domingo, 8 de janeiro de 2023

A Magnifica Acidez de Fiona Apple em “Fetch The Bolt Cutters”

 Existem aqueles discos que só entram na nossa cabeça após diversas audições, de difícil digestão. Foi o meu caso com o disco da sensacional Fiona Apple, o aclamadíssimo Fetch The Bolt Cutters.

Após um intervalo de 8 anos desde o magnífico The Idler Wheel…, Fiona vem ainda mais venenosa e tem muito a dizer. Ela passou por muita coisa desde seu surgimento no mainstream com Tidal (1996), e a experiência tornou sua música cheia de contornos Jazzísticos mais experimental, e suas letras cada vez menos preocupadas com a síntese. O que temos aqui são sentimentos crus, lidando com relacionamentos falidos, memórias de infância e cicatrizes ainda abertas, de maneira pouco ortodoxa.

Indo para as canções, “I Want You To Love Me” abre os trabalhos com uma performance sensacional de Apple, crescendo da doçura para a rispidez de forma incrível, enquanto “Shameika”, com seu piano jazzístico e hipnótico, é mais uma das mais pegajosas do álbum.

Muito me chama a atenção o teor percussivo de boa parte das canções, desde a etérea faixa-título, o motivo quase tribal de “Relay” (aqui a repetição é uma dádiva!) e “Drumset”, onde a gravação primordialmente caseira dá voz a sons do cotidiano junto aos tambores (contando até com latidos dos cães de Apple). Apesar da densidade sonora ser predominante, ainda há espaço para melodias de uma doçura deliciosa, exemplificada em “Cosmonauts”, com suas belíssimas harmonias vocais.

Concluindo, Fetch The Bolt Cutters não é um disco fácil, mas um mergulho em cada nuance é muito bem recompensado com uma das experiências musicais mais intensas do ano. Fiona Apple sempre vem em bom momento!



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