento num final um pouco grandiloquente mas sem se tornar demasiado pomposo. O que se segue é talvez a melhor balada acústica que Lake já compôs para o trio. "Do começo", uma espécie de versão misteriosa de "Horse With No Name" da América, de fato toca no sublime. A linha vocal é sóbria em sua melodia (o que não costuma acontecer com Lake) enquanto pega o ouvinte pela mão. Nosso cantor está realmente no auge, pois oferece a si mesmo – além de suas delicadas partes de violão e baixo – um delicioso solo de guitarra elétrica. Emerson e Palmer apoiam discretamente o colega, o segundo com um subtil jogo de percussão, o primeiro ao terminar a peça com um solo de Moog que também brilha pela sobriedade. Nosso cantor está realmente no auge, pois oferece a si mesmo – além de suas delicadas partes de violão e baixo – um delicioso solo de guitarra elétrica. Emerson e Palmer apoiam discretamente o colega, o segundo com um subtil jogo de percussão, o primeiro ao terminar a peça com um solo de Moog que também brilha pela sobriedade. Nosso cantor está realmente no auge, pois oferece a si mesmo – além de suas delicadas partes de violão e baixo – um delicioso solo de guitarra elétrica. Emerson e Palmer apoiam discretamente o colega, o segundo com um subtil jogo de percussão, o primeiro ao terminar a peça com um solo de Moog que também brilha pela sobriedade.

Lamentamos que o nosso virtuoso tecladista não tenha mostrado a mesma sobriedade durante as partes cantadas de "The Sheriff", um título despretensioso infelizmente um tanto abafado pelas partes acrobáticas do órgão quando Lake está ao microfone. O final com seu piano de salão é, por outro lado, delicioso. Pela primeira vez, o trio está lidando com a adaptação de uma peça do compositor contemporâneo Aaron Copland (que eles encontrarão mais tarde). Esta versão de seu "Rondo" renomeado "Hoedown" é animada e alegre. Certamente este é outro grande momento. Um instrumental onde os três músicos se entregam à vontade sem exagerar. Começando como uma peça íntima de voz de piano, “Trilogy” mostra rapidamente o virtuosismo de Emerson num solo que nada tem a invejar aos mais prestigiados pianistas clássicos, antes que os outros dois se juntem a ele oferecendo um ritmo hipnótico que Emerson usará para nós. entregar um belo solo de Moog. Palmer aumenta o ritmo aquecendo seu cowbell e Lake se permite algumas intervenções cantadas (essenciais na minha opinião). Note-se que o trio não falta humor ao oferecer um final que retoma os clichês de Rhythm And Blues com molho prog.

A sombria "Living Sin" mostra Lake experimentando novos efeitos vocais, entre vocais profundos ao estilo de Leonard Cohen e gritos quase Hard Rock. O título, que não vai se impor no repertório do grupo, faz no entanto muito sucesso. Talvez porque a banda toca mais crua e menos virtuosística do que o habitual (ainda estamos longe do Punk), um pouco como se o Deep Purple tocasse Black Sabbath sem guitarra. Com o “Bolero de Abaddon”, Emerson parece ter querido compor o seu equivalente ao “Bolero” de Ravel. Sem chegar ao nível deste monumento da música do século XX, devemos admitir que o resultado é bastante convincente ao conseguir reproduzir os códigos com o formato do trio Rock. O aumento gradual da potência não pode deixar de estimular a adrenalina do ouvinte.

Emerson, Lake And Palmer, portanto, continuam com a Trilogy o alto desempenho de sua produção. Se tudo não envelheceu bem, se certos momentos em que as passagens são menos bem sucedidas, se é certamente necessário agarrar-se ao estilo do grupo - que está longe de ser o caso de todos - para poder apreciá-lo, o fato é que é novamente um clássico. Nada parecia capaz de parar nosso trio, que novamente fez um verdadeiro sucesso comercial por aqui. E a sequência confirmaria isso.

Títulos:
1. The Endless Enigma (Parte 1)
2. Fugue
3. The Endless Enigma (Parte 2)
4. From The Beginning
5. The Sheriff
6. Hoedown
7. Trilogy
8. Living Sin
9. Abaddon's Bolero

Músicos:
Keith Emerson: Teclados
Greg Lake: Vocal, baixo, guitarra
Carl Palmer: Bateria, percussão

Produtor: Greg Lake




CRONICA - CAROL OF HARVEST | Carol Of Harvest (1978)

 

Carol Of Harvest é um quinteto alemão de Fürth, perto de Nuremberg, criado em 1976 em torno do guitarrista Axel Schmierer, do baixista Heinz Reinschlüssel, do baterista Roger Högn, do tecladista Jürgen Kolb e da cantora Beate Krause. O grupo leva o nome de um poema escrito em 1867 pelo americano Walt Whitman “A Carol of Harvest”. Os músicos publicaram em 1978 no selo Brutkasten um álbum homônimo em 200 cópias.

Este disco é composto por cinco faixas. Começa para o lado A com os 16 minutos de “Put On Your Nightcap”. Este título de rio começa com um vento gelado que acompanha arpejos cristalinos de um belo violão. A voz dolorosa e séria de Beate Krause acalma-se silenciosamente. A atmosfera é pacífica e melancólica. Depois torna-se atmosférico ou mesmo cósmico com a chegada do sintetizador com sons à la Vangelis, regidos por um tempo floydiano. Então tudo acelera para nos mergulhar no irreal com este elétrico de seis cordas que esculpe um solo arejado que beira o acid rock. Após uma passagem galopante, "Put On Your Nightcap" termina com delicados arpejos de guitarra e a voz angelical da cantora.

O lado B consiste em três músicas. Começa com os 6 minutos da comovente "Somewhere At The End Of The Rainbow", onde o teclado com camadas geladas se harmoniza com ainda belos arpejos. Aqui a influência parece ser Camel. “Dreary Eyes” que se segue é uma linda balada folk, sonhadora, desencantada e rural. Este LP termina com o épico de 10 minutos "Try A Little Bit" com palavras complexas. O teclado é vertiginoso em alguns lugares enquanto a guitarra é mais nervosa em alguns momentos.

Muito rapidamente catalogado krautrock, Carol Of Harvest ofereceu um prog rock de 33 voltas sem grandes demonstrações mas apostando na estética e na emoção. Apesar da sua fraca publicação este disco conhece um pequeno sucesso mas que infelizmente não impede a separação do grupo pouco depois. Em 2009 Axel Schmierer assumiu os negócios da Carol Of Harvest em dueto com a cantora Ewa Grams para a publicação do disco Ty I Ja .

Títulos:
1. Put On Your Nightcap
2. You And Me
3. Somewhere At The End Of The Rainbow
4. Treary Eyes
5. Try A Little Bit

Músicos:
Heinz Reinschlüssel: Baixo
Roger Högn: Bateria
Axel Schmierer: Guitarra
Jürgen Kolb: Teclados
Beate Krause: Vocais

Produção: Carol Of Harvest, Peter Klimek



42 anos de ”Face Value”: A obra prima de Phil Collins

 Para os fãs da sonoridade clássica do pop dos anos 80, saibam que grande parte do mérito dessa revolução sonora foi a lenda Phil Collins! Um dos discos que foram extremamente influentes para a década e que também é o mais icônico da carreira do Phil é o ”Face Value”, que está completando 42 anos ! Vamos entender um pouco de seu contexto e ver o motivo deste ser um dos grandes discos da história da música!

Para quem não tem muito conhecimento, Phil Collins foi baterista do Genesis na fase progressiva da banda e depois cantor na fase mais pop já sem o líder Peter Gabriel no grupo. Ainda no gênesis, Phil já desenvolvia uma sonoridade bem diferente e mais palatável do que a banda vinha fazendo nos últimos anos, uma prova é foi o lançamento do disco ”Duke” de 1980. No ano seguinte, os integrantes começaram a trabalhar em seus respectivos discos solos, e Phil se preparava para o lançamento de seu primeiro, o ”Face Value”.

Já na sua vida pessoal, Phil passava por um momento delicado e triste, ele estava em processo de separação do casamento com sua esposa da época. Em meio à tristeza e desesperança, Phil se inspirou tal como Eric Clapton fez no disco Layla e passou a escrever canções temas que cercavam esse tipo de situação. Como curiosidade, Eric participou do processo de criação do disco.

Phil Collins, foi à frente do tempo, usou e abusou de instrumentos voltados mais à uma sonoridade eletrônica, como sintetizadores, bateria eletrônica e teclados. O som de bateria desse disco é fantástico e é o prenúncio de como a bateria seria trabalhada durante o decorrer da década. Phil já havia utilizado esse recurso no disco solo do Peter Gabriel de 1978.

Em ”Face Value”, somos recebidos com um mix de emoções, logo na faixa de abertura, ”In The Air Tonight”, o maior clássico de sua carreira, entendemos bem o porquê, Phil é considerado um gênio. Ele conseguiu a façanha de fazer um sucesso com mais de 5 minutos de duração sendo que nos primeiros 3, a música é construída apenas por um pequeno acompanhamento, sem grandes pretensões, mas logo somos surpreendidos com uma das mais icônicas viradas de bateria de todos os tempos. ”Behind The Lines” é uma das mais alto astral do disco e também uma das minhas preferidas, destaque mais uma vez pelo belo trabalho de bateria do Phil. Já ”Hand In Hand” é daquelas composições que surgem quando o pop passa de apenas música para arte, uma faixa basicamente instrumental e climática, é quase que uma vinheta de transição do disco, uma pausa para se entusiasmar e refletir, um dos momentos mais emocionantes do disco. Nas apresentações ao vivo ela se tornou uma verdadeira celebração!

”Face Value” foi um enorme sucesso comercial, também foi marcado por um momento delicado da vida pessoal de Phil Collins, é um disco fantástico, e na minha opinião é a sua obra prima da carreira solo. Foi um disco muito influente e fala por si só. Fica a nossa homenagem e recomendação!




37 anos de ”So”: O disco mais popular de Peter Gabriel

Peter Gabriel conseguiu desenvolver uma carreira solo tão grande quanto no Gênesis, sua ex banda. O músico atingiu números impressionante e se mostrou muito inventivo e talentoso. Cada disco solo conta uma história própria e hoje o seu disco mais popular está completando exatos 37 anos, o ”So”!

Peter Gabriel havia trabalhado na trilha sonora do filme Birdy em 1984, após isso ele reuniu um time imensurável de músicos de estúdio. Genial como é, ele estava atento sobre como a sonoridade do Pop estava sendo executada, o ”Thriller” havia sido lançado em 1982 e mudou como os hits vinham sendo compostos.

Até então Peter Gabriel não havia feito nenhum disco que realmente fosse comercial e mais palatável. Apesar de muito bons, os discos não apresentavam hits, e todos eram intitulados como ”Peter Gabriel”. Foi então que no ano de 1986, Peter resolveu fazer diferente, reuniu um time enorme de músicos, apostou numa sonoridade bem popular e palatável, mudou a estética sonora e batizou o disco como ”So”.

O disco traria 3 dos maiores clássicos de sua carreira solo, desta vez as composições radiofônicas viriam para fazer um enorme sucesso. E não só sonoramente Peter faria um novo investimento, o disco traria videoclipes revolucionários para a época.

Com diversas camadas sonoras, Peter Gabriel passaria por vários gêneros e entregaria um disco pop porém não óbvio. Ele já abre com ”Red Rain”, uma faixa cheia de elementos, meio enigmática, em alguns momentos o vocal dele lembra o de Springsteen. Com certeza o maior destaque não só do disco mas de toda a sua carreira é ”Sledgehammer”, um hit incontestável, uma composição pop perfeita e muito bem executada, acompanha um videoclipe verdadeiramente revolucionário, grande momento. Outro destaque gigante é ”In Your Eyes”, uma balada que fecha o disco, bastante sensível porém com muita presença, fechando um dos grandes discos de 1986.

De considerações finais, ”So” é considerado por muitos, um dos melhores discos de todos os tempos, não está entre os meu favoritos da vida, mas é de fato um disco muito importante e especial. Foi o disco chave da carreira solo de Peter Gabriel e solidificou de vez seu nome na história. Fica a nossa homenagem!

 



52 anos de ”What’s Going On”: Um dos maiores discos da história da música, por Marvin Gaye

Alguns discos tem tanta carga emocional que um mero texto jamais será digno de fazer jus à seu poder de influência e legado. Marvin Gaye é um dos poucos nomes que conseguiram realizar discos desse calibre, sendo eleito há pouco tempo atrás como o maior disco de todos os tempos pela revista Rolling Stone, o grande ”What’s Going On” está completando  52 anos .

Vamos entender o que acontecia na época em que foi lançado. A indústria musical se encontrava no ano mais próspero de sua história (1971), ou seja, todo mundo estava lançando um trabalho que flertava com a perfeição, a inspiração estava à volta e artistas geniais marcaram seus nomes na história.

Marvin Gaye até então vinha de ótimos discos, mas nenhum era um álbum fechado, conceitual, complexo, reflexivo e artístico de fato. É claro que eu amo os discos dele com Tammi Terrell, mas ainda assim não se tratavam de discos conceituais com uma produção cristalina. No ano de 1970, Marvin lançou ”That’s The Way Love Is”, apesar de não ser um grande trabalho, nós conseguimos visualizar um Marvin Gaye quase pronto dentro de sua identidade musical que seguiu no decorrer da década de 1970.

Vale lembrar que no final da década de 70, Marvin se encontrava em depressão, muito por conta de Tammi estar com tumor cerebral, infelizmente ela faleceu em 1970 e isso mexeu muito com Marvin, mudando seu estilo de composição. Outro fator que contribuiu muito para isso foi o estado de seu casamento com Anna Gordy que estava em declínio. Esses fatos mudaram bastante a postura de Marvin, tanto que ele sequer fez uma turnê para divulgar seu último disco.

Desde então, Marvin começou a usar casacos, roupas mais escuras e discretas, deixou a barba crescer se portou de maneira bem diferente, mais séria e passou a ficar mais isolado, o vício em drogas aumentou exponencialmente, chegou até a tentar suicídio. E consequentemente futuras composições viriam com uma nova cara.

No ano seguinte as coisas mudaram bastante, em 1971 com todo esse background pesado sob seus ombros, Marvin passou até a se tornar uma cara mais espiritualizado e começou a compor novas composições para o que seria um marco histórico. As canções desta vez, teriam um cunho político fortíssimo, e traria temas sobre sofrimento, justiça, dor e Deus.

A sonoridade e produção seriam perfeitas, apesar do peso no conteúdo, musicalmente o disco é leve, aconchegante e nos faz sentir uma espiritualidade muito prazeirosa e intimista, chega a ser bastante dançante até. Tudo isso em perfeitos 35 minutos.

O disco foi um sucesso estrondoso de crítica e público imediatamente, muito por conta da estética que ele trouxe mas também pelo nível absurdo das músicas que lá se encontram, e são as seguintes:

”What’s Going On”, a abertura já não nos deixa enganar da pedrada que está por vir, Marvin está com a voz em estado perfeito, em cada verso a entonação é perfeita, a sensibilidade é única e o instrumental é de um bom gosto inacreditável. É o cartão de visitas perfeito sobre do que se trata esse monumento. ”What’s Happening Brother”, segue a mesma vibe e traz temas como a paz e amizade, e mostra a desilusão dos que voltam da guerra. Não posso citar essa faixa sem dar um destaque para a linha de baixo presente nela. Já ”God Is Love”, é uma das músicas cristãs mais lindas que já ouvi na minha vida, uma linda composição, que tem tudo a ver com Marvin. ”Mercy Mercy Me (The Ecology)’‘, é uma faixa em defesa ao meio ambiente, musicalmente é linda e tem o poder de mudar a vida de qualquer um que ouví-la com atenção, de fato é uma obra prima da Soul Music. ”Inner City Blues (Make Me Wanna Holler)”, foca na pobreza das pessoas e fecha o disco de uma maneira climática e até misteriosa, perfeito encerramento.

Uma das pedras fundamentais de qualquer discografia básica, ”What’s Going On” é um verdadeiro marco na história da do Soul, da música negra em geral e nos dias de hoje encabeça a lista de maiores e melhores discos de todos os tempos. Foi um disco extremamente importante para a carreira de Marvin Gaye, posso afirmar sem qualquer dúvida que é um disco que mudou minha vida completamente, está entre os 10 da minha vida, emocionante… É um trabalho verdadeiramente emocionante e obrigatório! Fica a nossa homenagem e recomendação!

 



Destaque

CRONICA - THE UGLY DUCKLINGS | Somewhere Outside (1966)

  THE UGLY DUCKLINGS é um grupo canadense que animou a cena Garage-Rock na segunda metade dos anos 60. Vindo de Toronto, este grupo foi form...