segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Review: Jimi Hendrix – Band of Gypsys (1970)

 


É emblemático que o show presente em Band of Gypsys tenha sido gravado na exata transição entre os anos 1960 e a década de 1970. O último álbum lançado por Jimi Hendrix em vida traz a apresentação realizada pelo guitarrista na virada de ano, iniciando na noite de 31 de dezembro de 1969 e terminando na madrugada de 1 de janeiro de 1970. O palco do Fillmore East, em Nova York, presenciou a estreia da nova banda de Hendrix ao lado do baixista Billy Cox e do vocalista e baterista Buddy Miles, um power trio de músicos pretos fazendo uma alquimia sonora absolutamente maravilhosa. Unindo rock, funk e rhythm blues, tudo turbinado pela absoluta liberdade e energia das apresentações ao vivo que proporcionaram jams inspiradíssimas, Band of Gypsys antecipou o funk rock.

Jimi se aproximou de Billy e Buddy após a sua antológica apresentação em Woodstock. Hendrix queria um novo caminho musical e dava pistas disso com a famosa parceria nunca concretiza com Miles Davis, por exemplo. Influenciado por Cox e Miles, o guitarrista pisou forte no funk em canções como “Power of Soul” e “Message to Love”, e deixou claras suas intenções já na antológica abertura com o balanço irresistível de “Who Knows”. Jimi soa mais contido no álbum, com a sua técnica única explorando os infinitos caminhos de uma musicalidade sem limites, ao contrário de outros registros ao vivo de sua carreira, onde muitas vezes os excessos instrumentais, que faziam muito sentido em cima do palco, acabam soando apenas cansativos quando transferidos para a mídia física.

A exploração de novas possibilidades em Electric Ladyland (1968) causou enorme satisfação em Jimi, mas também intensificou o seu descontentamento com as limitações do baixista Noel Redding. Cansado do Experience, Hendrix trouxe novos músicos para o estúdio e adorou o resultado. Decidiu montar uma nova banda, e a princípio manteve o fenomenal Mitch Mitchell no time. O baterista, no entanto, acabou indo para a banda pós-Cream de Jack Bruce, e o guitarrista começou a tocar com Billy Cox e Buddy Miles, este último já tendo participado das gravações de Electric Ladyland.

Muitas das faixas presentes em Band of Gypsys começaram como jams e evoluíram até o seu formato final, sendo que algumas delas possuem inclusive gravações em estúdio lançadas de forma póstuma após a morte de Jimi. A presença maior de elementos de black music em detrimento aos ingredientes tradicionais do rock é a mudança mais evidente, e o ingrediente que imprime um frescor imortal às seis músicas do álbum. A alternância vocal entre Hendrix e Miles, seja no dueto de “Who Knows” ou no protagonismo de Buddy em composições de sua autoria como “Changes” e “We Gotta Live Together”, dá mais liberdade e tesão para Jimi Hendrix brilhar intensamente na guitarra. O tracklist é impecável e funciona, mesmo que a ideia original não fosse essa, como uma despedida monumental de Hendrix.

Em perspectiva, Band of Gypsys soa como algo que poderia ter sido muito maior, mas que acabou sendo abreviado pela morte repentina de Hendrix em 18 de setembro de 1970. A união precisa entre rock e funk surgiu em inúmeras faixas lançadas postumamente, como a sensacional “South Saturn Delta”, que batiza o álbum lançado em 1997 e que traz diversas gravações inéditas.

Para os colecionadores, a edição lançada em 1991 pela Polydor na Europa e no Japão incluiu três músicas bônus: “Hear My Train a Comin’”, “Foxy Lady” e “Stop”.

Jimi Hendrix foi único. E Band of Gypsys é um dos muitos exemplos de sua genialidade sem igual.


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