Biografia de Amazing Blondel Ativo de 1969 a 1977 - Reativado entre 1997 e 2005
O AMAZING BLONDEL existiu durante o início dos anos setenta. Originalmente formado por John David GLADWIN, Terry WINCOTT e Eddie BAIRD após deixar outra banda ainda mais obscura chamada METHUSELAH. Para esses três, a banda era essencialmente um trio cantando e tocando krumhorns, flautas doces, alaúde, tiorba, guitarras, dulcimers, flauta, piano, cravo, mellotron, órgão, tambor, cítara tubular, sinos, glockenspiel e percussão. Inglês principalmente acústico de 1969-76. Guitarra renascentista da Idade Média, órgão e outros instrumentos, vocais de harmonia multiparte, etc., beirando o movimento prog na Inglaterra na época. Os músicos já haviam tocado rock e, portanto, a música também não pode ser chamada de clássica. Entre muitos músicos convidados famosos, podemos citar Boz BURRELL, Eddie JOBSON, Steve WINWOOD e Mel COLLINS.
"The Amazing Bondel" foi uma coleção de números de rock acústico suave que incluía uma música de estilo medieval que parecia ir melhor do que qualquer outra coisa, e essa era a direção que eles almejavam em seus lançamentos futuros. "Evensong" é um álbum folk que remonta à Idade Média e ao Renascimento. Madrigais e baladas tocadas em instrumentos de época se tornaram sua especialidade e as ideias criativas do trio levaram ao álbum conceitual "Fantasia Lindum", que pertence mais ao rock progressivo do que ao folk-rock. "England" usou a mesma técnica para criar canções pop elegantes e ricamente arranjadas. GLADWIN saiu e a dupla sobrevivente se voltou para o hard-folk do STEELEYE SPAN com "Blondel", inteiramente composta por BAIRD, "Mulgrave Street", "Inspiration", "Bad Dreams". A banda se reuniu 21 anos depois para "Restoration" (1997), um álbum que remonta aos seus dias de halcon.
Seus terceiro e quarto álbuns "Fantasia Lindum" e "England" representam o material mais musicalmente sofisticado, que qualquer fã progressivo sem aversão à música folk não deve ter problemas para aproveitar. A maioria dos fãs do GRYPHON, FAIRPORT e outros folk rock britânicos ficarão encantados com esta banda.
Contra tudo e contra todos, Roger Waters entrega ao público em 1992 um disco conceptual quando o formato estava completamente morto e enterrado. Talvez o mais marcante da sua carreira a solo.
Depois da aventura The Pros and Cons of Hitch Hiking e do rotundo falhanço da digressão de Radio K.A.O.S., a qual não conseguiu competir com uma máquina bem oleada chamada Pink Floyd, Waters estava num limbo criativo no início da década de 90.
A sua raiva interior perante o sucesso colossal que os seus antigos colegas de banda estavam a atravessar fez com que se atirasse a composição de um álbum deliberamente rock, mas com um toque bem “floydiano” onde iria abordar os habituais temas que se lhe atravessavam na mente desde Dark Side: a guerra, a alienação do individuo, a religião e a política.
Waters montou um disco conceptual onde a personagem central (o macaco) assiste pela TV ao bombardeamento dos noticiários. O tema-chave é a canção, “What God What Wants” que tal como “Another Brick in the Wall” uns anos antes é dividida em três partes. Com solos de Jeff Beck, (a fazer por momentos o espectro de David Gilmour), Waters apresenta uma canção feroz onde critica de A a Z o sistema capitalista, a sociedade de consumo e a religião. Tema tipicamente saído de Waters a deixar destilar todo o seu veneno tal como fez no passado em “Not Now John” ou “Waiting for the Worms”.
A “guerra” prossegue com “Perfect Sense”, tema mais atmosférico, e que contém um dueto com a cantora soul P.P. Arnold que mais tarde o acompanhou ao vivo na digressão de “In The Flesh”. Os duetos continuam na acústica “Watching TV” com uma aparição inesperada de Don Henley dos Eagles. Curiosamente a parelha de vozes destes senhores multi-milionários acaba por resultar na história da rapariga chinesa que foi esmagada pelos tanques de Tiananmen em 1989.
O disco em jeito de ópera-rock segue num crescendo e depois de “The Bravery of Being Out of Range” temos os majestosos e mais longos “It’s a Miracle” e o tema homónimo que empresta o nome ao disco. Ao contrário do macaco que fica entretido para sempre com o estado do mundo, Waters demorou alguns anos a recuperar dos traumas psicológicos que sempre o afetaram (nomeadamente a perda do pai com a tenra idade de um ano). Mas felizmente a história conheceu um final feliz. Em 1999, após 12 anos de ausências das digressões (apenas apareceu na encenação de “The Wall” em 1990 em Berlin), Waters cresceu e apareceu.
Desde então nunca mais parou, e em 2017 publicou finalmente o sucessor (digno) de Amused: Is This The Life We Really Want?. Quanto às canções do disco de 1992, Waters tocou a sua maioria nos dois concertos que deu na altura no Pavilhão Atlântico. E que bem que elas soaram ao lado dos clássicos habituais dos Pink Floyd. Pois dizem os fãs acérrimos de Waters que Amused To Death é a peça final do puzzle de uma suposta trilogia que começou muitos anos antes com The Dark Side of the Moon e The Wall.
No mesmo ano em que os Pink Floyd lançam o primeiro disco sem a sua participação, Roger Waters continua a sua senda anti-guerra, obedecendo à sua matriz de álbum-conceito, mas, desta vez, o resultado final não foi tão bem aceite como os seus trabalhos anteriores.
Considerado por muitos fãs e críticos como o génio criativo dos Pink Floyd após a saída de Syd Barrett, Roger Waters foi responsável pelos conceitos dos seus discos mais incontornáveis e escritor das mais emblemáticas canções. Quando a banda começou a dar sinais de divórcio, Waters decidiu que era a hora de acabar com ela. Os outros, especialmente Gilmour, acharam que não e decidiram continuar, arrastando-a para uma certa mediocridade, expressão nunca antes utilizada para descrever Pink Floyd.
Neste novo mundo, e sem o apoio da sua banda de sempre, Roger Waters lançaria The Pros and Cons of Hitch Hiking, projecto que já teria sido proposto aos Pink Floyd na altura de The Wall e que apresentava como conceito uma crise de meia-idade; a autópsia de um casamento a ruir; a traição, o desejo, a culpa. Estavam lá todos os ingredientes que fizeram de Waters o homem do leme nos últimos anos dos Pink Floyd.
Em 1987, porém, o som que marcava a década era muito mais pop e Roger Waters não conseguiu fugir dele, tal como os seus antigos companheiros o fizeram no primeiro disco sem a sua participação. A diferença entre os discos é que Waters consegue fazer um disco conceptual, com significado, mesmo piscando o olho ao som do momento.
O conceito de Radio K.A.O.S. é fora do comum. Conta a história de Benny, mineiro galês e do seu irmão gémeo, Billy, um jovem deficiente em estado vegetal numa cadeira de rodas. Benny é um amante de rádio amador e todas as noites Billy escutava as transmissões do seu irmão. Uma certa noite, Benny leva Billy para uma noite de copos pela vila. Levemente embriagado, Benny revolta-se ao ver uma loja cheia de televisores a mostrar a primeira-ministra Margaret Tatcher e, em forma de protesto, resolve assaltar a loja, levando um telefone portátil. Desiludido com a vida, Benny sobe para o parapeito de uma ponte. Nessa mesma noite um motorista é morto por uma pedra atirada de uma ponte similar. Benny é acusado do crime e é preso, não sem antes esconder o telefone debaixo da cadeira de rodas de Billy. Curiosamente, Billy tem um talento diferente de todas as outras pessoas. Recebe ondas de rádio dentro da sua cabeça e começa a explorá-las neste seu novo instrumento, o telefone portátil. Sem a protecção de Benny, Billy é enviado para Los Angeles, para casa de um tio que esteve envolvido no projecto Manhattan. O Tio David também é adepto do rádio amador e Billy começa a utilizar os seus novos talentos para comunicar com Jim, um renegado DJ de rádio e tornam-se amigos. Tatcher e Reagan bombardeiam a Líbia e Billy acha que se atingiu o limite. Com o seu poder, Billy encontra uma maneira de manipular os sistemas de mísseis de todo o planeta de modo a simular um ataque nuclear, um acto que serve para assustar o mundo. Confuso? Roger Waters fornece, no velhinho booklet, um guia explicativo, que juntamente com as letras, dão uma ajuda a navegar pelo álbum.
Narrativas à parte, é a música que nos dá a história do disco. Enérgica onde Hitch Hiking era bastante lânguida, mas sempre íntegra e convincente, efeito similar ao que obtemos quando “Not Now John” entra a cortar a sonolência de The Final Cut. Radio K.A.O.S é, certamente, o disco mais pop de Roger Waters, mas consegue manter os princípios básicos da sua música, em que se destacam a pop otimista de “Radio Waves”, a depressiva “Me or Him” ou a áspera “The Powers That Be”. A última faixa, “The Tide Is Turning (After Live Aid)”, outro dos pontos fortes do álbum, é uma balada que vislumbra uma pequena esperança de futuro num mundo que parecia estar condenado.
Radio K.A.O.S é envolvente e ambicioso, como sempre foi apanágio de Roger Waters, e a cada audição conseguimos detectar pequenas nuances. Do seu catálogo a solo, será o disco mais fácil para começarmos a descobrir o seu mundo.
Apesar de ter um conceito bizarro e ser um disco claramente ligado a uma década e a um som muito particulares, a mensagem continua, como sempre, forte e actual. Curiosamente, Radio K.A.O.S. não seria muito bem recebido pela crítica, tendo vendido pouco e afectado, e muito, os seus concertos. Para agravar a situação, Waters via os seus ex-companheiros a embarcar em tournées esgotadas e a ganhar milhões.
Mais de trinta anos depois do seu lançamento original, Radio K.A.O.S. acabou por envelhecer melhor do que se pensava, não envergonhando ninguém, nem os fãs de Roger Waters, nem os dos Pink Floyd.
“Não existe lado oculto da lua. De facto é tudo negro.”
Para os verdadeiros fãs, as edições remasterizadas (revistas, aumentadas e especializadas) são um autêntico achado arqueológico (e um bom sinal de investimento na carteira). Não só permitem ter uma visão quase total sobre o processo de criação da obra, como de vez em quando trazem à luz algumas pérolas que se julgavam perdidas nos confins dos baús dos sótãos das editoras.
No caso desses “gigantes adormecidos” Pink Floyd, o formato “super-deluxe” não é apenas uma edição “chapa 4” para tentar captar novos fãs ou atrair algum mais distraído julgando-se tratar de novas músicas. Serve essencialmente para espalhar ainda mais o lastro numa supernova musical com mais de 40 anos de existência.
Na maioria destas edições expandidas, temos dois discos, no máximo três. Veja-se o exemplo dos relançamentos recentes de Nevermind dos Nirvana ou de Achtung Baby dos U2.Com os Floyd temos nada mais, nada menos do que uma caixa contendo seis discos. Três CDs áudio, um Blue-ray e dois DVDs Uma gigantesca fanfarra muito apetecível, mas que não está ao bolso de qualquer carteira. Quem tem dinheiro compra a caixa por 150€. Quem não tem…contenta-se em ouvir um som de qualidade duvidosa num qualquer serviço de streaming.
Claro que no caso desta banda específica, o pobre sai a perder porque perde “o sentir” da embalagem, “o visualizar” das obras icónicas de Storm Thorgerson e uma data de pormenores que só quem gosta de mergulhar a fundo no universo místico dos Pink Floyd é que sabe o que realmente isso é.
Com tanto à disposição o pobre desconfia. Afinal foram muitos os anos que estivemos à espera de uma coisa destas. Ou como diz a letra de “Time” (a canção que nos põe sempre a pensar na vida): “And then one day you find ten years have got behind you..No one told you when to run, you missed the starting gun”. O sempre céptico, poeta, Roger Waters sabia do que andava a escrever em 1972.
O que porém os Pink Floyd de certeza que não sabiam era do efeito que este disco (que começou por ter o título inicial de “Eclipse”) iria ter no resto das suas vidas quer como músicos quer como indivíduos. Parecia que quanto mais eles queriam desprezar o dinheiro (“Money get away…”) mais as rádios passavam o single “Money” gerando vendas astronómicas do disco por todo o mundo. Só na tabela norte-americana Billboard Dark Side detém um recorde inimaginável com mais longevidade que já ultrapassou as 741 semanas consecutivas!
Mas concentremo-nos no melhor que há nesta versão titânica da obra-prima: a música. Escutemos a versão alternativa do disco. O lado oculto da criação. Ponham o terceiro CD áudio, o tal que contem uma versão integral do disco com uma mistura do engenheiro de som Alan Parsons.
Lá está o Dark Side mais cru, mas com mais sentimento, sem grandes orquestrações, overdubs ou coros femininos. A magia já lá está toda, mas ainda faltavam sacar uns coelhos da cartola. É o caso de “The Great Gig in The Sky” aqui ainda sem a voz de Clare Torry, mas com as vozes dos astronautas da missão “Apollo 13”. Talvez na altura isto tivesse feito mais sentido para uma obra que deveria ser o supra-sumo dos reis do rock espacial.
E falta também aqui o pormenor das “vozes” que dão consciência ao disco. Um processo que só foi acrescentado na mistura final do produto. Porém os risos que se ouvem nesta versão da perturbante “Brain Damage” são muito mais violentos daqueles que estamos habituados.
Terminada a versão alternativa ainda há mais sete faixas bónus. E aqui é que reside o verdadeiro “Saurceful of Secret”. O santuário sónico dos Pink Floyd que durante anos foi a Meca dos “bootlegers”, os piratas do som.
A começar por “The Hard Way” uma faixa que sobrou do projecto falhado –“ Household Objects” – na qual os Floyd pretendiam gravar um disco inteiro usando garfos, facas, borrachas, copos e outras coisas que tais. A avaliar aqui pela amostra se tivessem sido persistentes talvez tivessem inventado outro género musical à margem de Stockhausen.
Também de se escutar é o melancólico “Us and Them” com Richard Wright a solo no piano. Um tema muito triste, mas ao mesmo tempo muito forte que começou a ganhar vida uns anos antes sob a forma de “The Violent Sequence” no filme de Antonioni: “Zabriskie Point”. Na altura (1969) completamente vetado ao abandono.
Mais experimental tem aqui um instrumental chamado “The Morality Sequence”, uma versão ao vivo de “Any Colour You Like” (com direito a grandes solos de David Gilmour) e a famosa jam “Travel Sequence”, que mais tarde seria descartada em favor dos ambientes mais hipnóticos e futuristas dos primeiros sequenciadores electrónicos de “On the Run”.
Para terminar em beleza, há a versão acústica de “Money” com Waters ao leme. Uma composição tipicamente “blues” e que soa quase descaradamente adolescente.
Faltou “apenas” incluir a versão inicial, acústica de “Time”. O que prova que os Pink Floyd ainda não deitaram todos os segredos cá para fora. Talvez haja mais uns truques fora da manga. Só não lhes peçam mesmo é para baixar os preços destas edições, porque tal como refere a letra de Money: “it’s no surprise that they’re giving none away…”