domingo, 27 de novembro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SERGIO GODINHO

O Namoro

Sérgio Godinho


Mandei-lhe uma carta

Em papel perfumado

E com letra bonita

Eu disse ela tinha

Um sorriso luminoso

Tão triste e gaiato

Como o sol de Novembro

Brincando de artista

Nas acácias floridas

Na fímbria do mar


Sua pele macia

Era suma-uma

Sua pele macia

Cheirando a rosas

Seus seios laranja

Laranja do Loge

Eu mandei-lhe essa carta

E ela disse que não


Mandei-lhe um cartão

Que o amigo maninho tipografou

'Por ti sofre o meu coração'

Num canto 'sI'm

Noutro canto 'não'

E ela o canto do 'não'

Dobrou


Mandei-lhe um recado

Pela Zefa do sete

Pedindo e rogando

De joelhos no chão

Pela Sra do Cabo

Pela Sta Efigénia

Me desse a ventura

Do seu namoro

E ela disse que não


Mandei à Vó Xica

Quimbanda de fama

A areia da marca

Que o seu pé deixou

Para que fizesse um feitiço

Bem forte e seguro

E dele nascesse

Um amor como o meu

E o feitiço falhou


Andei barbado

Sujo e descalço

Como um monangamba

Procuraram por mim

Não viu ai não viu

Não viu Benjamim

E perdido me deram

No morro da Samba


Para me distrair

Levaram-me ao baile

Do Sr. Januário

Mas ela lá estava

Num canto a rir

Contando o meu caso

Às moças mais lindas

Do bairro operário


Tocaram a rumba

E dancei com ela

E num passo maluco

Voámos na sala

Qual uma estrela

Riscando o céu

E a malta gritou

Aí BenjamI'm


Olhei-a nos olhos

Sorriu para mim

Pedi-lhe um beijo

Lá lá lá lá lá

Lá lá lá lá lá

E ela disse que sim

E ela disse que sim

E ela disse que sim


O Passado é um País Distante

Sérgio Godinho

 

O passado é um país distante

que distante é a sombra da voz

o passado é a verdade contada

por outro de nós


Estranho som

o da memória a recordar

ao longe reconheço a casa

e a língua familiar

estranho, o som da língua

na frase famailiar

o mar

galgou numa outra língua, o mar

nunca será demais lembrar

é um outro olhar para outro olhar


Estranha sombra

a que por vezes cobre o olhar

dir-se-ia que escurece só

p´ra então iluminar

as sombras a retalho

na face familiar

o mar

galgou por sobre a sombra, o mar

nunca será demais lembrar

é um outro olhar para outro olhar


Estranho sono

o que nos faz rememorar

na rua paralela o passo

outrora familiar

há casas tão mudadas

na rua familiar

o mar

galgou por sobre a rua, o mar

nunca será demais lembrar

é um outro olhar para outro olhar

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