segunda-feira, 29 de abril de 2024

CRONICA - CARLOS SANTANA & BUDDY MILES | Live! (1972)

 

Depois de triunfar em Woodstock e de três excelentes álbuns de heavy rock psicodélico latino entre 1969 e 1971, o guitarrista mexicano Carlos Santana sentiu necessidade de fazer uma pausa. Ele se despede de seus músicos porque se pergunta qual direção musical tomar. Por sua vez, o baterista/vocalista afro-americano Buddy Miles, depois da experiência da Band Of Gypsys com Jimi Hendrix que terminou mal, procura um novo sopro de vida.

É neste contexto de dúvidas que os dois artistas se encontrarão. Esta colaboração resultará em um LP de concerto intitulado simplesmente Live! nas lojas em junho de 1972 em nome da Columbia. Capturado na cratera Diamond Head, na ilha do Havaí, em 1º de janeiro do mesmo ano, reúne de um lado integrantes da Sanana Band (o guitarrista Neal Schon, os percussionistas Coke Escovedo e Mike Carabello), outros conhecidos de Buddy Miles (baixista Ron Johnson, o organista Robert Hogins, o saxofonista/flautista Hadley Caliman, o trompetista Luis Gasca, os percussionistas Mungo Lewis, Greg Errico e Victor Pantoja).

Este álbum é principalmente instrumental. Apenas duas peças são cantadas. Abre com uma composição escrita por John McLaughlin, “Marbles”. Este título não está aí por acaso. Vem de Devotion , LP de John Mclaughlin impresso em 1969, onde Buddy Miles toca. Além disso, o natural de Autlán de Navarro está muito interessado neste guitarrista inglês que funde habilmente o poder do rock e o virtuosismo do jazz. Sem falar que este último acaba de colaborar com Miles Davis. O suficiente para dar ideias ao jovem mexicano. Entre riffs de heavy metal hendrixianos, solos corrosivos e voos mágicos de um órgão que não tem nada a invejar a Gregg Rolie, aqui a trupe dá uma versão sedutora. Provavelmente ligado ao jogo espetacular de Santana que harmoniza com seu companheiro Neal Schon.

É um festival de percussão que servirá de transição para o interlúdio latino do hard rock “Lava”. Aí vem a única faixa do repertório de Santana, "Evil Ways" cantada por Buddy Miles. Uma transformação de fusão de soul e jazz com bombardeios de metais, palmas, percussão ardente, sax com drifts de free jazz e trompete alucinatório. Resumindo, é como se Santana reunisse Sly Stone, John Coltrane, Miles Davis e Blood, Sweat & Tears. Sem qualquer interrupção, a banda continua com o breve “Faith Interlude” onde os prompters tocam as emoções. Mas muito rapidamente Santana parte num clima sombrio e transcendental. O guitarrista revela outro lado. Um personagem que se busca espiritualmente como mostra a ilustração. Para ele, música e busca espiritual andam de mãos dadas. Enquanto espera para encontrar o seu caminho, ideias claras retornam. Isto permite-nos continuar com “Them Changes” que relembra os bons tempos da Band Of Gypsys. Magnífica interpretação que nos mantém em suspense, levando-nos em plena febre do carnaval carioca com um letrista nervoso e paralisado.

Contudo, a atracção deste LP é obviamente “Free form Funkafide Filth” que ocupa todo o lado B. Uma peça elástica com cerca de 25 minutos onde pairarão os fantasmas de Hendrix e Coltrane. Se a música se instalar num estilo free jazz e numa atmosfera misteriosa através da flauta, ao fim de 3 minutos irá misturar hard funk, acid rock, jazz, prazeres psicadélicos... Nesta improvisação infernal as guitarras, o sax, as flautas, o órgão, as percussões colidirão com um baixo descolado na parte de trás, mas acima de tudo um baterista com um golpe quadrado e poderoso. Um título em busca de Miles Davis, que acaba de mudar o mundo do jazz.

Ao ser lançado, este LP foi aclamado pela crítica, mas rejeitado pelo público, por considerá-lo um parêntese insignificante na carreira de Santana. No entanto, é uma boa transição entre o período da psique latina e o jazz rock progressivo com aromas de salsa que estão por vir. Já Buddy Miles, após esse encontro, ele reativa o Buddy Miles Express.

Para ouvir repetidamente.

Títulos:
1. Marbles
2. Lava
3. Evil Ways
4. Faith Interlude
5. Them Changes
6. Free Form Funkafide Filth

Músicos:
Carlos Santana: Guitarra
Buddy Miles: Bateria, Vocais
Neal Schon: Guitarra
Ron Johnson: Baixo
Robert Hogins: Órgão
Luis Gasca: Trompete
Hadley Caliman: Saxofone, Flauta
Coke Escovedo, Mike Carabello, Mungo Lewis, Greg Errico, Victor Pantoja: Percussão

Produção: Carlos Santana, Buddy Miles



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