quarta-feira, 1 de março de 2023

“Mama Africa” (EMI, 1983), Peter Tosh

 


Peter Tosh não teve o seu sexto álbum de estúdio, Wanted Dread & Alive, de 1981, a repercussão que o cantor imaginava. Foi o último trabalho de Tosh pelo Rolling Stones Records, selo daquela famosíssima banda comandada por um certo Mick Jagger. Mas a repercussão desejada por Tosh veio com o álbum seguinte, Mama Africa, considerado o álbum mais comercial da discografia do cantor jamaicano.

Lançado em abril de 1983, Mama Africa alia o discurso politizado e engajado de Tosh com uma sonoridade acessível e dançante. Mama Africa agrega referências de ska, pop, jazz e pop tornando o álbum musicalmente bastante agradável. Não à toa, foi álbum melhor sucedido de Tosh fora da Jamaica. Além de músicas até então inéditas, Mama Africa trouxe três regravações, duas delas da época em que Tosh era membro dos Wailers, “Stop The Train” e “Maga Dog”, e uma releitura em versão reggae para um clássico do rock”n’roll criado por Chuck Berry, “Johnny B. Goode”. Mama Africa conta com participações bastante relevantes para a qualidade do álbum como  a do trio vocal jamaicano The Tamlins, e de duas duplas de baixista e baterista renomadas, Carlton Davis e Lebert Morrison, e da antológica Sly Dunbar & Robbie Shakespeare.

Com o álbum Mama Africa, Peter Tosh teve a maior ascensão comercial na sua carreira. 

A faixa-título é quem abre o álbum, e é uma espécie de diálogo entre o negro e a sua terra-mãe, África, em que o filho distante procura por notícias da mãe, de como ela está, além de descrever todas as suas virtudes. Embora seja uma música de ritmo alegre e dançante, os versos refletem as dores, as mágoas e as cicatrizes do passado do povo negro que fora arrancado da terra natal africana para servir de mão de obra escrava nas colônias europeias no continente americano.

“Glass House” traz como lema aquele velho lema: “não faça com outro o que não quer que faça contigo”. Isso fica evidente nos versos: “Harm no man / Let no man harm you / Do unto others / As they would do to you” (“Não prejudique nenhum homem / Não deixe nenhum homem prejudicar você / Faça aos outros / Como eles fariam para você”).

Peter Tosh foi ao continente africano para fazer shows, e conheceu de perto as mazelas do povo africano, cuja realidade o inspirou para fazer “Not Gonna Give It Up”, em que o astro reggae canta pela liberdade do povo africano: “I said that I been up there / Aand I've seen poverty beyond compare / I know slave drivers just don't care / They just don't care” (“Eu disse que estive lá / E eu vi a pobreza sem comparação / Eu sei que os senhores de escravos simplesmente não se importam”).

Encerrando o lado A do álbum, “Stop The Train”, antigo sucesso dos Wailers que ganhou uma releitura de Tosh numa versão mais moderna, que funde reggae e R&B com inspirações no som da Motown.

O lado B de Mama Africa começa com a regravação de “Johnny B. Goode”, o maior sucesso da carreira de Chuck Berry. Se na versão original, Johnny é um jovem caipira analfabeto que se torna um fenômeno da guitarra, na versão de Peter Tosh, Johnny é um jovem jamaicano que também é analfabeto e exímio guitarrista, mas que sonha ser um astro do reggae. O grande destaque da faixa são os incríveis solos de guitarra de Donald Kinsey, que deu um tom roqueiro nesta versão reggae sensacional de “Johnny B. Goode”.

"Johnny B. Goode", um clássico do rock'n'roll de Chuck Berry (foto),
ganhou uma versão reggae com Peter Tosh, e virou também um clássico do
ritmo musical nascido na Jamaica.


“Where You Gonna Run” trata sobre a vida estressante e problemática do mundo moderno. A música possui uma sutil levada funk e os vocais de apoio femininos bem ao estilo da soul music americana. Merecem destaque a ótima performance do naipe de metais.

Em “Peacy Treaty”, Tosh relembra o acordo de paz firmado em 1978, na Jamaica, para tentar conter a onda de violência que assolava a, mas que dois anos depois se mostrou um verdadeiro fracasso. Com um refrão repetitivo, “Feel No Way” é um reggae de apelo radiofônico, e conta com os belos vocais de apoio do trio The Tamlins.

O álbum termina com mais uma regravação de uma canção antiga dos Wailers, “Maga Dog”, que começa com latidos de cachorro. “Maga Dog” possui uma linha de baixo pulsante e robusta, que se mostra presente por toda a música.

Peter Tosh numa turnê em 1983.

Mama Africa foi o único álbum da discografia de Peter Tosh a figurar no Top 50 do Reino Unido. O fato ser também o álbum da carreira de Tosh com melhor desempenho comercial fora da Jamaica, se deve muito pelo sucesso alcançado pela regravação de “Johnny B. Goode”. Tosh conseguiu a proeza de transformar uma música que já era um clássico do rock num clássico do reggae.

Após a turnê mundial de Mama Africa, Tosh entrou numa fase de autoexílio na África, afastando-se do cenário mundial da música por cerca de três anos. Nesse período, travou embates nas renegociações com gravadoras que distribuíam seus discos. Tosh participou de alguns eventos contra o regime apartheid ainda vigente na África do Sul.

Em 1987, Peter Tosh lança No Nuclear War, álbum com o qual o astro jamaicano do reggae retoma a carreira artística. Porém, em 11 de setembro do mesmo ano, três assaltantes invadiram a residência de Tosh, e mataram a tiros o cantor e mais dois amigos seus. Outras três vítimas presentes conseguiram sobreviver. Mesmo morto, Peter Tosh foi agraciado postumamente, na edição do Grammy de 1988, com o prêmio de “Melhor Álbum de Reggae” por No Nuclear War.

Todas as faixas foram compostas por Peter Tosh, exceto as indicadas.

Lado 1
  1. "Mama Africa"
  2. "Glass House"
  3. "Not Gonna Give It Up"
  4. "Stop That Train" 
Lado 2 
  1. "Johnny B. Goode" (Chuck Berry)
  2. "Where You Gonna Run" (Donald Kinsey)
  3. "Peace Treaty"
  4. "Feel No Way"
  5. "Maga Dog"

  


Ouça na íntegra o álbum Mama Africa
(incluindo versões estendidas de
"Johnny B. Good", 
"Where You Gonna Run" e de 
"Mama Africa" como faixas bônus)


"Johnny B. Goode" 
(videoclipe oficial)

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