No seu terceiro disco a solo, James muda o chip e coloca a sua guitarra no centro do palco.

Ponto prévio a esta crónica – nunca me debrucei muito sobre os My Morning Jacket. Apanhei-os na primeira parte de Pearl Jam em 2006 no Pavilhão Atlântico (agora altice arena) e foi bom e tal, mas à distância pareceram-me uma banda perdida no tempo, deslocada com as suas guitarradas clássicas à seventies (not that there’s anything wrong with it!). Mas a solo, Jim James agarrou-me desde o início, com o seu Regions of Light and Sound of God (2013), introspectivo e questionador, cheio de camadas diferentes a adornarem as músicas. Entretanto lançou em 2016 Eternally Even, um registo mais psicadélico, e eis que 2018 foi ano para ir buscar a guitarra e tirar-lhe o pó – eis Uniform Distortion.

Basta-nos 5 segundos do arranque do álbum para percebermos que a guitarra será o principal ingrediente deste novo “prato” servido por Jim James. Um riff portentoso, que se vai repetindo mais à frente e é a essência de “Just a Fool”. Em “You Get to Rome” é mais perceptível outra ideia base deste disco – o soar a algo que está a ser gravado no estúdio ao lado do nosso, que está a ser tocado pela primeira vez e é essa que fica em registo. James até se dá ao luxo de uma pequena risada a meio do segundo refrão e não há cá novo take, assim saiu, assim ficou. Afinal de contas, Jim James sempre foi apologista de música de raiz, tão crua quanto possível e mostra aqui que não quer usar subterfúgios para além daquilo que poderia ser uma jam session a decorrer.

“Throwback” é uma canção com tudo a que uma canção rock tem por inerente direito – um solo a meio, um refrão que agarra “(“When we were young”, repetido até à exaustão) uma utopia de regresso à juventude metida ao barulho. E por aqui continuamos em “Yes to Everything” e “No Use Waiting”, malhas rock puro e duro. É um disco bastante conciso e sensível aos desejos de qualquer apreciador de riffs de guitarra em catadupa, coisa cada vez mais rara no ano da santa graça de dois mil e dezoito. Venham mais destes!

Como nota final só deixar incompreensão pelo facto de Jim James nunca ter vindo a Portugal. Tantos festivais feitos com cromos repetidos e depois acontecem situações destas. Vá-se lá perceber…