Quando Mike Portnoy saiu do Dream Theater em 2010, a banda norte-americana perdeu muito mais do que o seu baterista. O quinteto ficou sem liderança, que acabou sendo absorvida pela dupla John Petrucci e Jordan Rudess. Mas, sobretudo, abriu a mão da sua alma, do ingrediente que tornava a banda mais humana e próxima do público.
Portnoy, além de um baterista fenomenal, é um fã de música. Um cara inovador e que mostrou isso após a saída do Dream Theater, aventurando-se em jornadas musicais distintas com o Adrenaline Mob, Avenged Sevenfold, Flying Colors, The Winery Dogs, Metal Allegiance, Sons of Apollo e mais uma dezena de formações. Mike Portnoy era o lado humano do Dream Theater, e isso só ficou claro após a sua saída.
Desde então, o grupo gravou quatro discos: A Dramatic Turn of Events (2011), Dream Theater (2013), The Astonishing (2016) e Distance Over Time (2019). Todos com Mike Mangini, o novo dono da bateria na principal banda de prog metal do planeta. Um cara que é irretocável tecnicamente, mas que não consegue traduzir toda a sua exuberância instrumental em algo atraente para os ouvidos. Mangini, de modo geral, é aquele tipo de baterista que funciona muito bem isoladamente, deixa todo mundo de queixo caído em vídeos no YouTube, mas que não consegue se encaixar de maneira fluída quando tem uma banda ao seu lado. Isso aconteceu em todos os discos que ele gravou com o Dream Theater. Até agora.
Distance Over Time é, facilmente, o melhor álbum do quinteto formado por James LaBrie, John Petrucci, Jordan Rudess e John Myung desde a chegada de Mangini. É um trabalho muito melhor que os anteriores, mais dinâmico e com canções que soam mais naturais, quentes e menos mecânicas que os discos anteriores, especialmente o megalomaníaco The Astonishing. E é também mais do que isso, pois não seria exagero classificá-lo como o álbum mais sólido do Dream Theater desde o pesado e sombrio Train of Thought, lançado em 2003, e que foi o último grande disco da banda com Portnoy.
O que faz de Distance Over Time um álbum tão bom é a abordagem mais direta e descomplicada das músicas. O Dream Theater não abriu mão de sua tradição prog metal, mas trabalhou a técnica muito acima da média dos músicos a favor das canções. O resultado são faixas que funcionam isoladamente, trazem bons ganchos melódicos e refrãos atrativos em faixas que são inegavelmente mais diretas. É claro que o disco tem as tradicionais canções mais longas, como é o caso de “At Wit’s End” e “Pale Blue Dot”, mas elas soam super bem resolvidas e sem momentos desnecessários e auto indulgentes, como já aconteceu em situações anteriores.
Mike Mangini soa menos amarrado, menos duro, menos robótico, conseguindo sair de seu universo essencialmente técnico e entregando uma performance que conversa e contribui decisivamente para o ótimo resultado alcançado. E os outros músicos seguem igualmente essa abordagem, fazendo com que o disco soe mais humano e próximo do ouvinte. A sensação é de estar ouvindo um álbum de prog metal que funciona e empolga como a banda já fez anteriormente em sua carreira em clássicos como Images and Words (1992), Awake (1994) e Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory (1999). Não estou afirmando que o Dream Theater alcançou o grau de excelência desses discos, mas a sensação que a audição do álbum proporciona é semelhante ao que esse trio nos fez sentir no passado.
Se você andava distante do Dream Theater, Distance Over Time é um bom momento para você voltar a ouvir a banda. Uma surpresa agradável está a sua espera.
Sem comentários:
Enviar um comentário