Com 22 faixas, 'Sempre se pode sonhar' reúne clássicos do compositor carioca, além de parceria dele com Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Shows foram realizados em 2006, no Teatro Fecap
Paulinho da Viola ainda não aderiu às lives, mas estuda convites para shows on-line
(foto: Gualter Naves/divulgação )
Nos últimos meses, Paulinho da Viola anda mais apegado ao violão e afastado de seu cavaquinho. Compõe, mas também tem recuperado canções do baú, algumas inacabadas, outras esquecidas. E há tempos não pisa na pequena marcenaria que mantém no quintal de sua casa, no Rio de Janeiro, onde gosta de reparar instrumentos e outros objetos de madeira. Como se, neste período de pandemia, o processo de criação – e de literalmente colocar a casa em ordem – se mostrasse mais urgente.
Mesmo sem parar de compor – a seu modo, sem pressa, geralmente estimulado por algum momento ou alguma ideia –, o músico de 77 anos ainda não tem data para lançar seu aguardado disco de inéditas. O último foi o clássico Bebadosamba, de 1996.
Elifas
Mas, em tempos também de resgates, a gravação ao vivo de shows que ele apresentou durante quase um mês no Teatro Fecap, em São Paulo, em 2006, deu origem ao disco Sempre se pode sonhar, que acaba de chegar às plataformas digitais. A capa leva a assinatura de Elifas Andreato, que ilustrou 14 álbuns ao longo da carreira de Paulinho.
O músico conta que demorou para ouvir as gravações, porque elas estavam em um tipo de arquivo que não era fácil acessar. Assim, só após a conversão para outro suporte é que pôde ouvi-las – e diz ter se surpreendido com a qualidade dessas gravações. Nesse processo, João Rabello, seu filho, o ajudou a selecionar a melhor versão de cada uma delas para o novo álbum.
Foi uma sequência de shows impecáveis, em São Paulo. Logo na estreia, Paulinho mostrou um repertório que pouco mudaria ao longo das demais apresentações, mesclando clássicos, como Nervos de aço, Timoneiro, Coração leviano e Dança da solidão; músicas que não cantava ao vivo havia tempos, como Não quero você assim; e novas canções em sua interpretação, como Para mais ninguém (que já tinha sido gravada por Marisa Monte), Sempre se pode sonhar (parceria com Eduardo Gudin) e Ela sabe quem eu sou, inédita até agora e que, no novo disco ao vivo de Paulinho, ganha a primeira gravação.
Ainda nesta safra de novidades estava o samba Talismã (gravado depois, em 2007, no álbum Acústico MTV de Paulinho), que foi fruto da parceria com Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
Em meio à pandemia, Paulinho não cogita fazer shows antes da vacina, mesmo com a recente flexibilização e a reabertura de casas de shows seguindo protocolos de segurança. “Não há a menor possibilidade disso agora”, diz.
O mesmo ele enfatiza ao comentar sobre o adiamento do carnaval em 2021 por conta do novo coronavírus. “Enquanto não tiver uma vacina, uma segurança mesmo, acho que isso não volta. Como você vai fazer carnaval, que é uma coisa que reúne milhares, milhões de pessoas num determinado bloco, como tem hoje no carnaval de rua de São Paulo?”, questiona.
Um dos grandes nomes da música brasileira que ainda não aderiu às lives, ele tem pensado sobre o assunto e recebido convites para fazer apresentação nesse formato.
ROTINA
Por ora, Paulinho prefere manter sua rotina em casa, dedicando atenção especial à música. E diz que, sim, há canções para fazer um novo álbum de inéditas. “Tenho guardadas muitas letras, tenho até melodias de amigos e parceiros que não consegui ainda colocar letra”, afirma. “Por exemplo, este período agora que estou em casa, peguei mais o violão, mas, em vez de fazer sambas, vinha música de violão, choros, uma valsa para violão. Não sei explicar como isso acontece. Mas tenho muitas letras também de parceiros, e tem até letras minhas que eu não consegui musicar. Se for fuçar mesmo, poderia fazer um disco. Tenho um samba que eu fiz para o Elton (Medeiros) que não gravei”, conta.
Sobre a pandemia e se acha que as pessoas podem sair melhores dela, Paulinho acredita que “não necessariamente”. “Talvez saiamos diferentes. A gente não sabe o que vai acontecer. Você vê agora, por exemplo, na Europa, onde muita coisa estava liberada, foram obrigados a fechar muita coisa de novo. Então, a gente não sabe o que vai acontecer depois. Imagino que, como temos visto no mundo, esperamos que haja consciência em relação a isso, que é uma coisa que depende da gente, da ciência. Como as pessoas vão se comportar em relação a isso, como nossos dirigentes vão se comportar em relação a isso? Ninguém sabe. Não há certeza de nada.”
(Estadão Conteúdo)
SEMPRE SE PODE SONHAR
.De Paulinho da Viola
.Sony Music
.22 faixas
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