The Men não sabem muito bem que tipo de banda querem ser, o que poderia ser catastrófico, não tivesse a banda a capacidade de executar todos os estilos que pretendem de forma adequada.

Não se pode falar na história da música indie deste século sem mencionar a Sacred Bones Records. A editora nova-iorquina contém no seu catálogo fontes de talento tão díspares como Jenny Hval, Pharmakon, Amen Dunes e até David Lynch! The Men foram uma das primeiras apostas da editora e lançam agora o seu sétimo longa duração, Drift.

Camadas de guitarra altamente processada (um dos objetivos a que a banda se propôs neste trabalho é o de usarem a guitarra de formas menos ortodoxas), uma batida mecânica e guinchos noise servem de cama músical para o vocal feroz de Mark Perro. “Maybe I’m Crazy” tem tanto de sinistro e contido como de direto e arrojado. Os breves ornatos de saxofone conferem à canção uma ambiência no wave da cena nova iorquina do início dos anos oitenta. Esta explosão contida é rapidamente amenizada com os teclados soul de “When I Held You in My Arms”, uma canção que se revela um autêntico quebra cabeças. A progressão de acordes peca por ser algo genérica, tal como o nome da música. Será um exercício em emulação por parte da banda? Será uma genuína, mas não muito bem executada homenagem estilística? A questão é deixada em aberto.

Em diametral oposição, “Secret Light” pega em muitos elementos do blues rock e distorce-os, tornando aquilo que seria uma simples jam R&B, num exercício de desconstrução. O saxofone volta, mas em vez de tocar um solo, como seria de esperar, contenta-se com a posição de reforço atmosférico. O teclado ameaça sempre sobrepor-se ao resto dos instrumentos mas mantém a sua posição, quase nunca alterando a progressão de acordes. As duas canções seguintes, “Rose on Top of the World”,“So High” (e, mais tarde “Come to Me”) levam-nos ao Oeste americano com as suas influências country and western, sendo que a harmónica presente na segunda confere mais diversidade a um disco já bastante eclético. O punk rock puro e duro regressa com “Killed Someone”, uma verdadeira torrente de energia, com guitarras rasgadas e a voz selvagem de Mark Perro que levaria ao moche o público mais narcoléptico.

“Final Prayer” é o clímax do disco mas, tal como algumas das canções anteriores, é um exercício de contenção. A guitarra, revestida de tremolo pantanoso devolve-nos o blues à moda de John Lee Hooker que, combinado com o spoken-word dá a esta música uma personalidade muito própria.

Drift é um disco inconsistente em termos estilísticos. Ao tentar fazer tudo acaba por não ser nenhuma das coisas. A única coisa que o salva é o facto dos nova-iorquinos serem músicos bastante competentes, conseguindo emular sem aparente dificuldade qualquer género que queiram. O problema é que não impregnarem as canções com a sua personalidade na maior parte dos casos, exceptuando talvez “Maybe I’m Crazy”, o ponto alto do álbum. O resultado é um disco agradável de se ouvir mas que muito pouco acrescenta a quem conheça minimamente os géneros explorados no decorrer do disco.