Precisamos falar sobre o Rival Sons. E a conversa será bem séria. O quarteto norte-americano formado por Jay Buchanan (vocal), Scott Holiday (guitarra), Dave Beste (baixo) e Mike Miley (bateria) acaba de lançar o seu sexto disco e ele é, talvez e muito provavelmente, o seu melhor trabalho.
Feral Roots é o sucessor de Hollow Bones (2016) e inicia um novo capítulo na carreira da banda californiana. Depois de anos com a Earache Records, o grupo assinou com a Atlantic, liberando o seu primeiro trabalho por uma grande gravadora. Trabalhando mais uma vez com o produtor Dave Cobb (que assinou todos os seus discos e também álbuns de nomes como Chris Stapleton, Whiskey Myers e Europe, entre outros), o Rival Sons mostra uma evolução gigantesca em relação aos seus trabalhos anteriores. A mudança de gravadora parece marcar o fim da primeira fase da carreira dos caras, resultando em um som muito mais maduro e impressionante.
Temos onze músicas em Feral Roots. E elas trazem uma sonoridade que não esconde o quanto anda para frente em relação à tudo que o grupo gravou antes. Os ecos de Led Zeppelin ficaram nos primeiros discos. O mergulho no blues de Great Western Valkyrie (2014) e Hollow Bones também é página virada. Em certos aspectos, Feral Roots guarda semelhanças estruturais e de abordagem com Head Down (2012), terceiro álbum do grupo e responsável por mostrar ao mundo a sonoridade própria do quarteto natural de Long Beach.
A força do Rival Sons está no trio Buchanan, Holiday e Miley. O vocalista é, facilmente, uma das melhores vozes do rock contemporâneo, e já alcançou esse status há tempos. O que Jay está cantando nesse novo álbum beira o absurdo. Já Scott Holiday, que adora desfilar com suas Gibson Firebirds, é a usina criativa da banda, seja através dos seus riffs certeiros ou nos momentos em que deixa a distorção de lado e aposta em climas mais calmos e contemplativos. E Mike Miley é o mais próximo que podemos imaginar de como John Bonham soaria se ainda estivesse vivo. Miley é uma força da natureza, seja pela sua pegada pesada ou por suas viradas insanas, tudo isso turbinado por um timbre que não nega a paixão pelo legado de Bonzo.
As músicas de Feral Roots têm tudo que uma grande banda entrega aos montes, aos baldes e sem pensar muito. As composições são redondas, com dinâmicas que fluem naturalmente, pontes que levam linhas vocais já cativantes para momentos ainda mais incríveis, além de muitas outras qualidades. A maturidade que o grupo demonstra em seu novo disco é inebriante, deixando claro de onde vem as suas influências (Free, blues rock, Bad Company, um certo tempero de Aerosmith e o onipresente Led Zeppelin), mas sempre usando esses ingredientes para a construção de algo inédito, novo e da mais alta qualidade.
Feral Roots é o disco que mostra porque o Rival Sons existe. Ninguém faz um som como eles. Trata-se de um álbum de gente grande, de uma banda que nasceu com imenso potencial, soube deixar as suas qualidades ainda mais fortes e corrigir as suas deficiências até chegar a um ponto como esse, onde tudo que foi feito antes se une para dar ao mundo um disco absolutamente impressionante. Na prática, temos os músicos no auge dos seus poderes entregando composições que demonstram o quanto a banda está à frente da grande maioria de seus pares - é o caso da explosão musical de “Back in the Woods”, do gospel absolutamente tocante que toma conta de “Shooting Stars” e da música que dá nome ao álbum, todas de cair o queixo. E tudo isso sem soar pedante ou inacessível, muito pelo contrário. “Do You Worst”, por exemplo, abre o disco com um groove desconcertante e com um refrão feito sob medida para levantar estádios. Ou em “Too Bad”, onde Jay Buchanan voa alto para emocionar até o mais durão dos fãs.
O que o Rival Sons faz em pleno 2019 é mostrar que o classic rock não precisa, e não deve, viver apenas do passado. Não é preciso ouvir sempre as mesmas bandas, as mesmas músicas e nem repetir as mesmas fórmulas para que o rock permaneça vivo. Muito pelo contrário. A banda usa a sabedoria adquirida nos anos de estrada e o talento incrível que possui para olhar para o passado sem perder o foco no futuro, evoluindo a sua sonoridade sem que ela perca suas raízes, suas referências. E brinda os fãs com um trabalho que é emocionante para quem passou a vida toda ouvindo rock, acompanhou as fases pelas quais o gênero passou ao longo dos anos e agora tem, na sua geração, bem na sua frente, a oportunidade de acompanhar de perto o nascimento e o desenvolvimento de uma banda que com certeza irá se tornar uma lenda, um ícone e uma das grandes referências do estilo daqui há alguns anos.
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