domingo, 31 de março de 2024

Review: Soen – Lotus (2019)

 


O Soen é uma banda única. A sonoridade destes suecos tem como alicerce o prog metal, mas vai muito além. Tem horas em que o peso fica bem em segundo plano e somos apresentados a trechos mais abstratos, em que referências da era de ouro do rock progressivo ditam o tom. Em outros, o som do quinteto ganha o acompanhamento de uma forte carga percussiva. Os vocais sempre limpos e cristalinos reforçam essa sensação de dicotomia, com uma agradável acessibilidade que ajuda a destrinchar a intrincada parte instrumental.

Lotus é o quarto trabalho do quinteto formado por Joel Ekelöf (vocal), Cody Ford (guitarra), Lars Åhlund (teclado), Stefan Stenberg (baixo) e Martin Lopez (bateria). O principal atrativo nos primeiros anos da trajetória da banda – o primeiro disco, Cognitive, saiu em 2012 – era o fato de se tratar do novo grupo de Lopez, baterista do Opeth entre 1997 e 2006. Hoje, as pessoas ouvem o Soen porque já entenderam que a música da banda vai muito além de referências ao passado de um ou outro integrante.

Na verdade, em um exercício de imaginação, não estaria muito longe da verdade quem definisse o som do Soen como uma espécie de união entre o Opeth dos anos recentes e o Tool. Se você ficou curioso para saber o que sairia dessa junção, devo dizer que a audição dos álbuns do quinteto suprirá as suas expectativas, e com sobras.

Com nove faixas, Lotus é o trabalho mais completo da carreira do Soen. O trio anterior – CognitiveTellurian (2014) e Lykaia (2017) – apresentou um crescendo criativo e uma construção de identidade, que em Lotus encontra o seu ápice. Todas as faixas são muito boas, apresentam desenvolvimentos inesperados e surpreendentes.

Abrindo mão da estrutura padrão do rock e do metal, o Soen não se preocupa com elementos como os refrãos, por exemplo. Pra falar a verdade, eles são bem raros em todo o disco. Em compensação, somos brindados por doses frequentes de melodias tocantes e linhas vocais bastante emocionais, tudo amparada por um instrumental que varia entre ensolarado e denso, entre etéreo e explosivo.

Entre as músicas gostei muito da abertura com “Opponent”, a belíssima “Lascivious”, “Covenant”, os ecos de Pink Floyd em “River” e o fechamento com a incrível “Lunacy”. Mas, independente de gosto pessoal, trata-se de um álbum com um tracklist que impressiona.

Lotus é um disco espetacular. O melhor trabalho do Soen e um fortíssimo candidato a disco do ano. A expressão máxima de uma banda que chega à sua maturidade brilhando de maneira intensa e deixando claro que os próximos anos seguirão sendo pródigos em belos álbuns.



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