terça-feira, 2 de julho de 2024

Cassiano – Apresentamos Nosso Cassiano – 1973


Faixas:
01. O Vale
02. Slogan
03. A Casa de Pedra
04. Chuva de Cristal
05. Melissa
06. Castiçal
07. Me Chame Atenção
08. Calçada
09. Cinzas
10. Cedo ou Tarde

“Lançado depois do fracasso inicial de Imagem e Som e após um período em que o autor de “Primavera” estava sumido da mídia, Apresentamos…é o álbum mais ousado do cantor – mas era o pior disco que Cassiano poderia lançar para tentar chegar ao estrelato. O que era deliciosamente soul-pop no primeiro disco, com quedas para o rock e para o hippismo, tinha se tornado um soul psicodélico, experimental, com viradas bruscas na harmonia, orquestrações quase cinematográficas e letras de escrita automática. Vem daí a fama de “difícil” de Cassiano, que provavelmente deve ter descido o remo nos músicos que o acompanhavam para que mantivessem o ritmo e a melodia em músicas totalmente doidas, como o funk “Me chame atenção” e as progressivas “A casa de pedra” (com falsetes e vibratos que até assustam quem só conhece o Cassiano de “A lua e eu”) e “Castiçal”, cheias de partezinhas e de harmonias que poderiam estar num disco do Yes. As letras são um caso à parte: completamente surreais e experimentais, inserem viagens lisérgicas até mesmo em canções românticas, como na contemplativa balada “O vale” e no soul “Slogan” – isso sem falar na doideira da soul-country “Cinzas”, a canção mais inventiva do disco, quase lembrando um Syd Barrett negão e convertido ao funk. Já “Melissa”, canção que Cassiano havia feito para a filha recém-nascida, insere viradas na melodia em cortes bruscos. E na bela “Cedo ou tarde”, as variações harmônicas e rítmicas são tantas que Cassiano tem até dificuldades de entrar no tom certo. Dá até para começar a entender aquelas histórias que dizem por aí de que Tim Maia e Cassiano nunca conseguiram fazer um disco em parceria porque o Tim morria de vergonha de cantar na frente dele. ”

“Além de inovar em composição e arranjo, Apresentamos… vale por uma aula de gravação-mixagem, especialmente em faixas como “Calçada”, rock´n roll conduzido por piano Fender Rhodes e cheio de efeitos de eco, psicodelia pura. O disco soa como herança direta do lado mais experimental do soul, feito por artistas como Isaac Hayes e George Clinton, e como uma perversão lisérgica de todo o cenário soul-funk, ousando como poucos já haviam feito no Brasil em matéria de música. Acabou resultando em mais alguns anos na geladeira para o cantor, que só voltaria a gravar em 1976, com os singles “A lua e eu” e “Coleção” (em parceria com Paulo Zdanowski, músico de São Gonçalo – hoje médico – que já colaborava com Cassiano na época de Apresentamos…). Lançado nessa época, o LP Cuban Soul vinha com uma proposta mais pop, mas não deixava de mesclar vários ritmos latinos ao funk, soul e ao rock, revelando vários hits e se tornando o álbum mais popular do soulman. ”

“Nos últimos tempos, pouco se ouviu falar de Cassiano. Em 1991 a Sony Music foi pioneira ao fazer um tributo ao cantor (Cedo ou Tarde, com Marisa Monte, Ed Motta, Luiz Melodia, Cláudio Zoli, etc) e Cassiano, sumido até então, seguiria dando esporádicos shows. Em 1999, pouco antes do lançamento da coletânea Coleção, chegou a ser alardeado que Cassiano iria trabalhar com Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho, e que tinha canções novas esperando para serem gravadas (algumas delas compostas nos anos 70, em parceria com Paulo Zdanowski) mas tudo ficou só no quase. Dono de um estilo e de um ritmo de trabalho próprios, Cassiano sofre até hoje com dificuldades de inserção no mercado – o resultado é que o Brasil, um país acostumado a estilos e ritmos de trabalho padronizados, quase não conhece a genial arte de Cassiano, um cantor-compositor fenomenal que chegou ao século XXI tendo que ser permanentemente “redescoberto”. Uma merda. ”

MUSICA&SOM

Considerações pessoais:

Ouvi esse disco a menos de uma semana e já viciei.

Já gostava do primeiro disco dele (Imagem e Som de 1971), mas é bem mais “certinho” e comum que esse, um ótimo disco de soul mas mais do mesmo (mesmo sendo um dos primeiros do estilo no Brasil).

Agora esse LP é uma coisa que fica até difícil de descrever, harmonias complexas, surpreendentes e incrivelmente belas, clima psicodélico com uma excelente produção pra época, orquestração muito doida e criativa, fiquei de boca aberta mesmo quando ouvi, fora as letras que são todas pra cima, otimistas e poéticas, falando de família, natureza, enfim, coisas boas da vida

Resumindo: Um dos melhores discos que eu já ouvi na vida, e não foram poucos discos que eu ouvi, que me conhece sabe.

Slogan:

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