Em finais dos anos 70 o Reino Unido vivia tempos nebulosos e difíceis. A instabilidade social, o desemprego, faziam a ordem do dia. E todo o clima tenso acabava por ter naturais expressões na música, ora sob a voz mais ativista e frontalmente política dos Clash ora sob manifestações de um desejo de fuga para, como dizia Bowie na canção de 1977, todos poderem ser heróis, nem que por apenas um dia…
Crescidos a ver e idolatrar as estrelas do glam rock, particularmente Bowie, Bolan e Ferry, alguns jovens ingleses manifestavam, no quadro desse desejo de fuga, uma reação de oposição a uma certa falta de cor e luz que muita da música nascida da revolução punk veiculava. Um DJ e um entusiasta da noite juntaram-se então, uma vez por semana no Blitz, um clube em Covent Garden (Londres), chamando outros desencantados às suas Bowie Nights, nas quais, além de Bowie se escutavam discos dos Kraftwerk, Roxy Music, Japan, Human League, Grace Jones, Iggy Pop, Sparks, Ultravox ou Brian Eno. O DJ (Rusty Egan) e o porteiro (Steve Strange), este famoso pela política draconiana que só permitia a entrada a quem comparecesse devidamente vestido em jeito de imaginação, pompa e exagero, fomentaram ali a génese de um movimento que acabou conhecido como “new romantic”.
Um movimento que começou por ser manifestação de hedonismo com indumentária sofisticada e banda sonora requintada, mas que acabou por criar as suas próprias bandas, dos Spandau Ballet aos Duran Duran, dos Classix Nouveaux aos Landscape, acabando por cativar atenções também de outros contemporâneos… Mas o primeiro dos grupos, e o primeiro disco da nova vaga nascia ali mesmo, entre os promotores das Bowie Nights. Steve Strange e Rusty Egan tinham-se juntado a Billy Currie, teclista dos Ultravox (que viviam um tempo de pausa em busca de novo caminho), e ao guitarrrista Midge Ure, recentemente saído dos Rich Kids, para criar uma música que servisse de síntese para as propostas daquelas noites de fuga e festa. Respondiam como Visage e pouco depois enriqueceriam a sua formação de estúdio – porque nessa altura não atuavam ao vivo com músicos dos Magazine (Barry Adamson, John McGeosh e Dave Formula).
Os Visage tornar-se iam pouco depois na banda-paradigma do movimento new romantic, que editou três primeiros álbuns de originais entre 1980 e 84, e com pico de glória no ainda hoje recordado em Fade To Grey. Valentes anos depois regressariam com novas vidas (e novas formações) sem contudo repetir o impacte dos momentos vividos na primeira metade dos anos 80. Mas o primeiro passo deram-no, antes de descobertos por uma grande editora, pela pequena independente Genetic Records, ao bom jeito de qualquer boa manifestação nascida de herança punk.
Aí editaram, em 1979, o single de estreia Tar, primeiro foco de uma ideia que depois ganharia adeptos, que esgotou num ápice a pequena edição de lançamento. A canção cruzava evidente genética Bowie com novas visões pré-80, e a capa vincava mais ainda a vénia ao mestre-camaleão, com Steve Strange com um olho de cada cor. No lado B surgia uma primeira versão de Frequency 7 que valorizava a presença de um trabalho de voz processada por vocoder e abria maior espaço às emergentes eletrónicas.