Fica disponível esta sexta feira13 em todas as plataformas digitais e em formato vinil o segundo longa-duração dos Conferência Inferno. “Pós-Esmeralda” será ainda motivo para uma tour de concertos pelo país com passagens por Leiria, Lisboa, Porto e Aveiro.
Depois de discorrerem sobre os mais recentes tratados pós-punk e ondas revivalistas de sintetizadores no seu Bazar Esotérico, depois de reverem a documentação gótica submetida à consideração do plenário em Ata Saturna e de pedirem peer review por via de um disco de remixes, restam muito poucas dúvidas de que os Conferência Inferno são os maiores especialistas das práticas negras do rock elétrico em Portugal. E é nessa condição que voltam a expor a sua inventiva metodologia de hermenêutica sonora através do novo álbum Pós-Esmeralda, um conjunto de canções que se propõe a expandir as possibilidades emocionais do ensemble portuense.
Para este tento, a Conferência Inferno não se fica pela condição de emissária e cresce para o papel de mestre de cerimónias, trilhando um caminho sónico cada vez mais próprio. A essência do elétrico sobre o orgânico em maus modos mantém-se, mas sem que isso defina taxativamente os tons com que pintam as novas canções. O negro mantém-se sem prevalecer sobre os cada vez mais presentes tons mais vivos dos novos traços harmónicos. A dicotomia primordial do seu género desdobra-se em várias tensões, cada vez mais exclusivas do trio portuense e que lhes permite, em oito canções, fazer um registo de como soa um equilíbrio consternado.
Há um descortinar de alegria tétrica desde os primeiros segundos, com camadas de melodias maiores nos sintetizadores de Raul Mendiratta e nos teclados de José Silva em confronto com o desespero vocal e lírico de Francisco Lima; há uma crescente energia na catadupa percussiva da caixa de ritmos e nos tons graves protuberantes; e há sempre dança, na epilepsia rítmica que o new wave sempre invocou, com os movimentos coreográficos como alternativa à violência do punk sem prefixo, que mesmo assim não se manifestam menos impetuosos, tensos, secos, nem rápidos. São, em suma e fazendo jus ao seu epíteto, infernais.
No outro lado da balança, surgem canções que desafiam a concepção da própria palavra, em duração, em estrutura e em ambiências, e que exploram outro tipo de sensações análogas do desalento, em que lentas progressões, com texturas menos abrasivas nas melodias, grassam a beatitude e a redenção. Não fosse o negrume das letras e estariam perdoados.
A Conferência Inferno reuniu-se sobre o livro de São Cipriano para fazer o mapa astral do pós-punk. Todos os planetas estavam em retrógrado, todos os ascendentes em saturno, e só eles sabem em que inferno está a lua. Pós-Esmeralda é resultado invocado de um ritual macabro deste pandemónio de new age ocidental, cheio de ironia, pesar, êxtase e esgares. Dance-se o fim do mundo, pois somos todos corpos, e ouça-se a Conferência.
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