terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Cinco Músicas para Conhecer – Mulheres e Beatles

 

Os Beatles estão novamente em franca evidência com o lançamento do documentário “Get Back” nos serviços de streaming. Aproveitando a onda, vamos abordar um aspecto interessante da obra do quarteto mais famoso de Liverpool – as referências femininas nos títulos de suas músicas. Garotas e relacionamentos amorosos foram a tônica da maior parte das letras do grupo ao longo de toda a sua carreira. Nos primeiros discos do grupo (1963 – 1965) temas amorosos eram praticamente o único assunto abordado. Não era para menos – boa parte do que se lançava de música popular naquela época era música romântica. A partir de Rubber Soul, outros temas passaram a ocupar as letras da banda, por influência de Bob Dylan e da iniciação dos garotos nas drogas psicodélicas. “Nowhere Man” é um exemplo icônico dessa transição. Mas ainda sim, mulheres (reais ou imaginárias) continuaram a estampar letras e títulos de músicas dos Beatles ao longo de sua carreira, da qual destacamos 5 delas nessa lista.


“Michelle” (1965)

Composição de Paul McCartney que integra o álbum Rubber Soul (1965), “Michelle” foi um single lançado em janeiro de 1966, que obteve grande sucesso no mundo todo. Foi laureado com o Grammy Award em 1967 e também com o Ivor Novello Awards na categoria “música mais tocada de 1966” (superando “Yesterday”). O lado B do mesmo single continha outra música que genericamente caberia aqui nessa lista, a música “Girl”. É uma balada folk romântica cantada por McCartney, cuja melodia ele havia composto ainda na época do colégio e a cantava em francês como uma brincadeira. John Lennon foi quem resgatou a ideia durante as gravações, com a banda trabalhando o arranjo e mesclando frases em inglês e francês na letra da música.


“Lovely Rita” (1967)

Faixa icônica do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, também composta por McCartney, apesar de creditada no álbum como Lennon & McCartney. A música descreve a situação imaginária de uma guarda de trânsito que é admirada pelo letrista. Mulheres como guardas de trânsito eram uma novidade na Inglaterra no período e Paul McCartney ficou impressionado com a expressão “meter maids” que as descreviam em um jornal dos EUA, e começou a trabalhar algo em cima disso. Além disso, seu carro havia sido recentemente multado. A música foi gravada em fevereiro de 1967 e inclui experimentações da banda com papéis (enrolados, fazendo uma espécie de trompete infantil) e pentes. Paul McCartney tocou piano na faixa, mas o solo de piano desta, em estilo vaudeville, foi gravado por George Martin como overdub. “Lovely Rita” tem os vocais de John Lennon e McCartney repletos de efeito de delay (uma novidade na época) e foi tocada ao vivo por Paul McCartney pela primeira vez apenas em 2013, em uma de suas passagens pelo Brasil.


“Lady Madonna” (1968)

Composição da dupla Lennon/McCartney, foi gravada no início de 1968, antes dos Beatles embarcarem para Índia atrás de meditação e gurus fajutos. Foi lançada como single (não fez parte de nenhum álbum) e atingiu primeiro lugar nas paradas britânicas. “Lady Madonna” representa uma espécie de “volta ao básico” após os excessos de psicodelia que inundaram o mercado fonográfico no ano anterior. Paul McCartney se inspirou em Humphrey Lyttelton e Fats Domino para tecer o fraseado envolvente do piano da faixa e também para a empostação de sua voz. A letra trata sobre uma mulher pobre que tem que cuidar de muitos filhos, enfrentando um problema diferente a cada dia da semana. O detalhe é que os sábados não mencionados e McCartney notou isso apenas muitos anos depois. A inspiração para o título veio da capa de uma edição da National Geographic, que estampava uma mulher amamentando um bebê com a descrição “Mountain Madonna”. Alguns críticos comentam uma possível associação da música com a mãe de McCartney, Mary, que era parteira em Liverpool.


“Martha My Dear” (1968)

Paul McCartney – o mais prolífico músico/compositor dos Beatles – continua dominando nossa lista. “Martha my Dear” não apenas é sua composição, como é toda tocada por ele, acompanhado dos arranjos orquestrais conduzidos por George Martin. A faixa foi gravada em outubro de 1968 e faz parte do chamado White Album. Apesar de acharmos que possa se tratar de mais uma mulher fictícia cuja história Paul transformou em música, esse não é o caso aqui. A música é dedicada à Martha, cachorra da raça ovelheiro-inglês que Paul tinha já há 3 anos, mas em sua letra há alusões a sua ex-namorada (e declarada musa inspiradora) Jane Asher. Asher e McCartney haviam terminado o namoro recentemente e ela havia sido a inspiração direta de “Here, There and Everywhere”. O nome também veio pela inspiração da ópera Martha, de Friedrich von Flotow, de 1847. McCartney executava a peça ao piano como um exercício. No encarte do álbum Paul is Live, de 1993, há fotos dos filhotes da querida cadela Martha.


“Julia” (1968)

“Julia” também é parte do repertório do White Album, de 1968. John Lennon compôs a música em uma das viagens dos Beatles para a Índia. A canção foi escrita para sua mãe, Julia Lennon, que havia morrido atropelada 10 anos antes (John tinha 17 anos na ocasião). Posteriormente, John Lennon afirmou que a música também era dedicada à Yoko Ono, já que segundo ele, era possível imaginar sua mãe e Yoko como uma pessoa só. A música tem um belo dedilhada ao violão, no mesmo estilo de “Dear Prudence”, com macetes ensinados por Donovan, que também estava na mesma viagem para Índia. Foi a primeira faixa gravada apenas e unicamente por John Lennon em um disco dos Beatles, em outubro de 1968. A letra da canção tem trechos retirados de um poema do escritor libanês Kahlil Gibran.

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