domingo, 1 de janeiro de 2023

POEMAS CANTADOS DE SERGIO GODINHO

Que Força é Essa

Sérgio Godinho


Vi-te a trabalhar o dia inteiro

construir as cidades pr´ós outros

carregar pedras, desperdiçar

muita força p´ra pouco dinheiro

Vi-te a trabalhar o dia inteiro

Muita força p´ra pouco dinheiro


Que força é essa

que força é essa

que trazes nos braços

que só te serve para obedecer

que só te manda obedecer

Que força é essa, amigo

que força é essa, amigo

que te põe de bem com outros

e de mal contigo

Que força é essa, amigo

Que força é essa, amigo

Que força é essa, amigo


Não me digas que não me compr´endes

quando os dias se tornam azedos

não me digas que nunca sentiste

uma força a crescer-te nos dedos

e uma raiva a nascer-te nos dentes

Não me digas que não me compr´endes


(Que força...)


(Vi-te a trabalhar...)


Que força é essa

que força é essa

que trazes nos braços

que só te serve para obedecer

que só te manda obedecer

Que força é essa, amigo

que força é essa, amigo

que te põe de bem com outros

e de mal contigo

Que força é essa, amigo

Que força é essa, amigo

Que força é essa, amigo

Que força é essa, amigo


Que Há-de Ser de Nós?

Sérgio Godinho


Já viajámos de ilhas em ilhas

já mordemos fruta ao relento

repartindo esperanças e mágoas

por tudo o que é vento


Já ansiámos corpos ausentes

como um rio anseia p´la foz

já fizemos tanto e tão pouco

que há-de ser de nós?


Que há-de ser do mais longo beijo

que nos fez trocar de morada

dissipar-se-á como tudo em nada?


Que há-de ser, só nós o sabemos

pondo o fogo e a chuva na voz

repartindo ao vento pedaços

que hão-de ser de nós


Já avivámos brasas molhadas

no caudal da lágrima vã

e flutuando, a lua nos trouxe

à luz da manhã


Reencontrámos lágrimas e riso

demos tempo ao tempo veloz

já fizemos tanto e tão pouco

que há-de ser de nós


Que há-de ser da mais longa carta

que se abriu, peito alvoroçado

devolver-se-á: «endereço errado?»


Que há-de ser, só nós o sabemos

pondo o fogo e a chuva na voz

repartindo ao vento pedaços

que hão-de ser de nós


Já enchemos praças e ruas

já invocámos dias mais justos

e as estátuas foram de carne

e de vidro os bustos


Já cantámos tantos presságios

pondo o fogo e a chuva na voz

já fizemos tanto e tão pouco

que há-de ser de nós?


Que há-de ser da longa batalha

que nos fez partir à aventura?

que será, que foi

quanto é, quanto dura?


Que há-de ser, só nós o sabemos

pondo o fogo e a chuva na voz

repartindo ao vento pedaços

que hão-de ser de nós

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