Na segunda metade dos anos 1980, o mainstream milionário do rock norte-americano era dominado pelo glam metal, também chamado de “hair metal”. No Brasil, era tachado pejorativamente de “metal farofa”. O glam metal era um modismo caracterizado por bandas que praticavam um hard rock ou heavy metal com apelo mega comercial, em que músicos mais pareciam ter acabado de sair de um salão de beleza, com aquelas cabeleiras armadas e trajes extravagantes. Grupos como Poison, Cinderella, Motley Crue e Bon Jovi, foram algumas das bandas que mais “rodavam” nas rádios FM e na MTV dos Estados Unidos, além de terem boa projeção no resto do mundo. Naquele momento, parecia que o rock norte-americano estava condenado à mediocridade.
Contudo, na longínqua Seattle, cidade natal de Jimi Hendrix (1942-1970), estado de Washington, no extremo noroeste dos Estados Unidos, um movimento musical estava em pleno estado de ebulição e que daria dentro em breve, um novo sopro de vida não só no rock norte-americano, mas também no cenário roqueiro mundial: o grunge.
O movimento grunge surgiu em meados dos anos 1980, tendo como como bandas pioneiras a Green River, Soundgarden, The Melvins, dentre outras. O grunge caracterizou-se pelo som pesado e “áspero”, com influências de punk rock, hardcore e heavy metal . A rebeldia e os letras que abordavam temas como isolamento, a angústia e o pessimismo aproximavam o grunge ao punk rock. O selo independente Sub Bop, localizado em Seattle, foi uma espécie de “quartel general” do grunge, onde as bandas da cidade e redondezas gravavam os seus primeiros singles e álbuns.
A “ponta da lança” desse movimento foi o Nirvana, que ao lançar em 1991, o álbum Nevermind, balançou as estruturas do cenário musical mundial, derrubando Michael Jackson e U2 das listas de discos mais vendidos. Além de trazer aos holofotes para o som alternativo do grunge, o Nirvana também trouxe a reboque outras dezenas de bandas da cena grunge de Seattle. Esse impacto do rock alternativo sobre o mainstream da música pop foi comparado ao que aconteceu com a “explosão” dos Sex Pistols e o punk rock, em 1977.
O sucesso do grunge desencadeou uma grande “febre” em torno do movimento, influeciando a moda e o gosto musical de milhões de jovens pelo mundo. Em pouco tempo, em qualquer esquina de alguma grande metrópole, era possível dar de cara com algum jovem trajado com uma camisa de flanela, uma calça rasgada e um par de tênis surrado nos pés.
A morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, em 1994, foi um duro golpe no grunge, o que decretou o começo do seu fim, esse que foi considerado pela crítica, o último grande movimento relevante da história do rock.
Superfuzz Bigmuff (Sub Pop, 1988), Mudhoney. Formada em 1988, em Seattle, a Mudhoney lançou no mesmo ano em que foi fundada, o EP Superfuzz Bigmuff, trazendo seis faixas, nas quais, se percebe referências de punk rock e do rock de garagem dos anos 1960. As faixas “Need” e “In ‘N’Of Grace”, foram os principais destaques do álbum. Embora tenha sido um das bandas pioneiras do movimento grunge, a Mudhoey não teve a mesma projeção como o Nirvana, Pearl Jam ou Soundgarden.
Temple Of The Dog (A&M, 1991), Temple Of The Dog. A banda Temple Of The Dog foi um supergrupo formado em Seattle, em 1990, como um tributo a Andrew Wood, vocalista da banda Mother Love Bone, morto por overdose de heroína naquele mesmo ano, aos 24 anos. A formação contava com amigos do vocalista falecido, que inegrando outras bandas, decidiram se juntar para prestar uma homenagem. A formação do supergrupo contou com Chris Cornell (vocal, Soundgarden), Stone Gossard (guitarra base, ex-Mother Love Bone), Jeff Ament (baixo, ex-Mother Love Bone), Matt Cameron (bateria, Soundgarden), e mais outros amigos que meses depois formariam com outros músicos o Pearl Jam: Mike McCready (guitarra solo) e Eddie Vedder (vocais de apoio). Em abril de 1991, foi lançado o primeiro, único e autointitulado álbum da Temple Of The Dog. Gravado em apenas 15 dias, o álbum só veio ganhar mais visibilidade depois que o álbum Ten, do Pearl Jam, estava fazendo sucesso. O público foi atraído e o álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias. Destaque para as faixas “Say Hello 2 Heaven” e “Reach Down”, ambas dedicadas à memória de Andrew Wood, e “Hunger Strike”, faixa em que Cornell e Vedder fazem um dueto.
Ten (Epic, 1991), Pearl Jam. Das grandes bandas do grunge, o Pearl Jam foi a “caçula”. Formada em 1990, em Seattle, após o fim da Mother Love Bones motivada pela morte de seu vocalista, Andrew Wood (vítima de overdose de heroína), a banda Pearl Jam lançou em 1991, Ten, seu primeiro álbum, e logo de cara, por uma grande gravadora, a Epic Records. Ten traz uma bem dosada mistura de hard rock bem ao estilo anos 1970, somado a um ritmo dançante, empregado pelo baixo e bateria, remetendo sutilemente ao funk metal). As guitarras distorcidas e cheias de efeitos de pedais wah-wah, guaradam inspiração em Jimi Hendrix. À frente de tudo isso, a voz rasgada e carismática de Edder Vedder. As faixas “Alive”, “Jeremy”, “Even Flow” e “Black” foram os grandes hits de Ten, e ajudaram o álbum a alcançar a marca de 20 milhões de cópias vendidas em todo o planeta. Ao lado de Nevermind, do Nirvana, Ten foi fundamental na difusão do grunge em escala mundial.
Nevermind (DGC/Geffen, 1991), Nirvana. Segundo álbum de estúdio do Nirvana, Nevermind foi lançado quando o grunge já era uma realidade nos Estados Unidos como movimento. No entanto, o álbum foi responsável por elevar o movimento surgido em Seattle, do patamar alternativo para mainstream da indústria da música pop mundial. Desde Never Mind The Bollocks, dos Sex Pistols, álbum que fez eclodir o punk rock da Inglaterra para o mundo nos anos 1970, não se via um álbum representando um novo movimento de rock com um poder tão avassalador como Nevermind. Diferente do álbum dos Pistols, o segundo álbum do Nirvana não só foi um trabalho icônico de um movimento como também foi um fenômeno comercial: o álbum derrubou do posto de 1º lugar ninguém menos do que Michael Jackson e seu Dangerous. Desde que foi lançado, Nevermind vendeu mais de 30 milhões de cópias. Com seu som pesado, veloz e corrosivo, Nevermind contém músicas que se tornaram clássicos do grunge e do rock contemporâneo como “Smells Like Teen Spirit”, “Come As You Are”, “Lithium”, “Breed” e “In Bloom”.
Brick Are Heavy (Slash Records, 1992), L7. O grunge não envolveu apenas bandas de Seattle. Sua influência foi além dos limites daquela cidade, e foi adotado por bandas de ouoras lugares como a californiana L7, originária de Los Angeles. Nos anos 1990, a L7 fez parte de uma importante geração de bandas de rock formada por mulheres, e que foi responsável por ampliar a representação feminina dentro de um espaço do rock alternativo dominado pelos homens. A L7 já estreitava laços com o grunge desde o segundo álbum, Smell The Magic (1990), mas foi com Brick Are Heavy que a banda mergulhou de vez no gênero nascido em Seattle. Mais sujo e pesado do que os álbuns anterioress, Brick Are Heavy no entanto foi o trabalho que deu projeção internacional à L7. Produzido por Butch Vig, o mesmo de Nevermind, do Nirvana, Brick Are Heavy foi bem avaliado pela crítica e é o álbum de maior sucesso comercial da L7, levando a banda californiana a fazer grande turnês internacionais. A faixa mais famosa do álbum é “Pretend We're Dead”, cujo single ficou em 8º lugar na Billboard Modern Rock Tracks.
Sweet Oblivion (Epic, 1992), Screaming Trees. Criada em 1985, em Ellensburg, estado de Washington, a Screaming Trees é outra banda presente nesta lista que fez parte da primeira geração do grunge. Apesar da associação com o grunge, a banda caracterizou-se por incorporar ao seu som referências de hard rock e psicodelismo. Foi com seu sexto álbum, Sweet Oblivion, que a Screaming Trees encontrou o auge de sua carreira. Apoiado em canções como “Dollar Bill”, “Julie Paradise”, “Winter Song” e o maior hit, “Nearly Lost You”, o álbum alcançou a modesta marca de 300 mil cópias vendidas. “Nearly Lost You” foi incluída na trilha sonora do filme Singles (Vida de Solteiro, no Brasil).
Core (Atlantic, 1992), Stone Temple Pilots. Assim como a L7, outra banda californiana que fez fama através do grunge foi a Stone Temple Pilots. Sob o comando do vocalista Scott Weiland (1967-2015), a banda foi formada em 1985, na cidade San Diego, com o nome de Mighty Joe Young, mas rebatizada para Stone Temple Pilots em 1992, após assinar contrato com a Atlantic Records. No mesmo ano, lançou seu primeiro álbum, Core, um trabalho que foi atacado por uma considerável parcela da imprensa musical que considerou a banda uma mera imitação de Pearl Jam e Alice in Chains. Apesar dos ataques da imprensa, Core teve um grande desempenho comercial ao atingir a marca de 8 milhões de cópias vendidas, levando o álbum a ser o mais vendido da discografia do Stone Temple Pilots. O sucesso do álbum fez a banda ganhar os prêmios MTV em 1993, na categoria “Artista Revelação”, e o Grammy em 1994, de “Melhor Performance de Hard Rock”.
Dirt (Columbia, 1992), Alice In Chains. Embora seu álbum de estreia, Facelift, seja uma típico trabalho grunge, o Alice In Chains mergulhou ainda mais no gênero no segundo álbum, Dirt, empregando mais peso e indo mais a fundo em temas densos e tão comuns ao grunge como isolamento e dependência química. Faixas como “Sickman”, “Junkman”, “Dirt” e “God Smack”, dizem muito sobre a vida do vocalista Layne Staley, morto em 2002, aos 34 anos, vítima de uma combinação bombástica de heroína e cocaína. Dirt emplacou alguns dos maiores sucessos da carreira do Alice In Chains como “Would?!”, “Them Bones”, Angry Chair”, “Rooster” e “Down In A Hole”, levando o álbum a vender mais de 5 milhões de cópias. Considerado por alguns jornalistas o melhor álbum do grunge, Dirt foi indicado ao Grammy em 1992, na categoria “Melhor Performance Vocal de Hard Rock”.
Houdini (Atlantic, 1993), The Melvins. Formada em 1983, na pequena Montesano, interior do estado de Washington, a banda The Melvins fez parte da primeira geração do grunge. No entanto, após quatro álbuns lançados através pequenos selos independentes, a banda só veio ganhar grande projeção em 1993, quando assinou contrato com uma grande gravadora, a Atlantic Records, e lançou o seu quinto álbum, Houdini. O álbum foi co-produzido por Kurt Cobain, líder do Nirvana, que na época desfrutava da fama mundial de astro do rock. Cobain era um fã confesso da Melvins desde os tempos em que o grunge ainda era apenas uma cena alternativa de Seattle, no final dos anos 1980. Dentre as principais faixas do álbum estão “Lizzy”, “Hooch”, “Honey Bucket” e “Goin Blind”, este ultimo um cover do Kiss, originalmente gravada em 1974. Ainda que seja uma das bandas pioneiras do grunge, a Melvins é para alguns críticos musicais, de difícil classificação, pelo fato de flertar com as mais diversas tendências do rock alternativo, indo do próprio grunge até o doom metal, passando pelo sludge metal, um subgênero do heavy metal, o qual a Melvins ajudou a criar.
Superunknown (A&M, 1994), Soundgarden. Formada em 1984, em Seattle, a Soundgarden foi talvez a única banda da geração pioneira do grunge a alcançar a fama mundial, a partir do seu terceiro álbum, Badmotorfinger, de 1991, que vendeu 4 milhões de cópias. Mas foi com Superunknown que o Soundgarden consolidou-se como uma das mais importantes bandas de rock dos anos 1990. Musicalmente, o álbum bebe na fonte do heavy rock dos anos 1970 de Black Sabbath e Led Zeppelin, explora temas densos como suicídio, vício em drogas, depressão e solidão. Puxado por sucessos como “Black Hole Sun”, “Spoonman”, “The Day I Tried To Live” e “My Wave”, o álbum vendeu mais de 10 milhões de cópias. Duas faixas do álbum foram indicadas ao Grammy em 1995: “Black Hole Sun” (“Melhor Performance Hard Rock”) e “Spoonman” (Melhor Performance Metal”).
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