Quando o Yes começou a excursionar pelo mundo apresentando alguns dos principais álbuns que consagram o grupo na década de 70, muitos foram os fãs que esperaram por um fim próximo da banda, ainda mais sem seu principal vocalista, Jon Anderson. Poucos foram os que apostaram suas fichas em uma sequência de lançamentos de estúdio, após o contestado Fly From Here (2011), com o vocalista Benoît David, que acabou sendo demitido pouco tempo depois. O álbum trazia canções da época do Yes-Buggles (quando Geoff Downes e Trevor Horn entraram no grupo para substituir Rick Wakeman e Jon Anderson respectivamente) e que ficaram de fora de Drama, lançado pelo grupo em 1980. A simpatia que tenho por Drama fez-me ganhar Fly From Here, o qual considero um álbum muito bom, principalmente pela suíte "We Can Fly From Here", com um excelente trabalho instrumental e vocal.
O vocalista Jon Davison foi o substituto, e junto de Steve Howe (guitarras, violões, vocais), Cris Squire (baixo, vocais), Alan White (bateria, percussão) e Geoff Downes (teclados, piano, sintetizadores), faz parte de mais uma das inúmeras formações que o grupo teve desde 1968, que para surpresa de todos, anunciou o lançamento de seu vigésimo primeiro álbum de estúdio para o dia 21 desse mês no Reino Unido (22 nos Estados Unidos), sendo que o mesmo foi gravado entre 06 de janeiro e 14 de março de 2014.
Seria o mesmo uma decepção? Iria o quinteto arcar com um vexame gigantesco? Poderia nascer uma ideia brilhante? Essas eram algumas perguntas que os fãs já faziam, pois ninguém apostava nas longas suítes como "Awaken", "The Gates of Delirium" ou "Close to the Edge", e tão pouco acreditavam que o Yes fosse capaz de fazer algo na linha de "Owner of a Lonely Heart" ou "Love Will Find a Way" novamente, e até mesmo as canções da fase Yes-Buggles seriam improváveis. Trevor Horn, vocalista e principal compositor dos discos Drama e Fly From Here, está de fora, e assim, a empolgação foi abafada por conta do medo e ansiedade por não ver seu time passar vergonha jogando em casa.
Infelizmente, o resultado foi exatamente o esperado, e o quinteto acabou perdendo feio para um álbum fraco e sem inspiração chamado Heaven & Earth.
Como fã do grupo, consegui o material antes do lançamento, através das buscas pela internet, e o que mais me chamou a atenção é que das oito faixas da bolacha, sete contam com a participação de Davison como compositor, além de que o grupo fez uma parceria com o produtor Roy Thomas Baker, famoso por seus trabalhos ao lado do Queen (Queen II, A Night at the Opera e Jazz são alguns dos álbuns exemplos) e do Journey (Infinity e Evolution), e que também produziu os contestados No Rest fo the Wicked (Ozzy Osbourne) e Chinese Democracy (Guns N' Roses).
A curiosidade de como são as mãos de Davison na escrita, bem de como soaria o casamento das produções elegantes e sobrecarregadas de Thomas junto à técnica e perfeição individual do quinteto salta aos olhos, mas infelizmente, acaba coçando incomodativamente os ouvidos durante os pouco mais de cinquenta minutos de Heaven & Earth.
Duas canções são parcerias de Davison com Howe, no caso "Believe Again", faixa de abertura que parece ter saído dos pesadelos da carreira solo de Jon Anderson (sim, a voz de Davison em estúdio lembra ainda mais a voz de Anderson, talvez por conta da mixagem), e com um refrão nada cativante, e "Step Beyond", uma mistura dos piores momentos da carreira de Rick Wakeman com o GTR, trazendo vocalizações características do Yes de "Leave It" e "Changes" e um andamento nada sofisticado por Squire.
Depois, tem uma colaboração com cada membro do Yes. "To Ascend", a primeira canção a ter divulgação na internet, inclusive sendo a trilha de um curto filme que apresenta o álbum, é ao lado de Alan White. Uma balada bonitinha na linha de outras como "Wonderous Stories" e "Circus of Heaven", só que não tão facilmente deglutivel, e que por outro lado é uma das poucas que não compromete.
"In a World of Our Own", de Davison com Squire, é uma aventura descabida por um mundo pop que nem o GTR conseguiu imaginar, soando extremamente falsa e apelativa, enquanto "Subway Walls", de Davison com Downes, acaba sendo a surpresa positiva de todo o álbum, já que poucos podiam esperar que a melhor canção viria exatamente do mais contestado músico da atual formação. Ela encerra o disco com uma magnífica introdução feita somente por Downes nos sintetizadores, a qual cria toda uma expectativa para trazer o vozeirão de John Wetton, sendo uma digna representante dos melhores trabalhos do Asia. Com o passar de seus nove minutos, o baixo de Squire sai da mesmice, aparecendo com mais clareza e força, e ainda temos o único solo de teclados de todo Heaven & Earth (muito bom por sinal) e um solo interessante de Howe. "Subway Walls" acaba sendo um ponto fora da curva no fim das contas, pois foge totalmente da concepção das demais canções, pois emprega aquilo que não aparece nas outras, e que podemos pegar por exemplo principal "It's Was All We Knew".
Esta é a única canção na qual não há a mão de Davison, sendo composta exclusivamente por Howe, trazendo um ritmo quase flower-power, um andamento que lembra ABBA, teclados essencialmente anos 80, um trecho instrumental saído de alguma canção perdida pelo Led Zeppelin na fase In Through the Outdoor e vocalizações características de grupos como Beach Boys e Beatles, não acrescentando nada de relevante para o álbum, a não ser mais alguns breves solos pouco criativos do guitarrista. Por isso, ela acaba sendo bastante representativa do que é o conjunto final de Heaven & Earth. Você consegue perceber diversas influências nas canções, menos as influências de Yes.
Não há nenhum momento com passagens intrincadas, um duelo de teclados ou guitarras ou até uma variação de andamento na bateria de White. As canções começam, mostram seu refrão e terminam de forma que você nem se dá de conta que ouviu algo, de tão fracas que são, e para mim, que me considero um grande fã do grupo, é muito dolorido ter que dizer isso, mas sabe quando você tenta se consolar dizendo algo como: "Está uma porcaria, mas mesmo assim, é melhor do que muita porcaria que tem por aí", e depois de alguns minutos acaba dizendo: "É, tem muita porcaria que é melhor que isso"? Pois é, isso é Heaven & Earth.
A sexta canção a ter o nome Davison entre os compositores é "The Game", ao lado de Squire e do tecladista Gerard Johnson (The Syn, Saint Etienne), que começa muito bem com Howe ao slide, mas os teclados de Downes fazem o Yes soar mais Asia do que Yes, e o estilo AOR do segundo não casa com a voz de Davison. Não chega a ser tão maçante quanto outras do álbum, o que já mostra a pobreza total de Heaven & Earth, já que na verdade só Howe realmente escapa, durante seu solo, que também não possui nada de mais, mas é um dos poucos momentos a lembrar que estamos ouvindo algo gravado pelo Yes, além de que a letra é uma das mais simplórias que os britânicos registraram sob seu nome ("We all know the rules of game / Us fools stay and play the same / As if our days remain").
Davison ainda trouxe uma canção composta apenas por ele, "Light of the Ages", cujo destaque fica de novo totalmente para a performance de Howe no violão e no slide guitar, mas também chamando a atenção Downes ao piano e algumas passagens instrumentais, as quais advindas do Yes, poderiam ter sido bem mais exploradas, só que para o que foi apresentado até então, as mesmas fazem o ouvinte vibrar por não ser tão sem graça, concorrendo portanto com "The Game" para a posição de segunda melhor do álbum, lembrando que o primeiro lugar é de "Subway Walls" sem nenhuma dúvida.
A arte é da mão de Roger Dean, única lembrança fiel ao anos 70, em uma imagem belíssima, só que musicalmente, Big Generator (1988) e Open Your Eyes (1998) chegam a serem clássicos Maravilhosos perto de Heaven & Earth, talvez por que quando você acha que a canção "Agora vai!", a empolgação não chega a durar um minuto. Resumindo o álbum, bem em clima de Copa do Mundo no Brasil, é possível afirmar que Heaven & Earth é o Fred da seleção brasileira, já que o tempo de jogo que o centroavante ficou com a bola nos pés durante o Campeonato Mundial até o presente momento é totalmente compatível com o tempo de música na qual você irá ficar plenamente satisfeito com o disco (com exceção de "Subway Walls", a única que vale a bolacha).
Seria a hora de dizer NÃO para o Yes? Bom, se você quer preencher mais um quadradinho da sua coleção, obviamente que a aquisição de Heaven & Earth é fundamental, ainda mais pela presença da supra-citada "Subway Walls", mas caso seja um admirador essencialmente das fases clássicas (o progressivo dos anos 70 ou o pop dos anos 80), invista seu dinheiro no álbum de Figurinhas da Copa, ou compre cerveja para torcer para a Costa Rica, que certamente qualquer um deles lhe trará mais diversão.
Track list
1. Believe Again
2. The Game
3. Step Beyond
4. To Ascend
5. In a World of Our Own
6. Light of the Ages
7. It Was All We Knew
8. Subway Walls
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