sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

The New American Orchestra “Blade Runner” (1982)

 Criada por Vangelis para o filme de 1982 de Ridley Scott, a música de “Blande Runner” começou por conhecer em disco uma versão com apenas alguns excertos do que se escutava no ecrã. Mais recentemente o próprio Vangelis gravou a sua versão em disco. 

O ano é o de 2019… Parecia distante quando em 1982 o filme surgiu nos ecrãs e a sua visão algo distópica de uma Los Angeles onde os néones sugerem sonhos quase impossíveis entre uma cidade sob incessante chuva tinha aquele ar de ameaça, embora distante. Tal como há não muito tempo nos aproximámos do 1999 em que vimos (em Espaço 1999) a Lua a ter uma base habitada ou do ano 2001 que acolheria uma missão a Júpiter (numa visão conjunta de Kubrick e Arthur C. Clarke), também o 2019 que Blade Runner: Perigo Iminente, de Ridley Scott – baseado no conto Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick –, inscreveu no calendário da nossa história futura ficcionada se aproxima sem que muito do que ali vemos esteja materializado. Uma vez mais há que ter em conta que a ficção científica não é uma arte divinatória nem procura fazer previsões. Fala, antes, e sempre, de nós, do que somos, do tempo em que vivemos, mesmo que use outros tempos, gentes e lugares para explorar os nossos sonhos e, sobretudo, os medos.

Em tempos cheguei a descrever Eldon Tyrell (uma das personagens secundárias, mas de ação central no filme) como uma espécie de Gepeto do século XXI. Mas em vez de ter uma loja de brinquedos e, nela, um boneco cujo nariz cresce quando mente, criou uma corporação colossal com implicações na economia da Terra e dos novos mundos colonizados. Uma das suas mais importantes contribuições para o estado das coisas nesse mundo global e transplanetário são os chamados replicants, seres em tudo idênticos a nós, humanos, mas com maior desenvoltura física e mais vastas capacidades intelectuais, desenhados segundo as funções a que são destinados, de forças militares a objetos de prazer. O seu maior senão é um tempo de vida, que se limita a quatro anos a contar a partir do momento em que são ativados. Mas tal como lembramos na história de Pinóquio, chegou um dia em que os replicants também desejaram ser humanos (ao fim de um tempo acumulam memórias reais – e não apenas as implantadas com que “nascem” – e adquirem experiências emocionais). São vivos, de carne e osso (artificial, mas as diferenças quase nem se notam) e desejam poder ultrapassar aquele cronómetro em contagem decrescente com o qual vivem inevitavelmente.

Das palavras de Philip K. Dick, Ridley Scott partiu para criar Blade Runner, que mesmo tendo conhecido estreia em 1982, só num director’s cut nos anos 90 traduziu a versão fatalista e desencantada com que o realizador desde sempre encarara esta história. Mais do que apenas uma trama sobre máquinas que anseiam ser homens, a trama sugerida por Philip K. Dick coloca-nos antes num mundo em que o próprio homem perdeu a humanidade. E não há ali nada mais “automático” do que as rotinas de busca e morte personalizadas pelos blade runners (ou seja, os caçadores de replicants na Terra, onde são proibidos). Vale a pena acrescentar que Philip K. Dick pensou estas figuras tendo em mente a memória de forças ao serviço do III Reich, e a quem o escritor dizia que não se podia aplicar a designação de humano. Tendo ainda acompanhado o desenvolvimento da preparação da adaptação da sua ideia escrita ao filme, notou que havia diferenças entre um e outro. E uma delas tem mesmo a ver com o que era o tema central da narrativa de K. Dick: o facto de Deckard (ou seja, o blade runner interpretado por Harrison Ford) ser uma figura desumanizada no seu processo de caça aos replicants.

Na visão assinada por Ridley Scott, Blade Runner – Perigo Iminente acompanha Deckard na sua caça, em ambiente urbano, a um grupo de quatro replicants da série Nexus 6 que, tal e qual dizem eles mesmos, viram com os seus olhos criados em laboratório coisas que os humanos nem imaginam. Estão numa missão de vida ou de morte na Terra, em busca do seu “criador”, ao qual querem apenas pedir uma coisa: tempo. Ou seja, vida.

Além deste debate sobre o que é do foro humano e onde estão as fronteiras que nos podem eventualmente separar da máquina o filme junta por cenário uma visão de uma Los Angeles de um futuro (agora próximo) que adquiriu um peso icónico na história do cinema de ficção científica. A cidade é lúgubre e chuvosa, sempre movimentada mas profundamente solitária. Os espaços e ambientes evocam memórias do film noir e houve mesmo quem chegasse a apontar que era um filme que olhava 40 anos à frente lembrando estilos de há 40 anos.



A música, assinada por Vangelis – naquela que é talvez a mais importante das suas bandas sonoras –, traduz na essência essa mesma ideia. E se no Love Theme a presença do saxofone transporta essa carga evocativa, que é ainda mais notória em One More Kiss Dear, já a essência dos momentos de música incidental que acompanham os planos gerais da cidade ou os diversos percursos entre edifícios sugerem o olhar adiante, que os registos eletrónicos sugeriam.

Pela música são ainda reforçadas as atmosferas de tensão e solidão que toldam a cidade, assim como a contaminação de formas da cultura asiática que sugerem novos paradigmas de referência na economia.

Agora, quase 40 anos volvidos sobre a estreia, Blade Runner tem o valor de um clássico e toda a história complexa de versões que o filme conheceu (da originalmente aprovada pelo estúdio à imaginada pelo realizador) está disponível numa soberba edição “integral” em Blu-ray.

Ao mesmo tempo a banda sonora tem merecido atenção de vários lançamentos recentes que, tal como no Blu-ray, dão conta da não menos complexa história de desentendimentos que a música criada para o filme conheceu. A edição original da banda sonora não correspondia exatamente à visão imaginada por Vangeli, apresentando em disco interpretações de parte do score por si composto, pela New American Orchestra. Supostamente mais perto do seu conceito original será assim o disco interpretado pelo próprio Vangelis, que há pouco tempo chegou aos escaparates… Cada um agora escolha a versão ideal para esta visão assombrada de um futuro que, pela lógica do calendário, agora já habita o nosso passado.

Queen “Flash Gordon” (1980)

 Editado em 1980 e encarado como um álbum de pleno direito do cânone da discografia de estúdio dos Queen (e não apenas uma banda sonora), “Flash Gordon” é um momento atípico na obra do grupo mas o tempo fez dele um episódio de culto. 

Em 1980, quando o cinema devolveu à vida “velho” herói dos tempos dos serials, a coisa não correu como o esperado e em muitos territórios a bilheteira ficou aquém de títulos então recentes como A Guerra das Estrelas, Encontros Imediatos de Terceiro Grau ou Alien – O Oitavo Passageiro, que faziam da ficção científica o “sabor” do momento na passagem dos setentas para os oitentas. Com o tempo Flash Gordon ganhou um estatuto de culto e a história recorda-o como uma das mais garridas entre as incursões do cinema pelo património dos comics.

Flash Gordon nasceu como uma tira de BD nos anos 30. Foi criado por Alex Raymond um pouco na linha das tiras que entretanto tinham já feito de Buck Rogers um herói popular. Flash era um jogador de pólo, formado na universidade de Yale que, na companhia de Dale Arden e do Dr. Zarkov, ruma ao planeta Mongo, onde o seu governante, o imperador Ming, se divertia com a Terra, lançando sobre o planeta azul um cocktail de desgraças, entre as quais uma tempestade de meteoritos… Coisa simples… Flash Gordon dá então por si num mundo dividido sob o jugo de um tirano impiedoso. Divide para reinar. E deixa cada comunidade entregue a um clima de suspeita e oposição face às suas vizinhas, desconhecendo por isso as máximas do estilo “o povo unido” e similares… Numa espécie de revolução despida de ideologia, feita de pancada, pistolas de raios, naves, homens falcão e outros seres e tradições bizarras, Flash Gordon lança as táticas, mobiliza as forças e encontra o ponto de rebuçado da unidade popular… Dá conta do recado e lá se vai o tirano por água abaixo… A personagem e os lugares por onde andou deram, na verdade, ainda mais pano para mangas, alimentando tiras publicadas na imprensa durante décadas a fio.

Em 1936, dois anos depois de nascido entre os quadradinhos de Alex Raymond, Flash Gordon chegou pela primeira vez ao cinema num primeiro serial, que se prolongaria por 13 episódios e representaria uma das primeiras grandes produções bem sucedidas do cinema de ficção científica. Tanto que, pouco depois, geraria dois novos serialsFlash Gordon’s Trip To Mars (de 1938, com 15 episódios) e Flash Gordon Conquers The Universe (de 1940, em 12 episódios). O impacte destes serials motivararia, mais tarde, a criação de uma primeira série televisiva de acção real (com 39 episódios produzidos entre 1954 e 55) e uma segunda, de animação (de 32 episódios, criados entre 1979 e 1980).

Foi sobre todo este legado, e a consciência da solidez de um herói criado pela cultura popular dos anos 30 que soubera cruzar gerações, que Dino de Laurentis avançou com o projeto de um filme centrado na figura de Flash Gordon, cuja realização entregou a Mike Hodges. O caldeirão de ingredientes era, de facto, impressionante, juntando um elenco onde encontrávamos nomes como os de Max Von Sydow (Ming), Topol (Dr. Zarkov), o futuro 007 Timothy Dalton (o príncipe Barin) ou Ornella Mutti (princesa Aura), um guarda roupa criado por Danilo Donati (que trabalhou com Fellini), uma direção artística atenta à herança dos serials dos anos 30, juntando agora a exuberância da cor e, cereja sobre o bolo, uma banda sonora essencialmente instrumental criada pelos Queen.



A trama recebeu alguns novos temperos – Flash Gordon passou a ser um jogador de futebol – mas na essência o filme retrata a ida do pequeno contingente a Mongo, o confronto com Ming e o jogo de resistência e oposição que se segue. Coisa linear, simples (a roçar por vezes o simplório), firme na exploração de um tom de fantasia e até alguma ingenuidade visual e com narrativa herdada das memórias das produções dos nos 30, vincando por outro lado a novidade berrante da cor, num festim camp de exagero barroco planetário como poucas vezes a ficção científica vestiu. Nem mesmo na Barbarella de Roger Vadim…

40 anos depois, Flash Gordon virou coisa de culto (consciente do tom kitsch e camp que aqui mora). E recentemente foi lançada uma nova edição em 4K e Blu-Ray com uma montanha de extras.

Criada pelos Queen, a música de Flash Gordon foi a primeira das suas duas investidas maiores pelo cinema (a segunda chegaria anos depois em Highlander, de Russel Mulcahy). A música é essencialmente instrumental (há apenas duas canções), com grande parte das composições a explorar o tom “futurista” dos emergentes sintetizadores, mantendo todavia o tom épico que sempre caracterizou a alma das canções do grupo. Foi o próprio Dino de Laurentis quem abordou os Queen para este desafio, tendo o grupo aceite desenvolver o projeto ao mesmo tempo que trabalhava no álbum The Game.

No fim, Flash Gordon é o mais atípico dos álbuns da obra dos Queen, a lógica camp que as imagens sugerem encontrando aqui perfeito complemento direto. O álbum foi recentemente reeditado com som remasterizado, juntando um segundo CD com maquetes, versões alternativas e gravações ao vivo.




Henry Mancini “The Music From Peter Gunn” (1959)

 

Um total de 114 episódios de 30 minutos, originalmente transmitidos entre 1958 e 1961 (primeiro na NBC, depois na ABC), deram vida a Peter Gunn, o primeiro detetive privado imaginado de raiz para uma ficção televisiva. Porém, é pela música então criada por Henry Mancini que, ainda hoje, se fala de Peter Gunn. Na verdade será injusto esquecer aqui o papel de Blake Edwards, o criador da série, que mais tarde conheceria momentos de reconhecimento mais duradouros pelos seus feitos na realização de filmes como Boneca de Luxo (a adaptação ao cinema de Breakfast at Tiffany’s de Truman Capote), o musical Victor Victoria ou a série de cinco filmes “A Pantera Cor de Rosa”, com Peter Sellers a vestir a pele do Inspetor Clouseau. Blake Edwards realizou oito episódios na primeira temporada de Peter Gunn, dois na segunda e na terceira já só assumiu a escrita do guião dois dois últimos. Presente de fio a pavio, a música de Henry Mancini chegou a disco num álbum editado em 1959, poucos meses depois da estreia do primeiro episódio (emitido em setembro de 1958).

            Com um percurso profissional iniciado em 1946 junto de Glenn Miller (trabalhando então como pianista e arranjador), Mancini encetou em 1952 uma relação mais próxima com os universos do cinema e da televisão. Quando, em 1958, foi chamado para criar a música para Peter Gunn, tinha já vários trabalhos seus no cinema e televisão, porém nenhum deles creditado. Trabalhava então em música que ficava guardada na biblioteca do estúdio para que pudesse ser utilizada quando necessário. Em 1957 tinha-se estreado em disco com o LP The Verrsatile Henry Mancini, lançado pela Liberty. E, no ano seguinte, Sousa in Stereo, na Warner. O disco com a banda sonora de Peter Gunn colocaria um ponto final no relativo anonimato. E seria o cartão de visita para uma carreira futura que dele fez um nome maior na história do cinema norte-americano.

            A música de Peter Gunn tinha o jazz como terreno de partida, mas refletia sobre ecos da emergência do fulgor do rock’n’roll. E desse confronto, assim como de ideias instrumentalmente bem sucedidas – como o colocar o piano a acompanhar, com as mesmas notas, a guitarra no tema-título – arrebataram atenções. O álbum, editado pela RCA Victor, gerou um caso de sucesso, tanto que acabaria por surgir um segundo volume, com o título More Music From Peter Gunn, ainda em 1959.




Bob Crewe e Charles Fox “Barbarella” (1968)

 

Um filme de ficção científica de 1968, com uma costela erótica e um travo de bom humor, Barbarella conquistou por vários motivos um lugar de relevo na história da cultura popular. Deu nome aos Duran Duran (na verdade o nome da banda é baseado na personagem Durand Durand, tirando “d”s), deu a Jane Fonda um dos seus papéis mais icónicos, mas fixou igualmente imagens e sons que refletem memórias dos dias em que o filme nasceu. Baseado numa banda desenhada, o filme, assinado por Roger Vadim, conta a história de uma missão que o presidente da Terra confia a Barbarella (Jane Fonda) que assim parte numa missão que tenta travar os desejos de conquista do universo pelo Dr Durand Durand, o inventor do… raio positrónico. Ou lá o que era…

         Se a narrativa é saborosa leitura light (e divertida) sobre códigos das histórias de ficção científica com aroma de aventuras e se as imagens cedo revelaram um potencial enorme de resistência à erosão do tempo, gerando um clássico de culto, na música devemos encontrar outro dos trunfos maiores de Barbarella. E a coisa fica logo bem clara na sequência que acompanha o genérico (e um strip da atriz) ao som da canção que dá título ao filme. Sinais dos tempos, numa letra que fala de “Barbarella psychadella”, são igualmente fixados numa banda sonora que tanto serve as necessidades cénicas e narrativas do filme como acentua o tom kitsch das imagens numa abordagem que não foge dos caminhos da música lounge, tanto que o tempo acabaria por muitas vezes registar o disco na categoria “exotica”.

         Mais instrumental do que cantada – apesar de algumas canções deliciosas para além da que serve o genérico – a banda sonora é assinada pela dupla Bob Crewe e Charles Fox. O primeiro foi autor de muitas canções de sucesso (algumas delas entregues às vozes dos Four Seasons). O segundo é um compositor com um historial igualmente longo de trabalho, aqui sobretudo na escrita de música para televisão e cinema (é dele, por exemplo, a canção-tema da série The Love Boat), tendo Barbarella representado o seu primeiro desafio de grande fôlego. A banda sonora surgiu em disco em 1968 numa interpretação da Bob Crewe Generation Orchestra, com canções interpretadas pelos Glitterhouse e pelo próprio Bob Crewe.




ROCK ART


 

Son Of A Bitch - Victim You [1996]

 



O Saxon é, sem dúvidas, uma das maiores bandas da história da MPB, a Música Pesada Britânica. E o que esperar de um grupo que reúne músicos que fizeram parte dos áureos tempos ao lado de Biff Byford? O Son of a Bitch – que, aliás, era o nome original do Saxon – foi formado por Graham Oliver e Steve Dawson, que chamaram o baterista Pete Gill (que também tocou no Motörhead) para retomar a parceria. Completaram a formação com o vocalista Ted Bullet, ex-Thunderhead, que acaba sendo o grande diferencial do trabalho, além do guitarrista Haydn Conaway.

Victim You foi o único disco de inéditas lançado pelo conjunto. O som é NWOBHM até a medula, como era de se esperar de um time desses. A grande diferença para o grupo anterior dos envolvidos fica mesmo na voz de Ted, que tem uma pegada mais blueseira, com um registro bem próprio. Mas nada que cause estranhamento no ouvinte, muito pelo contrário, as músicas se adaptaram perfeitamente. É como ouvir Saxon sob uma nova perspectiva. E é melhor escutar sem comparações maiores, afinal de contas Biff é dono de um vocal único.



Após esse trabalho, Steve e Graham tiveram a maluca idéia de mudar o nome da banda para... Saxon, alegando possuir direitos sobre o registro do nome original. Obviamente uma longa batalha na justiça teve início, com o fim que todos já imaginam. Mesmo assim, conseguiram uma autorização para adaptar a nomenclatura Oliver/Dawson Saxon, com a qual pagaram uma série de micos, com direito a show em São Paulo para míseras 75 pessoas. Hoje, seguem se apresentando esporadicamente em botecos mundo afora. Uma pena, pois a julgar por esse trabalho poderiam ter feito algo bem mais produtivo. De qualquer maneira, o Son of a Bitch merece a atenção de todos os headbangers.

Steve Dawson (bass)
Ted Bullet (vocals)
Graham Oliver (guitar)
Haydn Conway (guitar)
Pete Gill (drums)

01. Bitch of a Place to Be
02. Drivin' Sideways
03. Past the Point
04. No One's Gettin' Over
05. Treacherous Times
06. Love Your Misery
07. I Still Care
08. Old School
09. More For Me
10. Evil Sweet Evil
11. Victim You


Cássia Eller – Acústico MTV [2001]

 



Onde está a pegada? A atitude? Os peitos de fora?! “O mundo ficou mais careta depois que Cássia morreu”, lamenta Eugênia Vieira, eterna companheira da cantora carioca, com quem dividiu sua cria, o Chicão, hoje com 18 anos de idade.

Há exatos 10 anos, naquele 29 de dezembro de 2001, os pensamentos e focos estavam voltados para o Réveillon que Cássia Eller faria logo mais, contudo uma complicação cardíaca tirou o sonho de ela de ver seu filho crescer.

A famosa intérprete de “Maladragem”, um de seus maiores hits, tinha dado um tempo nas drogas e no cigarro. A água de coco era seu alento num Rio de Janeiro esvoaçante de calor. Semanas antes, ela vinha sofrendo de falta de ar, deixando transparecer um pouco o cansaço acumulado de shows e mais shows na agenda.

A bem da verdade, na época, jornais de todo o Brasil arriscaram que o motivo da morte de Cássia teria sido overdose. Só que ela havia parado com isso. O laudo pericial do IML apontou parada cardiorrespiratória. Quatro delas. A fonte de Cássia secara.

Com efeito, na infância, a cantora, que se criou no Rio, mas se aventurou por Brasília – onde começou a carreira sentada em banquinhos de bar –, Belo Horizonte, Santarém e São Paulo, teve arritmia cardíaca e febre reumática dos quatro aos 24 anos.

E é justamente a fim de mostrar estes detalhes desconhecidos da maioria dos fãs que o documentarista Paulo Henrique Fontenelle – que já tem no currículo o aclamado “Loki - Arnaldo Baptista”, sobre o fundador d’Os Mutantes – está aprontando um longa-metragem, resgatando depoimentos emocionados de gente do convívio da cantora, aliados a imagens caseiras pessoais dela. O resultado deve sair ainda em 2012.

Para celebrar esses 10 anos sem Cássia, foram lançados o CD ‘editado’ pelo amigo Nando Reis, chamado “Relicário - As Canções Que o Nando Fez Pra Cássia Cantar”, com a música inédita “Baby Love”; e a “Caixa Eller”, contendo nove CDs. Além disso, em breve, também deve vir a público um registro ao vivo em DVD de uma apresentação de 2001, apelidado de “A Luz do Solo”, onde a intérprete canta Joni Mitchell e Billie Holliday, afora suas canções arranjadas de sempre. Um livro-CD de autoria de – de novo – Nando Reis, o sempre presente Nando Reis, estará no catálogo ainda esse ano que está por vir.

O álbum em voga (já havia esquecido) é um play distinto. Mostra todas as facetas de Cássia. E que falta isso faz na música brasileira! Ela foi uma das mais bem vistas artistas da década de 1990 e não desmereceu o valor lhe atribuído. Com sua voz rouca, conseguiu vender 1,1 milhão de cópias neste “Acústico MTV”, com destaques para, claro, “Maladragem”, a elogiosa “1º de Julho”, nas levadas de “Partido Alto” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, e na clássica “Segundo Sol”.

Um registro versátil, impulsivo e ao mesmo tempo comedido, com atitude. Maria Gadú, me desculpa, mas deixe dessa coisa de wannabe... Eller é a Cássia. E só ela o é.

1. Non, Je Ne Regrette Rien
2. 
Malandragem
3. E.C.T.
4. Vá Morar Com O Diabo
5. Partido Alto
6. 1º De Julho
7. Luz Dos Olhos
8. Todo Amor Que Houver Nessa Vida
9. Queremos Saber
10. Por Enquanto
11. Relicário
12. O Segundo Sol
13. Nós
14. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
15. De Esquina
16. Quando A Maré Encher
17. Top Top

Cássia Eller - voz, violão
Luiz Brasil - violão, backing vocals
Alberto Continentino - contrabaixo
Paulo Calasans - piano, hammond
João Viana -bateria
Bernard Bessler -violino
Dirceu Leite - clarinete, flauta, clarone
Cristiano Alves - clarinete
Yura Ranevsky - violoncelo
Walter Villaça - violão
Fernando Nunes - baixolão
Lan Lan - percusão, backing vocals
Thamyma - percussão

Participação
Nando Reis - faixa 11
Xis - faixa 15
Nação Zumbi - faixas 15 e 16




Destaque

Annie Lennox – A Christmas Cornucopia (2010)

Sabemos que é uma espécie de tradição rara que artistas de vários países e estilos musicais publiquem, em algum momento de suas carreiras, u...